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No Dia Mundial da Ação Humanitária, ACNUR agradece doações do Brasil ao trabalho humanitário

A agência das Nações Unidas para refugiados (ACNUR), o Ministério das Relações Exteriores do Brasil e o Sistema ONU no país celebraram nesta quinta-feira (19), em Brasília, o Dia Mundial da Ação Humanitária. Durante uma cerimônia ocorrida no Palácio do Itamaraty, o ministro Celso Amorim recebeu uma carta do Alto Comissário da ONU para Refugiados, António Guterres, na qual ele agradece as doações feitas ao ACNUR pelo Brasil, neste ano – cerca de US$ 3,2 milhões, a maior entre os países da América Latina e Caribe.

Da direita para a esquerda: Representante no Brasil do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Andres Ramirez; Coordenador-residente interino do Sistema ONU no Brasil, Vincent Defourny; e o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim.
Da direita para a esquerda: Representante no Brasil do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Andres Ramirez; Coordenador-residente interino do Sistema ONU no Brasil, Vincent Defourny; e o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim.

“As doações do Brasil estão beneficiando refugiados e deslocados internos em diferentes partes do mundo, como Sri Lanka, Haiti, Equador, Irã e Iraque”, afirma Guterres na carta ao ministro Amorim. Segundo ele, os recursos estão sendo usados nas áreas de alimentação, educação, abrigo e infraestrutura, “por meio de compras locais e, no caso da comida, de produtos oriundos da agricultura familiar”. Para Guterres, as doações do Brasil “reafirmam a liderança do país e seu compromisso internacional com a causa humanitária, pautada por princípios de humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência”.

Após receber a carta, o ministro Amorim disse que “o trabalho do ACNUR é extremamente importante e respeitável”, ressaltando que “os trabalhadores humanitários arriscam suas vidas porque estão no terreno e entram em cena quando as armas de calam, ao menos parcialmente”. De fato, o Dia Mundial da Ação Humanitária é uma referência aos ataques contra a sede da ONU em Bagdá, no dia 19 de agosto de 2003, quando 22 trabalhadores humanitários morreram – entre eles o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, que atuava como Representante Especial do Secretário-Geral da ONU para o Iraque.

De acordo com o Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, da sigla em inglês), 278 trabalhadores humanitários foram vítimas de 139 incidentes graves em diferentes partes do mundo no ano passado, sendo que 102 morreram. Os números mostram uma clara tendência de crescimento se comparados às estatísticas de 1999, quando foram registradas 65 vítimas (30 mortos) em 34 incidentes.

“Temos um enorme respeito por essas pessoas que lutam para preservar a vida humana. Quando um trabalhador humanitário é vítima de algum ataque ou mesmo assassinado, este ato se constitui em um crime duplo: tira-se a vida daquela pessoa em particular, e indiretamente, daquelas que ela salvaria por meio do seu trabalho”, disse Amorim, que conheceu Vieira de Mello, tendo este construído sua carreira na ONU como funcionário do ACNUR. “No meu último encontro com Sérgio, em Amã (Jordânia), ele me disse que a ONU precisaria do Brasil para reconstruir o Iraque. Sérgio era um defensor do multilateralismo. Ele sabia que a reconstrução do Iraque não podia ser deixada somente para a potência ocupante e que a ONU tinha um papel fundamental”, disse o ministro.

Durante a cerimônia, o representante do ACNUR no Brasil, Andres Ramirez, ressaltou o “terrível dilema” enfrentado pelos trabalhadores humanitários, que “estão nos lugares mais perigosos do mundo e arriscam suas próprias vidas para ajudar populações vulneráveis a preservar as suas”. Ele também agradeceu “as significativas doações do Brasil às Nações Unidas, em geral, e ao ACNUR, em particular”.

O coordenador residente interino do Sistema ONU no Brasil, Vincent Deforny, reconheceu “o papel destacado do ACNUR na ONU em relação às ações humanitárias”, e lembrou que o Dia Mundial da Ação Humanitária é uma oportunidade para “lembrarmos do esforço daqueles que perderam suas vidas realizando um trabalho humanitário e daqueles que estão lutando pelas condições humanitárias em vários lugares do mundo, como Haiti, Afeganistão e Paquistão”.

