Pelo direito ao esporte seguro e inclusivo

Pelo direito ao esporte seguro e inclusivoEm evento realizado pelo UNICEF e seus parceiros, adolescentes e jovens entregam a autoridades documento com recomendações para garantia do direito ao esporte e o legado social que a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016 deixarão para o Brasil.

Brasília/Rio de Janeiro – O direito de cada criança e cada adolescente a práticas esportivas está garantido pela Convenção sobre os Direitos da Criança e, no Brasil, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. Para ajudar a assegurar esse direito e discutir o legado social que os megaeventos esportivos deixarão para o País, o UNICEF promoveu, nos dias 6 e 7 de abril, no Rio de Janeiro, o Encontro dos Adolescentes pelo Direito ao Esporte Seguro e Inclusivo.

Ao todo, 202 adolescentes e jovens dos Estados do Amazonas, da Bahia, do Ceará, do Mato Grosso, de Minas Gerais, do Paraná, de Pernambuco, do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro e de São Paulo e do Distrito Federal participaram do evento. Durante o encontro, foram promovidas atividades esportivas e oficinas, em que os adolescentes puderam debater e produzir um documento com suas preocupações e recomendações para a construção do legado social dos megaeventos e de políticas públicas de inclusão social por meio de práticas esportivas e educacionais.

O documento intitulado “Esporte não é só para alguns, é para todos!” foi entregue na cerimônia de encerramento para representantes dos governos federal e do Estado e do município do Rio de Janeiro.

“Estamos preocupados com o fato de que serão investidos muitos bilhões nesses megaeventos. Esperamos que eles sirvam não só para o momento dos jogos, mas que também possam ajudar a melhorar as condições de vida das crianças e adolescentes de todo o País”, informa o documento.

Outro importante resultado do encontro foi a criação da Rede Nacional de Adolescentes pelo Direito ao Esporte Seguro e Inclusivo, para garantir que as vozes de jovens e adolescentes sejam ouvidas por toda a sociedade durante a preparação e a realização desses eventos. “Vocês hoje merecem medalha de ouro exercendo seus direitos, comunicando às autoridades o que vocês querem”, comemorou a cantora Daniela Mercury, Embaixadora do UNICEF no Brasil, que participou da cerimônia de encerramento.

Marco Antonio Vollet Marson, 16 anos, é de Ponta Grossa, no Estado do Paraná, e joga basquete nas seleções paranaense e brasileira sub-17. Com o encontro, ele passou a conhecer o esporte a partir de outra perspectiva. “Muitos adolescentes não têm direito ao esporte. Quero conscientizar outras pessoas no meu Estado para que todos possam fazer pequenas ações para mudar esse quadro.”

“Brincar e ter acesso à prática esportiva segura e inclusiva não deve ser um privilégio de poucos, mas um direito fundamental de cada criança e de cada adolescente”, disse Marie-Pierre Poirier, representante do UNICEF no Brasil. “O esporte é uma ferramenta muito importante para crianças e adolescentes aumentarem sua capacidade de solucionar problemas. Além disso, é um aliado no processo educativo, em ações de combate à violência, ao racismo e à discriminação e de inclusão social.”

Durante dois dias, 202 meninas e meninos discutiram no Sesc Tijuca (Rio de Janeiro) temas relacionados ao direito ao esporte, o legado social e a participação dos adolescentes nos preparativos da Copa de 2014 e das Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2016. Foto: UNICEF/BRZ/Ratão Diniz.
Durante dois dias, 202 meninas e meninos discutiram no Sesc Tijuca (Rio de Janeiro) temas relacionados ao direito ao esporte, o legado social e a participação dos adolescentes nos preparativos da Copa de 2014 e das Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2016. Foto: UNICEF/BRZ/Ratão Diniz.

Esporte para todos

“É muito importante ver tanta gente mobilizada com esses grandes eventos que vão acontecer no Brasil. Mas temos que aproveitar essas oportunidades para fazer com que as pessoas entendam que é preciso integração entre professores, sociedade, valorização do espaço e conhecimento do espaço”, diz a medalhista olímpica do vôlei e fundadora do Instituto Esporte e Educação (IEE), Ana Moser. “O conceito esporte e educação surgiu para a elite. Hoje é direito de todos”, comemora.

Mas ainda há grandes desafios a ser enfrentados até que o esporte seguro e inclusivo seja garantido a cada criança e cada adolescente. Morador da Cidade de Deus, comunidade do Rio de Janeiro, Landerson Soares, 18 anos, explica que sua realidade reflete a situação de outras cidades do País. “Temos 22 praças na Cidade de Deus. A maioria sofre com o tempo, com o abandono. Faltam investimentos, melhorias e conservação”, diz Landerson. Ele ressalta a importância da fiscalização do uso do dinheiro público na área do esporte. “Espero que os investimentos não fiquem concentrados em áreas mais ricas e nos grandes centros, mas que cheguem ao interior”.

O sentimento de Landerson ilustra bem a frustação que Franciele Zanquetta, de 17 anos, sentiu ao ter que parar de jogar vôlei por falta de incentivo ao esporte. “Eu sonhava ser jogadora. Quando houve troca de governo em Novo Hamburgo (RS), houve corte no orçamento do clube em que eu jogava. Tive que parar, mas isso me incentivou a lutar pelo direito ao esporte. Posso ser porta-voz sem ser esportista. Se estou aqui hoje, é porque sou uma vitoriosa”, diz a adolescente.

Intercâmbio social e cultural

“Envolvimento, um meio de aproximar as pessoas.” É assim que o paulista de Heliópolis Diego Gomes, 17 anos, define o esporte. Aos 10 anos, ele começou a praticar vôlei e hoje agradece a mudança que a atividade provocou em sua vida. “O esporte me deu liberdade, conheci outras realidades, outras pessoas. Aprendi a me comunicar, conheci outras culturas. A cada dia tento aprender uma coisa nova.”

O encontro dos adolescentes no Rio promoveu um grande intercâmbio de ideias entre os adolescentes e jovens de diferentes realidades socioculturais, condição física ou pessoal. Um exemplo é o de Aline Czezacki, 16 anos, estudante de Ponta Grossa (PR). Ela afirma que aprendeu muito com seus colegas no encontro e que levará o conhecimento adquirido com essa troca de experiências para seu Estado. “A participação de pessoas de vários Estados é importante, porque todos se comunicam, interagem, trocam ideias. Futuramente, poderemos avaliar o que melhorou e o que ainda precisa ser melhorado”, diz Manuel Sebastian, 17 anos, que representou o Estado do Amazonas.

O evento foi uma iniciativa do UNICEF em parceria com o Ministério do Esporte, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o SESC Rio, o Centro de Promoção da Saúde (Cedaps), o Instituto Esporte e Educação (IEE) e o Instituto Internacional para o Desenvolvimento da Cidadania (Iidac).

Leia o documento Esporte não é só para alguns, esporte é para todos!, aprovado por 202 adolescentes e jovens no final do Encontro dos Adolescentes pelo Direito ao Esporte Seguro e Inclusivo.

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