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Finanças digitais devem apoiar mudanças rumo ao desenvolvimento sustentável, diz ONU

Tecnologias digitais possibilitaram trocas financeiras e comunicação entre pessoas durante o distanciamento social na pandemia de COVID-19. Foto: PNUD
Tecnologias digitais possibilitaram trocas financeiras e comunicação entre pessoas durante o distanciamento social na pandemia de COVID-19. Foto: PNUD

A crise social e econômica sem precedentes causada pela pandemia da COVID-19  jogou luz sobre o papel das finanças digitais de oferecer alívio a milhões de pessoas em todo o mundo, apoiando empresas e protegendo empregos e meios de subsistência.

Embora a pandemia demonstre os benefícios imediatos das finanças digitais, o potencial disruptivo da digitalização para transformar o mundo das finanças é imenso, segundo as Nações Unidas.

“A pandemia COVID-19 sobrecarregou os sistemas de saúde pública e perturbou as economias nacionais e locais. Já está levando dezenas de milhões de pessoas à pobreza extrema e exacerbando desigualdades de todos os tipos”, lembrou o secretário-geral da ONU, António Guterres.

“Em meio a essa turbulência, a tecnologia digital é uma tábua de salvação essencial, permitindo que bilhões de pessoas mantenham conexões com seus entes queridos, comprem necessidades diárias, preservem seus meios de subsistência e recebam ajuda do governo.”

Tecnologias de pagamentos por celular têm transformado esses aparelhos em ferramentas financeiras para mais de 1 bilhão de pessoas. O meio digital  vem apoiando a inteligência artificial e  big data no avanço de criptomoedas e criptoativos, empréstimos entre pares (peer-to-peer), plataformas de  crowdfunding e mercados online.

Bancos têm investido mais de 1 trilhão de dólares em desenvolvimento, integração e incorporação de tecnologias emergentes. Em 2018, os investimentos em “fintechs” chegou a 120 bilhões de dólares, um terço do financiamento do capital de risco global.

Nesta quarta-feira (26), um novo relatório, “Dinheiro Público: Aproveitando a Digitalização para Financiar um Futuro Sustentável”, elaborado pela Força-Tarefa do Secretário-Geral da ONU para Finanças Digitais, estabelece uma ambiciosa Agenda de Ação.

A ideia central do documento é demonstrar como as finanças digitais podem ser aproveitadas  de forma a empoderar cidadãs e cidadãos,  enquanto contribuintes e investidores,  para conceber uma transformação digital que melhor alinhe recursos públicos e privados às necessidades das pessoas, coletivamente expressas nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

O relatório destaca como bilhões de pessoas em todo o planeta respondem à pandemia da COVID-19 por meio de ferramentas digitais para trabalhar, consumir e se socializar. O documento argumenta que há uma oportunidade histórica de aproveitar a digitalização para colocar cidadãs e cidadãos, donos por excelência dos recursos financeiros mundiais, no controle das finanças para garantir que elas atendam a suas necessidades, hoje e no futuro.

A Força-Tarefa identificou cinco oportunidades catalisadoras para aproveitar a digitalização, alinhando o financiamento aos ODS. Juntas, elas cobrem grande parte das finanças globais:

• Alinhar os vastos fluxos dos mercados globais de capital com os ODS.
• Aumentar a efetividade e a prestação de contas do financiamento público que compõe parte significativa da economia global.
• Canalizar poupanças domésticas agregadas digitalmente para financiamento em desenvolvimento de longo prazo.
• Informar cidadãs e cidadãos sobre como associar seus gastos de consumo com os ODS.
• Acelerar o financiamento vital para o emprego e para o mundo das pequenas e médias empresas geradoras de renda.

A Agenda de Ação da Força-Tarefa é um chamado para a ação às empresas, formuladores de políticas e para os gestores de finanças fazerem o que for necessário para oferecerem oportunidades nesses contextos. A Agenda especifica não somente “o que” deve ser feito, mas “como”: investimentos, novas capacidades e inovações de governança “dão conta do serviço”.

A Força-Tarefa conclui que aproveitar a digitalização para o bem é uma escolha, não uma fatalidade impulsionada pela tecnologia. A Agenda de Ação indica ações necessárias para superar os riscos digitais que, se não forem mitigados, podem aprofundar a exclusão, a discriminação e as desigualdades, e separar as finanças das necessidades de um desenvolvimento inclusivo e sustentável.

Para o secretário-geral da ONU, as tecnologias digitais, que estão revolucionando os mercados financeiros, podem ser um divisor de águas aos nossos objetivos comuns. “A Força-Tarefa de Financiamento Digital dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável proporciona liderança para aproveitarmos a revolução digital.”

