No aniversário de protesto na Faixa de Gaza, oficiais da ONU pedem fim da violência

Protestos na Faixa de Gaza no dia 14 de maio de 2018. Foto: OCHA
Protestos na Faixa de Gaza no dia 14 de maio de 2018. Foto: OCHA

No aniversário de um ano dos grandes protestos iniciados em Gaza e depois da morte de quase 200 palestinos por tiros das forças da segurança de Israel em 2018, o oficial das Nações Unidas para os Territórios Palestinos Ocupados (TPO), Jamie McGoldrick, pediu na sexta-feira (29) para todas as partes evitarem maior derramamento de sangue.

Quase um ano depois de manifestações começarem – conhecidas como a “Grande Marcha do Retorno e a Quebra do Cerco” – 195 palestinos, incluindo em torno de 40 crianças, foram mortos por fogo israelense perto da cerca fronteiriça, disse McGoldrick.

“Houve um número desconcertante de perdas de vidas e de feridos na Faixa de Gaza”, disse. “Entre os impactos mais trágicos, estão as mortes e ferimentos de crianças”.

Na semana passada, houve troca de foguetes e de disparos aéreos entre militantes do Hamas, em Gaza, e Israel. O coordenador especial da ONU para o Processo de Paz no Oriente Médio, Nickolay Mladenov, disse que isso “mostrou o quão precipitadamente perto estamos da beira da guerra”.

Segundo relatos, o disparo de um foguete de Gaza na segunda-feira (25) deixou sete pessoas feridas, incluindo três crianças, ao norte de capital Tel Aviv. Destacando a preocupação do secretário-geral da ONU, António Guterres, o porta-voz Stéphane Dujarric disse que o ataque era “uma violação séria e inaceitável”.

Ele também destacou relatos de fogo israelense em direção a Gaza em resposta, dizendo que Guterres está monitorando os eventos atentamente. De acordo com a imprensa internacional, forças israelenses disseram ter realizado ataques aéreos contra o que descreveram como alvos do Hamas. O Ministério da Saúde de Gaza relatou que sete pessoas ficaram feridas durante os ataques aéreos de retaliação.

Em publicação no Twitter na sexta-feira (29), Mladenov disse que Israel “precisa calibrar o uso de força”. “O Hamas precisa garantir que manifestantes continuem pacíficos, todos devem garantir que crianças não sejam colocadas em perigo”.

Em briefing a jornalistas em Genebra em nome de McGoldrick, Jens Laerke, do Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), disse que “na véspera do aniversário de um ano (dos protestos) a prioridade agora é salvar vidas e todos precisam tomar ações de acordo”.

As forças militares de Israel “precisam garantir que suas respostas estejam em linha com obrigações legais internacionais, usando meios não violentos na maior extensão possível”, disse Laerke. Ele pediu para líderes do grupo militante Hamas, que controla Gaza, prevenirem “atos de violência que comprometam a natureza pacífica de manifestações”.

Protestos de larga escala podem resultar em “tragédia”

Preocupações em torno de uma possível “tragédia” no sábado foram destacadas por notícias de que os protestos rotineiros de sexta-feira foram adiados, explicou Laerke.

“Manifestações hoje foram, extraordinariamente, canceladas com a convocação das manifestações de amanhã” em larga escala, disse. “A razão pela qual o coordenador humanitário está emitindo este pedido hoje é exatamente por conta de sua e nossa preocupação de que podemos ver outro dia trágico amanhã e todos precisam fazer o possível para evitar isso”.

Além dos palestinos mortos em protestos desde março de 2018, quase 29 mil outros ficaram feridos, disse Laerke, “incluindo mais de 7 mil pessoas feridas por munição letal”.

Três agentes de saúde claramente identificados que cuidavam dos feridos durante manifestações também foram mortos, acrescentou o porta-voz do OCHA. Ele destacou que um membro das forças de segurança de Israel também foi morto e seis outros ficaram feridos.

Sistema de saúde de Gaza não suporta aumento de amputações

Em meio a uma prolongada escassez de bens e serviços básicos em Gaza, ligada a mais de uma década de bloqueios aéreos, marítimos e terrestres de Israel, Laerke destacou o impacto da violência no sistema de saúde já sobrecarregado.

“As muitas vítimas palestinas, incluindo feridos por trauma e mais de 120 amputações de membros, sobrecarregaram o sistema de saúde de Gaza, que já é desafiado por apagões crônicos, escassez de remédios e suprimentos básicos, e lacunas em serviços essenciais, incluindo apoio psicossocial e de saúde mental”, disse.

A jornalistas em Genebra, o porta-voz insistiu que “estamos emitindo um forte lembrete para todos envolvidos nisso, de que a proteção de vidas – não só de crianças – deve estar no topo da agenda de todos”.

Seus comentários ecoaram um alerta feito mais cedo nesta semana por Mladenov, que disse que “podemos estar, mais uma vez, enfrentando outro agravamento muito perigoso de violência em Gaza, com consequências possivelmente catastróficas”.

Colinas de Golã

Após decisão unilateral dos Estados Unidos de reconhecer soberania de Israel sobre as ocupadas Colinas de Golã, uma maioria de membros do Conselho de Segurança destacou na quarta-feira (27) a importância de manter lei internacional em relação à região.

Israel tomou as Colinas de Golã, em sua fronteira norte com a Síria, após a guerra de 1967, e anexou a região em 1981. O Conselho de Segurança declarou o ato ilegal.

A vice-embaixadora francesa Anne Guengen disse ao encontro na noite de quarta-feira em Nova Iorque que a União Europeia havia afirmado mais cedo no mesmo dia que seus Estados-membros não reconhecem a soberania de Israel sobre as colinas. Ela disse que quaisquer esforços para passar por cima das resoluções do Conselho em relação ao território estão “fadados ao fracasso”.

No entanto, o representante para os EUA, Rodney Hunter, afirmou ao Conselho que a decisão norte-americana sobre as Colinas de Golã não irá impactar na segurança ou envio da força de paz da ONU na região, conhecida como UNDOF. A UNDOF monitora o cessar-fogo entre Israel e a Síria.

A chefe de assuntos políticos da ONU, Rosemary DiCarlo, reiterou a posição do secretário-geral das Nações Unidas de que “a situação de Golã não mudou” à luz da decisão dos EUA.

“Esperamos que os acontecimentos recentes não sejam usados como uma desculpa para buscar ações que podem prejudicar a estabilidade relativa da situação em Golã e além”, disse DiCarlo.