Refugiados angolanos mostram sua arte no evento Revelando São Paulo

Um processo histórico de miscigenação derivado de fluxos migratórios criou uma diversidade cultural no Brasil que facilita a integração de estrangeiros no país. Um bom exemplo desta integração são os refugiados angolanos Bantu Tabasisa e Tandu, que participam desde a semana passada no evento “Revelando São Paulo”, mostrando sua arte de inspiração africana para um público estimado em um milhão de pessoas.

Os refugiados angolanos Bantu Tabasisa e Tandu, que participam desde a semana passada no evento Revelando São Paulo. Foto: ACNUR.
Os refugiados angolanos Bantu Tabasisa e Tandu, que participam desde a semana passada no evento “Revelando São Paulo”. Foto: ACNUR

Tandu chegou em 2001, por não concordar com o alistamento militar obrigatório em Angola, e Bantu deixou sua terra natal há 17 anos, por causa do conflito interno que afetava seu país. Ambos foram convidados a participar do “Revelando São Paulo”, que busca reunir e celebrar a diversidade cultural e artística do mais importante estado brasileiro. O evento é um grande encontro da cultura paulista, reunindo manifestações artísticas de 200 municípios do estado.

Tandu é pintor autodidata e se dedica à arte desde 1992, dominando especificamente as técnicas de areia sobre tela, raspagem e obras talhadas por espátulas. “Minha inspiração são as mulheres africanas e a árvore Balbá, que é típica do continente. Lá tem muito sol, e essas árvores nos oferecem sombra e alívio.”

Bantu é o coordenador do Grupo Cultural Tribo Bakongo Kingoma da África, que representa a África por meio de artes plásticas, percussão, dança, canto, peças teatrais e culinária. Como pintor, Bantu prefere a técnica de óleo sobre tela e se especializou em retratos, encontrando inspiração nas tribos africanas de diferentes países. “O bom do meu trabalho é poder divulgar a cultura de todo o continente, e não só de Angola. Os brasileiros afro-descendentes desconhecem a história e o vínculo que têm com a África. Por meio da arte e de palestras, ajudo a combater a ignorância e a indiferença que muitos afro-descendentes têm com relação à nossa cultura.”

Ao participar do “Revelando São Paulo”, os refugiados demonstram que já são parte da sociedade brasileira. “Fico feliz por estar reunido com tantos artistas brasileiros, compartilhando nossa arte e nossas aspirações. No mesmo local onde eles expõem sua cultura, eu exponho a do meu país”, afirma Tandu.

Para o diretor artístico do “Revelando São Paulo”, Toninho Macedo, a participação dos refugiados angolanos tem um valor especial, pois a Organização Social Abaçaí, organizadora do evento, tem um vínculo histórico com a integração de refugiados em São Paulo. “No final dos anos 70, a Abaçaí recebia refugiados do Chile, da Argentina e do Uruguai para mitigar a dor da solidão por meio da música e da dança”, afirma. Para ele, a participação de Tandu e Bantu no evento é uma prova de que São Paulo é uma cidade de oportunidades, capaz de acolher e integrar aqueles que nela chegam para começar uma nova vida. “Muito do que está sendo exibido aqui no festival é uma herança da cultura africana”, comenta o diretor.

Bantu e Tandu expõem seus trabalhos em um stand organizado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e pela Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, que é parceria da agência no projeto de assistência e proteção a refugiados na cidade. Embora já trabalhassem com arte na Angola, recomeçar em outro país não foi fácil. Eles tiveram dificuldades financeiras para se manter em São Paulo e para exercer suas atividades artísticas. Ambos foram apoiados pela Cáritas e pelo ACNUR e, graças ao seu esforço individual, conseguiram vencer as dificuldades.

“Viver de arte no Brasil é difícil, você tem que fazer um nome, mas devagar vou levando a vida. Assim que cheguei, retomei meu trabalho como artista plástico. Com a ajuda da Cáritas e do ACNUR, comprarei o material básico para voltar a pintar. Também entrei em contato com artistas brasileiros que me apoiaram muito”, diz Tandu.

O ACNUR foi criado em 1950 para proteger e assistir às vítimas de perseguição, intolerância e violência. Atualmente, mais de 35 milhões de pessoas estão sob seu mandato, entre solicitantes de refúgio, refugiados, apátridas, deslocados internos e repatriados. Por meio do projeto implementado com a Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, atende atualmente cerca de 1,8 mil pessoas.

De acordo com as estatísticas do Comitê Nacional para Refugiados (CONARE) referentes a julho deste ano, o país abriga cerca de 4.300 refugiados de 78 nacionalidades diferentes. A maioria é proveniente da África (65%), seguida pela região das Américas (22,16%), da Ásia (10,41%) e da Europa (2,27%). As nacionalidades com maior representatividade entre os refugiados reconhecidos são os angolanos (39,21%), colombianos (13,68%), congoleses (9,98%), liberianos (6,01%) e iraquianos (4,66%).

Saiba mais sobre o “Revelando São Paulo” em www.abacai.org.br

(Janaína Galvão, em São Paulo)

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