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ONU lamenta decisão dos EUA de legitimar assentamentos israelenses

Casas palestinas e assentamentos israelenses na área H2 em Hebron, na Cisjordânia. Foto: ONU/Reem Abaza
Casas palestinas e assentamentos israelenses na área H2 em Hebron, na Cisjordânia. Foto: ONU/Reem Abaza

O posicionamento de longa data da ONU em relação aos assentamentos de Israel nos Territórios Palestinos Ocupados se mantém o mesmo: eles violam as leis internacionais. A afirmação foi feita pelo porta-voz da ONU Stéphane Dujarric durante coletiva de imprensa na terça-feira (19), em Nova Iorque, na qual abordou a decisão do governo norte-americano de tentar legitimar esses assentamentos.

Dujarric afirmou que a ONU “lamenta muito” o anúncio da nova posição dos Estados Unidos, comunicada na segunda-feira (18), e que a Organização se mantém “comprometida com uma solução de dois Estados, com base nas resoluções das Nações Unidas”.

Mais cedo na terça-feira, em coletiva de imprensa em Genebra, o porta-voz do Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), Rupert Colville, disse a jornalistas que a mudança de posicionamento de um dos Estados-membros não afeta a lei internacional existente, e tampouco sua interpretação pela Corte Internacional de Justiça (CIJ) e pelo Conselho de Segurança da ONU.

Alteração na política norte-americana

Ao anunciar a mudança de posicionamento do país, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse que “classificar o estabelecimento dos assentamentos civis como inconsistentes com o direito internacional não funcionou”. “Não houve avanço nas causas de paz.”

Os comentários feitos por Pompeo — que foram condenados por políticos palestinos e pelo governo da Jordânia, e bem-recebidos pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu — foram interpretados por veículos de comunicação como uma rejeição à resolução 2334 do Conselho de Segurança da ONU.

A resolução reafirmou, em 2016, que o estabelecimento de assentamentos no território palestino ocupado desde 1967 não possui “validade legal” e constitui uma “flagrante violação sob o Direito internacional e um obstáculo para a visão de dois Estados vivendo lado a lado em paz e segurança, dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas”. A resolução foi aprovada com 14 votos a favor, votação em que os Estados Unidos se absteve.

No mesmo dia que Pompeo fez o anúncio, a embaixada norte-americana em Jerusalém divulgou um alerta de segurança, aconselhando seus cidadãos no país a manterem alta vigilância e medidas de segurança.

A tensão na região já era alta antes mesmo do anúncio do secretário de Estado dos EUA. Em 28 de outubro deste ano, o coordenador especial para o processo de paz no Oriente Médio disse ao Conselho de Segurança que “novos pontos de conflito perigosos” estavam emergindo na região, e descreveu o crescente número de assentamentos israelenses como um grande obstáculo para o processo de paz.

Em comunicado publicado na terça-feira, o especialista independente da ONU e relator especial sobre a situação dos direitos humanos na Palestina, Michael Lynk, caracterizou o movimento norte-americano como “uma quebra decisiva com o consenso internacional”, que irá “consolidar ainda mais o percentual de ocupação israelense”.

A decisão dos EUA de “desprezar a lei internacional”, afirmou Lynk, legitimou os assentamentos ilegais de Israel, contribuindo para dificultar uma solução de dois Estados, desfecho apoiado pela ONU para que haja paz entre Israel e Palestina.

Escombros das casas palestinas demolidas em Beit Hanina, em Jerusalém Oriental, com vista para o assentamento de Pisgat Ze'ev. Foto: UNRWA/Marwan Baghdadi

Ausência de solução política para Israel-Palestina prejudica esforços da ONU para encerrar crise

Escombros das casas palestinas demolidas em Beit Hanina, em Jerusalém Oriental, com vista para o assentamento de Pisgat Ze'ev. Foto: UNRWA/Marwan Baghdadi
Escombros das casas palestinas demolidas em Beit Hanina, em Jerusalém Oriental, com vista para o assentamento de Pisgat Ze’ev. Foto: UNRWA/Marwan Baghdadi

A chefe de Assuntos Políticos das Nações Unidas afirmou no final de abril (29) que, apesar das contínuas respostas à crise humanitária, econômica e política no Território Palestino Ocupado, esforços estão sendo continuamente enfraquecidos pela falta de progresso político em direção a uma solução de dois Estados.

