Agência da ONU ressalta papel dos gestores municipais no combate ao HIV

Diretora do UNAIDS no Brasil, Georgiana Braga-Orillard, durante congresso. Foto: UNAIDS Brasil/Daniel de Castro
Diretora do UNAIDS no Brasil, Georgiana Braga-Orillard, durante congresso. Foto: UNAIDS Brasil/Daniel de Castro

Em debate sobre o papel das cidades no combate ao HIV, a diretora do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) no Brasil, Georgiana Braga-Orillard, defendeu na quarta-feira (27) a necessidade de incluir as populações mais vulneráveis na resposta à epidemia. Durante o 11º Congresso de HIV/AIDS e do 4º Congresso de Hepatites Virais, em Curitiba, dirigente abordou compromissos firmados por municípios brasileiros para conter avanço da AIDS até 2020.

“O futuro da saúde pública que está sendo desenhado agora é um futuro urbano”, afirmou a especialista durante painel com representantes da capital paranaense, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo. “As cidades estão enfrentando mudanças em ritmos muito mais acelerados do que antigamente e as ações de gestores terão impactos profundos na saúde pública nos próximos anos.”

Segundo Georgiana, “é muito importante termos em mente que as populações-chave não podem estar fora da resposta à epidemia”. “Sem a inclusão delas, não vamos alcançar as metas 90-90-90”, acrescentou a diretora.

De acordo com o UNAIDS, o quadro atual da epidemia de HIV ainda penaliza grupos específicos, como os jovens gays e outros homens que fazem sexo com homens, travestis e transexuais, profissionais do sexo e seus clientes, pessoas que usam drogas e indivíduos privados de liberdade, além de outros segmentos marginalizados, como negros, mulheres, indígenas e cidadãos com baixa escolaridade e renda.

Estimativas levantadas pela agência mostram que, fora da África Subsaariana, as populações-chave e seus parceiros sexuais representaram 80% das novas infecções por HIV em 2015 e, mesmo na África Subsaariana, as populações-chave representaram 25% das novas infecções por HIV.

O último relatório do organismo das Nações Unidas aponta que houve avanços no combate às novas infecções na América Latina, mas, no Brasil, os casos aumentaram — o país responde por 49% dos novos episódios na região.

Os jovens brasileiros continuam sendo os mais afetados por novas infecções: de 2006 a 2015, a taxa triplicou entre homens de 15 a 19 anos — de 2,4 para 6,9 casos por 100 mil habitantes. A proporção dobrou entre jovens do sexo masculino de 20 a 24 anos — de 15,0 para 33,1 casos por 100 mil habitantes.

Georgiana Braga-Orillard, diretora do UNAIDS no Brasil, Adele Benzaken, diretora do DIAHV, e César Nuñez, diretor regional do UNAIDS. Foto: DIAHV/SVS/Ministério da Saúde
Georgiana Braga-Orillard, diretora do UNAIDS no Brasil, Adele Benzaken, diretora do DIAHV, e César Nuñez, diretor regional do UNAIDS. Foto: DIAHV/SVS/Ministério da Saúde

Na véspera do painel com Georgiana, durante a abertura do congresso, a diretora do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle de Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais (DIAHV), Adele Benzaken, enfatizou a necessidade de integrar esforços para o enfrentamento da epidemia.

“A resposta brasileira ao HIV e às hepatites virais só é possível em conjunto com a sociedade civil, instituições da área de saúde, pesquisadores, organismos internacionais e poder público”, apontou a gestora. “Quando trabalhamos juntos, mesmo quando temos diferenças de pontos de vista, somos mais fortes e asseguramos a sustentabilidade da resposta brasileira – e não há razão, portanto, para medo de retrocessos.”

Ativistas em protesto pacífico durante da abertura do HepAids 2017. Foto: DIAHV/SVS/Ministério da Saúde
Ativistas em protesto pacífico durante a abertura do HepAids 2017. Foto: DIAHV/SVS/Ministério da Saúde

A cerimônia de abertura contou ainda com um protesto pacífico, em que ativistas do movimento LGBT e de AIDS ocuparam o palco segurando cartazes e faixas que pediam mais empenho do poder público na garantia dos direitos humanos e das pessoas vivendo com HIV.

Entre as cobranças, estavam a manutenção da política de financiamento para AIDS, o fim do estigma e da discriminação e menos patentes.

Cidades brasileiras e as metas da ONU

As metas 90-90-90 da agência da ONU preveem que, até 2020, 90% das pessoas vivendo com HIV estarão cientes de seu estado sorológico positivo, 90% dos indivíduos com o vírus estarão sob tratamento e 90% das pessoas em tratamento estarão com a carga viral indetectável. O compromisso com esses objetivos foi formalizado por cidades de todos os cantos do mundo no documento conhecido como Declaração de Paris.

No Brasil, os primeiros municípios a assinar o texto, em dezembro de 2014, foram Curitiba, Salvador e Rio de Janeiro. As demais adesões aconteceram em 2015: três cidades fronteiriças do Alto Solimões (AM) — Tabatinga, Atalaia do Norte e Benjamin Constant —, além de São Paulo (SP), Manaus (AM), Belém (PA), Porto Alegre (RS) e outros 13 municípios do Rio Grande do Sul, incluindo o próprio governo do estado e também o Distrito Federal.

Juntas, os 23 municípios, o DF e o Rio Grande do Sul contam com uma população de quase 35 milhões de brasileiros.

Em julho de 2017, outras oito cidades brasileiras assinaram a Declaração de Paris, durante o encontro da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), em Campinas, no interior paulista. São elas Aracaju (SE), Campinas (SP), Fortaleza (CE), Palmas (TO), Santana de Parnaíba (SP), Jaguariúna (SP) e Vitória (ES).

De acordo com dados do UNAIDS, o Brasil já conta com 87% de pessoas vivendo com HIV diagnosticadas, com 64% em tratamento e, desse grupo, 90% apresentam carga viral indetectável.