As terras áridas são importantes. Por que?

As terras áridas são importantes. Por que? Imagem: ONU.As terras áridas representam 41,3% da superfície terrestre, uma proporção significativa, como mostra o mapa incluído neste documento. Se as terras áridas não existissem, o que mudaria no planeta?

Segurança alimentar – O celeiro do mundo em risco

Aproximadamente 44% dos sistemas cultivados do mundo situam-se em terras áridas. As espécies vegetais endêmicas das terras secas representam 30% das plantas que são atualmente cultivadas. Os seus antepassados e parentes selvagens continuam crescendo nessas zonas. Tradicionalmente, as terras áridas têm sido utilizadas sua maioria para pecuária, mas estão sendo cada vez mais convertidas em terras de cultivo.

As pastagens naturais sustentam 50% dos animais de pecuária do mundo e são habitats de flora e fauna selvagens. A produção pecuária predomina nas zonas mais áridas. As terras de cultivo predominam nas zonas subúmidas secas.

Pobreza – Uma vida com pouco conforto

Os meios de subsistência de mais de um bilhão de pessoas de cerca de 100 países estão em risco devido à desertificação. Quase um bilhão das pessoas mais pobres e mais marginalizadas, que vivem nas zonas mais vulneráveis, poderão ser as mais gravemente afetadas pela desertificação.

Segundo o relatório de Avaliação Ecossistêmica do Milênio (AEM), o bem-estar humano dos habitantes das terras áridas é, de um modo geral, inferior ao das pessoas que habitam outros sistemas ecológicos. Por exemplo, em comparação com outros ecossistemas, nas terras áridas as taxas de mortalidade infantil são mais elevadas e o produto nacional bruto (PNB) per capita é menor. Isto significa que, nas terras áridas, habitam populações com níveis de bem-estar relativamente baixos.

População – O local de habitação de uma proporção considerável da população

A população total das terras áridas é de 2,1 bilhões de pessoas, o que significa que é nessas zonas que habita atualmente uma em cada três pessoas do mundo. Segundo o ONU-HABITAT, a taxa de crescimento de 18,5% das terras áridas é superior à de qualquer outra zona ecológica. A densidade populacional aumenta à medida que a aridez diminui. Variando de 10 pessoas por quilômetro quadrado nos desertos até 71 nas zonas subúmidas secas (pastagens naturais).

O processo de degradação dos solos nas terras áridas denomina-se desertificação. De um modo geral, pensa-se que a desertificação tem mais probabilidade de ocorrer em regiões com uma densidade populacional média. Um estudo realizado, em 2009, pelo Instituto Internacional de Pesquisa sobre Política Alimentares (IFPRI) revela ter-se registrado uma recuperação florestal em grande escala, mesmo em regiões densamente povoadas do Burkina Fasso e do Níger, através de atividades de recuperação de baixo custo geridas pelos agricultores.

Água – Está desaparecendo e o stress hídrico está aumentando

A aridez está ligada à existência ou escassez de água, que é importante para o bem-estar humano e para as duas funções principais da terra: a produção primária e a reciclagem de nutrientes. A escassez de água, ou seja, a diferença entre sua procura e oferta, é maior nas terras áridas e cresce à medida que a aridez aumenta. Para satisfazer as necessidades básicas do seu bem-estar, cada pessoa necessita de um mínimo de dois mil metros cúbicos de água por ano.

As populações das terras áridas têm acesso apenas a 1300 metros cúbicos e prevê-se que a disponibilidade de água venha a diminuir. Atualmente, a escassez de água afeta um a dois bilhões de pessoas, que vivem em sua maioria nas terras áridas. Devido às alterações climáticas, em 2030, quase metade da população mundial estará vivendo em zonas de elevado stress hídrico. Em algumas zonas áridas e semiáridas isso levará 24 a 700 milhões de pessoas a se deslocarem.

Biodiversidade – A grande incógnita

Continua sendo desconhecido em que estado se encontram as espécies das terras áridas, já que não foi realizada nenhuma avaliação até a data. Cerca de 8% das terras áridas são zonas protegidas, em comparação com aproximadamente 10% de outros ecossistemas.

