ENTREVISTA: ‘A mudança climática afeta todos nós’, afirma Robert Redford

Coletiva de imprensa com Robert Redford na sede da ONU em Nova York. Foto: ONU/Evan Schneider
Coletiva de imprensa com Robert Redford na sede da ONU em Nova York. Foto: ONU/Evan Schneider

Robert Redford este na sede da ONU, em Nova York para falar na Reunião de Alto Nível sobre Mudança Climática na Assembleia Geral da ONU, que teve como objetivo dar maior ênfase à cooperação multilateral sobre a questão antes da Conferência sobre Mudança Climática que acontecerá em Paris no final deste ano. Na capital francesa, os países vão discutir um acordo destinado a suceder o Protocolo de Kyoto para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
Redford trabalha na área ambiental há décadas e é famoso por seu compromisso com o meio ambiente e por falar sobre várias questões que o afetam, além de exercer o papel de administrador, desde 1975, do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, uma organização sem fins lucrativos, com sede em Nova York.
Robert Redford na Assembleia Geral da ONU. Foto: ONU/Devra Berkowitz

Depois de seu discurso à Assembleia Geral, Redford falou com o Centro de Notícias da ONU sobre sua visita, sua experiência no movimento ambiental e compartilhou suas ideias sobre a necessidade de combater as alterações climáticas.
Centro de Notícias da ONU: O que o traz a sede das Nações Unidas esta semana?
Robert Redford: Fui convidado – o que é uma honra – e também porque acredito que a mudança climática é um dos assuntos importantes a serem discutidos, porque é um assunto atual e um perigo atual que deve ser abordado. Acredito que todas as vozes devem ser usadas neste esforço e por isso estou aqui.
Centro de Notícias da ONU: Síria, República Centro-Africana, Iêmen – estas são apenas algumas das preocupações urgentes da agenda global. Dado tantos outros temas urgentes, quão difícil é obter a atenção da comunidade internacional para as alterações climáticas?
Robert Redford: Eu acho que você pode levá-los a prestar atenção se colocar a mudança climática onde ela pertence. Geralmente bem embaixo. O meio ambiente, percebi isto ao longo dos anos, recebe pouca atenção comparado a outros assuntos. Mas eu acredito que graças ao que está acontecendo agora – a mudança está no ar, você consegue senti-la – estamos em um período de mudança que é positivo, mas com lados negativos. Positivo: você vê o que as pessoas dizem. Positivo: você viu o que aconteceu esta semana com o casamento do mesmo sexo; você vê o que acontece com as decisões da Suprema Corte Americana.
Do meu ponto de vista estas coisas são todas muito positivas. Mas o que está por trás e acima de tudo isso é o maior problema que diz respeito a saúde de todos – cada país, cada nação, cada pessoa. Eles todos está sob o âmbito do clima. E porque a mudança climática é um tema tão duro com muito pouco tempo para corrigi-lo – houve tanto dano feito ao longo dos anos ao planeta – que se nós não fizermos algo mais cedo ou mais tarde, então não sei que tipo de planeta teremos para viver.
O efeito das mudanças climáticas em Tokelau. Foto: ONU/Ariane Rummery
O efeito das mudanças climáticas em Tokelau. Foto: ONU/Ariane Rummery

Centro de Notícias da ONU: Não houve negociações na reunião em que você participou na segunda-feira, então o que exatamente o público global pode esperar como resultado desse encontro?
Robert Redford: O que eles podem esperar? Eu não sei. Eu não sei qual é o consenso, está é minha primeira vez então não tenho nenhuma experiência e conhecimento de como eles operam, como eles pensam, como eles votam. Eu posso apenas esperar. Mas eu acho que porque cada nação é afetada, esta questão atrai a atenção deles.
Centro de Notícias da ONU: O que deveria ser feito para ter a atenção de todos nesta questão?
Robert Redford: Existe um ditado que diz “não é da minha conta”. As pessoas não se interessam ou concentram em coisas, especialmente se forem perigosas, a menos que sejam de seu interesse. Era problema de outra pessoa – eles não precisam pensar sobre isso, ou se preocupar com isso, ou abordar isso. Mas agora a mudança climática é da conta de todos. A questão é tornar as pessoas conscientes disso, tornar as pessoas conscientes não só dos perigos mas o que pode ser feito de positivo e chamar a atenção delas que isso já é da sua conta. Olhe para a seca na Califórnia, as enchentes, o que aconteceu em Nova York – está bem claro que alguma coisa está acontecendo.
Centro de Notícias da ONU: O Papa Francisco recentemente falou sobre os perigos da mudança climática. No entanto, há aqueles que dizem que o Papa não é um especialista em ciência… O que você acha?
Robert Redford: Por favor, isto é um insulto. O fato é, o que ele está dizendo é tão necessário. Eu o saúdo, em muitas frentes, particularmente esta porque ele está colocando o assunto onde ele pertence, como uma questão moral e portanto há um fator espiritual para isso. E graças a Deus ele está o colocando dessa forma.
Não é sobre política. A questão moral da mudança climática deve transcender a política. Se isso for reduzido à política, teremos os mesmos problemas antigos, a mesma luta antiga, a mesma velha briga pobre de espírito entre ideologias. Será uma bagunça. Vamos ficar acima disso, tirar proveito da mudança e torná-la positiva.

