Rebeldes tomam a capital da República Centro-Africana e escritórios da ONU são saqueados

Deslocados internos na República Centro-Africana. Foto: ACNUR/H. Caux
Deslocados internos na República Centro-Africana. Foto: ACNUR/H. Caux

O Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu nesta segunda-feira (25) o rápido restabelecimento da ordem constitucional na República Centro-Africana após rebeldes tomarem a capital, Bangui, em um conflito que forçou o presidente François Bozizé a fugir.

“O Secretário-Geral pede calma e respeito ao Estado de Direito na República Centro-Africana”, afirmou o porta-voz de Ban, em comunicado.

A luta eclodiu na sexta-feira (22), quando rebeldes armados da coalização Séléka avançaram em direção à capital. Segundo a imprensa, pelo menos nove soldados sul-africanos foram mortos ontem ao tentar impedir que os rebeldes tomassem Bangui. Houve diversos saques na cidade, incluindo escritórios da ONU – cujos equipamentos foram danificados e de onde suprimentos foram roubados.

O Secretário-Geral declarou estar “profundamente preocupado com relatos de graves violações dos direitos humanos”. Ban ressaltou que os responsáveis por tais violações devem ser responsabilizados.

A Diretora Nacional do Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), Amy Martin, descreveu a situação de segurança na capital como imprevisível e disse que tiroteios esporádicos – e às vezes intensos – continuam a ser ouvidos nos subúrbios de Bangui. Atualmente, cerda de 1,5 milhão de pessoas precisam de assistência no país e o número tende a aumentar.

“Não é seguro continuar a operação, ninguém tem uma casa para morar, ninguém tem eletricidade, ninguém tem água e ninguém tem um escritório para trabalhar agora porque tudo foi saqueado”, relatou Martin. “Segurança é um termo relativo, estamos tentando ficar fora de perigo”, observou.

Todo o pessoal não essencial já foi retirado e será temporariamente alojado em Yaoundé, Camarões. Martin acrescentou que, se a situação continuar a agravar-se, os trabalhadores humanitários não serão capazes de continuar as operações. O Secretário-Geral lembrou às autoridades de suas obrigações em garantir a segurança de todo o pessoal e instalações das Nações Unidas.

Em dezembro de 2012, o grupo armado já havia lançado uma série de ataques. Os combatentes tomaram o controle das principais cidades e foram avançando até Bangui, antes de concordar em iniciar negociações de paz com a intermediação da Comunidade Econômica dos Estados da África Central (CEEAC).

Um acordo de paz foi alcançado em 11 de janeiro, em Libreville, Gabão, resultando em um cessar-fogo e na criação de um governo de unidade nacional, no qual figuras da oposição teriam postos-chave. Os rebeldes afirmam que o governo não cumpriu seus compromissos.

No comunicado, Ban reiterou que o acordo de Libreville, negociado pelos chefes de Estado e de Governo do CEEAC, permanece o quadro mais viável para assegurar uma paz duradoura e a estabilidade no país. O Secretário-Geral afirmou que a ONU continuará trabalhando com a União Africana e a CEEAC para ajudar a resolver a crise.