São Paulo lembra Dia Mundial do Refugiado com debates e eventos culturais

Realizada pelo ACNUR, a mostra de filmes “Olhares sobre o Refúgio” trará para os cinemas de cinco capitais brasileiras diferentes perspectivas sobre a vida de vítimas de deslocamento forçado. Foto: ACNUR/Sebastian Rich
Realizada pelo ACNUR, a mostra de filmes “Olhares sobre o Refúgio” trará para os cinemas de cinco capitais brasileiras diferentes perspectivas sobre a vida de vítimas de deslocamento forçado. Foto: ACNUR/Sebastian Rich

O lançamento do relatório “Tendências Globais 2016” da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) foi marcado por eventos no Brasil esta semana que colaboraram para reforçar as contribuições que as pessoas refugiadas podem trazer aos países de acolhida, desmistificando cenários de medo e ameaça notados em alguns segmentos da sociedade global.

Na véspera do Dia Mundial do Refugiado, celebrado globalmente em 20 de junho, a representante do ACNUR no Brasil, Isabel Marquez, lançou o relatório “Tendências Globais – Deslocamentos Forçados em 2016”. A publicação revelou que, do total de 65,6 milhões de pessoas forçadas a se deslocar em todo o mundo no ano passado, 22,5 milhões são refugiadas, sendo a maioria crianças.

Os números refletem o imenso custo humanitário, resultado de conflitos armados, perseguições e violações aos direitos humanos globalmente. Uma em cada 113 pessoas no mundo foi forçada a se deslocar — a cada três segundos, uma pessoa passa por essa situação.

“Os número de fato impressionam, mas não podemos nos esquecer que estamos falando de pessoas, de seres humanos que são profissionais qualificados, crianças com sonhos, mulheres determinadas, pessoas com esperança de encontrar lugares seguros para reconstruir suas vidas com dignidade e respeito, tendo seus direitos assegurados”, disse a representante do ACNUR em discurso de abertura do lançamento do relatório, realizado no auditório da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Governo do Estado de São Paulo.

No dia 20, o ACNUR esteve presente em dois eventos que trouxeram reflexões sobre a realidade das pessoas refugiadas, contando com a presença e participação de refugiados e refugiadas de diferentes nacionalidades.

Pela manhã, a agência da ONU participou de um ciclo de palestras sobre o tema, realizado no Museu da Imigração e promovido em parceria com o Observatório das Migrações de São Paulo (UNICAMP/NEPO), Missão Paz, Observatório das Metrópoles (PUC-SP), Observatório de Políticas Públicas (USP), Observatório da Imigração do Estado de Minas Gerais (PUC-Minas) e Observatório das Migrações em Rondônia (UNIR).

Para a jornalista Claudine, refugiada originária da República Democrática do Congo e que vive há quase três anos no Brasil, eventos como este são fundamentais para disseminar informações verídicas e ajudar na compreensão sobre quem são as pessoas refugiadas de fato.

“Em algumas situações, mesmo aqui no Brasil, eu não posso dizer que sou refugiada porque as pessoas podem entender equivocadamente e me julgar por pensar que eu fui a causadora de um conflito, sendo que na verdade eu sou o resultado dele. Quando era solicitante de refúgio, tive problemas para que meu protocolo provisório fosse reconhecido como documento em bancos e em empresas, o que dificultou minha integração na sociedade”, disse a jornalista.

À tarde, o ACNUR e seus parceiros Caritas Arquidiocesana de São Paulo e Associação Compassiva realizaram uma intervenção artística em praça pública. A atriz paulista Veronica Nobili interpretou uma mãe síria em um bote na travessia imaginária do Mar Mediterrâneo, onde milhares de pessoas refugiadas e migrantes perdem suas vidas devido à insegurança da rota e às intempéries marítimas.

“Gosto da arte pela reflexão, pelos questionamentos que ela causa nas pessoas. O foco na humanidade sobre a temática do refúgio é fundamental nesse momento de intolerância e incompreensão, para mostrar ao público brasileiro que, embora vivamos nossas rotinas diárias, quem chega ao Brasil em busca de uma nova vida requer toda nossa atenção porque chegaram aqui como último recurso e precisam ser compreendidas pelo que são, pessoas como quaisquer outras com a diferença que enfrentaram atrocidades em seus países de origem”, disse a atriz.

As ações para promover a visibilidade sobre o Dia Mundial do Refugiado têm continuidade esta semana em São Paulo, com a mostra internacional de documentários “Olhares sobre o Refúgio”.

A mostra é gratuita e as sessões começam nesta quinta-feira (22), no Cinesesc (Rua Augusta, 2075), sempre às 19hs, de acordo com a programação disponível em https://goo.gl/DmKCSp.