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Importância do trabalho humanitário é lembrada em todo o mundo

Importância do trabalho humanitário é lembrada em todo o mundoHoje, dia 19 de agosto, é comemorado o segundo Dia Mundial da Ação Humanitária. A data foi instituída em dezembro de 2008 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, para “contribuir com o aumento da consciência pública sobre o trabalho humanitário e a importância da cooperação internacional, e para comemorar todos os trabalhadores humanitários do mundo”. A data coincide com o dia do atentado no Hotel Canal em Bagdá, no Iraque, que tirou a vida do Representante Especial do Secretário-Geral para o país, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello e de outros 21 funcionários das Nações Unidas, em 2003.

O Dia Mundial da Ação Humanitária foi designado em memória daqueles que morreram nesse atentado a bomba, mas também em memória aos muitos trabalhadores humanitários que perderam suas vidas. Ele é também comemorado para enfatizar as necessidades atuais e desafios humanitários em todo o mundo, tais como ameaças aos trabalhadores de ajuda humanitária pelas diferentes partes envolvidas nos conflitos, os desafios para chegar até as pessoas que precisam de ajuda, ou a complexidade crescente do ambiente humanitário devido aos aumentos dos preços dos alimentos, à turbulência financeira global, à escassez de água e às mudanças climáticas.

Como bem lembra o Secretário-Geral em mensagem alusiva à data (leia a íntegra da mensagem ou assista a mesma abaixo), os trabalhadores humanitários “representam o que a natureza humana tem de melhor, mas o seu trabalho é perigoso. Muitas vezes, aventuram-se a ir para os lugares mais perigosos do mundo. E, muitas vezes também, pagam um preço muito elevado. Perseguição e intimidação. Sequestro e até assassinato” (leia aqui mensagem na íntegra).

Para marcar a data, o Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) produziu o vídeo “Somos trabalhadores humanitários”, legendado para o português pelo Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil (UNIC Rio), como forma de homenagear trabalhadores humanitários em todo o mundo. O projeto colaborativo envolveu centenas de pessoas e foi filmado em 43 países durante 9 semanas, com o tempo integralmente doado pelos participantes. A música original usada no filme foi produzida por Krister Linder, com animação em 2D por Anu Nagaraj. O filme não possui direitos autorais e pode ser reproduzido livremente.

Assista abaixo ao vídeo, legendado em português pelo UNIC Rio:


Links: Vimeo | YouTube.

Saiba mais sobre a ação humanitária

Desastres naturais e/ou causados pela humanidade são a causa de enorme sofrimento para milhões de pessoas todos os anos, muito frequentemente entre as pessoas mais pobres, mais marginalizadas e mais vulneráveis. Atualmente há cerca de 27 milhões de pessoas deslocadas internamente e 10 milhões de refugiados no mundo. Uma em cada seis pessoas sofre de fome crônica. Os trabalhadores humanitários se empenham em assegurar que todos aqueles que passam por uma experiência traumática e necessitam de apoio para se manter vivos recebam ajuda sempre que possível, independente de sua localização geográfica, nacionalidade, religião ou grupo social.

A maioria dos trabalhadores humanitáriosvem dos países onde atuam porém uma parcela deles é de outras nacionalidades. Parceiros profissionais locais e independentes se envolvem em todas as respostas humanitárias. Eles são mulheres e homens que refletem distintas culturas, ideologias e experiências. Suas motivações para o trabalho humanitário são diversas.

Por muito tempo, era hegemônica a visão de que os trabalhadores humanitários deveriam ser bem recebidos e protegidos, para que pudessem realizar ações humanitárias de modo seguro. No entanto, ganhou força recentemente a visão de que o trabalho humanitário vinha exclusivamente de organizações ou agênciais ocidentais, ou que representavam exclusivamente uma visão ideológica ou religiosa. A preocupação com este preconceito – uma visão totalmente equivocada – está diminuindo a segurança dos trabalhadores humanitários, que têm sofrido ataques frequentes em alguns lugares.

