Observações do Secretário-Geral ao III Fórum da Aliança de Civilizações das Nações Unidas

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O SECRETÁRIO-GERAL

OBSERVAÇÕES AO III FÓRUM DA ALIANÇA DE CIVILIZAÇÕES

Rio de Janeiro, 28 de maio de 2010

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Presidente Lula do Brasil,
Primeiro-Ministro da Turquia, Erdogan,
Senhores Chefes de Estado e de Governo,
Sr. Presidente da Assembleia Geral,
Sua Alteza Sheikha Mozah, Presidente do Catar,
Senhores Ministros,
Distintos Governadores e Prefeitos,
Excelências,
Delegados,
Senhoras e Senhores,

Bom dia.

Presidente Lula, os meus sinceros agradecimentos a você e ao povo brasileiro por sua hospitalidade e boas-vindas.

Muito Obrigado.

Para os co-promotores originais da Aliança de Civilizações – Espanha e Turquia – muito obrigado por seu consistente apoio.

Agradeço o Alto Representante Sampaio por sua dedicação.

Eu também elogio o Guardião das Duas Mesquitas Sagradas, Rei Abdullah, por sua iniciativa inter-religiosa, incluindo a sua convocação a vivermos uma fé autêntica, que enfatiza o diálogo e a cooperação.

Excelências,
Senhoras e senhores,

Nós nos encontramos em um momento único.

Os tempos estão mudando. O poder está mudando. O Brasil esta crescendo.

Não falo apenas da economia do Brasil, mas da história do Brasil.

Este é um caldeirão de culturas, povos e tradições.

Todos incentivando todos como se fossem um… especialmente durante a temporada da Copa do Mundo!

Não há lugar melhor para a Aliança de Civilizações para nos encontrarmos e levar este trabalho à frente.

Superficialmente, pode parecer que eu venho de um mundo diferente.

Quando cresci, a minha terra natal, a Coreia, era um dos lugares mais homogêneos na Terra.

Mas fui criado na iminência da Guerra da Coreia.

A comunidade internacional reconstruiu o meu país.

Desde cedo, eu vi o poder da união de culturas por uma causa comum.

Eu vi a solidariedade em ação.

Eu não sou apenas uma testemunha – sou um produto dela.

Esta não é apenas a minha história – é uma parte essencial de quem eu sou.

É por isso que este Fórum significa tanto para mim.

E é por isso que eu sei que a Aliança de Civilizações importa para o mundo.

Excelências,
Senhoras e senhores,

Desde o início, todos nós sabíamos que a Aliança não poderia ser como usualmente.

O trabalho não poderia ser deixado para os relatórios belamente escritos, trancados na biblioteca das Nações Unidas.

Entendemos que a Aliança deve ser orientada para a ação.

É preciso chegar longe e ser abrangente.

Desde 2005, é exatamente isso o que a Aliança de Civilizações tem feito.

Com seu apoio, a Aliança está reunindo jornalistas de todo o mundo para enfrentar o preconceito e os desentendimentos – incluindo o relatório conjunto e inédito de Israel e do mundo árabe.

Está ampliando o diálogo para os jovens de diferentes etnias no Burundi, promovendo a mediação e resolução de conflitos no sul da Ásia, aconselhando em bairros de imigrantes na Europa e criando empregos para os jovens em todo o Oriente Médio e Norte da África.

Ao mesmo tempo, a Aliança está aumentando sua própria rede de parceiros e comunidade de amigos. Temos o prazer de saudar o 100o membro, os Estados Unidos da América.

Tudo isso é impressionante. Mas é apenas um começo.

A Aliança é um processo – um trabalho em andamento.

Nas comunidades onde os símbolos das minorias religiosas são vistos como algo a se opor ou sentir medo, precisamos de um engajamento contínuo.

Nos lugares onde são retiradas as oportunidades de pessoas por causa de sua raça, credo ou mesmo o seu nome, temos mais trabalho a fazer.

Mas a missão da Aliança deve ir mais fundo ainda.

Gostaria de apontar brevemente três razões do porquê.

Em primeiro lugar, e fundamentalmente, porque sua missão está entre as mais importantes do século 21.

Três quartos dos principais conflitos no mundo hoje tem uma dimensão cultural.

Vocês estão tentando desarmar as tensões por encontrar respostas para algumas das questões mais urgentes dos nossos dias:

Como podemos construir sociedades inclusivas?