Centro de Notícias da ONU: Um dos oradores da Assembleia Geral era um ativista adolescente que mais tarde disse que os adultos estão fazendo uma festa com o meio ambiente e a próxima geração estará obrigada a limpá-la. Qual sua visão sobre isso e sobre o papel da juventude na mudança climática?
Robert Redford: Eu gostaria de começar com um pedido de desculpas para a próxima geração. A nova geração – focando no papel das mulheres e da política, focando na juventude – eu a vejo de forma positiva, enquanto talvez há 15 anos, não, porque a juventude da América estava mais focada mais em outras questões, por exemplo como progredir, como fazer dinheiro e o meio ambiente não estava em suas mentes.
Mas agora está. Estou muito encorajado por essa nova geração. Eles são mais informados e quanto mais informados forem, mais ficam preocupados, porque este será o seu futuro. Nosso tempo já passou. Devemos pedir desculpas pelo que está sendo deixado para eles. Não estamos deixando muito.
Porém eu estou ansioso para que eles tomem as rédeas porque não apenas merecem, mas acredito que está na hora, e também acho que é uma boa hora porque a nova geração é diferente da anterior. É mais ativa. Acho que eles têm as qualificações para tomar as rédeas e avançar as coisas com o pouco que nos resta do nosso planeta. Apenas lamento não termos deixado muito.
Centro de Notícias da ONU: Você está envolvido com o movimento ambiental por décadas. O que fez você se envolver?
Robert Redford: Acho que se você fizer todo o caminho de volta, ele começou quando era uma criança crescendo em Los Angeles. Quando era um menino, minhas memórias realmente começam no fim da Segunda Guerra Mundial. Era uma linda cidade, o ar era tão fresco, era limpo, existiam espaços verdes entre as comunidades. Eu andava em diferentes bairros, era fresco e limpo. Amava isso.
Então de repente, quando a guerra acabou, tudo mudou. Era como se Los Angeles se tornasse algo no fim do arco-íris e todo mundo clamasse para chegar lá. E de repente tudo mudou. De repente existiam arranha-céus, existiam autoestradas, existia poluição. Então vi a cidade, que realmente amava, meio que desaparecer sob os meus pés e me mudei. Me mudei para as montanhas. Passei um tempo na Sierras e trabalhei no Parque Nacional de Yosemite e quando fiz isso, essa conexão com a natureza me atingiu como uma tonelada de tijolos – e pensei que era lá onde queria estar. Quero estar dentro e em torno da natureza. Quero preservá-la, se puder, porque podia ver que já éramos uma sociedade orientada para o desenvolvimento, eu sabia disso.
E então, em 1970, eu estava em uma conferência no Colorado e me lembro que havia uma foto de fontes renováveis e fontes não renováveis – petróleo, gás, carvão – e toda a política, todo o dinheiro, estava indo para os não renováveis. E onde tinha energia eólica, solar, geotérmica – que era nova, muito nova, não recebia muita atenção. Pensei, bem, se isso continuar, não restará nada. Talvez faça algum dinheiro a curto prazo para alguém, mas não haverá nada deixado para as gerações futuras. Mas nesse momento, olhe todas as possibilidades de energia alternativa e o que está acontecendo. Então acho que naquele momento fiz um compromisso comigo mesmo de fazer o que eu pudesse, levantar minha voz e foi o que fiz.
Robert Redford se encontra com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Foto: ONU//Evan Schneider
Robert Redford se encontra com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. Foto: ONU//Evan Schneider

Centro de Notícias da ONU: Quais foram as maiores mudanças que você viu nos últimos 40 anos ou mais de ativismo ambiental?
Robert Redford: Houve pouca ou nenhuma mudança nesses 40 anos. As coisas não mudam rápido. Você precisa trabalhar duro, tem que esperar, tem que ser paciente. Sinto muito que isso não aconteça logo porque acho que teria sido melhor se tivesse acontecido mais cedo. Mas tem que viver com aquilo que você tem. Acho que o que está acontecendo agora é que está ficando claro para as pessoas, o valor da energia alternativa e os empregos e indústrias que podem ser criadas a partir disso. E assim que você fala sobre indústrias e empregos, muda toda a imagem, porque antes o argumento era sempre “petróleo e gás, esses produzem energia mas também empregos e isso não”. Mas agora as pessoas estão entendendo que a energia alternativa não somente faz isso, mas é um caminho muito melhor e que é sustentável para o nosso planeta.
Centro de Notícias da ONU: No seu discurso para a Assembleia Geral, você disse que é um ator por profissão, mas um ativista por natureza. Onde o papel do seu trabalho ambiental acontece na sua vida?
Robert Redford: Minha vida artística costumava ser apenas pintando e então isso se tornou teatral e cinematográfica, essa é minha vida artística. E depois há a minha vida cívica e é onde o papel do meio ambiente e o da natureza podem ser exercidos na continuação da nossa sociedade. Então isso é dividido em duas seções: arte e natureza. Eu acho que dá para reduzir a isso.
Centro de Notícias da ONU: Em poucas palavras, que mensagem você daria para a comunidade internacional sobre a importância da luta contra as alterações climáticas?
Robert Redford: Primeiro de tudo, preste atenção. Faça com que os outros prestem atenção no tema e, em seguida, faça com que olhem em volta. Se você falar sobre mudança climática, tudo que você precisa fazer é olhar em volta. Infelizmente eu listo alguns exemplos negativos: enchentes, secas, incêndios florestais. Mas tudo que você precisa fazer é abrir seus olhos e prestar atenção e você vai olhar este ou aquele caminho, e você vai ver fogo, inundação, tornados, furacões e não pode me dizer que não vão afetar as pessoas. Então eu diria para prestarem atenção e enxergar como a mudança climática está evidenciada ao seu redor.