17º Seminário Internacional de Mídia sobre a Paz no Oriente Médio: Promovedo o Diálogo Palestino-israelense – Uma Visão Sulamericana

17º Seminário Internacional de Mídia sobre a Paz no Oriente Médio: Promovedo o Diálogo Palestino-israelense - Uma Visão SulamericanaAconteceu no Salão Nobre do Palácio Itamaraty o 17º Seminário Internacional de Mídia sobre a Paz no Oriente Médio — que reuniu oficiais da ONU, representantes do Governo brasileiro e jornalistas de vários países — organizado pelo Departamento de Informação Pública da ONU (DPI) com o tema “Promovendo o diálogo palestino-israelense: uma visão sul-americana” com a meta de analisar os novos desafios enfrentados na região.

A abertura
O evento foi aberto pelo Sub-Secretário-Geral para Comunicação e Informação Pública, Kiyo Akasaka. Ele enfatizou o compromisso das Nações Unidas e da comunidade internacional tanto em garantir a segurança de Israel como em garantir a criação de um Estado palestino independente. Para Akasaka, o principal desafio ainda é recomeçar negociações que partam do princípio de que a criação de dois Estados é a solução.

Akasaka aproveitou a ocasião para lembrar que — tanto em Gaza como na Cisjordânia — a precarização das condições de vida dos palestinos é preocupante. “Ainda que doadores estejam colaborando, a reconstrução de Gaza ainda não começou por conta das restrições impostas pelo bloqueio israelense na região”, protestou Akasaka. “A sociedade civil é quem tem o poder de exigir a paz ou pelo menos contribuir para que a conquistemos”, concluiu.

Mensagem do Secretário-Geral
O Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, enviou uma mensagem para os participantes do Seminário. Nela, Ban destacou a importância de que a comunidade internacional se engaje na conquista da paz na região. Ele afirmou estar muito preocupado com as condições de vida da população civil de Gaza. “Estou dando o máximo de mim para garantir que a reconstrução da área comece o quanto antes”, afirmou Ban. Por último, o Secretário-Geral destacou que os membros da mídia têm um papel central em promover o diálogo e o entendimento mútuo.

A assimetria do conflito palestino-israelense
A Comissária-Geral da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA), Karen Koning AbuZayd, falou do desequilíbrio de forças no conflito palestino-israelense. Para ela, no cerne do conflito está a luta palestina por autodeterminação. Enquanto de um lado está uma potência econômica e militar, de outro estão uma série de pessoas enfrentando violações aos direitos humanos e privação econômica ao mesmo tempo em que lutam por um Estado palestino.

Abuzayd criticou a construção do muro na Cisjordânia por Israel, ao qual, segundo ela, está associado um regime de exclusão. O Muro teria prejudicado o acesso palestino à terra e limitado o espaço disponível para interação social, econômica e cultural. Para Abuzayd, isso causou uma descrença de que um Estado palestino seja política e economicamente viável. Ela lembrou que 11 mil palestinos estão hoje em prisões israelenses e que mais de um milhão de pessoas em Gaza tornaram-se completamente dependentes de doações internacionais de alimentos. Abuzayd afirmou que o isolamento da população de Gaza prejudica negociações de paz, uma vez que cobra um preço muito alto das pessoas, o que gera frustração e um sentimento de injustiça entre os palestinos.

O desafio de reconstruir Gaza
Sobre os entraves enfrentados pelas tentativas de reconstruir Gaza, Akasaka afirmou que eles tornam o trabalho humanitário da ONU na região “muito mais difícil”.

Em contrapartida, o ex-Vice-Ministro israelense das Relações Exteriores, Eli Dayan, afirmou que os discursos comuns sobre o assunto não refletem mais a realidade da situação, que teria mudado. “Penso que estamos testemunhando uma revolução em Israel no que se refere à idéia de dois estados para dois povos”, afirmou Dayan. Ele disse acreditar que os atuais líderes israelenses estão preparados para conquistar a paz junto aos palestinos. Em compensação, eles esperam que os palestinos mudem sua atitude perante Israel. Dayan reconheceu o sofrimento dos refugiados palestinos, mas disse esperar que os países árabes ajudem Israel a lidar com a questão. Ainda segundo o ex-Vice-Ministro, a liderança do Hamas representa uma das maiores dificuldades do processo de paz, já que o grupo não se declara comprometido com os acordos internacionais assinados pela autoridade Palestina e Israel.