Em atualização ao Conselho de Segurança sobre a situação mais recente no Oriente Médio, Rosemary DiCarlo disse que esperanças para dois Estados vivendo lado a lado em paz “continuam sendo substituídas por crescentes temores de futura anexação”.

A ONU “alertou repetidamente que o conflito não pode ser administrado perpetuamente”, disse DiCarlo, acrescentando que, sem mudanças na abordagem, haverá apenas maior deterioração, “radicalização de todos os lados, maior sofrimento e conflitos”.

DiCarlo disse a membros do Conselho que assentamentos israelenses continuam se expandindo, apesar de não terem efeito legal e representarem uma violação da lei internacional.

Em um contínuo ciclo de violência, DiCarlo destacou que do total de sete palestinos, quatro crianças foram mortas em Gaza por forças israelenses no primeiro trimestre do mês – até o final de abril. O conflito se intensificou em maio.

Além disso, 1.316 pessoas ficaram feridas durante manifestações realizadas na cerca fronteiriça. A chefe de assuntos políticos condenou a violência em ambos os lados e relembrou Israel que a força letal só pode ser usada “em resposta a uma ameaça iminente de morte ou ferimento sério”.

Crise em Gaza se aprofunda

DiCarlo afirmou que há um progresso importante na implementação de um programa de ajuda humanitária e de apoio econômico para estabilizar a situação na Faixa de Gaza, que continua bloqueada por Israel.

A região também é alvo de disputas entre o grupo extremista Hamas e a facção Fatah, sediada na Cisjordânia.

“Como reiteramos consistentemente, a crise em Gaza, em seu núcleo, é política”, disse. “Progressos significativos para suspender os fechamentos e avançar reconciliação dentro da Palestina continua essencial.”

Ela afirmou que, ao longo do ano passado, 110 milhões de dólares foram angariados para combustível, água, saúde, saneamento e programas de empregos em Gaza. Deste valor, 4,6 milhões foram destinados desde setembro a medicamentos essenciais e apoio a cerca de 9.500 cirurgias.

Cinco túneis abaixo da “Linha Azul”

Voltando atenção à demarcação fronteiriça entre o sul do Líbano e o norte de Israel, ou a “Linha Azul”, DiCarlo afirmou que a situação é calma, embora a Força Interina da ONU no Líbano (UNIFIL) tenha confirmado a existência de cinco túneis cavados sob a fronteira.

Segundo DiCarlo, três dos túneis confirmados “cruzam a Linha Azul e constituem uma violação da resolução 1701”.

“Conforme nos mobilizamos a cada crise para responder às necessidades críticas da população palestina, seja em Gaza, seja na Cisjordânia”, disse, “não podemos perder de vista o principal assunto político, a perspectiva de dois Estados pacíficos e seguros vivendo lado a lado em harmonia”.

Deportação de diretor da ‘Human Rights Watch’

Em comunicado também no final de abril, especialistas da ONU em direitos humanos expressaram grave preocupação com a revogação da permissão de trabalho de Omar Shakir, diretor da ‘Human Rights Watch’ para Israel e Palestina.

Os relatores especiais pediram para Israel reverter uma ordem de deportação e permitir que ele continue trabalhando.

“Esta decisão ameaça o ativismo, a pesquisa e a liberdade de expressão para todos e reflete uma perturbadora resistência a debates abertos”, disseram os especialistas. “É um retrocesso para os direitos de defensores de direitos humanos em Israel e no Território Palestino Ocupado.”

Em 16 de abril, um tribunal israelense manteve uma ordem de deportação contra Shakir. A ‘Human Rights Watch’ irá recorrer da decisão da Corte Distrital na Corte Suprema Israelense.

Israel havia revogado a permissão de trabalho de Shakir por acusações de que ele havia apoiado o movimento de boicote, desinvestimentos e sanções (BDS) no passado. Os relatores destacaram que a ‘Human Rights Watch’ afirmou que nem a organização, nem Shakir, promovem o boicote a Israel. A organização não governamental trabalha para desencorajar o apoio econômico aos assentamentos ilegais de Israel.

