Corrupção ameaça esforços globais contra narcóticos

Melvyn LevitskyA corrupção é um dois maiores obstáculos no combate ao tráfico ilícito de drogas, afirma a Junta Internacional de Fiscalizaçao de Entorpecentes (JIFE) em seu relatório anual, lançado ontem (02/03). Segundo o documento, os grandes lucros gerados no mercado de drogas muitas vezes excedem os recursos financeiros das instituições de Estado e as organizações criminosas, em alguns casos, tornam-se forças políticas com o poder e a autoridade das instituições legítimas.

“Ao empregar a corrupção e a violência, [traficantes] são capazes de evitar a aplicação da lei, a interdição, a erradicação do cultivo de drogas e ações como a extradição aos países que querem processá-los,” disse o membro da Junta, Melvyn Levitsky, a repórteres na sede da ONU. “A corrupção assola não só nossa área de controle de drogas, mas também enfraquece os governos e as instituições,” acrescentou Levitsky, que também é professor de Política e Prática Internacional na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.

O relatório ainda alerta que as chamadas “drogas projetadas”, como a mefedrona, que imita os efeitos da cocaína, estão sendo produzidas cada vez mais rapidamente e em número crescente. Instruções detalhadas para a fabricação destes medicamentos sintéticos são frequentemente partilhadas através da Internet. “Dados os riscos de saúde causados pelo abuso de drogas sintéticas, pedimos aos governos que adotem medidas nacionais de controle para impedir a fabricação, o tráfico e o abuso dessas substâncias,” disse o Presidente da Junta, Hamid Ghodse.

Por outro lado, as drogas lícitas necessárias ao tratamento médico não estão disponíveis em todas as partes do mundo, diz o relatório, lembrando que mais de 80% da população mundial sofre com a falta ou insuficiência de acesso a medicamentos de alívio para a dor. Enquanto os países ocidentais consomem 90% dos medicamentos no mercado, muitos países da África, da Ásia e das Américas têm pouco ou nenhum acesso a muitas drogas com fins médicos. As barreiras incluem a falta de educação dos profissionais de saúde, restrições regulamentares, dificuldades na distribuição e a ausência de uma política de saúde abrangente, que inclua o tratamento da dor.

Entre outras conclusões, o relatório assinala que o abuso de cocaína está se espalhando na Europa, possivelmente em substituição às anfetaminas e ao ecstasy, como droga de escolha em países como a Dinamarca, a Espanha e o Reino Unido. Além disso, a heroína continua a ser a principal droga de abuso na China, na Malásia, em Mianmar, na Singapura e no Vietnã, com a maioria dos países da região relatando declínio ou tendência para a estabilidade no abuso da droga, enquanto o Sul da Ásia se tornou uma das principais regiões utilizadas por traficantes para obter produtos químicos necessários para produzir drogas sintéticas.