Após expressar sua “gratidão” a todos os brasileiros mortos durante trabalhos humanitários no mundo, ressaltando aqueles que foram vítimas do terremoto no Haiti, o ministro Celso Amorim lembrou que o Brasil tem o compromisso de manter uma ação humanitária consistente e voltada para ajudar os países mais pobres. “Ajudar os mais pobres é algo que nos enche de alegria. Sem solidariedade não haverá nem desenvolvimento nem uma ordem internacional pacífica”, afirmou o ministro.

Secretário-Geral

Em sua mensagem alusiva ao Dia Mundial da Ação Humanitária, o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que os trabalhadores humanitários “representam o que a natureza humana tem de melhor, mas o seu trabalho é perigoso. Muitas vezes, aventuram-se a ir para os lugares mais perigosos do mundo. E, muitas vezes também, pagam um preço muito elevado. Perseguição e intimidação. Sequestro e até assassinato”.

Para marcar a data, a OCHA produziu o vídeo “Somos trabalhadores humanitários”, legendado para o português pelo Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil (UNIC Rio), como forma de homenagear trabalhadores humanitários em todo o mundo. O projeto colaborativo envolveu centenas de pessoas e foi filmado em 43 países durante nove semanas, com o tempo integralmente doado pelos participantes. A música original usada no filme foi produzida por Krister Linder, com animação em 2D por Anu Nagaraj. O filme não possui direitos autorais e pode ser reproduzido livremente.

Para celebrar o Dia Mundial da Ação Humanitária, comemorado no dia 19 de agosto, o site do ACNUR lançou hoje uma página especial dedicada ao tema, incluindo o vídeo da OCHA e depoimentos de trabalhadores humanitários. A página pode ser acessada clicando aqui.

Importância do trabalho humanitário é lembrada em todo o mundo

Importância do trabalho humanitário é lembrada em todo o mundoHoje, dia 19 de agosto, é comemorado o segundo Dia Mundial da Ação Humanitária. A data foi instituída em dezembro de 2008 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, para “contribuir com o aumento da consciência pública sobre o trabalho humanitário e a importância da cooperação internacional, e para comemorar todos os trabalhadores humanitários do mundo”. A data coincide com o dia do atentado no Hotel Canal em Bagdá, no Iraque, que tirou a vida do Representante Especial do Secretário-Geral para o país, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello e de outros 21 funcionários das Nações Unidas, em 2003.

O Dia Mundial da Ação Humanitária foi designado em memória daqueles que morreram nesse atentado a bomba, mas também em memória aos muitos trabalhadores humanitários que perderam suas vidas. Ele é também comemorado para enfatizar as necessidades atuais e desafios humanitários em todo o mundo, tais como ameaças aos trabalhadores de ajuda humanitária pelas diferentes partes envolvidas nos conflitos, os desafios para chegar até as pessoas que precisam de ajuda, ou a complexidade crescente do ambiente humanitário devido aos aumentos dos preços dos alimentos, à turbulência financeira global, à escassez de água e às mudanças climáticas.

Como bem lembra o Secretário-Geral em mensagem alusiva à data (leia a íntegra da mensagem ou assista a mesma abaixo), os trabalhadores humanitários “representam o que a natureza humana tem de melhor, mas o seu trabalho é perigoso. Muitas vezes, aventuram-se a ir para os lugares mais perigosos do mundo. E, muitas vezes também, pagam um preço muito elevado. Perseguição e intimidação. Sequestro e até assassinato” (leia aqui mensagem na íntegra).

Para marcar a data, o Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) produziu o vídeo “Somos trabalhadores humanitários”, legendado para o português pelo Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil (UNIC Rio), como forma de homenagear trabalhadores humanitários em todo o mundo. O projeto colaborativo envolveu centenas de pessoas e foi filmado em 43 países durante 9 semanas, com o tempo integralmente doado pelos participantes. A música original usada no filme foi produzida por Krister Linder, com animação em 2D por Anu Nagaraj. O filme não possui direitos autorais e pode ser reproduzido livremente.

