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Barragem de rejeitos da mineradora Vale se rompeu em janeiro de 2019 e atingiu a cidade de Brumadinho (MG), deixando mais de 200 mortos. Foto: Corpo de Bombeiros/MG

Na sede da ONU em Genebra, ativistas brasileiros demandam reconhecimento e justiça

Barragem de rejeitos da mineradora Vale se rompeu em janeiro de 2019 e atingiu a cidade de Brumadinho (MG), deixando mais de 200 mortos. Foto: Corpo de Bombeiros/MG
Barragem de rejeitos da mineradora Vale se rompeu em janeiro de 2019 e atingiu a cidade de Brumadinho (MG), deixando mais de 200 mortos. Foto: Corpo de Bombeiros/MG

“Hoje, na América Latina, sofremos uma enorme regressão. Nenhum de nós está seguro”, disse o brasileiro Moisés Borges, membro do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), grupo que luta pelos direitos das comunidades afetadas por esse tipo de construção no país.

Borges e Letícia Oliveira, também do MAB, participaram recentemente na sede da ONU em Genebra de reunião com membros da comunidade internacional de direitos humanos para alertar sobre a situação das vítimas da recente ruptura da barragem de mineração em Brumadinho (MG), que deixou ao menos 214 mortos e 91 desaparecidos.

“Os riscos de ser um ativista no Brasil e na América Latina são grandes, então, tentamos trabalhar coletivamente para que não haja uma pessoa agindo sozinha, mas em grupo”, disse Letícia.

Defensores dos direitos humanos, particularmente aqueles que defendem direitos ambientais, estão na mira de violência crescente. Em 21 de março, Dilma Ferreira Silva, ativista e coordenadora regional do MAB em Tucuruí (PA), foi assassinada junto a seu marido Claudinor Costa da Silva e ao amigo da família Hilton Lopes, em um assentamento na zona rural da cidade de Baião (PA).

O Escritório para América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) emitiu nota condenando o crime e pedindo investigações imparciais, independentes e completas, assim como uma maior proteção dos defensores de direitos humanos no Brasil.

De acordo com o MAB, há mais de 1,5 milhão de pessoas afetadas por barragens no Brasil, seja por conta de deslocamento forçado, danos ambientais ou acidentes quando essas construções falham. Borges disse que se envolveu com o MAB quando percebeu que sua própria família estava ameaçada pela construção de uma barragem, enquanto suas preocupações e direitos não estavam sendo reconhecidos.

“A partir dali eu comecei a entender que a construção dessas barragens era imposta a nós, então, me envolvi para criar um mundo melhor e evitar que outras pessoas passassem pela mesma coisa”, disse.

Letícia também foi afetada pela construção de uma barragem e se uniu ao MAB porque queria que a comunidade entendesse melhor a conexão entre pessoas, meio ambiente e situação econômica.

“Precisamos de uma nova forma de reorganizar a sociedade para sermos capazes de enfrentar os problemas socioambientais que temos hoje. O MAB foi a forma que eu e outras pessoas encontraram de contribuir”, declarou.

O Conselho de Direitos Humanos reconheceu as crescentes ameaças a ativistas ambientais. Em sua última sessão encerrada em 22 de março, o órgão aprovou uma resolução manifestando “grave preocupação com a situação dos defensores dos direitos humanos e do meio ambiente no mundo todo e condenou fortemente assassinatos e todas as demais violações ou abusos contra ativistas ambientais”. A resolução pediu que os Estados tomassem ações concretas para proteger e defender ativistas, incluindo processar os responsáveis por ataques e ameaças.

Borges e Letícia, que ainda estão participando das reuniões na Europa e retornarão ao Brasil no fim de março, disseram que a morte de Dilma Ferreira Silva os lembrou de que, apesar de o trabalho dos ativistas ambientais ser perigoso, crimes como este não vão fazer com que eles parem de reivindicar mudanças e a proteção de suas comunidades.

“Estamos tristes com o assassinato de Dilma”, disseram em comunicado conjunto, “mas seguimos firmes na luta, por ela e contra todas as formas de injustiça”.