Os especialistas autores do comunicado são Michael Lynk, relator especial sobre a situação de direitos humanos no Território Palestino Ocupado desde 1967; Michel Forst, relator especial sobre a situação de defensores dos direitos humanos; e David Kaye, relator especial sobre a promoção e proteção do direito à liberdade de opinião e expressão.

Secretário-geral pede mais cooperação entre ONU e Estados árabes

Secretário-geral da ONU faz discurso durante Cúpula da Liba Árabe em Túnis no fim de março (31). Foto: Reprodução
Secretário-geral da ONU faz discurso durante Cúpula da Liba Árabe em Túnis no fim de março (31). Foto: Reprodução

Na Cúpula da Liga Árabe, na Tunísia, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, reconheceu no domingo (31) a importância da região para o cenário internacional, e pediu cooperação ainda maior entre a ONU e os Estados árabes.

“O Norte da África e o Oriente Médio são lar de memorável dinamismo e potencial. É uma região que há tempos busca construir paz e prosperidade. Acredito ser vital para esta região assumir este destino”, disse ao salão repleto de líderes políticos dos 22 Estados-membros da Liga. “As Nações Unidas não têm outra agenda além de apoiar estas aspirações, em espírito de solidariedade e união”.

Citando as muitas contribuições do mundo árabe à civilização global ao longo da história, ele também expressou admiração pela maneira com a qual muitos países estão “estendendo memorável hospitalidade às ondas e ondas de refugiados, em um contexto em que, infelizmente, muitas outras fronteiras estão se fechando”.

O secretário-geral então destacou os “ventos turbulentos” que afetaram a região, das “guerras no Iêmen e na Síria”, à “ascensão e queda do Estado Islâmico” e “a persistente negação do direito à autodeterminação do povo palestino”.

“Peço fortemente união do mundo árabe como uma condição fundamental para paz e prosperidade na região, e para evitar deixar a região vulnerável à interferência de partes estrangeiras com efeitos desestabilizadores”, disse, pedindo uma visão regional enraizada em cooperação, respeito e interesse mútuo.

Guterres mencionou a necessidade de “desfazer o nó da insegurança, não permitir espaço para sectarismo, e entregar paz, estabilidade e governança eficaz que o povo da região merece”.

Ele também enfatizou a necessidade de “criar empregos e oportunidades econômicas, manter direitos humanos para todos, avançar com igualdade de gênero e empoderamento de mulheres e promover o Estado de Direito, a diversidade, as liberdades fundamentais e os valores democráticos”.

Quatro imperativos para combater os “ventos turbulentos”

O chefe da ONU falou também dos quatro assuntos específicos na região que podem se beneficiar de uma abordagem abrangente, começando pelo imperativo para uma solução de dois Estados, para Israel e Palestina.

“Vivendo lado a lado em paz dentro de fronteiras seguras e reconhecidas, e com Jerusalém (Al-Quds) como capital de ambos os Estados”, disse.

“Não há Plano B: sem dois Estados, não há solução”, afirmou, destacando que a violência atual em Gaza é um lembrete trágico da fragilidade da situação.

A segunda questão específica mencionada foi o conflito no Iêmen. “Após avanços de dezembro em Estocolmo, continuamos trabalhando de perto com as partes para alcançar progresso em direção à remobilização de forças em Hodeida e à abertura de corredores humanitários no caminho para uma solução política para o Iêmen”.

Em terceiro lugar, a respeito do conflito de oito anos na Líbia, ele elogiou o recente progresso em direção à construção de um consenso político para convocação da Conferência Nacional. “Tenho esperança de que maior progresso pode ser alcançado com um processo político liderado pela Líbia, com apoio da comunidade internacional, dentro do quadro do Plano de Ação da ONU”.

Por fim, ele mencionou que, à medida que “milhões de sírios permanecem deslocados e em necessidade, e dezenas de milhares são arbitrariamente detidos, precisamos continuar trabalhando para criar um caminho político à paz sustentável, na qual todos os sírios sejam escutados e suas necessidades, atendidas”.

“Qualquer resolução do conflito sírio precisa garantir unidade, integridade territorial da Síria, incluindo a região ocupada de Golã”, destacou.

As Colinas de Golã foram tomadas por Israel após a guerra de 1967 e anexadas em 1981. O ato é considerado ilegal pelo Conselho de Segurança da ONU.

