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Série de desenhos voltada para a primeira infância aborda desenvolvimento sustentável

“Hora do Blec” é uma série de vídeos musicais destinada, principalmente, ao público na primeira infância, com temas inspirados nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Foto: PNUD

O contato com os conceitos e temas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) desde a infância pode influenciar a formação pessoal. Com foco no potencial da comunicação infantil como semente da equidade social, a série de desenhos “Hora do Blec” estreiou neste sábado (29) no YouTube. O projeto é da Ubuntu Filmes e conta com o apoio institucional do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

“Hora do Blec“ traz uma turma de personagens multiétnicos que vivem várias aventuras em busca de um mundo mais sustentável. Blec é o protagonista, um menino negro que tem no seu cabelo um símbolo de poder, beleza e magia. Em suas missões, Blec aciona seu talismã secreto: um pente afro que vive em seu cabelo. Quando Blec puxa o pente, aparece a fada Lara, sua mestra, e logo seu cabelo arma, virando um lindo e mágico “black power”. Quem o interpreta o personagem é o ator David Junior.

“A importância desse projeto é a representatividade somada à pluralidade que o Blec traz, além do diálogo com outras crianças, a equidade social e a sustentabilidade. Se sentir representado através de uma animação para a primeira infância pode fazer toda a diferença no imaginário da criança pobre, preta, periférica e também dar uma nova perspectiva para outras crianças não negras sobre como a gente pode ser visto”, declarou o ator.

Trata-se de uma série de vídeos musicais destinada, principalmente, ao público na primeira infância, com temas inspirados nos ODS. Aprovados por unanimidade pelo grupo de países que compõem as Nações Unidas, os ODS reafirmam o compromisso internacional de acabar com a pobreza e outras mazelas sociais de forma permanente em todas as partes e não deixar ninguém para trás. ?

“Além de abordar os desafios do desenvolvimento sustentável com linguagem infantil, a iniciativa tem um papel importante no enfrentamento ao racismo, ao contar com um menino negro como protagonista, dentro de uma família negra feliz. O desenho traz para o centro da mensagem a redução das desigualdades sociais, o que coincide com o mandato do PNUD. O enfrentamento ao racismo passa também pelo reconhecimento e pela valorização das identidades negras brasileiras”, avaliou a oficial de gênero e raça do PNUD no Brasil, Ismália Afonso.

O primeiro vídeo da série tem como tema a música “Mãe Terra”, relacionada, especialmente, com o ODS 15 – Vida Terrestre. Acompanhe os vídeos no canal do YouTube.

Outras iniciativas

Para a ONU, o racismo é uma das principais causas históricas da situação de violência e letalidade a que a população negra está submetida. Nesse sentido, a “Hora do Blec” está alinhada com a campanha Vidas Negras, iniciativa da ONU Brasil pelo fim da violência contra jovens negros. A campanha é uma das iniciativas desenvolvidas no âmbito da Década Internacional de Afrodescendentes (2015-2024), um reconhecimento da comunidade internacional sobre os povos afrodescendentes, cujos direitos humanos precisam ser promovidos e protegidos.

Crianças e jovens brasileiros são vítimas invisíveis das desigualdades no acesso a saneamento

Meninas lavam as mãos em Roraima. Foto: UNICEF/Yareidy Rivas
Meninas lavam as mãos em Roraima. Foto: UNICEF/Yareidy Rivas

Imagine que você está em uma escola e quer aproveitar o intervalo para ir ao banheiro. Nesse momento, em vez de um toalete com descarga e uma pia, você encontra um banheiro seco, sem descarga (ou um buraco no chão), e nenhum lugar para lavar as mãos. E tampouco há álcool gel disponível. Como você se sentiria?

Em todo o Brasil, 39% das escolas não têm infraestrutura para lavagem das mãos, segundo o Programa Conjunto de Monitoramento para Saneamento e Higiene (JMP) da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

Um novo estudo de UNICEF, Banco Mundial e Instituto Internacional de Águas de Estocolmo (SIWI) mostra que crianças e adolescentes estão entre as vítimas invisíveis da falta de investimentos em saneamento no país. Para os estudantes de escolas públicas, a situação é mais alarmante, já que as instituições privadas contam com mais do dobro da cobertura desses serviços.

E, no Norte do país, as disparidades são ainda maiores. Apenas 19% das escolas públicas do Amazonas têm acesso ao abastecimento de água, ao passo que a média nacional é de 68%. Em relação ao esgotamento sanitário, a situação é crítica: no Acre, por exemplo, apenas 9% das escolas públicas têm acesso à rede pública de esgoto; em Rondônia, 6%; no Amapá, só 5%.