Esta situação dificulta a atuação junto à população mais pobre e vulnerável. Uma das preocupações da ONU é mostrar que o setor de ajuda humanitária é verdadeiramente global e abrange pessoas de diversas origens e nacionalidades, trabalhando em conjunto em muitos e diferentes ‘guarda-chuvas’, porém com um conjunto compartilhado de princípios que norteiam suas atividades.

“As pessoas que trabalham para tentar resolver necessidades humanitárias estão frequentemente em áreas remotas, normalmente difíceis e perigosas, onde há conflitos e onde catástrofes naturais acontecem”, afirmou o Subsecretário-Geral para Assuntos Humanitários, John Holmes.

Apenas em 2009, 278 trabalhadores humanitários foram vítimas em 139 graves incidentes de segurança, um aumento muito alto em comparação com 1999, quando 65 trabalhadores humanitários estiveram envolvidos em 34 incidentes desse tipo. Em 2009, 205 destas vítimas eram membros de organizações humanitárias nacionais e 73 de organizações internacionais. Em 1999, do total de vítimas, 40 eram funcionários nacionais e 25 internacionais.

102 trabalhadores humanitários foram assassinados em 2009 – 88 funcionários nacionais e 14 internacionais. Em 1999, foram 30 trabalhadores humanitários mortos, sendo 24 nacionais e 6 internacionais. Outros 92 funcionários de organizações humanitárias foram sequestrados em 2009 (59 nacionais e 33 internacionais), outro aumento em comparação com 1999, quando esse número chegou a 20 – dois nacionais e 18 internacionais. Incidentes envolvendo atentados a trabalhadores humanitários aumentaram de três para 23. O número de emboscadas em estradas aumentou de oito para 20, de 1999 a 2009.

Informações adicionais, em inglês, podem ser obtidas no endereço www.worldhumanitarianday.info

Mais informações à imprensa

No Rio de Janeiro
Valéria Schilling, Assessora de Comunicação
Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio)
Email: [email protected]
Tel.: +55 (21) 2253-2211 / 8202-0171
Site: www.unicrio.org.br

Em Nova York
Nicholas Reader ([email protected])
Stephanie Bunker ([email protected])

Em Genebra
Elisabeth Byrs ([email protected])

Seis meses após terremoto, ONU aponta situação do Haiti

Escritório da ONU lembra que quase cinco mil escolas foram afetadas, muitas das quais fechadas após o tremor. Mais da metade dos 49 hospitais nas três regiões atingidas foram destruídos ou seriamente deteriorados.

Nesta segunda-feira (12) completa seis meses do terremoto ocorrido no Haiti, um dos desastres naturais com maiores perdas humanas e econômicas das últimas décadas. Em relatórios recentes, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) relata em números e estatísticas os saldos da tragédia no país, aprofundando a já grave crise humanitária.

Haiti antes do terremoto

Foto: Uma integrante do Tchaka Dance, um grupo de dança haitiana, ajuda uma criança a desenhar no campo de deslocados em Bellevue Country Club, em Porto Príncipe. Foto: Sophia Paris/MINUSTAH.

A situação social do Haiti não era boa, mesmo antes do desastre ocorrido há seis meses. O terremoto deu seguimento às devastadoras perdas causadas por vulcões que entraram em atividade em 2008, afetando a vida de 800 mil haitianos. Cerca de 60% da população trabalhadora do Haiti vive em áreas rurais e depende da agricultura para sobreviver, e a ação vulcânica destruiu 70% do setor agrícola.

Em 2009, segundo o Escritório do Enviado Especial das Nações Unidas para o Haiti, 55% dos haitianos viviam com pouco mais de um dólar por dia e a renda per capita anual era de U$ 660.

De acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do PNUD, o Haiti ficou no 149° lugar entre 182 países no ano de 2009, o mais baixo de todo o continente americano. A probabilidade de não chegar com vida até os 40 anos de idade era de 18,5%, enquanto a expectativa de vida era de 61 anos, sendo pior que em Mianmar e uma das piores do mundo.