Cooperação ainda mais forte entre ONU e Estados árabes

“A região árabe e seu povo fizeram sacrifícios enormes para combater o terrorismo e pagaram o preço mais alto por isso”, disse Guterres, garantindo que “as Nações Unidas estão intensificando apoio aos esforços de Estados árabes nesta luta”.

Ele anunciou que a ONU irá inaugurar em breve no Cairo um novo escritório com a Liga Árabe, buscando cooperação em questões como melhoria das condições de vida para iraquianos e apoio à estabilidade no Líbano.

No aniversário de protesto na Faixa de Gaza, oficiais da ONU pedem fim da violência

Protestos na Faixa de Gaza no dia 14 de maio de 2018. Foto: OCHA
Protestos na Faixa de Gaza no dia 14 de maio de 2018. Foto: OCHA

No aniversário de um ano dos grandes protestos iniciados em Gaza e depois da morte de quase 200 palestinos por tiros das forças da segurança de Israel em 2018, o oficial das Nações Unidas para os Territórios Palestinos Ocupados (TPO), Jamie McGoldrick, pediu na sexta-feira (29) para todas as partes evitarem maior derramamento de sangue.

Quase um ano depois de manifestações começarem – conhecidas como a “Grande Marcha do Retorno e a Quebra do Cerco” – 195 palestinos, incluindo em torno de 40 crianças, foram mortos por fogo israelense perto da cerca fronteiriça, disse McGoldrick.

“Houve um número desconcertante de perdas de vidas e de feridos na Faixa de Gaza”, disse. “Entre os impactos mais trágicos, estão as mortes e ferimentos de crianças”.

Na semana passada, houve troca de foguetes e de disparos aéreos entre militantes do Hamas, em Gaza, e Israel. O coordenador especial da ONU para o Processo de Paz no Oriente Médio, Nickolay Mladenov, disse que isso “mostrou o quão precipitadamente perto estamos da beira da guerra”.

Segundo relatos, o disparo de um foguete de Gaza na segunda-feira (25) deixou sete pessoas feridas, incluindo três crianças, ao norte de capital Tel Aviv. Destacando a preocupação do secretário-geral da ONU, António Guterres, o porta-voz Stéphane Dujarric disse que o ataque era “uma violação séria e inaceitável”.

Ele também destacou relatos de fogo israelense em direção a Gaza em resposta, dizendo que Guterres está monitorando os eventos atentamente. De acordo com a imprensa internacional, forças israelenses disseram ter realizado ataques aéreos contra o que descreveram como alvos do Hamas. O Ministério da Saúde de Gaza relatou que sete pessoas ficaram feridas durante os ataques aéreos de retaliação.

Em publicação no Twitter na sexta-feira (29), Mladenov disse que Israel “precisa calibrar o uso de força”. “O Hamas precisa garantir que manifestantes continuem pacíficos, todos devem garantir que crianças não sejam colocadas em perigo”.

Em briefing a jornalistas em Genebra em nome de McGoldrick, Jens Laerke, do Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), disse que “na véspera do aniversário de um ano (dos protestos) a prioridade agora é salvar vidas e todos precisam tomar ações de acordo”.

As forças militares de Israel “precisam garantir que suas respostas estejam em linha com obrigações legais internacionais, usando meios não violentos na maior extensão possível”, disse Laerke. Ele pediu para líderes do grupo militante Hamas, que controla Gaza, prevenirem “atos de violência que comprometam a natureza pacífica de manifestações”.

Protestos de larga escala podem resultar em “tragédia”

Preocupações em torno de uma possível “tragédia” no sábado foram destacadas por notícias de que os protestos rotineiros de sexta-feira foram adiados, explicou Laerke.

“Manifestações hoje foram, extraordinariamente, canceladas com a convocação das manifestações de amanhã” em larga escala, disse. “A razão pela qual o coordenador humanitário está emitindo este pedido hoje é exatamente por conta de sua e nossa preocupação de que podemos ver outro dia trágico amanhã e todos precisam fazer o possível para evitar isso”.

Além dos palestinos mortos em protestos desde março de 2018, quase 29 mil outros ficaram feridos, disse Laerke, “incluindo mais de 7 mil pessoas feridas por munição letal”.

