ONU lança Panorama Global da Biodiversidade

É necessária uma nova visão para impedir que a perda de biodiversidade atinja proporções dramáticas, diz relatório.

Os sistemas naturais que apoiam as economias, a vida e os meios de vida em todo o planeta estão em risco de sofrer uma rápida degradação e até um colapso, se não forem adotadas medidas rápidas, radicais e criativas para conservar e utilizar de uma forma sustentável a diversidade de formas de vida na Terra. É esta a principal conclusão da terceira edição do relatório Panorama Global da BiodiversidadeGlobal Biodiversity Outlook (GBO-3) – produzido pela Convenção sobre Diversidade Biológica, que confirma que o mundo não atingiu a meta que se propôs de alcançar uma redução significativa da taxa de perda de biodiversidade até 2010. A íntegra do relatório encontra-se disponível em inglês clicando aqui.

O relatório baseia-se em avaliações científicas e documentos apresentados pelos governos. Ele apresenta também um estudo sobre possíveis cenários futuros sobre biodiversidade. A publicação, submetida a um processo de revisão científica independente e minucioso, é um dos principais marcos do Ano Internacional da Biodiversidade 2010, promovido pela ONU.

O relatório será debatido pelos líderes mundiais e chefes de Estado num segmento especial de alto nível da Assembleia Geral, que acontecerá em 22 de setembro na Sede da ONU em Nova York e suas conclusões também serão fundamentais para as negociações que serão feitas pelos governos na Cúpula sobre Biodiversidade de Nagoya (Japão), em outubro.

O GBO-3 adverte que parece ser cada vez mais provável que a perda de biodiversidade em grande escala se mantenha, o que acarretará em uma grave redução de muitos serviços essenciais, ao atingirem-se vários “pontos críticos”, em que os ecossistemas passam para estados diferentes, menos produtivos, que tornarão a recuperação difícil ou impossível.

Entre os pontos críticos potenciais analisados estão os seguintes:

  • A extinção progressiva de grandes extensões da floresta amazônica, devido à interação entre as alterações climáticas, o desflorestamento e os incêndios, com consequências para o clima mundial, a precipitação regional e a extinção generalizada de espécies.
  • A transição de muitos lagos de água doce e de outras massas de água interiores para estados eutróficos ou dominados pelas algas, em consequência da acumulação de nutrientes, conduzindo à morte de peixes em grande escala e à perda de estruturas recreativas.
  • O colapso de múltiplos ecossistemas de recifes de corais, devido à ação combinada da acidificação dos oceanos, aquecimento das águas (que conduz ao lixiviamento), sobrepesca e poluição dos nutrientes, o que representará uma ameaça aos meios de vida de centenas de milhões de pessoas que dependem diretamente dos recursos desses recifes.

O relatório sustenta, porém, que estas consequências poderão ser evitadas se forem empreendidas ações eficazes e coordenadas para reduzir as múltiplas pressões que estão sendo exercidas sobre a biodiversidade. Por exemplo, são necessárias medidas urgentes para reduzir a poluição proveniente de fontes terrestres e as práticas de pesca destrutivas, que estão empobrecendo os recifes de coral, tornando-os mais vulneráveis aos impactos das alterações climáticas e da acidificação dos oceanos.

Segundo o estudo, os governos têm que atribuir a mesma prioridade aos desafios da perda de biodiversidade aos das alterações climáticas, que estão interligados, e devem abordá-los de uma forma coordenada, caso se queiram evitar os impactos mais graves. A conservação da biodiversidade e dos ecossistemas que dela dependem pode contribuir para um maior armazenamento de carbono, reduzindo a acumulação de gases com efeito de estufa; e as pessoas poderão se adaptar melhor às alterações climáticas inevitáveis, se os ecossistemas se tornarem mais resistentes graças ao abrandamento das pressões.

Extraindo lições do fato de não se ter conseguido alcançar a meta de 2010, o GBO-3 descreve uma nova estratégia possível para reduzir a perda de biodiversidade. Essa estratégia incide, entre outras coisas, nas causas subjacentes ou fatores indiretos da perda da biodiversidade, tais como os padrões de consumo, os efeitos do aumento do comércio e as alterações demográficas. Outra medida importante seria acabar com subsídios prejudiciais.

No preâmbulo do GBO-3, o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, escreve: “Para combater as causas profundas da perda de biodiversidade, temos de lhe atribuir maior importância em todas as áreas da tomada de decisões e em todos os setores econômicos”.

“Esta terceira edição do Panorama Global da Biodiversidade afirma claramente que a conservação da biodiversidade não pode ser algo em que se vai pensar, depois de se terem alcançado outros objetivos – a biodiversidade é a base sobre a qual serão construídos muitos desses outros objetivos”. “Precisamos de uma nova visão para a diversidade biológica para o bem da saúde do planeta e de um futuro sustentável para a humanidade”.

O Subsecretário-Geral da ONU e Diretor Executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Achim Steiner, acrescenta que a não consecução da meta de 2010 relativa à biodiversidade se deve a algumas razões fundamentais. “Muitas economias continuam ignorando o enorme valor da diversidade de espécies animais e vegetais e de outras formas de vida, bem como o papel que desempenham na saúde e no funcionamento de ecossistemas que vão desde as florestas e massas de água doce até aos solos, oceanos e mesmo à atmosfera”.

“Muitos países já estão começando a ter em conta o capital natural em algumas áreas da sua vida econômica e social, o que lhes traz benefícios importantes, mas há que intensificar e manter esta tomada de consciência”. “A humanidade criou a ilusão de que, de algum modo, podemos viver sem a biodiversidade ou de que esta é, de certa maneira, uma preocupação periférica do nosso mundo contemporâneo: a verdade é que é mais do que nunca necessária, num planeta com seis bilhões de habitantes, que deverá atingir os nove bilhões em 2050”.

O Secretário Executivo da Convenção sobre Diversidade Biológica, Ahmed Djoghlaf, diz: “As notícias não são boas. Continuamos a perder biodiversidade a um ritmo nunca antes visto na história – as taxas de extinção são talvez mil vezes superiores à taxa histórica”.

“A avaliação do estado da biodiversidade mundial em 2010 apresentada no GBO-3, que se baseia nos indicadores mais recentes, em mais de 110 relatórios nacionais enviados ao Secretariado da Convenção, e em cenários possíveis para o século XXI, deve constituir um alerta para a humanidade. Manter o status quo já não é uma opção a considerar se quisermos evitar danos irreversíveis aos sistemas de apoio à vida no nosso planeta”.

“O novo plano estratégico da Convenção, que deverá ser adotado na Cúpula sobre Biodiversidade 2010, em Nagoya, tem que combater as causas subjacentes à perda de biodiversidade. São necessárias ações conjuntas para dar execução às Convenções sobre a Biodiversidade, sobre as Alterações Climáticas e sobre o Combate à Desertificação – as três convenções nascidas da Conferência do Rio de 1992. A Cúpula Rio+20 oferece uma oportunidade de se adotar um plano de trabalho nesse sentido”.

Para mais informações sobre o relatório e sobre o Ano Internacional da Biodiversidade, clique aqui: versão em DOC | versão em PDF