Pandemia põe em risco progresso alcançado pelos países contra múltiplas dimensões da pobreza

Uma jovem em Timbuktu, no Mali. Foto: PNUD

Novos números divulgados nesta quinta-feira (16) mostram que antes da pandemia da COVID-19 houve progresso no enfrentamento da pobreza multidimensional, de acordo com o Índice de Pobreza Multidimensional (IPM) global, uma medida que vai além da renda e inclui acesso a serviços como saneamento e educação.

Os dados, divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pela Iniciativa Pobreza e Desenvolvimento Humano de Oxford (OPHI, na sigla em inglês), mostram que 65 dos 75 países estudados reduziram significativamente seus níveis de pobreza multidimensional entre 2000 e 2019.

Serra Leoa teve o progresso mais rápido na redução do seu valor global de IPM. É um dos sete dos dez países da África Subsaariana com movimento mais rápido, ao lado da Costa do Marfim, Guiné, Libéria, Mauritânia, Ruanda, São Tomé e Príncipe.

A Índia viu o número mais elevado de pessoas saindo da pobreza multidimensional – cerca de 270 milhões de pessoas entre 2005/6 e 2015/16. Na China, 70 milhões de pessoas deixaram a pobreza multidimensional entre 2010 e 2014. Em Bangladesh, os números caíram em 19 milhões entre 2014 e 2019.

“A COVID-19 está tendo impacto profundo no cenário de desenvolvimento. Mas esses dados – de antes da pandemia – são uma mensagem de esperança. Histórias de sucesso anteriores, sobre como enfrentar as muitas maneiras pelas quais as pessoas experimentam a pobreza em sua vida diária, podem mostrar como reconstruir melhor e melhorar a vida de milhões”, afirmou a diretora da OPHI na Universidade de Oxford, Sabina Alkire.

Enfrentando a pobreza multidimensional no mundo pós-COVID-19

Enquanto ainda não existem dados disponíveis para medir o aumento global da pobreza multidimensional depois da pandemia, simulações para 70 países em desenvolvimento, baseadas nos impactos previstos do vírus em apenas dois componentes do IPM global – nutrição e frequência escolar – sugerem os efeitos da crise se esta não for enfrentada.

Em três cenários de deterioração, nos quais 10%, 25% ou 50% das pessoas em estado de pobreza multidimensional ou em vulnerabilidade tornam-se subnutridas, e metade das crianças em idade escolar deixam de frequentar a escola, os níveis de pobreza podem regredir ao que eram há oito ou dez anos atrás.

Porém, mesmo se observarmos apenas o impacto na nutrição, se os aumentos previstos não forem prevenidos ou revertidos rapidamente, esse revés pode variar de três a seis anos.

“A COVID-19 é a mais recente crise a atingir o planeta, e a mudança global do clima só garante que mais (crises) virão em breve. Cada uma afetará os pobres de várias maneiras. Mais do que nunca, precisamos trabalhar no enfrentamento da pobreza – e da vulnerabilidade à pobreza – em todas as suas formas. É por isso que o Índice de Pobreza Multidimensional 2020 é tão importante”, afirmou o diretor do Escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD, Pedro Conceição.

Entre 1,3 bilhão de pessoas que ainda vivem na pobreza multidimensional atualmente, mais de 80% são desprovidas de pelo menos cinco dos dez indicadores usados para medir saúde, educação e padrões de vida no IPM global.

Os dados também revelam que o ônus da pobreza multidimensional atinge desproporcionalmente as crianças. Metade do 1,3 bilhão de pobres ainda não completou 18 anos. Enquanto 107 milhões têm 60 anos ou mais.

“O IPM, com informações tanto sobre o nível quanto sobre a composição da pobreza, fornece os dados necessários para identificar onde e como a pobreza se manifesta. Caso contrário, os formuladores de política estariam em voo cego, incapazes de saber como – ou onde – direcionar recursos e intervenções”, explicou a diretora da OPHI na Universidade de Oxford.

Por exemplo, na África Subsaariana, 55% da população (558 milhões de pessoas) estão na pobreza multidimensional. Destes, 98% (547 milhões de pessoas) não têm acesso a combustível de cozinha limpo, 84% (470 milhões de pessoas) não têm acesso a eletricidade, e 66% (366 milhões de pessoas) não têm acesso a água potável.

Enfrentar cada desafio requer uma abordagem diferente, muitas das quais precisam ir além de melhorar a renda. Isso é particularmente verdadeiro à luz do trabalho do PNUD de incentivar as sociedades de todos os lugares a aproveitar a oportunidade para repensar os caminhos de desenvolvimento e “reconstruir melhor” após a COVID-19.

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