Em viagem ao Sudão do Sul, alta comissária de direitos humanos da ONU se declara ‘chocada’

Alta comissária da ONU para direitos humanos, Navi Pillay e assessor da ONU para o genocídio, fazem balanço de sua viagem ao Sudão do Sul em Juba. Foto: UNMISS/Isaac Gideon

Alertando para o fato de que a nação mais jovem do mundo está à beira de uma catástrofe, a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, fez um apelo, nesta quarta-feira (30), aos líderes do Sudão do Sul, pedindo que abandonem suas “lutas de poder pessoal”  e levem o país, empobrecido pela guerra, para a estabilidade.

Após uma visita ao país de três dias, acompanhada do assessor especial da ONU para a Prevenção do Genocídio, Adama Dieng, a Alta Comissária falou com a imprensa, na capital do país, Juba.

“A mistura mortífera de recriminação, com discursos de ódio, e mortes por vingança, que vem crescendo ao longo dos últimos quatro meses e meio, parece estar chegando ao ponto de ebulição. Estou cada vez mais preocupada, porque nem os líderes políticos do Sudão do Sul, nem a comunidade internacional em geral, parecem perceber o quão perigosa é agora a situação”, afirmou.

Pillay disse também que está “chocada” com a aparente falta de preocupação com o risco do país  passar fome, mostrada por ambos os líderes, Salva Kiir e Riak Machar, quando ela levantou a questão. A reação ao chamado do coordenador humanitário da ONU, Toby Lanzer, pedindo uma trégua de 30 dias no país, para permitir que as pessoas voltassem para suas casas para o plantio, foi “morna”, afirmou ela, lembrando que os dois líderes afirmaram não confiar nas palavras um do outro.

Dieng lembrou ao presidente e ao governo que eles têm a responsabilidade primária de proteger todos os sul-sudaneses, independentemente de sua etnia ou afiliação política. “Raça não deve ser utilizada como razão para incitar a violência ou demonizar e excluir qualquer comunidade ou parte da população. O mundo está assistindo. Os responsáveis ??por violações graves devem ser responsabilizados”, acrescentou.

O conflito, que começou em dezembro de 2013, e é marcado por inúmeras violações graves dos direitos humanos, já deixou milhares de mortos e forçou dezenas de milhares de pessoas a buscar refúgio nas bases da ONU em todo o país.

Segundo Pillay, a lista de estatísticas é “alarmante”. São mais de 9 mil crianças recrutadas pelas forças armadas de ambos os lados; 32 escolas tomadas pelas forças militares; mais de 20 ataques a clínicas e centros de saúde; muitas mulheres e meninas estupradas, muitas vezes brutalmente; e crianças mortas durante os ataques indiscriminados contra civis de ambos os lados.

Se, no futuro muito próximo,  nenhum acordo de paz for assinado, sem responsabilidade, sem espaço para reconstruir a confiança e promover a reconciliação, e fundos suficientes para lidar com um desastre humanitário iminente, eu tremo só de pensar no que pode acontecer no Sudão do Sul”, afirmou a Alta Comissária.

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