Síria: Comissão independente afirma que compaixão internacional ‘não é suficiente’

Durante os primeiros 18 meses de sua vida, Ashraf cresceu na cidade de Homs conforme a violência crescia, forçando milhões a deixarem suas casas. Quando parentes próximos foram mortos, sua família decidiu deixar a Síria e ir para o Líbano, construindo seu lar neste acampamento. Foto: ACNUR/A. McConnell
Durante os primeiros 18 meses de sua vida, Ashraf cresceu na cidade de Homs conforme a violência crescia, forçando milhões a deixarem suas casas. Quando parentes próximos foram mortos, sua família decidiu deixar a Síria e ir para o Líbano, construindo seu lar neste acampamento. Foto: ACNUR/A. McConnell

A guerra síria entra em seu quarto ano e a violência angustiante não dá sinais de trégua, disse o chefe da Comissão Internacional Independente de Inquérito sobre a Síria, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, denunciando a omissão da comunidade internacional na busca da paz e na prestação de contas.

Nomeada pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU, a Comissão apresentou nesta terça-feira (18) em Genebra um relatório detalhado sobre as condições de vida de homens e mulheres na região, e traçou uma lista de indivíduos — de ambos os lados envolvidos no conflito — que acredita serem responsáveis por crimes contra a humanidade.

“As vidas de mais de cem mil pessoas acabaram. Aqueles que foram libertados da prisão agora vivem com as cicatrizes físicas e mentais da tortura. O destino e o paradeiro de milhares de pessoas permanecem desconhecidos”, disse Pinheiro.

Presidente da Comissão de Inquérito sobre a Síria, o brasileiro Paulo Pinheiro, na coletiva de imprensa após a apresentação do relatório sobre a situação na Síria durante a 25ª sessão do Conselho de Direitos Humanos. Foto: ONU/Jean-Marc Ferré
Presidente da Comissão de Inquérito sobre a Síria, o brasileiro Paulo Pinheiro, na coletiva de imprensa após a apresentação do relatório sobre a situação na Síria durante a 25ª sessão do Conselho de Direitos Humanos. Foto: ONU/Jean-Marc Ferré

Chamando a atenção para a fome sofrida pelos civis, os repetidos atos de terrorismo que enfrentam todos os dias e a complexidade crescente e contínua das camadas do campo de batalha, o painel de Direitos Humanos da ONU lamentou a falta de ação por parte da comunidade internacional.

“A compaixão não é e não deve ser suficiente”, insistiu Pinheiro, acrescentando que “não podemos continuar nos sentando por anos nestas salas, escrevendo relatórios e fazendo discursos lamentando o sangue que está sendo derramado nas ruas da Síria”.

“Nós temos um enorme volume de relatos — mais de 2700 entrevistas, bem como uma grande variedade de materiais documentais”, disse Pinheiro. “Não nos falta informações sobre crimes ou criminosos. O que nos falta é um meio pelo qual podemos alcançar a justiça e [fazer com que os infratores sejam] responsabilizados”, insistiu, pedindo ao Conselho de Segurança da ONU para “fazer esta busca pela justiça possível” e retomar a negociação por uma solução política “com vigor renovado”.

Cerca de 9 milhões de pessoas — um terço da população — fugiram de suas casas. Além dos 2,5 milhões de refugiados, há uma estimativa de 6,5 milhões de pessoas internamente deslocadas dentro da Síria e milhões vivendo em enclaves cercados por violência.