Mali: Assessor da ONU sobre genocídio adverte sobre represálias contra populações tuaregues e árabes

Em Diabaly, Mali, os cidadãos falam de duas famílias tuaregues que foram forçados a fugir de sua aldeia e agora estão se escondendo na cidade. (Foto: IRIN / Katarina Hoije)

Um alto funcionário das Nações Unidas alertou hoje (1) para o risco de ataques de represália contra civis tuaregues e árabes em várias regiões do norte do Mali. Ele pediu que as forças amadas do país protejam todos os cidadãos, independentemente de sua filiação étnica.

“Enquanto a libertação de cidades antes sob o controle dos rebeldes e grupos extremistas trouxe esperança para as populações do norte do Mali, estou profundamente preocupado com o risco de ataques de represália contra a etnia Tuareg e civis árabes”, disse o Assessor Especial da ONU sobre a Prevenção do Genocídio, Adama Dieng, em um comunicado.

Os combates entre as forças governamentais e os rebeldes tuaregues eclodiu no norte do Mali em janeiro de 2012, depois que os radicais islâmicos tomaram o controle da área. O conflito tirou milhares de pessoas de suas casas e levou o Governo do Mali a solicitar assistência militar da França para deter a progressão de grupos extremistas.

Dieng disse estar preocupado com as alegações de violações dos direitos humanos cometidas pelo exército do Mali, incluindo execuções sumárias e desaparecimentos – em Sevare, Mopti, Niono e outras cidades próximas às áreas onde o conflito ocorreu. Houve também relatos de casos de linchamento em massa e pilhagem de propriedades pertencentes a comunidades árabes e tuaregues, que teriam sido acusadas de apoiar grupos armados com base em sua etnia.

“Estou profundamente perturbado por relatos de violações cometidas pelo exército, e por relatos de que as forças armadas tem recrutado e armado milícias para instigar ataques contra determinados grupos étnicos e nacionais no norte do Mali”, disse Dieng. “Eu chamo o exército malinês a cumprir a sua responsabilidade de proteger todas as populações, independentemente da sua raça ou etnia.”

No mês passado, o Procurador do Tribunal Penal Internacional (TPI), Fatou Bensouda, abriu uma investigação sobre supostos crimes cometidos no Mali desde janeiro de 2012 – incluindo assassinato, tortura e estupro – com foco na parte norte do país.

Dieng saudou a decisão e exortou todas as partes do país a aderir às leis internacionais humanitária e de direitos humanos.

Segurança ainda é frágil, alerta ACNUR

O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) alertou hoje que, apesar de muitas pessoas deslocadas estarem ansiosas para voltar para casa, os relatos de distúrbios e ataques de vingança contra tuaregues e árabes, bem como estradas fechadas e falta de serviços de ônibus para algumas cidades, colocam desafios para que eles regressem em segurança.

“Na capital, Bamako, entrevistamos famílias deslocadas que dizem que eles estão prontos para retornar às suas casas nas regiões de Gao, Kidal e Timbuktu, assim como as estradas do norte foram reabertas”, disse o porta-voz do ACNUR, Adrian Edwards, a jornalistas em Genebra.

“A escassez de comida, combustível e energia elétrica, bem como a interrupção de serviços básicos como saúde e educação, também são mencionados por aquelas pessoas que atualmente preferem esperar antes de voltar para o norte.”

Muitos deslocados internos relataram que suas casas no norte foram danificadas ou destruídas. Famílias com crianças que frequentam escolas em Bamako disseram que não vão voltar para o norte após o término do ano letivo em junho.

Outra preocupação é a presença de minas antipessoais e artefatos explosivos não detonados que ameaçam a população civil. O ACNUR informou também que os refugiados malineses continuam a cruzar a fronteira para os países vizinhos para fugir dos combates ou por medo de represálias.