‘Livres & Iguais’: Campanha conta com site em português e material para promoção de direitos humanos

Esquadrão das Drags com o simbolo da campanha. Foto Daniel de Castro/PNUD Brasil
Esquadrão das Drags com o simbolo da campanha. Foto Daniel de Castro/PNUD Brasil

O evento de lançamento da campanha mundial da ONU Livres & Iguais, realizado no auditório da Prefeitura de São Paulo nesta segunda-feira (28), contou com a exibição do vídeo O Enigma (The Riddle, em inglês), produzido pelo Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH), e de um vídeo gravado especialmente para o evento pela Campeã da Igualdade da ONU, Daniela Mercury, produzido pelo Sistema ONU no Brasil.

Antes de iniciar seu discurso na cerimônia de lançamento, Daniela convidou quatro membros do grupo Esquadrão das Drags para subir ao palco, ao seu lado: “Como dizem aí, uma imagem vale mais que mil palavras”, improvisou a cantora baiana em tom bem-humorado.

Embaixadora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e vencedora do Prêmio Direitos Humanos 2013, na categoria Cultura, Daniela usou relatos de sua própria história – o recente casamento com a jornalista Malu Verçosa – para falar dos obstáculos e vitórias que a comunidade LGBT enfrenta no cotidiano e da necessidade de se dar visibilidade ao tema.

“A diversidade nos enriquece muito como seres humanos. Ela nos torna mais criativos e mais interessantes. E é importante nos lembrarmos que vivemos num país de imigrantes, num país da diversidade. Portanto, é inaceitável qualquer tipo de violência, repressão e opressão”, disse. “O preconceito é uma pá de terra que é colocada sobre a gente para tirar nossa visibilidade. A gente tem que aparecer e falar com orgulho de quem e do que somos.”

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, também falou sobre a importância do respeito à diversidade. “Quando você luta pela liberdade e pela igualdade, você luta para que, na prática, a diversidade seja respeitada. A nossa espécie é marcada pela diversidade”, afirmou. “Isto se combate com a educação e a militância”, concluiu.

Para Haddad, os direitos humanos precisam ser compreendidos e respeitados em sua amplitude, envolvendo todas as camadas da sociedade e respeitando as liberdades de escolha. “A pior coisa que pode acontecer é colocarmos dois direitos fundamentais em confronto, como a liberdade religiosa e a liberdade de gênero”, disse Haddad durante a cerimônia de lançamento da campanha.

Combate à homolesbotransfobia

“A homofobia é inadmissível em todos os seus aspectos. Precisamos garantir direito, respeito e integridade da comunidade LGBT”, disse Rogério Sotilli, secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo.

Ele lembrou que o lançamento da campanha da ONU na cidade tem um valor simbólico muito importante, pois ocorre durante o 18º mês de orgulho LGBT de São Paulo, cujo lema é o combate à homofobia, e às vésperas da Feira da Diversidade, na Praça da República (região central da capital paulista), da Parada Lésbica (marcada para o sábado, 3) e da parada do orgulho LGBT (domingo, 4), a maior do gênero no mundo.

“É bom pegar uma campanha internacional como esta e mostrar que o que a gente quer são somente estas duas coisas: igualdade e liberdade. Queremos ser livres para expressar nosso amor”, disse Keila Simpson presidenta da ATRAS (Associação de Travestis da Bahia), membro da diretoria da ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) e do Conselho Nacional LGBT.

“É com esta mensagem que vamos partir no domingo (4), nesta grande parada para dizer às pessoas que a gente quer liberdade e igualdade, e mostrar que a gente consegue”, concluiu Keila, que foi vencedora do Prêmio de Direitos Humanos 2013 na categoria LGBT.

“Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos”

Para Humberto Henderson, representante adjunto do Escritório para a América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos, temos que nos lembrar e assimilar, constantemente, o primeiro artigo da Declaração dos Direitos Humanos como conceito fundamental em nossas vidas. ”É uma obrigação que todos e todas devemos assumir”, disse Henderson.

“Em muitas ocasiões argumenta-se que os direitos para pessoas LGBTs envolvem a criação de novos direitos e disposições, mas não há nada de novo no que estamos pedindo já que tudo está contemplado na Declaração dos Direitos Humanos. Basta nosso compromisso para tornar estes direitos uma realidade”, concluiu o uruguaio.

“Em 76 países, leis discriminatórias ainda criminalizam, em pleno século XXI, relações consensuais e privadas de pessoas do mesmo sexo, expondo estas pessoas ao risco de prisão e, em pelo menos cinco países, até à pena de morte. E no Brasil, infelizmente não é diferente”, disse o diretor do Centro de Informação da ONU no Brasil (UNIC Rio), Giancarlo Summa, citando os dados do 2º Relatório Sobre Violência Homofóbica de 2012, publicado pela Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República.

“Somente em 2012 foram quase dez mil denúncias de violações de direitos humanos relacionadas à população LGBT registradas pelo governo federal, o que demonstra um aumento preocupante da violência homofóbica no país”, concluiu.

Aids Tchê

Aids Tchê é uma das iniciativas de destaque da ONU no Brasil. Desde 2012, o Programa Conjunto das Nações Unida para o HIV/AIDS (UNAIDS) apoia o município de Porto Alegre, cidade com maior incidência de aids no país, na resposta à epidemia. Na divisão de trabalho, o PNUD é responsável pelo apoio à resposta local, com ênfase na comunidade LGBT.

A partir de uma metodologia participativa foi elaborado um Plano Municipal de Enfrentamento à Epidemia de HIV/AIDS junto a esta população – bem como o enfrentamento à feminização da epidemia – para reduzir as vulnerabilidades destas populações, garantindo a todos o acesso à saúde.