Brasil: ONU Direitos Humanos condena assassinato de liderança Dilma Ferreira da Silva no Pará

Brasil: ONU Direitos Humanos condena assassinato de liderança Dilma Ferreira da Silva no Pará

Brasil: ONU Direitos Humanos condena assassinato de liderança Dilma Ferreira da Silva no Pará
Foto: MAB

O Escritório para América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) condenou neste domingo (24) os assassinatos da defensora de direitos humanos e coordenadora regional do Movimento dos Atingidos por Barragem, Dilma Ferreira da Silva, de seu marido Claudionor Amaro Costa da Silva e de Hilton Lopes, ocorridos no dia 22 de março de 2019 em um assentamento na área rural de Baião, no Pará.

O ACNUDH expressou condolências aos familiares das vítimas e instou as autoridades brasileiras a conduzir uma investigação completa, independente e imparcial sobre esses assassinatos, que leve à responsabilização dos autores do crime.

O Escritório também relembrou que o Estado brasileiro tem a responsabilidade de garantir a proteção integral das pessoas defensoras de direitos humanos no país para que possam cumprir com seu papel fundamental na sociedade, especialmente na defesa dos direitos das populações mais vulneráveis.

Leia a nota original clicando aqui.

Para mais informações e pedidos da imprensa, por favor contatar María Jeannette Moya ([email protected] / +569222102977).

Em Westminster, no Reino Unido, jovens em protesto na última sexta-feira (15) por ações climáticas urgentes. Foto: Flickr (CC)/Rox

ARTIGO: Mudanças climáticas — vamos ouvir os jovens do mundo

Em artigo divulgado na imprensa portuguesa, o secretário-geral da ONU, António Guterres, celebra o ativismo dos milhares de jovens que foram às ruas na última sexta-feira (15) para cobrar ações climáticas urgentes de governos e do setor privado.

Chefe das Nações Unidas alerta para a necessidade de mudanças radicais nas sociedades, com a eliminação dos subsídios para combustíveis fósseis e atividades agrícolas de elevados níveis de emissões e com a escolha por energias renováveis, veículos elétricos e práticas que respeitem o clima.

Em Westminster, no Reino Unido, jovens em protesto na última sexta-feira (15) por ações climáticas urgentes. Foto: Flickr (CC)/Rox
Em Westminster, no Reino Unido, jovens em protesto na última sexta-feira (15) por ações climáticas urgentes. Foto: Flickr (CC)/Rox

Por António Guterres, secretário-geral da ONU (*)

Dezenas de milhares de jovens foram esta sexta-feira (15) às ruas com uma clara mensagem para os líderes mundiais: atuem agora para salvar o nosso planeta e o nosso futuro da emergência climática.

Estes estudantes aprenderam algo que muitas pessoas mais velhas parecem não entender: estamos correndo contra o relógio pelas nossas vidas e estamos perdendo. A janela de oportunidade está se fechando e não podemos nos dar ao luxo de perder mais tempo. Atrasar a ação climática é quase tão perigoso quanto negar a existência de mudanças no clima.

A minha geração não conseguiu responder adequadamente ao dramático desafio das mudanças climáticas e isso é profundamente sentido pelos jovens. Não admira que estejam irritados.

Apesar de se falar do problema há muitos anos, as emissões globais estão batendo níveis recordes e não mostram sinais de terem atingido o seu pico. A concentração de dióxido de carbono na atmosfera é a mais alta em 3 milhões de anos.

Os últimos quatro anos foram os mais quentes já registados e as temperaturas no inverno no Ártico avançaram 3 °C desde 1990. O nível do mar está subindo, os recifes de corais estão morrendo e começamos a ver o impacto das mudanças climáticas na saúde, através da poluição do ar, das ondas de calor e dos riscos para a segurança alimentar.

Felizmente, temos o Acordo de Paris, um instrumento político visionário, viável e voltado para o futuro que define exatamente o que deve ser feito para travar as perturbações do clima e reverter os seus impactos. No entanto, o acordo em si é inútil caso não haja uma ação ambiciosa.

Por isso, vou reunir os líderes mundiais numa Conferência sobre Ação Climática no final deste ano. Convocarei todos a virem a Nova Iorque, em setembro, com planos concretos e realistas para aumentar suas contribuições nacionais até 2020, em linha com o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 45% na próxima década e eliminá-las em 2050.