Na opinião do administrador do PNUD e vice-presidente da Força-Tarefa, Achim Steiner, a pandemia da COVID-19 está  revelando o incrível potencial de impacto transformador das finanças digitais.

“Transferências digitais permitem que governos ajudem as pessoas mais necessitadas. Plataformas de crowdfunding  têm mobilizado recursos para materiais médicos e ações emergenciais e empréstimos baseados em algoritmos  significam que  pequenas empresas têm acesso mais rápido a recursos.”

“A velocidade da expansão dessas tecnologias é surpreendente, mas o progresso não é automático. Para a digitalização ser uma verdadeira força a favor dos ODS, os avanços tecnológicos devem estar combinados com políticas sólidas que empoderem cidadãs e cidadãos e permitam nosso sistema financeiro atender aos desafios urgentes de investimento que devem ser superados para construirmos um futuro melhor.”

Sobre a Força-Tarefa

A Força-Tarefa foi estabelecida pelo secretário-geral da ONU para recomendar e catalisar formas de aproveitar a digitalização, acelerando o financiamento aos ODS.

Ela reuniu 17 líderes dos setores de finanças, tecnologia, políticas, regulação e desenvolvimento internacional e envolveu centenas de instituições financeiras, governos, entidades reguladoras, organizações da sociedade civil, centros de pesquisa e grupos de especialistas em dezenas de países.

A Força-Tarefa é co-presidida por Achim Steiner (administrador do PNUD) e Maria Ramos (até recentemente CEO do grupo financeiro sul-africano ABSA).

Seus membros são Maiava Atalina Emma Ainuu-Enari, presidente do Banco Central de Samoa, Henrietta H. Fore,  diretora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Mats Granryd, diretor-geral da associação global da indústria móvel GSMA, Piyush Gupta, CEO do Banco DBS, Natalie Jabangwe, CEO da EcoCash, Eric Jing, presidente-executiva do Grupo Ant, Bradley Katsuyama, fundador e CEO da bolsa de valores IEX, Pooma Kimis, diretor da Autonomous Research.

Também são membros Liu Shenmin, subsecretário-geral do Departamento das Nações Unidas para Assuntos Econômicos e Sociais (DESA-ONU), Phumzile Mlambo-Ngcuka, subsecretária-geral da ONU e diretora-executiva da ONU Mulheres, Ambareen Musa, fundadora e CEO da Souqalmal, Patrick Njoroge, presidente do Banco Central do Quênia, Ceyla Pazarbasioglu, vice-presidente do Banco Mundial, Richard Samans, diretor administrativo do Fórum Econômico Mundial, Aurelie Adam Soule Zoumarou, ministro da Economia Digital e Comunicações do Benin.

Os membros da Força-Tarefa trabalham de forma pessoal, sem representarem, necessariamente, suas organizações. Alemanha, Itália e Suíça apoiam a Força-Tarefa com financiamento.

O relatório está disponível no site https://digitalfinancingtaskforce.org/.

Infodemia tem tornando resposta às emergências de saúde ainda mais difícil, afirma OPAS

Jovem mexe no celular em escola em Cebu, nas Filipinas. Foto: UNICEF/Estey
Jovem mexe no celular em escola em Cebu, nas Filipinas. Foto: UNICEF/Estey

A infodemia — um aumento significativo no volume de informações, corretas ou não, sobre um tema específico — tem dificultado a resposta à pandemia de COVID-19, afirmou na sexta-feira (14) a representante da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) no Brasil, Socorro Gross, na aula inaugural da especialização Comunicação em Saúde, promovida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Brasília.

Após saudar os 30 alunos selecionados para a primeira turma da pós-graduação, Gross falou sobre a relevância da parceria com a Fiocruz, pontuando que um dos pilares fundamentais da estratégia de promoção da saúde é a comunicação em saúde.

“No curto período em que vivemos esta terrível pandemia, uma grande quantidade de informações, muitas delas falsas, inundou os diferentes canais que existem, como as redes sociais e os meios de comunicação.”

“Muitas pessoas estão se perguntando qual notícia é a correta e, por isso, essa formação é tão importante – não só por levar à população as informações certas, mas também pela oportunidade de combater as notícias falsas que causam tantos danos à população e trazem insegurança”, ressaltou Gross.

Segundo a representante da OPAS no Brasil, o curso formará pessoas e profissionais que contribuirão para a construção de uma saúde universal, fortalecendo a democracia da comunicação, permitindo às pessoas ter acesso a informações oportunas para que possam proteger a si e a suas famílias das ameaças à saúde.

