Refugiados sírios aguardam ônibus para a Turquia na tentativa de fugir de confrontos próximos à cidade de Cobani. Foto: ACNUR / I. Prickett

Assistência humanitária não pode pôr fim ao conflito na Síria, alerta ONU

 Refugiados sírios aguardam ônibus para a Turquia na tentativa de fugir de confrontos próximos à cidade de Cobani. Foto: ACNUR / I. Prickett
Refugiados sírios aguardam ônibus para a Turquia na tentativa de fugir de confrontos próximos à cidade de Cobani. Foto: ACNUR / I. Prickett

Embora organizações humanitárias tenham feito o máximo possível para atender à população da Síria, representantes das Nações Unidas afirmaram, nesta terça-feira (26), que apenas uma solução política é capaz de pôr fim à guerra no país. Na véspera, um agente humanitário foi morto por conta de um explosivo lançado contra seu veículo. Cercos que impedem o acesso de organizações e ataques a estruturas civis foram citados como ameaças que já mataram mais de 85 profissionais humanitários e continuam a deixar os sírios sem assistência básica.

“Cada hora que é desperdiçada agora, do começo dos diálogos até chegarmos a acordos, significa que mais 50 famílias sírias terão sido deslocadas de seus lares, marchando nessa neve e nesse frio amargo”, afirmou o secretário-geral do Conselho de Refugiados Norueguês e ex-chefe do Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), Jan Egeland, em referência às negociações de paz que começam na próxima sexta-feira (29).

A diretora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) na Síria, Hanna Singer, destacou que 2 milhões de jovens não frequentam instituições de ensino, uma a cada quatro escolas não pode ser usada e o sistema educacional sírio perdeu mais de 50 mil professores que ou fugiram da nação, ou foram mortos. “Para um país no qual a matrícula escolar era (estimada em) 90% antes do conflito, a Síria perdeu duas décadas de progresso educacional”, afirmou.

Singer também disse que, no momento, a Síria é provavelmente a nação mais perigosa para crianças. A chefe da agência lembrou que, há poucos meses, 19 jovens foram mortos em uma área de recreação, em Homs. Na mesma semana, seis crianças morreram quando um morteiro atingiu um espaço seguro, mantido com apoio do UNICEF, em Aleppo.

A situação da assistência médica na Síria também é precária. De acordo com o representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o país, Elisabeth Hoff, 50% dos profissionais de saúde fugiram do país e 60% dos hospitais públicos foram destruídos, fechados ou estão funcionando parcialmente. Remédios e materiais cirúrgicos estão em falta, e forças nacionais frequentemente apreendem seringas e tabletes de hidratação. Em abrigos para pessoas internamente deslocadas, entre 60 e 70 indivíduos são forçados a dividir apenas um vaso sanitário, o que aumenta o risco de doenças infecciosas.

Singer, Hoff e o chefe do OCHA na Síria, Yaacoub El Hillo, reiteram pedidos anteriores das Nações Unidas pela liberação do acesso da ajuda humanitária a populações vulneráveis e sob cerco. A OMS deseja vacina 2,9 milhões de crianças, mas só conseguirá aplicar o tratamento caso uma pausa humanitária nos confrontos seja aprovada. El Hillo espera que as negociações pela paz no país consigam efetivamente acabar com a guerra. “Nós entregaremos uma mensagem clara aos que vierem à Genebra de que já basta”, afirmou o coordenador humanitário da ONU.