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Costa do Marfim: ONUCI teme guerra civil

A Operação das Nações Unidas na Costa do Marfim (ONUCI) condenou o uso excessivo da força contra manifestantes na cidade de Abidjan e áreas adjacentes, ao longo dos últimos dias, salientando que a violência já deixou dezenas de mortos ou feridos. A missão de paz condenou a resposta desproporcional das forças de segurança do país, que teriam usado armas pesadas contra os manifestantes.

“A ONUCI pede a todas as partes que se contenham num momento em que esforços políticos e diplomáticos estão em andamento no nível mais alto para encontrar uma solução pacífica para a crise pós-eleitoral da Costa do Marfim,” diz declaração oficial da missão. Tumultos na Costa do Marfim irromperam no início de dezembro quando o Presidente Laurent Gbagbo recusou-se a deixar o cargo, apesar da vitória certificada pela ONU do oposicionista Allasane Ouattara nas eleições presidenciais.

O chefe da polícia da ONUCI alertou que milícias leais a Gbagbo podem estar se preparando para uma guerra civil. “O clã Gbagbo tem uma longa tradição de mobilização de milícias, ser muito hostil e contar com multidões armadas, que atualmente tentam se reagrupar,” disse o Comissário Jean-Marie Bourry ao Centro de Notícias da ONU na semana passada. “Tudo leva a crer que estamos vendo os preparativos para uma guerra civil.”

A eleição deveria ter sido o ponto culminante na reunificação do país, dividido pela guerra civil entre o sul controlado pelo governo e o norte rebelde, em 2002. Gbagbo exigiu a retirada da UNOCI e seu efetivo de nove mil integrantes.

A ONU recusou-se a deixar o país e o Conselho de Segurança autorizou a implantação imediata de um adicional de dois mil soldados e três helicópteros armados, no mês passado, em resolução adotada por unanimidade nos termos do Capítulo VII da Carta das Nações Unidas, que autoriza o uso da força.

ONU ajuda milhares de deslocados na Costa do Marfim

Mais de 16 mil pessoas no oeste da Costa do Marfim, expulsas de suas casas pela violência após o atual presidente recusar-se a deixar o posto, apesar da derrota eleitoral, precisam de ajuda médica imediata, alimentos, abrigo e proteção, de acordo com a ONU. “Ninguém pode ficar indiferente a este sofrimento humano”, disse o Coordenador Humanitário da ONU no país, Ndolamb Ngokwey, no seu regresso a Abidjan, a capital comercial, após uma visita de dois dias a pessoas deslocadas internamente (PDI), a maioria delas crianças e mulheres grávidas e lactantes. “Juntos, todos temos o dever e a obrigação de agir de forma coordenada para o benefício dos mais vulneráveis e das pessoas afetadas diretamente.”

Os deslocados foram forçados a deixar suas aldeias e se refugiar nas cidades de Duékoué, Man e Danané. Ngokwey lamentou as baixas humanas e a perda da propriedade, especialmente em Duékoué. O país africano, maior produtor de cacau do mundo, tem sido palco de tumultos desde dezembro, quando o atual presidente, Laurent Gbagbo, recusou-se a deixar o cargo apesar do reconhecimento internacional e certificado pela ONU da vitória eleitoral do líder oposicionista, Alassane Ouattara. Dezenas de milhares de pessoas já buscaram refúgio na vizinha Libéria, onde o número de refugiados já chega a 25 mil pessoas.

Ngokwey e sua delegação se reuniram com autoridades locais, civis e militares, chefes tradicionais, líderes religiosos, organizações da sociedade civil e os próprios deslocados. Durante a missão, medicamentos e itens não-alimentícios foram entregues à Missão Católica de Duékoué, que está fornecendo abrigo para milhares de deslocados. As autoridades locais se comprometeram a conceder o acesso e garantir a segurança de agentes humanitários, a fim de assegurar que os mais vulneráveis e afetados se beneficiem da ajuda humanitária de emergência.

Na Libéria, as agências da ONU estão ajudando os refugiados que apoiam tanto Ouattara – o Presidente eleito – quanto Gbagbo. Os números agora chegam a 22 mil refugiados, a maioria dos quais são mulheres e crianças que necessitam urgentemente de comida, abrigo e água potável, em falta no condado de Nimba, na Libéria, onde os refugiados estão chegando. O Secretário-Geral, Ban Ki-moon, deverá pedir ao Conselho de Segurança esta semana um efetivo aidicional para as tropas da Operação das Nações Unidas na Costa do Marfim (UNOCI), que tem realizado esforços nos últimos sete anos para reunificar um país dividido pela guerra civil de 2002.

Gbagbo exigiu a partida da UNOCI, que a ONU rejeitou, e agora a Missão está protegendo Ouattara e seu Governo no Golf Hotel, em Abidjan, cercado por forças regulares e irregulares leais a Gbagbo. O Sub-Secretário-Geral para Operações de Paz, Alain Le Roy, na semana passada, informou o Conselho sobre os conflitos étnicos na Costa Oeste do Marfim e o bombardeio constante de propaganda estatal contrária à UNOCI.