Também no grupo dos principais prejudicados pela falta de saneamento estão os povos indígenas, bem como os moradores das favelas — onde as mulheres são maioria — e das zonas rurais. Para eles, é difícil seguir uma das recomendações mais básicas contra a propagação da COVID-19 e outras doenças: lavar bem as mãos com água e sabão.

Casa sem banheiro

Dados do JMP indicam que 15 milhões de brasileiros moradores de áreas urbanas não têm acesso a água segura: potável, protegida de contaminação externa e disponível em casa. Em áreas rurais, 25 milhões gozam apenas de acesso básico à água de fontes seguras, mas longe de suas residências.

É assim, por exemplo, na comunidade quilombola de Conceição, em Bequimão (Maranhão), onde vive Aldenice Melo, 16 anos. “A água do poço que abastece a comunidade não é das melhores. É salobra. Para beber, os moradores têm que buscar água em um povoado vizinho”, ela conta.

Quando se trata de esgoto, mais de 100 milhões de brasileiros não têm acesso a instalações sanitárias adequadas, não compartilhadas com outras moradias, com esgoto coletado e tratado de forma segura. Desse total, 2,3 milhões ainda defecam a céu aberto.

“Onde eu moro, nem todas as casas têm banheiro, só uma minoria. Por não haver esgotamento sanitário, costuma-se usar as fossas, que contaminam o solo”, relata Isabele Silva, 17 anos, de Itaberaba (BA).

“É muito complicado viver com esgoto na sua porta e sem uma gota de água na sua bica”, completa Thais Matozo, de 20 anos, moradora da comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro (RJ).

Provedores sem recursos

Segundo o novo estudo do UNICEF, Banco Mundial e SIWI, a pandemia de COVID-19 exacerbou todas as desigualdades brasileiras no acesso a água e esgoto, e deixou ainda mais sufocado um setor que já registrava déficit nos investimentos.

O Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) estima que o Brasil precisaria de investimentos de cerca de R$ 26 bilhões ao ano (cerca de 0,4% do PIB) nos próximos 13 anos para elevar a 99% o acesso ao abastecimento de água e a 92% a cobertura de rede de esgotos até 2033. Nas últimas duas décadas, no entanto, o país investiu apenas R$ 12 bilhões por ano, menos da metade do necessário. Além disso, o investimento é desigual e se concentra principalmente nas regiões Sudeste e Sul.

O documento também mapeia algumas ações do setor em resposta à crise causada pelo COVID-19. Por exemplo, a maioria das companhias de água deixou de cortar os serviços para clientes que não consigam pagar a conta e não cobrou o pagamento de contas de famílias pobres, enquanto outras uniram forças com os municípios para manter os espaços públicos desinfetados. Em algumas áreas metropolitanas, as companhias ajudaram a construir lavatórios públicos.

“E, na região Norte, estão colaborando com organizações humanitárias (por exemplo, ONU e ONGs) para oferecer estruturas de higienização em abrigos para migrantes e refugiados, assentamentos espontâneos e espaços públicos. Vários desses lavatórios são abastecidos com caminhões-pipa de forma a garantir um volume suficiente de água potável”, descreve o estudo.

Seria necessário fazer muito mais, mas a pandemia levou a uma queda nas receitas desses fornecedores, já que há menos gente pagando a conta e um rápido aumento das responsabilidades. “Alguns dados indicam reduções de até 70% nas receitas dessas empresas nas primeiras semanas da pandemia, o que indica que o ônus econômico de seus passivos financeiros pode atingir níveis insustentáveis”, diz o relatório. Com isso, as companhias podem enfrentar mais dificuldades em manter os padrões dos serviços prestados à população.

Para assegurar que os serviços de saneamento continuem a chegar aos mais vulneráveis, o estudo faz uma série de recomendações. Uma das principais é a criação de pacotes de assistência financeira para os provedores de serviços de água e esgoto implementarem planos de contingência e recuperação, com base em metas de desempenho claras.

A nota técnica do UNICEF, Banco Mundial e SIWI também recomenda uma maior cooperação entre os setores de saneamento, saúde e educação do governo. Finalmente, aconselha a coleta de dados confiáveis para embasar a criação de melhores políticas públicas, em especial levando em conta os aprendizados obtidos com a pandemia.

UNOPS promove curso em gestão de projetos para ministérios públicos brasileiros

UNOPS e Conselho Nacional do Ministério Público oferecem curso de gestão de projetos para ministérios públicos. Foto: StartupStockPhotos

O Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (UNOPS) e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) iniciaram a primeira turma do curso virtual de Gestão de Projetos na semana passada (17).

A turma é formada por 40 integrantes de ministérios públicos de diferentes estados. Com duração de duas semanas, as aulas são ministradas por Mario Trentim, consultor do UNOPS, professor e autor de livros nas áreas de gestão de projetos, estratégia e inovação com mais de 15 anos de experiência.

