Situação piora e agência da ONU para refugiados envia mais equipes à República Centro-Africana

Deslocados acampam no aeroporto de Bangui, República Centro-Africana. Foto: ACNUR/S. Phelps
A agência das Nações Unidas para refugiados anunciou nesta terça-feira (17) o envio de equipes adicionais de emergência na República Centro-Africana (RCA). A violência na capital do país, Bangui, deslocou cerca de 210 mil pessoas nas últimas duas semanas.

“Em Bangui, nossos funcionários relatam tiros contínuos e um clima de medo generalizado”, disse o porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), Adrian Edwards, em Genebra, Suíça.

Edwards acrescentou que, na segunda-feira, funcionários do ACNUR encontraram 40 mil pessoas na periferia da cidade que foram arrancadas de suas casas nos dias 5 e 6 de dezembro. Elas não tinham sido alcançadas antes por causa dos pesados combates.

Para escapar desses combates e da insegurança, milhares de pessoas fugiram no fim de semana de barco pelo rio Oubangui para Zongo, na República Democrática do Congo (RDC), apesar de a fronteira estar oficialmente fechada e do risco de serem baleadas. Cerca de 3,3 mil refugiados da RCA chegaram dessa forma à RDC desde 5 de dezembro.

De acordo com o porta-voz do ACNUR, muitos dos recém-chegados relatam ter testemunhado atrocidades, incluindo assassinatos, saques e invasão de casas. Muitos disseram que alguns deslocados acampados no aeroporto de Bangui planejavam se juntar a eles no Zongo.

“No aeroporto de Bangui, tivemos de suspender temporariamente a distribuição de ajuda por causa de incidentes de segurança, alguns dos quais relacionados à violência sectária”, disse Edwards.

A violência também foi relatada em Bossangoa, cerca de 400 km ao noroeste da capital. Autoridades de segurança da ONU relataram que milícias saquearam lojas e queimaram casas na parte norte da cidade, amplamente povoada por muçulmanos, no fim de semana.

Cerca de 5,6 mil pessoas foram deslocadas desde que a luta foi retomada entre as forças de defesa anti-Balaka e ex-rebeldes do Séléka há quase duas semanas. Os novos deslocados se juntaram aos mais de 4 mil que já ficavam nas instalações da superlotada escola Liberté.

“Continuamos ouvindo sobre ataques contra cristãs pelo ex-Séléka, com saques, assassinatos e casas incendiadas”, afirmou Edwards. Além da escola, 40 mil pessoas encontraram refúgio dentro da igreja católica romana de Bossangoa desde setembro, disse.

“As tensões são relatadas na igreja entre a força regional africana conhecida como FOMAC e jovens anti-Balaka que resistem ao desarmamento”, relatou. “Os jovens estão armados com ferramentas agrícolas e facões, mas se recusam a entregá-os.”

O ACNUR está extremamente preocupado com a presença de homens armados dentro de locais de abrigo para pessoas deslocadas. A agência pediu que as tropas francesas e africanas intensifiquem as patrulhas em bairros problemáticos e nos locais improvisados.

Mais de 70 mil pessoas foram expulsas de suas casas na RCA desde que a crise atual começou há um ano. Outras 75 mil fugiram do país.