Visita do Alto Comissário coloca em foco os deslocados na Colômbia e no Equador

QUITO, Equador. Quase quatro anos após sua última visita, o Alto Comissário da ONU para refugiados esteve, durante a última semana, viajando pela Colômbia e Equador para avaliar a situação dos milhões de colombianos deslocados nos dois países latinos.

Guterres visitou alguns colombianos deslocados à força em áreas urbanas e rurais, se reuniu com funcionários do ACNUR e participou de discussões sobre a situação de deslocamento prolongado com oficiais de ambos os países, incluindo o Presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e o equatoriano, Rafael Correa.

O Alto Comissário da ONU para Refugiados, Antonio Guterres, visitou o escritório do ACNUR em Villavicencio, na Colômbia, onde recebeu explicações sobre o deslocamento de indígenas da Comunidade Nukak. Foto: ACNUR/ W. Pinzón.

O Alto Comissário da ONU para Refugiados, Antonio Guterres, visitou o escritório do ACNUR em Villavicencio, na Colômbia, onde recebeu explicações sobre o deslocamento de indígenas da Comunidade Nukak. Foto: ACNUR/ W. Pinzón.

Ele também pediu à comunidade internacional que aliviem o peso do Equador. “ O impacto dessa crise humanitária é pouco conhecida no resto do mundo e um maior apoio é necessário por parte da comunidade internacional”, disse o Alto Comissário, que retornou à Europa na tarde de terça-feira.

Guterres começou sua viagem na última quinta-feira em Bogotá, onde se encontrou com o Presidente da Colômbia e reiterou o apoio do ACNUR aos esforços do governo de melhorar as condições e expectativas de vida dos 3.5 milhões de deslocados no país. A agência da ONU para refugiados também assiste a refugiados colombianos nos países vizinhos, incluindo mais de 50 mil no Equador.

O Alto Comissário disse estar confiante de que a legislação progressista da Colômbia, que visa ajudar deslocados à força e populações indígenas, traria reais benefícios, especialmente nas zonas rurais onde a execução é um problema freqüente.

Ele também deu as boas vindas aos planos do governo de devolver as terras aos fazendeiros deslocados, assim como a outras vítimas da violência, durante os próximos quatro anos. “Esse é um passo muito importante para assegurar que os deslocados possam usufruir amplamente de sua cidadania”, disse Guterres. “O ACNUR apóia políticas que visem o reconhecimento de seus direitos”.

Em Bogotá o Alto Comissário se encontrou com um grupo de deslocados internos afro-colombianos que viviam em um humilde quarto no subúrbio de Soacha, onde 33.5 mil pessoas foram registradas como deslocados internos. O ACNUR tem um pequeno escritório em Soacha e vem trabalhando desde 2005 para assegurar o acesso a educação, saúde e moradia. O grupo comentou com Guterres sobre a discriminação e as dificuldades de integração que enfrentaram em zonas urbanas. “Somos vistos como diferentes porque somos deslocados e por causa da cor da nossa pele”, disse uma mulher que fugiu de uma região na costa do Pacífico. “Precisamos de ajuda; ainda somos seres humanos”.

Guterres visitou também as pequenas comunidades indígenas de Jiw e Nukak Maku, na floresta tropical próxima à cidade de San Jose Del Guaviare, localizada no centro do país. Mais de 30 tribos colombianas estão oficialmente sob ameaça de extinção, segundo a Corte Constitucional. Muitos abandonaram suas terras ancestrais para escapar de grupos armados ilegais, arriscando seus meios de subsistência e suas culturas.

“Nós não podemos mais nos movimentar em busca de comida, porque o nosso território está minado. Estamos confinados e rodeados por grupos armados ilegais”, um líder indígena Jiw contou ao Alto Comissário. Guterres garantiu a eles que a equipe do ACNUR que trabalha no terreno continuaria seu trabalho com as autoridades locais para prevenir o deslocamento e ajudar suas tribos. Ele também se encontrou com famílias de deslocados internos que tinham fugido de suas vilas para proteger seus filhos do recrutamento forçado pelas forças irregulares.

No Equador, Guterres visitou refugiados urbanos assim como colombianos que vivem em áreas remotas da província de Esmeraldas, no norte do país, onde o ACNUR tem um escritório operacional. O Equador é o país que mais recebe refugiados na América Latina – dos quais 60% vive em zonas urbanas como Quito e 40% vive nas proximidades da fronteira norte da Colômbia, uma região isolada com acesso limitado a serviços públicos.

O Governo do Equador observou recentemente um aumento no número de pessoas cruzando a fronteira do país para escapar da violência e do recrutamento forçado na Colômbia.

Guterres parabenizou o Equador por sua generosidade em abrigar tantos refugiados, dizendo que o país merece mais ajuda. “Eu peço à comunidade internacional que ajude os refugiados e as comunidades receptoras no Equador, e que apóie o Plano do Equador, o qual foca as comunidades locais e os refugiados nas regiões fronteiriças”, disse aos jornalistas em Quito na segunda-feira, após ter se reunido com o Presidente Correa.

O Alto Comissário afirmou que as demandas eram maiores na fronteira norte do Equador, com a Colômbia, onde se encontrou com refugiados incluindo membros da comunidade indígena Esperas que cruzaram a fronteira.

“Mais pessoas estão chegando”, disse um líder Esperas, refugiado no Equador. “Estamos recebendo nossos irmãos e irmãs porque suas vidas correm risco. Não sabemos como vamos lidar com essa situação. Perdemos nosso território e a terra que temos agora não é suficiente para a nossa sobrevivência”.

Nos últimos anos, a agência da ONU para refugiados expandiu seu trabalho ao longo da fronteira entre Equador e Colômbia em uma tentativa de reduzir as tensões entre refugiados e comunidades receptoras e de apoiar o desenvolvimento. (Por Francesca Fontanini em Quito, Equador, do ACNUR)