Assista abaixo ao vídeo, legendado em português pelo UNIC Rio:


Links: Vimeo | YouTube.

Saiba mais sobre a ação humanitária

Desastres naturais e/ou causados pela humanidade são a causa de enorme sofrimento para milhões de pessoas todos os anos, muito frequentemente entre as pessoas mais pobres, mais marginalizadas e mais vulneráveis. Atualmente há cerca de 27 milhões de pessoas deslocadas internamente e 10 milhões de refugiados no mundo. Uma em cada seis pessoas sofre de fome crônica. Os trabalhadores humanitários se empenham em assegurar que todos aqueles que passam por uma experiência traumática e necessitam de apoio para se manter vivos recebam ajuda sempre que possível, independente de sua localização geográfica, nacionalidade, religião ou grupo social.

A maioria dos trabalhadores humanitáriosvem dos países onde atuam porém uma parcela deles é de outras nacionalidades. Parceiros profissionais locais e independentes se envolvem em todas as respostas humanitárias. Eles são mulheres e homens que refletem distintas culturas, ideologias e experiências. Suas motivações para o trabalho humanitário são diversas.

Por muito tempo, era hegemônica a visão de que os trabalhadores humanitários deveriam ser bem recebidos e protegidos, para que pudessem realizar ações humanitárias de modo seguro. No entanto, ganhou força recentemente a visão de que o trabalho humanitário vinha exclusivamente de organizações ou agênciais ocidentais, ou que representavam exclusivamente uma visão ideológica ou religiosa. A preocupação com este preconceito – uma visão totalmente equivocada – está diminuindo a segurança dos trabalhadores humanitários, que têm sofrido ataques frequentes em alguns lugares.

Esta situação dificulta a atuação junto à população mais pobre e vulnerável. Uma das preocupações da ONU é mostrar que o setor de ajuda humanitária é verdadeiramente global e abrange pessoas de diversas origens e nacionalidades, trabalhando em conjunto em muitos e diferentes ‘guarda-chuvas’, porém com um conjunto compartilhado de princípios que norteiam suas atividades.

“As pessoas que trabalham para tentar resolver necessidades humanitárias estão frequentemente em áreas remotas, normalmente difíceis e perigosas, onde há conflitos e onde catástrofes naturais acontecem”, afirmou o Subsecretário-Geral para Assuntos Humanitários, John Holmes.

Apenas em 2009, 278 trabalhadores humanitários foram vítimas em 139 graves incidentes de segurança, um aumento muito alto em comparação com 1999, quando 65 trabalhadores humanitários estiveram envolvidos em 34 incidentes desse tipo. Em 2009, 205 destas vítimas eram membros de organizações humanitárias nacionais e 73 de organizações internacionais. Em 1999, do total de vítimas, 40 eram funcionários nacionais e 25 internacionais.

102 trabalhadores humanitários foram assassinados em 2009 – 88 funcionários nacionais e 14 internacionais. Em 1999, foram 30 trabalhadores humanitários mortos, sendo 24 nacionais e 6 internacionais. Outros 92 funcionários de organizações humanitárias foram sequestrados em 2009 (59 nacionais e 33 internacionais), outro aumento em comparação com 1999, quando esse número chegou a 20 – dois nacionais e 18 internacionais. Incidentes envolvendo atentados a trabalhadores humanitários aumentaram de três para 23. O número de emboscadas em estradas aumentou de oito para 20, de 1999 a 2009.

Informações adicionais, em inglês, podem ser obtidas no endereço www.worldhumanitarianday.info

Mais informações à imprensa

No Rio de Janeiro
Valéria Schilling, Assessora de Comunicação
Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio)
Email: [email protected]
Tel.: +55 (21) 2253-2211 / 8202-0171
Site: www.unicrio.org.br

Em Nova York
Nicholas Reader ([email protected])
Stephanie Bunker ([email protected])

Em Genebra
Elisabeth Byrs ([email protected])

Um terrível dilema

António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) ainda está chocado com o recente e brutal assassinato do nosso colega de equipe Zill-e-Usman, que foi atingido por um atirador não identificado no campo de Katcha Gari, na fronteira das áreas tribais administradas pelo governo do Paquistão, na fronteira noroeste do país. Outro colega de equipe, Ishfaq Ahmad, foi ferido neste mesmo incidente, no último dia 16 de julho. Um guarda que trabalhava para o Comissariado para Refugiados Afegãos, agência financiada pelo governo, também foi morto. Segundo relatos, cerca de quatro ou cinco atiradores abriram fogo contra Usman quando ele retornava do escritório administrativo do campo para o seu carro, em uma visita de rotina ao local.