A especialização, estruturada em sete módulos, foi lançada em janeiro deste ano com palestra magna de Renata Schiavo, professora da Universidade de Columbia. A OPAS é parceira da Fiocruz Brasília para a realização da pós-graduação e coordenará, junto ao Ministério da Saúde, o módulo Saúde e Mídias, previsto para ocorrer em fevereiro de 2021.

A aula inaugural da pós-graduação — transmitida virtualmente aos alunos e interessados no tema com mediação do coordenador de comunicação da Fiocruz Brasília, Wagner Vasconcelos — contou com palestras da pesquisadora da Universidade de Buenos Aires, Monica Petracci, e do professor da Universidade Jonhs Hopkins, Benjamin Lozare.

Na ocasião, a Fiocruz Brasília também lançou o e-book “Fake News e Saúde”, organizado pela assessoria de comunicação da instituição com base no “VI Seminário Nacional e II Seminário Internacional As Relações da Saúde Pública com a Imprensa: Fake News e Saúde”, realizados em março de 2019.

O curso, inicialmente previsto para acontecer presencialmente, precisou ser adaptado devido ao distanciamento físico imposto pela pandemia de COVID-19. “Se nosso encontro de hoje fosse presencial, estaríamos recebendo os alunos no jardim da Fiocruz, mas por força da necessidade de cuidado, trabalhamos para garantir esta transmissão ao vivo”, disse Fabiana Damásio, diretora da Fiocruz Brasília.

“Os tempos são difíceis e demandam de nós compreensão, atenção e a desafiadora tarefa de mantermos viva a nossa rede de afetos com o auxílio das ferramentas virtuais. Diante das dificuldades, nós assumimos o desafio de ofertar o curso virtualmente”.

Cristiane Machado, vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação da Fiocruz, ressaltou que para a Fundação, a “comunicação não é uma área meio e sim uma área finalística, porque remete ao direito dos cidadãos de ter acesso a informações confiáveis, possibilidade de diálogo, ou seja, um conjunto abrangente de direitos que estende a possibilidade de acesso a outros direitos”.

Consumo desenfreado de desinformação

Em sua palestra, a pesquisadora argentina Mónica Petracci abordou, entre outros temas, as mudanças no modelo de comunicação em saúde exigidas pelos meios digitais e os desafios impostos pelo agravamento da infodemia durante a COVID-19.

“A emergência sanitária desencadeou um consumo desmensurado de desinformação. A OMS definiu como infodemia, ou pandemia de desinformação, uma rede de comunicação que é a porta de entrada para a presença da desinformação. Vale a pena estudarmos o peso dos diferentes atores que produzem esta infodemia”, explicou.

Com base em um artigo publicado ao fim de 2019, a pesquisadora argentina também apresentou uma agenda propositiva para lidar com pandemias em termos de comunicação.

“Os números colocam em evidência que as linguagens especializada e jornalística são difíceis de conciliar. Mostrar uma curva ou uma medida requer o conhecimento de especialistas, mas muitas vezes eles não consideram o papel da compreensão desses números.”

“Os comunicadores têm como tarefa não naturalizar esses dados. A comunicação de pessoas mortas foi naturalizada, mas essas pessoas são histórias, existe luto e dor por trás de tudo isso”. Para Petracci, recorrer às mídias sociais é algo muito importante neste momento desde que se saiba avaliar as características de cada uma delas para trazer mensagens de maneira clara.”

Comunicação eficaz depende de aprendizado contínuo

Benjamin Lozare deu ênfase à importância do aprendizado e da liderança na comunicação durante a COVID-19 e outras pandemias que ainda virão: “a base da função de liderança em comunicação é crucial. Para mudarmos os outros, precisamos mudar a nós mesmos em primeiro lugar”.

De acordo com o professor da Universidade Jonhs Hopkins, momentos de crise são também momentos que oferecem a grande oportunidade de aprender e aprimorar o que já se sabe. “Temos que questionar tudo. A síndrome do “eu sei, eu sei” (IKIK, em inglês) quer dizer que podemos parar de aprender. E precisamos aprender com outras culturas. Nós cometemos erros, mas isso faz parte do processo de aprendizado.”

Segundo o professor, a forma como podemos comunicar e liderar depende diretamente de como vemos e nos relacionamos com os outros. “A COVID-19 é um problema que apresenta diversos desafios em termos de liderança. Ainda não saímos da nossa zona de conforto”. Para Lozare, a equação mais adequada para uma comunicação efetiva neste contexto é a combinação entre liderança e um bom gerenciamento.