Já o Diretor do Escritório da Agência das Nações Unidas de Assistência a Refugiados Palestinos (UNRWA), Andrew Whitley, disse que a reconstrução de Gaza deve ser vista dentro de um contexto mais profundo, que deve ir além do bloqueio de Israel. Segundo ele, é preciso levar em consideração os danos sofridos pela população de Gaza desde 2000, quando começava a “Segunda Intifada”. Sobre a lista de itens que foram proibidos por forças israelenses de entrarem na região Whitley disse que seria difícil justificar ou entender.

Em relação ao papel da mídia no processo de paz, um das questões centrais do seminário, o Diretor do UNRWA disse que apesar de existirem jornalistas corajosos e comprometidos com a verdade, há aqueles que tendem a retratar “o outro” de forma estereotipada. Como exemplo, ele lembra que parece ser muito fácil retratar todos os membros do Hamas como terroristas, a autoridade Palestina como “fraca” e o estado de Israel como “cruel” e “expansionista”.

Por fim, Whitley falou sobre o trabalho do UNRWA e disse que a agência condena os ataques suicidas e os foguetes disparados contra Israel. Ele lembrou também que as escolas mantidas pela ONU em Gaza ensinam aos alunos sobre a importância da Declaração dos Direitos Humanos, uma iniciativa que surgiu após o a perseguição dos judeus na Segunda Guerra Mundial.

O Brasil como mediador para solução do conflito entre palestinos e israelenses
O Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse em sua participação no seminário que o Brasil, assim como outros países em desenvolvimento poderiam revigorar o debate sobre o processo de paz no Oriente Médio. Ele lembrou que o país possui um histórico de paz entre diferentes povos e que há mais de 130 anos o Brasil não se envolve em nenhum conflito internacional.

Sobre como o Brasil poderia ajudar na solução do conflito palestino-israelense, Amorim disse que o país tem a confiança de ambos os povos, além do compromisso de evitar animosidades entre as partes. Ele também se demonstrou esperançoso em relação ao futuro da região e observou a diminuição considerável dos ataques contra Israel. Em relação à nova administração norte-americana, liderada pelo Presidente Barack Obama, ele disse se sentir confiante de que os Estados Unidos acompanharam os avanços no debate pela paz.

Assista na íntegra ao discurso do Ministro:

Sociedade civil e mídia pela paz no Oriente Médio
No último dia do Seminário Internacional de Mídia sobre a Paz no Oriente Médio, a Diretora da Divisão de Comunicação Estratégica do Departamento de Comunicação e Informação Pública da ONU, Paula Refolo, e a cineasta Julia Bacha, discutiram a questão da sociedade civil e da imprensa como possibilitadoras de um diálogo pacífico no Oriente Médio. O painel contou com a participação de palestinos e israelenses que participaram do filme da cineasta, “Ponto de Encontro”, um documentário que mostra as perdas de ambos os lados.

Políticas Públicas e Opinião no e sobre o Oriente Médio
O seminário também discutiu a relação da mídia como formadora de uma opinião capaz de impulsionar políticas públicas no Oriente Médio. O painel que debateu o tema, mediado pelo Diretor do UNIC Rio, Giancarlo Summa, reuniu jornalistas e correspondentes internacionais, como a brasileira Renata Malkes (O Globo), o argentino Pedro Brieger (Canal 7, Argentina) e o colunista Gidon Levy (Haaretz).

O painel debateu os desafios de se colocar como imparcial dentro de um conflito que não tem equilíbrio e apostou no senso-crítico e na consciência da mídia como formadora de opinião na busca pela eliminação dos estereótipos e da incitação à intolerância étnica e religiosa.

Kiyo Akasaka encerra o seminário, mas defende a continuação do diálogo pela pazKiyo Akasaka encerra o seminário, mas defende a continuação do diálogo pela paz
“Por favor, escrevam sobre o que vocês ouviram neste seminário”, disse Akasaka ao dar por encerrado o 17º Seminário Internacional de Mídia sobre a Paz no Oriente Médio. O Sub-Secretário-Geral demonstrou confiança de que o diálogo pela paz e de que a mensagem de uma coexistência pacífica, aliada a uma mídia mais responsável e consciente de seu papel, ajudarão a construir uma ponte entre israelenses e palestinos.

Representando o Governo brasileiro, a Embaixadora Vera Machado agradeceu a presença de todos os participantes e lembrou que enquanto ainda existe pessimismo em relação a paz no Oriente Médio, o Brasil permanece otimista e disposto a colaborar pela segurança e pela convivência harmônica de palestinos e israelenses.