Relatora Especial da ONU pede que Brasil aprove emenda constitucional para combater escravidão

ulnara Shahinian, Relatora Especial da ONU sobre Formas Contemporâneas de Escravidão,A Relatora Especial das Nações Unidas sobre Formas Contemporâneas de Escravidão, Gulnara Shahinian, afirmou que o Brasil deve intensificar seus esforços para colocar um fim às praticas da escravidão no país, inclusive o trabalho forçado nas regiões rurais. “A escravidão é um crime que não deve ficar impune”, declarou Gulnara ao fim de sua visita ao Brasil.

Segundo ela, “o Governo tomou medidas louváveis para combater o flagelo, incluindo a publicação de uma chamada ‘lista negra’ de todas as fazendas e empresas que utilizam trabalho escravo”. “Mas alguns latifundiários, empresas e intermediários tem encontrado uma forma de evitar processos criminais, aproveitando brechas legais que atrasam o processo judicial e promovem a impunidade”.

Embora o trabalho forçado seja considerado um crime grave, os réus primários só podem ser condenados a prisão domiciliar ou a prestar serviços comunitários. O Brasil poderá em breve se tornar a quinta maior economia do mundo, mas a Relatora Especial advertiu que esta ascensão não deve vir às custas dos direitos das pessoas.

O trabalho forçado em áreas rurais, que segundo Gulnara é uma prática “análoga à escravidão”, é mais difundida na pecuária e nas indústrias de cana-de-açúcar, e as vítimas são na maioria homens e meninos com idade superior a 15 anos. Nas áreas urbanas do Brasil, o trabalho forçado ocorre em grande parte na indústria de confecções. “Em todas estas situações as vítimas trabalham longas horas, com pouca ou nenhuma remuneração”, disse Shahinian. “Eles são ameaçados e submetidos a violência psicológica, física e, às vezes, sexual”.

Durante sua visita, a Relatora se reuniu com autoridades do governo, organizações internacionais, do setor privado e organizações não-governamentais. Visitou São Paulo, Cuiabá, Imperatriz, Açailândia e Brasília. “A educação também deve incluir a formação profissional e programas de alfabetização, que deve ser complementada por medidas do Governo para salvaguardar o direito dos indígenas e outros para que possam trabalhar sem ter que sucumbir ao trabalho forçado”, apontou.

Apoio a emenda constitucional

Gulnara enfatizou que a mensagem mais forte que o governo brasileiro pode enviar aos seus cidadãos para mostrar que o crime de escravidão não ficará impune é a aprovação de uma emenda constitucional “que permitiria a desapropriação de terras onde o trabalho forçado é utilizado”. “A desapropriação ocorreria sem indenização e as terras seriam redistribuídas, sendo dada prioridade aos trabalhadores previamente mantidos em condições análogas à escravidão”. A aprovação desta emenda, disse, “vai mostrar que o Brasil é realmente muito empenhado na luta contra a escravidão”.