Três agentes de saúde claramente identificados que cuidavam dos feridos durante manifestações também foram mortos, acrescentou o porta-voz do OCHA. Ele destacou que um membro das forças de segurança de Israel também foi morto e seis outros ficaram feridos.

Sistema de saúde de Gaza não suporta aumento de amputações

Em meio a uma prolongada escassez de bens e serviços básicos em Gaza, ligada a mais de uma década de bloqueios aéreos, marítimos e terrestres de Israel, Laerke destacou o impacto da violência no sistema de saúde já sobrecarregado.

“As muitas vítimas palestinas, incluindo feridos por trauma e mais de 120 amputações de membros, sobrecarregaram o sistema de saúde de Gaza, que já é desafiado por apagões crônicos, escassez de remédios e suprimentos básicos, e lacunas em serviços essenciais, incluindo apoio psicossocial e de saúde mental”, disse.

A jornalistas em Genebra, o porta-voz insistiu que “estamos emitindo um forte lembrete para todos envolvidos nisso, de que a proteção de vidas – não só de crianças – deve estar no topo da agenda de todos”.

Seus comentários ecoaram um alerta feito mais cedo nesta semana por Mladenov, que disse que “podemos estar, mais uma vez, enfrentando outro agravamento muito perigoso de violência em Gaza, com consequências possivelmente catastróficas”.

Colinas de Golã

Após decisão unilateral dos Estados Unidos de reconhecer soberania de Israel sobre as ocupadas Colinas de Golã, uma maioria de membros do Conselho de Segurança destacou na quarta-feira (27) a importância de manter lei internacional em relação à região.

Israel tomou as Colinas de Golã, em sua fronteira norte com a Síria, após a guerra de 1967, e anexou a região em 1981. O Conselho de Segurança declarou o ato ilegal.

A vice-embaixadora francesa Anne Guengen disse ao encontro na noite de quarta-feira em Nova Iorque que a União Europeia havia afirmado mais cedo no mesmo dia que seus Estados-membros não reconhecem a soberania de Israel sobre as colinas. Ela disse que quaisquer esforços para passar por cima das resoluções do Conselho em relação ao território estão “fadados ao fracasso”.

No entanto, o representante para os EUA, Rodney Hunter, afirmou ao Conselho que a decisão norte-americana sobre as Colinas de Golã não irá impactar na segurança ou envio da força de paz da ONU na região, conhecida como UNDOF. A UNDOF monitora o cessar-fogo entre Israel e a Síria.

A chefe de assuntos políticos da ONU, Rosemary DiCarlo, reiterou a posição do secretário-geral das Nações Unidas de que “a situação de Golã não mudou” à luz da decisão dos EUA.

“Esperamos que os acontecimentos recentes não sejam usados como uma desculpa para buscar ações que podem prejudicar a estabilidade relativa da situação em Golã e além”, disse DiCarlo.

Violações de Israel em Gaza podem constituir crimes de guerra, diz comissão

Protestos na Faixa de Gaza no dia 14 de maio de 2018. Foto: OCHA
Protestos na Faixa de Gaza no dia 14 de maio de 2018. Foto: OCHA

A comissão independente das Nações Unidas sobre protestos no Território Palestino Ocupado afirmou no fim de fevereiro (28) que soldados israelenses cometeram violações de direitos humanos e da lei humanitária internacional, algumas destas possivelmente representando crimes contra a humanidade. A comissão apresentou um relatório focado em manifestações na Faixa de Gaza conhecidas como “Grande Marcha do Retorno e a Quebra do Cerco”.

“A Comissão possui bases sensatas para acreditar que, durante a Grande Marcha do Retorno, soldados israelenses cometeram violações de lei internacional de direitos humanos e lei humanitária internacional. Algumas destas violações podem constituir crimes de guerra ou crimes contra a humanidade, e devem ser imediatamente investigadas por Israel”, disse o presidente da Comissão, Santiago Canton, da Argentina.

A Comissão recebeu mandato do Conselho de Direitos Humanos em maio de 2018 para investigar todas as supostas violações e abusos de lei humanitária internacional e de direitos humanos no Território Palestino Ocupado, no contexto de grandes protestos que começaram em Gaza em 30 de março de 2018. A Comissão é composta por Santiago Canton, Sara Hossain (Bangladesh) e Betty Murungi (Quênia).