Além disso, as condições de saúde e nutrição no país já eram muito preocupantes. Por exemplo, mais de 60% das crianças e 46% das mulheres sofriam de alguma forma de anemia, enquanto 58% das crianças estavam subnutridas, de acordo com dados fornecidos pelo Escritório do Enviado Especial das Nações Unidas no país.

Contexto pós-terremoto

Quase 3,5 milhões de pessoas presenciaram o terremoto mais forte dos últimos 200 anos no Haiti, de 7 graus na escala Richter, incluindo toda a população de Porto Príncipe – cerca de 2,8 milhões, o equivalente à população da cidade de Chicago (EUA), Madri (Espanha) ou Taipei (China). O governo haitiano estima que cerca de 222 mil pessoas morreram e outras 300 mil foram feridas no dia 12 de janeiro, mas o número de mortes exato não pode ser confirmado.

Foto: Cemitério de sepulturas sem identificação em um vale rural próximo a Porto Príncipe, na área conhecida como Ti Tanyen. Este tem sido um local de despejo de corpos e para as valas comuns desde o terremoto de 12 de janeiro. Foto: Sophia Paris/MINUSTAH.

Mais de 188 mil casas caíram ou foram danificadas e 105 mil foram completamente destruídas. Prédios importantes como o Palácio Presidencial, o Parlamento, a Catedral e a maioria dos edifícios governamentais ruíram, 60% dos prédios oficiais, entre estruturas administrativas e econômicas, de acordo com a Avaliação de Necessidades Pós-Desastres (PDNA, na sigla em inglês) e com o Governo do Haiti. Quase cinco mil escolas foram afetadas, muitas das quais fechadas após o tremor. Mais da metade dos 49 hospitais nas três regiões atingidas foram destruídos ou seriamente deteriorados.

Por conta das casas destruídas, no momento mais problemático do desastre aproximadamente 2,3 milhões de pessoas foram deslocadas para outras áreas, incluindo 302 mil crianças, e mais de 1.300 assentamentos espontâneos foram identificados. Aproximadamente 1,5 milhão de crianças e jovens abaixo dos 18 anos foram afetados direta ou indiretamente pelo tremor. Quase 720 mil dentre essas crianças têm entre seis e 12 anos.

O valor total das destruições e perdas causadas pelo ocorrido em 12 de janeiro é estimado em 7,8 bilhões de dólares, dos quais 4,3 bilhões representam estragos físicos e 3,5 bilhões, econômicos. Esses valores são equivalentes a mais de 120% do PIB e evidencia o maior impacto econômico causado por uma desastre comparado ao rendimento nacional em 35 anos.

Após o terremoto, mais de 604 mil pessoas deixaram o Departamento do Oeste, onde se localiza a capital do país. Aproximadamente 160 mil pessoas se mudaram de Porto Príncipe para a área fronteiriça com a República Dominicana.

Imagens, vídeos e outras informações (em inglês) você encontra clicando aqui.

Vídeos mostram primeiros dias pós-terremoto

12 de janeiro de 2010, um terremoto de 7,0 graus de magnitude devastou o Haiti.

Além daqueles que já tinham sido salvos pelo povo haitiano, as equipes de Busca e Resgate Internacionais coordenadas pelas Nações Unidas conseguiram retirar outras 133 pessoas vivas dos escombros.

O resgate de número 132 foi Natalie. “Porque uma vida não tem preço” (Bruno Besson).

No curta-metragem acima, “One Month On”, do Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), para marcar o aniversário de um mês do terremoto no Haiti, mostrando as dificuldades dos primeiros dias da emergência, enfrentados pela equipe de operações de resgate e recuperação da ONU.

Vídeos das Nações Unidas, legendados pelo UNIC Rio/Clarissa Montalvão. Visite o canal das Nações Unidas no YouTube (em inglês) clicando aqui.