Segundo o relatório de Avaliação Ecossistêmica do Milênio, oito dos 25 locais do mundo inteiro onde a situação é mais crítica encontram-se em terras áridas. Trata-se de locais onde 0,5% das espécies vegetais são endêmicas, mas a perda de habitats é superior a 70%.

Alterações climáticas – Absorvedores de carbono insaciáveis

As terras áridas desempenham um papel vital na regulação do clima local e também mundial. A degradação de solos liberta gases de efeito estufa na atmosfera, enquanto a melhoria dos solos é essencialmente um processo inverso, mediante o qual os solos absorvem o excesso de carbono da atmosfera. As terras áridas armazenam 46% do carbono mundial: seus solos contêm 53% do carbono do solo e as suas plantas 14% do carbono biótico do mundo inteiro.

As práticas de recuperação de solos como a cobertura com materiais orgânicos, a compostagem, a aplicação de estrume, a policultura e o reflorestamento, que aumentam o armazenamento de carbono no solo, contribuem diretamente para a captura do carbono. Estas técnicas também fazem parte da caixa de ferramentas tecnológicas conhecida como gestão sustentável dos solos (ver adiante).

Degradação dos solos – O cerne da questão

O termo desertificação designa a degradação dos solos em zonas áridas, semiáridas e subúmidas causada por vários fatores, como as variações climáticas e as atividades humanas. Quando a degradação dos solos se dá nas terras áridas do mundo, muitas vezes dá origem a condições semelhantes às dos desertos. 24% dos solos do mundo estão sofrendo um processo de degradação. Aproximadamente 1,5 bilhão de pessoas depende diretamente dessas zonas em degradação. Quase 20% dos solos que estão sofrendo degradação são terras de cultivo e 20% a 25% são pastagens naturais.

Degradação dos solos

A regeneração natural da cobertura vegetal e dos solos das zonas áridas demora cinco a 10 vezes mais tempo para ocorrer do que em zonas onde a precipitação é maior e mais regular. Entre 1981 e 2003, registrou-se uma melhoria de aproximadamente 16% dos solos, 20% dos quais são terras de cultivo e 43% são pastagens.

Fatores de degradação dos solos

Não existe uma relação linear de causa e efeito que conduza à degradação dos solos nas terras áridas, mas conhecem-se os fatores que determinam essa degradação, que interagem de formas complexas.

Os fatores diretos são climáticos, especialmente o baixo nível de umidade do solo, os regimes de precipitação e a evaporação. Os fatores indiretos são principalmente de origem humana e incluem a pobreza, as tecnologias utilizadas, as tendências dos mercados mundiais e locais e a dinâmica sociopolítica. A pobreza é simultaneamente uma causa e uma consequência da degradação dos solos.

Gestão sustentável dos solos – Uma solução

A utilização de práticas de gestão sustentável dos solos ajuda a combater a desertificação e a recuperar e a reabilitar os solos, a água e a vegetação. Por gestão sustentável dos solos entende-se a utilização multifuncional dos solos, por oposição à utilização monofuncional.

Já se demonstrou que a prática da gestão sustentável dos solos aumenta o rendimento das culturas entre 30% e 170%. Os solos que se perdem todos os anos poderiam produzir 20 milhões de toneladas de cereais. A desertificação e a degradação representam uma perda de rendimentos da ordem dos 42 bilhões de dólares por ano.

  • Zonas de seca: 8,2 bilhões de dólares
  • Terras de cultivo: 10,8 bilhões de dólares
  • Pastagens naturais: 23,3 bilhões de dólares

Bibliografia

  • 2010 GEF-STAP, Report of the Scientific and Technical Advisory Panel to the Fourth GEF Assembly.
  • 2009. IFPRI, Discussion Paper 00914, Reij, et al. Agroenvironmental Transformation
    in the Sahel
    .
  • 2009. Ficha informativa do IFAD.
  • 2009. World Water Development Report, Water in a Changing World.
  • 2008. UNCCD Down to Earth.
  • 2005. Millennium Ecosystem Assessment.

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