“O ideal talvez seja o mínimo de ‘lidar com o problema’, mas com o apoio de uma boa gerência e liderança. E muitas vezes olhamos para a liderança como alguém que está no topo, mas existem líderes em todos os níveis de uma organização, do mais alto ao mais baixo.”

“Uma comunicação em saúde eficaz é um investimento, não um gasto, pois temos retorno: salva vidas, economiza dinheiro e é crucial nos resultados de saúde”, afirmou Lozare, que também salientou a necessidade de uma comunicação mais clara, com um público-alvo bem definido e com mensagens-chave claras para as pessoas – evitando muitas mensagens ao mesmo tempo, o que pode confundi-las.

“Nossas campanhas de comunicação em saúde ainda têm muitas mensagens, fazendo com que a mensagem principal se perca. Precisamos também mostrar benefícios claros às pessoas e não dar ordens e falar em tom de autoridade.”

Artistas do mundo todo unem-se em campanha da UNESCO contra o racismo

Campanha Unidos contra o Racismo reuniu artistas de todo o mundo. Foto: Reprodução
Campanha Unidos contra o Racismo reuniu artistas de todo o mundo. Foto: Reprodução

Diante das crescentes manifestações de racismo no mundo todo, personalidades se uniram à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em um vídeo para a campanha Unidos Contra o Racismo, lançado no início do mês (6). O cantor e compositor brasileiro Gilberto Gil está entre os artistas participantes.

Ao lado da diretora-geral da UNESCO, Audrey Azoulay, o filme em preto e branco de 2 minutos e 41 segundos apresenta mensagens de personalidades do cinema, da mídia, da música, do esporte e da ciência

Participam Charlotte Gainsbourg, Freida Pinto e Naomi Campbell; os embaixadores de boa vontade da UNESCO Jean-Michel Jarre, Jorge Ramos, Sumaya bint Al Hassan, Bobi Wine, Herbie Hancock e Forest Whitaker; os artistas pela paz da UNESCO Marcus Miller, Yalitza Aparicio, Rossy de Palma e Gilberto Gil; os campeões pela educação de mulheres e meninas da UNESCO Nadia Nadim, Amadou Gallo Fall e Ada Hegerberg.

A UNESCO está na vanguarda da luta contra o racismo desde sua criação em 1945. Em 1978, adotou a Declaração sobre Raça e Preconceito Racial, que reafirma que “todos os seres humanos pertencem à mesma espécie e têm a mesma origem. Nascem iguais em dignidade e direitos, e todos formam parte integrante da humanidade”.

Saiba mais sobre o trabalho da UNESCO no combate ao racismo e a exclusão no Brasil nas áreas de:

Mais sobre o trabalho da UNESCO para combater o racismo e a exclusão no mundo (em inglês).

UNESCO: pandemia expõe importância de universalizar acesso à Internet no mundo

Foto: EBC
Um fluxo livre de informações digitais para todos, e em todos os lugares, é uma questão de vida ou morte se as pessoas não puderem acessar informações essenciais de saúde. Foto: EBC

A pandemia de COVID-19 tem lembrado o mundo sobre a importância da Internet como uma janela para a educação, o acesso à informação, saúde, cultura e a inúmeros outros aspectos da vida diária.

O Mapa para a Cooperação Digital do Secretário-Geral da ONU, lançado em junho de 2020, enfatiza o papel crucial da tecnologia digital no mundo durante e após a pandemia, e a responsabilidade coletiva de conectar quem não está conectado, proteger os vulneráveis e marginalizados e respeitar os direitos humanos na era digital.

O hiato digital entre quem está online e offline está ameaçando se tornar a nova face da desigualdade, reforçando desvantagens sociais e econômicas, disse a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

Um fluxo livre de informações digitais para todos, e em todos os lugares, é uma questão de vida ou morte se as pessoas não puderem acessar informações essenciais de saúde – e informações confiáveis de forma mais ampla, salientou a agência das Nações Unidas.

Contudo, nas últimas semanas, tem se observado o aumento de tendências que restringem espaços para uma Internet aberta e livre, lembrou. À medida que surgem restrições online no mundo todo, a universalidade da Internet está em perigo.

“Diante da pandemia e mesmo com a existência de leis internacionais que permitem poderes emergenciais em resposta a ameaças significativas, a UNESCO disse estar convencida de que os direitos humanos não devem ser comprometidos e que uma Internet não fragmentada é de interesse global”, disse o diretor-geral adjunto para comunicação e informação da UNESCO, Moez Chakchouk.