Mais de 6 mil manifestantes desarmados foram baleados por atiradores militares, semana após semana, em locais de protesto ao lado da cerca de separação.

A Comissão investigou cada assassinato nos locais designados para manifestação ao lado da fronteira que separa Gaza, cobrindo o período do início dos protestos até 31 de dezembro de 2018. No total, 189 palestinos foram mortos durante as manifestações nesse período. A Comissão concluiu que forças da segurança de Israel mataram 183 desses manifestantes com munição letal. Dos mortos, 35 eram crianças, três eram paramédicos devidamente identificados e dois eram jornalistas também devidamente identificados.

De acordo com análises de dados da Comissão, as forças de segurança de Israel feriram 6.106 palestinos com munição letal em locais de protesto durante o período. Outros 3.098 palestinos ficaram feridos por fragmentos de bala, balas de metal revestidas com borracha ou bombas de gás lacrimogêneo. Quatro soldados israelenses ficaram feridos nas manifestações. Um soldado israelense foi morto em um dia de protesto, mas fora dos locais designados para manifestações.

“Não pode haver justificativas para matar e ferir jornalistas, médicos e pessoas que não apresentam ameaça iminente de morte para quem está no entorno. Especialmente alarmante é o ato de mirar crianças e pessoas com deficiência”, disse Sara Hossain. “Muitas vidas de jovens foram alteradas para sempre. No total, 122 pessoas tiveram um membro amputado desde 30 de março do ano passado. Vinte destas são crianças”.

A Comissão encontrou motivos sensatos para acreditar que atiradores de elite israelenses atiraram contra jornalistas, agentes de saúde, crianças e pessoas com deficiência, sabendo que estavam claramente reconhecíveis como tais.

A não ser que realizado de forma legal em autodefesa, atirar intencionalmente contra um civil que não está participando diretamente de hostilidades é um crime de guerra. A Comissão encontrou motivos sensatos para acreditar que membros das forças de segurança de Israel, ao longo de suas respostas às manifestações, mataram e feriram civis que não participavam de hostilidades ou apresentavam ameaça iminente. Estas sérias violações de direitos humanos e da lei humanitária podem constituir crimes de guerra ou crimes contra a humanidade.

A Comissão destacou a reivindicação israelense de que protestos na cerca de separação mascaravam “atividades terroristas” cometidas por grupos armados palestinos. No entanto, a Comissão concluiu que as manifestações tinham natureza civil, com objetivos políticos claramente afirmados. Apesar de alguns atos de violência significativa, a Comissão concluiu que os protestos não constituíram combate ou campanha militar.

O panorama legal aplicável foi baseado em lei internacional de direitos humanos. Esta avaliação não muda, mesmo que a investigação da Comissão tenha revelado que alguns manifestantes eram membros de grupos armados organizados. Outros eram membros de partidos políticos. A lei internacional de direitos humanos proíbe o uso de força baseado apenas na atual ou suposta afiliação de uma pessoa a qualquer grupo, em vez de se basear em sua conduta.

A Comissão também concluiu que alguns membros do comitê que organizou os protestos, que inclui representantes do Hamas, encorajaram ou defenderam uso indiscriminado de pipas e balões incendiários, causando medo entre civis e danos significativos a propriedades no sul de Israel. O grupo de especialistas concluiu que o Hamas, como autoridade de facto em Gaza, fracassou em prevenir estes atos.

A Comissão realizou 325 entrevistas com vítimas, testemunhas e fontes, e reuniu mais de 8 mil documentos. Uma parte integral da investigação foi a análise abrangente das redes sociais e quantidade vasta de material audiovisual mostrando incidentes, incluindo filmagens feitas por drones.

“A Comissão irá colocar as informações relevantes em documento confidencial, que será entregue ao Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), para fornecer acesso dos mecanismos de Justiça nacionais e internacionais a essas informações. A Corte Internacional de Justiça já está preocupada com esta situação”, disse Betty Murungi.

Autoridades israelenses não responderam solicitações feitas pela Comissão para informações e acesso a Israel e ao Território Palestino Ocupado.

Um relatório mais amplo, contendo fatos detalhados, informações contextuais e análises legais será publicado e apresentado ao Conselho de Direitos Humanos em 18 de março, em Genebra.