A Conferência reunirá governos, setor privado, sociedade civil, autoridades locais e outras organizações internacionais para desenvolver soluções ambiciosas em seis áreas: energias renováveis; redução de emissões; infraestruturas sustentáveis; agricultura e gestão sustentável de florestas e oceanos; combate aos impactos climáticos; e investimento na economia verde.

Os estudos mais recentes mostram que, se agirmos agora, podemos reduzir as emissões de carbono em 12 anos e limitar o aquecimento global em 1,5 °C. Contudo, se continuarmos pelo mesmo caminho, as consequências são imprevisíveis.

Embora a ação climática seja de importância extrema para combater uma ameaça existencial, também implica custos. Por isso, os planos de ação não devem criar vencedores e perdedores, nem aumentar a desigualdade econômica. Devem ser equitativos e criar novas oportunidades para aqueles que são impactados negativamente, no contexto de uma transição justa.

As empresas estão do nosso lado. Acelerar soluções climáticas pode fortalecer as nossas economias e criar empregos, ao mesmo tempo que proporcionam um ar mais limpo, preservam os habitats naturais, a biodiversidade e protegem o meio ambiente.

As novas tecnologias e as soluções de engenharia já estão fornecendo energia a um custo menor do que a economia movida a combustíveis fósseis. A energia solar e a energia eólica onshore são já as fontes mais baratas das transações de energia em praticamente todas as principais economias. Contudo, devemos pôr em marcha uma mudança radical.

Para tal, é necessário eliminar os subsídios a combustíveis fósseis e a atividades agrícolas com elevados níveis de emissões e optar por energias renováveis, veículos elétricos e práticas que respeitem o clima. Os preços do carbono devem ser fixados de forma a refletir o verdadeiro custo das emissões, desde o risco climático aos perigos que implicam para a saúde, provocados pela poluição do ar.

Também é importante acelerar o encerramento das centrais a carvão e substituir esses postos de trabalho por alternativas mais saudáveis, para que a transformação seja justa, inclusiva e lucrativa.

O momento é propício: as pessoas estão atentas e há agora uma nova determinação em cumprir a promessa do Acordo de Paris. A Cúpula do Clima deve ser o ponto de partida para construir o futuro que precisamos.

Termino com uma mensagem para as e os jovens que se manifestaram esta semana. Eu sei que eles podem e mudam o mundo.

Hoje, muitos de vocês estão ansiosos e com medo do futuro, e eu entendo suas preocupações e raiva. No entanto, sei também que a humanidade é capaz de enormes conquistas. Suas vozes me dão esperança.

Quanto mais percebo seu compromisso e ativismo, mais confiança tenho de que vamos ganhar. Juntos, com sua ajuda e graças aos seus esforços, podemos e devemos superar esta ameaça e criar um mundo mais limpo, mais seguro e mais verde para todos.

*Publicado originalmente no português Diário de Notícias, em 16 de março de 2019.

Em Genebra, Monica Benicio participou de um evento organizado sociedade civil brasileira. Foto: Camila Fontenele

Monica Benicio, viúva da vereadora do Rio assassinada há um ano, Marielle Franco, promete continuar a luta

Um ano após o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco, sua viúva traz a luta dos grupos marginalizados e defensores dos direitos humanos do Brasil para o Conselho de Direitos Humanos em Genebra.

Um ano atrás, Monica Benicio perdeu o amor de sua vida. Na noite do 14 de março de 2018, sua companheira Marielle Franco – integrante da Câmara Municipal do Rio de Janeiro – foi baleada e morta com quatro tiros na cabeça enquanto voltava para casa, após participar em um evento público chamado “Jovens Negras Movendo Estruturas”. O assassinato também tirou a vida de seu motorista, Anderson Gomes.

Franco era uma crítica declarada da brutalidade policial e uma defensora dos direitos das mulheres, pessoas LGBTI e jovens das periferias urbanas de sua cidade.

Nos últimos meses, temos visto Monica Benicio usar a mesma camiseta de campanha em homenagem a sua falecida parceira. Nela, “Lute como Marielle Franco” está inscrito como um novo lema para os milhares de simpatizantes/partidários de Franco.

“Eu vejo um futuro de esperança. Ele tem, obviamente, muita resistência, não será construído sem muita luta, mas espero que, diferente do que a gente tem em todo momento da nossa história, que ele seja com menos sangue”, conta Benicio. “Essa é a luta do movimento feminista. É a luta por uma sociedade mais justa e mais igualitária.”