Um terrível dilema

António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados

O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) ainda está chocado com o recente e brutal assassinato do nosso colega de equipe Zill-e-Usman, que foi atingido por um atirador não identificado no campo de Katcha Gari, na fronteira das áreas tribais administradas pelo governo do Paquistão, na fronteira noroeste do país. Outro colega de equipe, Ishfaq Ahmad, foi ferido neste mesmo incidente, no último dia 16 de julho. Um guarda que trabalhava para o Comissariado para Refugiados Afegãos, agência financiada pelo governo, também foi morto. Segundo relatos, cerca de quatro ou cinco atiradores abriram fogo contra Usman quando ele retornava do escritório administrativo do campo para o seu carro, em uma visita de rotina ao local.

Usman foi o terceiro funcionário do ACNUR morto neste ano, no Paquistão. No dia 9 de junho, Aleksandar Vorkapic morreu no bombardeio do Hotel Pearl Continental, em Peshawar. No dia 02 de fevereiro, Syed Hashim, motorista do ACNUR, morreu no seqüestro do chefe do escritório de Quetta, John Solecki, que foi posteriormente libertado.

Como escrevi para a família de Usman, sua morte foi um choque cruel. Não há justificativa para ataques a trabalhadores humanitários dedicados à proteção e ao cuidado das pessoas mais vulneráveis do mundo. Sua morte foi um ultraje e uma tragédia que afeta a todos nós.

Neste 19 de agosto, por ocasião do primeiro Dia Mundial da Ação Humanitária, façamos um momento de silêncio para lembrar Usman e outras centenas de funcionários da ONU e de organizações não governamentais que perderam suas vidas enquanto cumpriam suas tarefas ao redor do mundo. A data é importante: foi no dia 19 de agosto de 2003 que uma forte explosão em Bagdá tirou a vida do então Representante Especial da ONU para o Iraque, Sérgio Vieira de Mello, e de outras 21 pessoas.

A constante matança de trabalhadores humanitários levanta importantes questões sobre como podemos garantir a segurança das nossas equipes em ambientes instáveis e inseguros. Em termos globais, este fato nos faz refletir sobre o grande dilema que se impõe às agências humanitárias ao redor do mundo: como responder às necessidades das pessoas mais vulneráveis e, ao mesmo tempo, garantir que os que prestam ajuda estejam em segurança? Nossa habilidade para atender aqueles que mais precisam está sendo severamente testada pela diminuição do assim chamado “espaço humanitário”, no qual devemos trabalhar. A natureza dos conflitos está mudando, com uma multiplicidade de grupos armados – alguns dos quais vêem agentes humanitários como alvos legítimos.

Outro exemplo disso foi o brutal assassinato, no mês passado, de Natalia Estemirova, funcionária da ONG Memorial, parceira do ACNUR na Rússia. Natalia foi encontrada morta na região de Ingushetia, no norte do Cáucaso, após ter sido seqüestrada em sua casa na Chechênia. Desde 2000, além de seu trabalho como pesquisadora em direitos humanos, Natalia vinha trabalhando como assistente social da ONG Memorial em projetos de aconselhamento legal e social em Grozny. Ela trabalhava em questões ligadas aos deslocados internos na Chechênia e seu retorno seguro para suas casas. A Memorial tem sido uma parceira implementadora do ACNUR no norte do Cáucaso desde 2000 e recebeu, em 2004, o Prêmio Nansen – concedido anualmente pelo Alto Comissariado.

Agentes humanitários trabalham nos lugares mais perigosos do mundo e arriscam suas próprias vidas no esforço para ajudar populações vulneráveis a preservarem as suas. Garantir a segurança destas equipes deve ser uma prioridade máxima para qualquer organização humanitária e para as Nações Unidas como um todo. Isso é inegociável.

E ainda assim, com a evolução da natureza dos conflitos e na atitude de alguns atores armados, os ataques deliberados a agentes humanitários têm crescido, estabelecendo uma tensão – e em algumas situações, uma contradição – entre os imperativos de segurança das equipes e a própria ação humanitária. O ACNUR tem lutado continuamente para estabelecer um nível de risco “aceitável” ao qual seus funcionários podem se expor.
Como as comemorações deste Dia Mundial da Ação Humanitária demonstram, este é um dilema verdadeiramente terrível.

Artigo publicado dia 19/08/2009 no jornal Folha de São Paulo.