Conflitos deixam cidades abandonadas na Síria

Protesto em Damasco (Síria), no dia 24 de abril.O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) constatou que a cidade de Jisr al-Shugour, no noroeste da Síria, e outras cidades vizinhas estão praticamente abandonadas. A denúncia foi feita logo após uma visita à região, onde forças do Governo entraram em conflito com manifestantes no início deste mês.

“Jisr al-Shugour está quase deserta, com a maioria das lojas fechadas,” disse o porta-voz do ACNUR, Adrian Edwards, em Genebra, descrevendo o que um funcionário da agência viu durante visita ocorrida na segunda-feira (20/06). “Pessoas deslocadas não foram encontradas, mas o fato de que Jisr al-Shugour e aldeias vizinhas estão vazias indica um deslocamento significativo,” afirmou.

O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, tomou conhecimento de reformas prometidas pelo Presidente Bashar al-Assad em discurso proferido também na segunda-feira, segundo o seu porta-voz, Martin Nesirky. “Ele pede que o Presidente implemente estas medidas sem demora e de forma verdadeira e crível. Elas devem ser parte de um amplo e inclusivo processo de mudança e democratização,” disse Nesirky.

A visita à região foi organizada pelo Governo e liderada por militares sírios, e incluiu 150 diplomatas, profissionais da mídia e de agências da ONU. A missão conheceu os locais afetados pelos conflitos e não se concentrou em necessidades humanitárias, disse Edwards, acrescentando que o ACNUR se encontrou brevemente com funcionários do Crescente Vermelho Árabe Sírio, que informou sobre a escassez de alimentos e medicamentos na região.

A agitação na Síria causou o deslocamento de mais de dez mil civis para a Turquia, onde estão sendo abrigados por autoridades turcas em quatro campos ao longo da fronteira entre os países. Uma missão de avaliação no sudeste da Turquia, neste fim de semana, ficou encorajada com o que viu. Ao mesmo tempo, há preocupações de que muitas pessoas estejam gravemente traumatizadas, e que haja muitos grupos vulneráveis ??precisando de ajuda – especialmente mulheres sozinhas com seus filhos, representando mais de 50% da população.

“Refugiados da Síria falaram com nossa equipe sobre seus medos e traumas,” disse Edwards. “Muitos perderam familiares, que, segundo disseram, estão mortos, desaparecidos ou na clandestinidade. Nossa equipe ouviu relatos de assassinatos, ataques, civis sendo mortos no fogo cruzado, tortura e humilhação por parte dos militares. (…) A maioria dessas pessoas perdeu praticamente todos os seus pertences e propriedades. Em muitos casos, seus animais foram baleados, campos queimados e casas e empresas destruídas ou confiscadas,” acrescentou.