Usman foi o terceiro funcionário do ACNUR morto neste ano, no Paquistão. No dia 9 de junho, Aleksandar Vorkapic morreu no bombardeio do Hotel Pearl Continental, em Peshawar. No dia 02 de fevereiro, Syed Hashim, motorista do ACNUR, morreu no seqüestro do chefe do escritório de Quetta, John Solecki, que foi posteriormente libertado.

Como escrevi para a família de Usman, sua morte foi um choque cruel. Não há justificativa para ataques a trabalhadores humanitários dedicados à proteção e ao cuidado das pessoas mais vulneráveis do mundo. Sua morte foi um ultraje e uma tragédia que afeta a todos nós.

Neste 19 de agosto, por ocasião do primeiro Dia Mundial da Ação Humanitária, façamos um momento de silêncio para lembrar Usman e outras centenas de funcionários da ONU e de organizações não governamentais que perderam suas vidas enquanto cumpriam suas tarefas ao redor do mundo. A data é importante: foi no dia 19 de agosto de 2003 que uma forte explosão em Bagdá tirou a vida do então Representante Especial da ONU para o Iraque, Sérgio Vieira de Mello, e de outras 21 pessoas.

A constante matança de trabalhadores humanitários levanta importantes questões sobre como podemos garantir a segurança das nossas equipes em ambientes instáveis e inseguros. Em termos globais, este fato nos faz refletir sobre o grande dilema que se impõe às agências humanitárias ao redor do mundo: como responder às necessidades das pessoas mais vulneráveis e, ao mesmo tempo, garantir que os que prestam ajuda estejam em segurança? Nossa habilidade para atender aqueles que mais precisam está sendo severamente testada pela diminuição do assim chamado “espaço humanitário”, no qual devemos trabalhar. A natureza dos conflitos está mudando, com uma multiplicidade de grupos armados – alguns dos quais vêem agentes humanitários como alvos legítimos.

Outro exemplo disso foi o brutal assassinato, no mês passado, de Natalia Estemirova, funcionária da ONG Memorial, parceira do ACNUR na Rússia. Natalia foi encontrada morta na região de Ingushetia, no norte do Cáucaso, após ter sido seqüestrada em sua casa na Chechênia. Desde 2000, além de seu trabalho como pesquisadora em direitos humanos, Natalia vinha trabalhando como assistente social da ONG Memorial em projetos de aconselhamento legal e social em Grozny. Ela trabalhava em questões ligadas aos deslocados internos na Chechênia e seu retorno seguro para suas casas. A Memorial tem sido uma parceira implementadora do ACNUR no norte do Cáucaso desde 2000 e recebeu, em 2004, o Prêmio Nansen – concedido anualmente pelo Alto Comissariado.

Agentes humanitários trabalham nos lugares mais perigosos do mundo e arriscam suas próprias vidas no esforço para ajudar populações vulneráveis a preservarem as suas. Garantir a segurança destas equipes deve ser uma prioridade máxima para qualquer organização humanitária e para as Nações Unidas como um todo. Isso é inegociável.

E ainda assim, com a evolução da natureza dos conflitos e na atitude de alguns atores armados, os ataques deliberados a agentes humanitários têm crescido, estabelecendo uma tensão – e em algumas situações, uma contradição – entre os imperativos de segurança das equipes e a própria ação humanitária. O ACNUR tem lutado continuamente para estabelecer um nível de risco “aceitável” ao qual seus funcionários podem se expor.
Como as comemorações deste Dia Mundial da Ação Humanitária demonstram, este é um dilema verdadeiramente terrível.

Artigo publicado dia 19/08/2009 no jornal Folha de São Paulo.