Arquivo da tag: paz e segurança

Marinete Silva e Antônio Francisco, os pais de Marielle Franco. Foto: UNIC Rio/Natalia da Luz

Ativista brasileira Marielle Franco é lembrada por especialistas, família e políticos

Morte da defensora de direitos humanos ocorreu há um ano no Rio de Janeiro. Especialistas dizem que é preciso fazer mais para esclarecer motivos do ataque.

Marinete Silva e Antônio Francisco, os pais de Marielle Franco. Foto: UNIC Rio/Natalia da Luz
Marinete Silva e Antônio Francisco, os pais de Marielle Franco. Foto: UNIC Rio/Natalia da Luz

Especialistas em direitos humanos das Nações Unidas pediram nesta quinta-feira (14) que o Brasil garanta justiça para o caso da defensora de direitos Marielle Franco, que foi morta há um ano.

Em nota, emitida em Genebra, o grupo reconhece o trabalho realizado pelos investigadores da polícia e promotores, bem como o progresso concreto feito nos últimos dias. Mas eles dizem que é preciso fazer mais para esclarecer os motivos do ataque e descobrir quem está por trás dele.

Família e políticos

Membros da família e políticos próximos da defensora dos direitos humanos destacam sua liderança em prol das populações marginalizadas. Marielle Franco ocupou o cargo de vereadora do Rio de Janeiro, após as eleições de 2016.

Em 14 de março de 2018, ela foi morta com seu motorista, Anderson Gomes. Na ocasião, relatores de direitos humanos da ONU disseram que “o assassinato tinha o objetivo de intimidar aqueles que lutam por direitos humanos no Brasil”.

Lembrando o acontecimento, a mãe da ativista, Marinete Silva declarou que “perder um filho é uma coisa que não dá para você mensurar, mas o contexto que traz a morte da Marielle vai muito além. É uma dor que dói muito mais por você saber que alguém teve um mentor para aquilo ali”.

Oportunidades

Marinete lembra que a luta da filha era para que houvesse uma justiça digna para todos, pela igualdade, principalmente em prol de oportunidades para a população mais carente.

O pai de Marielle, Antônio Francisco, diz que sente falta da filha 24 horas por dia, que a ativista tinha uma atuação muito forte na política, mas era extremamente presente na família.

“Eu aprendi muita coisa com Marielle, principalmente em relação aos direitos humanos. A visão que ela passava para a gente era profunda”, afirmou.

Ex-assessora e amiga de Marielle, a deputada Mônica Francisco disse que “para além da lutadora, da defensora de direitos humanos, Marielle representava as figuras de mulher, mãe, lésbica, favelada, acadêmica.”

Violência

Segundo ela, “simbolicamente, isso é muito forte. Ela representava a possibilidade de outras mulheres poderem estar nesse lugar de poder. É dizer, bom a gente pode”, contou a agora deputada estadual.

A deputada Renata Souza contou que deixou a Comissão de Direitos Humanos para compor o mandato da Marielle “para ajudar a construir pautas sobre a questão de gênero, raça, território e sobre que favela e periferia eram essas que precisavam estar presentes em seu mandato.”

Ao lado da amiga Marielle, participou de muitas manifestações na Maré. Juntas, elas ampliaram a interação com outras favelas do Rio de Janeiro na luta pelo fim da violência contra a população mais vulnerável.

Espaço

A deputada estadual Dani Monteiro diz que Marielle defendia e praticava o que ela chamava de “política com afeto”, que significava uma política sobre tocar a vida das pessoas de forma mais sensível.

“Essa energia dela, que chegava contagiando o espaço, equilibrava o espaço. Mari era essa pessoa que atendia vítimas de violência do Estado, mães negras faveladas e mães de policiais assassinados. Ela era a candidatura que representava tudo isso”.

Em sua trajetória de luta, Marielle inspirou muita gente, principalmente as mulheres negras, segundo a deputada federal Talíria Petrone.

“A gente só para quando nenhum corpo ficar pelo caminho e poder viver com dignidade e liberdade”, acrescentou.

Na 63ª Sessão da Comissão sobre o Estatuto da Mulher, CSW63, em Nova Iorque, vários ativistas ressaltaram a importância de Marielle Franco.

Com informação do Centro de Informação da ONU no Rio de Janeiro, UNIC Rio. Relatores e especialistas de direitos humanos são independentes da ONU e não recebem salário pela sua atuação.