No final de fevereiro, durante a última sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, Benicio esteve em Genebra para falar sobre a situação das mulheres defensoras dos direitos humanos no Brasil, “e buscar ajuda internacional para que o mundo saiba o que está acontecendo no Brasil”.

Esses defensores, como a falecida Marielle Franco, foram vítimas de humilhação pública, assédio na Internet, ameaças de morte e até assassinatos, segundo um novo relatório de especialistas da ONU.

Em 2017, 65 defensores dos direitos humanos do Brasil teriam sido mortos, de acordo com a ONG Front Line Defenders. A própria Benicio recebeu sérias ameaças à sua própria vida que a forçaram a deixar a casa que compartilhava com sua parceira.

Ser uma defensora dos direitos humanos

Arquiteta e defensora dos direitos humanos, Benicio acredita que é fundamental para a comunidade internacional entender que a luta de sua companheira era pelos direitos humanos e contra o racismo, a discriminação de gênero e a fobia em relação às pessoas LGBTI.

Ela diz que a participação de grupos marginalizados é fundamental para transformar a sociedade. A minoria no poder político mas maioritária em número, acrescenta Benicio, não aceita mais uma sociedade caótica e violenta e vai desconstruí-la com resistência.

“A gente tem se articulado cada vez mais. Eu acho que, inclusive, a resposta à execução da Marielle – onde todas podíamos ter ficado acuadas, sobretudo as mulheres negras, e ter dado um passo atrás nas lutas –, houve um movimento completamente reverso a essa tentativa de silenciar o que a Marielle representava”, diz Benicio.

Em Genebra, Monica Benicio participou de um evento organizado sociedade civil brasileira. Foto: Camila Fontenele
Em Genebra, Monica Benicio participou de um evento organizado sociedade civil brasileira. Foto: Camila Fontenele

As mulheres negras no Brasil reagiram ao assassinato de Franco ocupando mais espaços democráticos.

“Quando eu olho uma luta de uma mulher quilombola, por exemplo, essa luta me inspira. Então, as vozes dessas minorias, se vistas pelo coletivo, podem ser também entendidas como uma inspiração de luta”, diz ela.

“São sempre essas minorias que buscam falar, não só por si, mas por uma construção coletiva. Então, para mim, serve olhar para essas lutas e entender que se isso me inspira, eu também quero transformar”, acrescenta Benicio.

Além do luto, a luta

Marielle Franco lutou para sair das favelas para e se tornar uma popular integrante da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Ela deixou para trás uma família e amigos, bem como outros sobreviventes de violência, lidando com a perda de uma jovem no auge de sua vida.

“É difícil seguir depois de tanta violência. Mas eu acho que o que ressignifica, na verdade, inclusive a própria vida, é o sentido da luta em si… entender que você precisa colaborar, de alguma forma, em uma construção social com solidariedade para que ninguém sinta a mesma dor que você sentiu”, diz Benicio.

“Isso é um projeto particular que eu tenho. Não querer que outra pessoa passe por uma história parecida. Então, quando eu penso que a minha luta pode evitar que isso aconteça, ela me ajuda a seguir.”

Depois do assassinato de Franco, protestos em todo o mundo denunciaram seu assassinato. No primeiro aniversário de sua morte, protestos locais e homenagens continuam. O mesmo acontece com a investigação sobre o assassinato de Franco: em 12 de março de 2019, dois ex-policiais suspeitos de participar do crime foram presos.

“Transformar a sociedade no que ela lutava, no que ela acreditava. Então, de certa forma, para mim, é também uma maneira de continuar com ela. E dizer também para pessoas que passaram por violências e dores parecidas, que a gente tem, sim, motivo para seguir. Porque senão a gente vai dizer que a vida dos nossos que foram retiradas, foram em vão e isso para mim é inadmissível”, diz Benício.

“Ressignificar a própria história em um movimento de luta é também um ato de solidariedade e transformação social; é também um ato de luta pelas pautas dos direitos humanos. Esse é o legado de Marielle. É isso.”