Como podemos fortalecer a educação e o emponderamento das mulheres?

Como afogar o cantar das sereias que desviam os jovens para o extremismo?

Em suma, como podemos construir comunidades baseadas na “convivência” – que vivem juntas em paz, baseadas na confiança e no respeito mútuo?

Isso me leva à segunda razão para aprofundar o nosso trabalho – porque o processo de construção de sociedades inclusivas deve ser ele mesmo inclusivo.

Todos nós e cada um de nós somos necessários.

Afinal, a paz e a reconciliação não podem ser impostas.

Elas são sementes, plantadas por pessoas, nutridas pelas comunidades.

Dia, após dia, após dia.

A Aliança cultiva através de sensibilização, através da compreensão, através da educação.

E nós sabemos que a educação é mais do que aprender.

Às vezes também é desaprender.

Temos que abandonar os estereótipos do monolítico “outro”.

Temos de pôr um fim às etiquetas que fazem mais para dividir do que definir.

A terceira razão para aprofundar o nosso trabalho: a globalização.

A globalização pode igualmente unir e alienar.

Nós temos acesso a mais informações, ideias e tecnologia. E, mesmo assim, medos e ódios estão a apenas um clique do mouse de distância.

Os ganhos da globalização estão mais visíveis – mas isso, também, é o sentimento entre muitos de que esses benefícios estão fora de alcance.

Em muitos lugares pelo mundo, tais medos levam as pessoas a se retirar – longe da “globalização” para uma localização “extrema”.

Aquele que envia a mensagem: “Nosso caminho é o melhor”.

Ou pior: “Não há nenhuma outra maneira a não ser o meu caminho”.

Isso cria tensão e instabilidade.

Combater isto é, também, o trabalho da Aliança.

E à medida que expandimos os nossos esforços, temos de fazer ainda mais para alcançar, ouvir e aprender com os jovens.

Amanhã, eu vou para a África. 70 por cento dos africanos tem menos de 30 anos de idade.

Metade da população mundial tem menos de 25 anos, a grande maioria nos países em desenvolvimento.

Temos de aproveitar esse grande potencial.

Eles precisam ver um mundo de esperança e possibilidade, educação de qualidade e trabalho digno.

Ontem eu me encontrei com os jovens da favela da Babilônia aqui no Rio de Janeiro.

Uma jovem disse: “Quando vou para áreas ricas, eles veem o que eu sou, não quem eu sou.”

Mas ela mostrou a todos nós.

Os jovens que conheci tinha tanta paixão e compromisso com o trabalho contra a discriminação e para uma vida melhor.

Eu aprendo com vocês. Vocês aprende de mim. Nós crescemos juntos.

Essa foi sua mensagem. Essa é a nossa mensagem.

Excelências,
Senhoras e Senhores,

Não sou ingênuo sobre este desafio.

Há desconforto em nosso mundo.

Tensões, enraizadas no medo. Medo, dirigido pela ignorância.

Vivemos em um mundo onde, muitas vezes, a divisão vende.

Ele ganha votos. Recebe audiência. É muito mais fácil culpar os outros do que pensar por si próprio.

E ainda assim, onde quer que eu vá, tenho encontrado algo mais – uma percepção crescente de que estamos juntos nessa.

A mais nítida consciência de que o futuro do meu filho depende do futuro do seu filho.

Uma maior compreensão de que somos uma única família global com muitos membros, e não monólitos.

Nós ainda não estamos lá.

A viagem é longa.

Mas eu tiro força do provérbio brasileiro:

Boa vontade torna o caminho mais curto.

Sua boa vontade e seu bom trabalho estão tornando todos os nossos caminhos mais curtos.

Eu posso ver no horizonte um mundo que entende que, juntos, somos melhores.

Eu posso ouvir gritos substituídos pelo exercício de ouvir.

Eu posso sentir uma força empenhada em fazer com que isso aconteça.

Governos, sociedade civil, o setor privado, a comunidade da fé, a juventude.

Vocês – e tudo o que essa Aliança representa.

Um movimento social global.

Uma Aliança da humanidade.

Independentemente da tradição religiosa, nós temos uma fé comum: a fé no nosso futuro comum.

Vamos aproveitar a nossa humanidade comum e fazer um mundo melhor.