Manifestação no Rio de Janeiro após assassinato de Marielle Franco em 2018. Foto: Flickr/Bernardo G. (CC)

Brasil deve garantir justiça para Marielle, dizem relatores da ONU e da CIDH

Manifestação no Rio de Janeiro após assassinato de Marielle Franco em 2018. Foto: Flickr/Bernardo G. (CC)
Manifestação no Rio de Janeiro após assassinato de Marielle Franco em 2018. Foto: Flickr/Bernardo G. (CC)

O Brasil deve garantir que os assassinos da defensora de direitos humanos brasileira Marielle Franco sejam levados à Justiça, disse nesta quinta-feira (14) um grupo de relatores de direitos humanos das Nações Unidas, no aniversário de um ano da morte da vereadora.

Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram mortos a tiros dentro de um carro no dia 14 de março de 2018, quando retornavam de um evento público. Dois ex-policiais suspeitos de participar do assassinato foram presos na terça-feira (12).

“O assassinato de Marielle Franco é um ataque ao coração de uma sociedade democrática e um caso emblemático das ameaças enfrentadas pelos defensores de direitos humanos no Brasil”, disseram os especialistas da ONU e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).

“Se o Estado não fizer justiça neste caso, enviará uma mensagem alarmante aos defensores de direitos humanos, em particular àqueles que enfrentam ameaças e ataques.”

“Marielle foi uma fonte de esperança e inspiração no Rio de Janeiro e em outros lugares. Ela trabalhou incansavelmente para promover os direitos das mulheres, a igualdade racial e os direitos das pessoas LGBTI.”

Os relatores lembraram que Marielle atuou em nome de pessoas negras e jovens em áreas urbanas. Ela denunciou o uso excessivo da força pelas forças de segurança e as ações das milícias que operam na capital fluminense.

“Reconhecemos o trabalho realizado pelos investigadores da polícia e promotores bem como o progresso concreto feito nos últimos dias, mas é preciso fazer mais para esclarecer os motivos do ataque e descobrir quem está por trás dele. O Brasil não deve seguir o caminho da impunidade”, disseram os relatores.

“O Estado tem a obrigação de garantir uma investigação completa, independente e imparcial sobre esses assassinatos. Instamos o Brasil a concluir a investigação o quanto antes, levando os responsáveis intelectuais e materiais à justiça e oferecendo reparação e indenização às famílias.”

O comunicado foi assinado pelos especialistas da ONU Michal Balcerzak, presidente do Grupo de Trabalho de Especialistas para Afrodescendentes; Agnes Callamard, relatora especial para execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias; David Kaye, relator especial para a promoção e proteção do direito à liberdade de opinião e expressão; Clément Nyaletsossi Voule, relator especial para os direitos à liberdade de reunião e associação pacíficas.

Outros relatores que assinaram o comunicado são Michel Forst, relator especial para a situação dos defensores de direitos humanos; E. Tendayi Achiume, relatora especial para formas contemporâneas de racismo, discriminação racial, xenofobia e intolerâncias relacionadas; Dubravka Simonovic, relatora especial para a violência contra as mulheres, suas causas e consequências; Ivana Radacic, presidente do Grupo de Trabalho para a questão da discriminação contra mulheres na lei e na prática.

O comunicado também foi assinado por Victor Madrigal-Borloz, especialista independente para a proteção contra a violência e discriminação baseada em orientação sexual e identidade de gênero; Leilani Farha, relatora especial para a moradia adequada como componente do direito a um padrão adequado de vida e para o direito à não discriminação nesse contexto; especialistas da Comissão Interamericana de Direitos Humanos: Esmeralda Arosemena de Troitiño, president da CIDH; Antonia Urrejola, segunda vice-presidente da CIDH e relatora de país para o Brasil; Francisco Eguiguren, relator para os direitos dos defensores dos direitos humanos.

Contatos para imprensa: Orlagh McCann (+41 22 917 9902/ [email protected])

Contatos para imprensa relacionados a outros especialistas independentes da ONU:
Jeremy Laurence, ONU Direitos Humanos – Unidade de mídia (+ 41 22 917 9383 / [email protected])

 

Confira também a matéria da ONU News sobre o aniversário de um ano do assassinato de Marielle Franco clicando aqui.