Marinete Silva e Antônio Francisco, os pais de Marielle Franco. Foto: UNIC Rio/Natalia da Luz

Ativista brasileira Marielle Franco é lembrada por especialistas, família e políticos

Morte da defensora de direitos humanos ocorreu há um ano no Rio de Janeiro. Especialistas dizem que é preciso fazer mais para esclarecer motivos do ataque.

Marinete Silva e Antônio Francisco, os pais de Marielle Franco. Foto: UNIC Rio/Natalia da Luz
Marinete Silva e Antônio Francisco, os pais de Marielle Franco. Foto: UNIC Rio/Natalia da Luz

Especialistas em direitos humanos das Nações Unidas pediram nesta quinta-feira (14) que o Brasil garanta justiça para o caso da defensora de direitos Marielle Franco, que foi morta há um ano.

Em nota, emitida em Genebra, o grupo reconhece o trabalho realizado pelos investigadores da polícia e promotores, bem como o progresso concreto feito nos últimos dias. Mas eles dizem que é preciso fazer mais para esclarecer os motivos do ataque e descobrir quem está por trás dele.

Família e políticos

Membros da família e políticos próximos da defensora dos direitos humanos destacam sua liderança em prol das populações marginalizadas. Marielle Franco ocupou o cargo de vereadora do Rio de Janeiro, após as eleições de 2016.

Em 14 de março de 2018, ela foi morta com seu motorista, Anderson Gomes. Na ocasião, relatores de direitos humanos da ONU disseram que “o assassinato tinha o objetivo de intimidar aqueles que lutam por direitos humanos no Brasil”.

Lembrando o acontecimento, a mãe da ativista, Marinete Silva declarou que “perder um filho é uma coisa que não dá para você mensurar, mas o contexto que traz a morte da Marielle vai muito além. É uma dor que dói muito mais por você saber que alguém teve um mentor para aquilo ali”.

Oportunidades

Marinete lembra que a luta da filha era para que houvesse uma justiça digna para todos, pela igualdade, principalmente em prol de oportunidades para a população mais carente.

O pai de Marielle, Antônio Francisco, diz que sente falta da filha 24 horas por dia, que a ativista tinha uma atuação muito forte na política, mas era extremamente presente na família.

“Eu aprendi muita coisa com Marielle, principalmente em relação aos direitos humanos. A visão que ela passava para a gente era profunda”, afirmou.

Ex-assessora e amiga de Marielle, a deputada Mônica Francisco disse que “para além da lutadora, da defensora de direitos humanos, Marielle representava as figuras de mulher, mãe, lésbica, favelada, acadêmica.”

Violência

Segundo ela, “simbolicamente, isso é muito forte. Ela representava a possibilidade de outras mulheres poderem estar nesse lugar de poder. É dizer, bom a gente pode”, contou a agora deputada estadual.

A deputada Renata Souza contou que deixou a Comissão de Direitos Humanos para compor o mandato da Marielle “para ajudar a construir pautas sobre a questão de gênero, raça, território e sobre que favela e periferia eram essas que precisavam estar presentes em seu mandato.”

Ao lado da amiga Marielle, participou de muitas manifestações na Maré. Juntas, elas ampliaram a interação com outras favelas do Rio de Janeiro na luta pelo fim da violência contra a população mais vulnerável.

Espaço

A deputada estadual Dani Monteiro diz que Marielle defendia e praticava o que ela chamava de “política com afeto”, que significava uma política sobre tocar a vida das pessoas de forma mais sensível.

“Essa energia dela, que chegava contagiando o espaço, equilibrava o espaço. Mari era essa pessoa que atendia vítimas de violência do Estado, mães negras faveladas e mães de policiais assassinados. Ela era a candidatura que representava tudo isso”.

Em sua trajetória de luta, Marielle inspirou muita gente, principalmente as mulheres negras, segundo a deputada federal Talíria Petrone.

“A gente só para quando nenhum corpo ficar pelo caminho e poder viver com dignidade e liberdade”, acrescentou.

Na 63ª Sessão da Comissão sobre o Estatuto da Mulher, CSW63, em Nova Iorque, vários ativistas ressaltaram a importância de Marielle Franco.

Com informação do Centro de Informação da ONU no Rio de Janeiro, UNIC Rio. Relatores e especialistas de direitos humanos são independentes da ONU e não recebem salário pela sua atuação.