A UNESCO lembrou que há notícias de bloqueio de aplicativos móveis, enquanto leis de segurança nacional têm aumentado os receios da fragmentação da Internet, assim como das restrições aos direitos humanos, notavelmente a liberdade de expressão, liberdade de associação, acesso à informação, a não discriminação e proteção de dados e a privacidade online.

Em algumas regiões, os shutdowns ou “desligamentos” da Internet continuam a negar acesso a milhões de pessoas, em um momento em que o acesso à informação não é apenas necessário, mas também vital, disse a UNESCO.

As leis e políticas públicas para combater a desinformação ou “fake news”, de forma geral, têm sido muito amplas, ultrapassando as condições restritas sob as quais a liberdade de expressão pode ser limitada, conforme estabelecido pelo direito internacional, salientou a agência.

A UNESCO lembrou que essas condições enfatizam a relevância da aprovação unânime dos 195 países-membros, em 2015, do conceito da Universalidade da Internet.

O marco de referência da universalidade da Internet defende os quatro princípios DAAM (ROAM, em inglês) – o que significa que a UNESCO defende uma Internet baseada em Direitos humanos, que seja Aberta, Acessível a todos e governada pela participação de Múltiplas partes interessadas.

De acordo com o mandato constitucional da UNESCO de promover a liberdade de expressão e o acesso à informação, o conceito da universalidade da Internet norteia o trabalho da organização sobre a governança digital.

“Assim, a UNESCO toma uma posição forte em defesa dos princípios DAAM – baseados em normas internacionais – como um marco de referência holístico e um conjunto de recomendações enquanto protege todos os direitos de forma indivisível, e também considerando seu impacto na preservação da abertura e acessibilidade da Internet no espírito da participação de múltiplas partes interessadas nas normas, regulamentos e programas que governam as tecnologias digitais”, disse a organização.

O trabalho da UNESCO sobre a recomendação tem como base o estudo preliminar sobre ética da inteligência artificial da Comissão Mundial da UNESCO sobre Ética do Conhecimento e Tecnologia Científica (COMEST). Foto: EBC

UNESCO inicia consulta pública sobre padrões globais de ética na inteligência artificial

O trabalho da UNESCO sobre a recomendação tem como base o estudo preliminar sobre ética da inteligência artificial da Comissão Mundial da UNESCO sobre Ética do Conhecimento e Tecnologia Científica (COMEST). Foto: EBC
O trabalho da UNESCO sobre a recomendação tem como base o estudo preliminar sobre ética da inteligência artificial da Comissão Mundial da UNESCO sobre Ética do Conhecimento e Tecnologia Científica (COMEST). Foto: EBC

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) iniciou um processo de dois anos para elaborar o primeiro instrumento mundial de definição de padrões sobre a ética da inteligência artificial (IA), após a decisão tomada durante a 40ª sessão da Conferência Geral da Organização, em novembro de 2019.

Com a assistência de um Grupo de Peritos ad hoc, a UNESCO elaborou a primeira versão do texto preliminar da Recomendação (First Draft of the Recommendation) e iniciou a fase de consultas inclusivas e multidisciplinares com uma ampla gama de partes interessadas.

Segundo a agência da ONU, processos de consulta com essa amplitude são extremamente importantes para garantir que o texto preliminar seja o mais inclusivo possível. Também é essencial receber uma diversidade de pontos de vista das múltiplas partes interessadas, salientou.

A UNESCO espera contar com a participação das comunidades acadêmica, científica e técnica, além da sociedade civil, do setor privado, de entidades governamentais e do público em geral, incluindo jovens especialistas, homens e mulheres, das área de IA, informática, eletrônica e demais áreas afins, para participarem desta primeira consulta por meio de um questionário.

A UNESCO convida todos a preencherem o questionário online, disponível em inglês e em francês, para coletar os feedbacks sobre o texto preliminar (First Draft).

  • data limite para preenchimento do questionário é 31 de julho de 2020.

No final de 2020 e no ano de 2021, o foco estará em um processo intergovernamental e na negociação do texto preliminar, para se produzir uma versão final da Recomendação para possível adoção pela Conferência Geral da UNESCO, em sua 41ª sessão, a se realizar no final de 2021.

O trabalho da UNESCO sobre a recomendação tem como base o estudo preliminar sobre ética da inteligência artificial da Comissão Mundial da UNESCO sobre Ética do Conhecimento e Tecnologia Científica (COMEST). Esse estudo enfatiza que, atualmente, nenhum instrumento global abrange todos os campos que orientam o desenvolvimento e a aplicação da IA em uma abordagem centrada no ser humano.

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