A cooperação entre as organizações se dá através do apoio do UNOPS a Comissão de Planejamento Estratégico (CPE) do CNMP com o intuito de ampliar a capacidade dos membros do Ministério Público na área de gestão de projetos. Além disso, ainda foi disponibilizado pelo UNOPS uma formação em gestão de projetos online com duração de duas horas que está disponível na intranet do CNMP.

Na abertura do curso, a representante do UNOPS no Brasil, Claudia Valenzuela, afirmou que o UNOPS é um organismo com grande experiência na área de gestão de projetos e que é uma honra compartilhar esses conhecimentos com os ministérios públicos brasileiros. Ela lembrou ainda que UNOPS também apoia o Ministério Público do Trabalho (MPT) no planejamento e na estruturação de ações de infraestrutura, compras sustentáveis e gestão de projetos.

De acordo com a promotora de Justiça e membro auxiliar da CPE, Ana Lara Camargo, “a CPE identificou o UNOPS como parceiro ideal pela sua particular expertise na gestão de projetos com viés em sustentabilidade e atenção a elevados padrões de proteção aos direitos humanos”.

O procurador do trabalho que também atua na CPE, Carlos Eduardo de Andrade, afirmou que esta parceria está alinhada ao Planejamento Estratégico Nacional do Ministério Público Brasileiro. “A parceria completa com perfeição o programa estratégico da promoção da cultura de resultados por meio de projetos e atividades inovadoras”.

A procuradora do Trabalho de São Paulo, Catarina Von Zuben, comentou que quando decidiu participar do curso não tinha noção da importância do tema em seu trabalho, mas que logo percebeu como os conhecimentos em gestão de projetos podem ser úteis. Ela ainda parabenizou o UNOPS e o CNMP pela iniciativa.

O procurador de Justiça do Ministério Público de Mato Grosso do Sul, Alexandre Lima Raslan, afirmou que “a oportunidade de aprender ou aperfeiçoar o hábito de planejar nos permite alcançar outro nível de eficiência funcional”. Segundo ele, a experiência do curso mostrará “novos e melhores caminhos para a execução de ideias que poderão levar o Ministério Público a estabelecer prioridades e, enfim, bem executá-las”, concluiu o procurador.

COVID-19: Ao menos um terço das crianças em idade escolar não consegue acessar ensino a distância

Em abril de 2020, um menino assiste a aulas pela rádio, na aldeia de Morovine, no norte da Costa do Marfim. Foto: UNICEF
Em abril de 2020, um menino assiste a aulas pela rádio, na aldeia de Morovine, no norte da Costa do Marfim. Foto: UNICEF

Pelo menos um terço das crianças em idade escolar — 463 milhões em todo o mundo — não conseguiu acessar o ensino remoto quando a COVID-19 fechou suas escolas, de acordo com um novo relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) divulgado nesta quinta-feira (27), enquanto países em todo o mundo discutem seus planos para o retorno às salas de aulas.

“Para pelo menos 463 milhões de crianças cujas escolas fecharam devido à COVID-19, não existiu a aprendizagem remota”, disse Henrietta Fore, diretora-executiva do UNICEF. “O grande número de crianças cuja educação foi completamente interrompida por meses a fio é uma emergência educacional global. As repercussões poderão ser sentidas nas economias e sociedades nas próximas décadas.”

No auge dos bloqueios nacionais e locais, quase 1,5 bilhão de crianças em idade escolar foram afetadas pelo fechamento de escolas. O relatório Remote Learning Reachability (A acessibilidade do aprendizado remoto – disponível somente em inglês) descreve as limitações da aprendizagem remota e expõe as profundas desigualdades no acesso.

O relatório usa uma análise globalmente representativa sobre a disponibilidade de tecnologia doméstica e ferramentas necessárias para aprendizagem remota entre meninas e meninos da educação infantil, do ensino fundamental I e II e do ensino médio, com dados de 100 países. Os dados incluem acesso a televisão, rádio e Internet, e a disponibilidade de currículos fornecidos por essas plataformas durante o fechamento das escolas.

Embora os números no relatório apresentem um quadro preocupante sobre a falta de aprendizagem remota durante o fechamento das escolas, o UNICEF alerta que a situação é provavelmente muito pior. Mesmo quando as crianças têm a tecnologia e as ferramentas em casa, elas podem não ser capazes de aprender remotamente por meio dessas plataformas devido a outros fatores em casa, incluindo pressão para fazer tarefas domésticas, obrigação de trabalhar, um ambiente ruim para aprendizagem e falta de apoio para seguir o currículo online ou sua transmissão.

O relatório destaca desigualdades significativas entre as regiões. As crianças em idade escolar na África ao sul do Saara são as mais afetadas, onde metade de todos os estudantes não pode ser alcançada com o aprendizado remoto.

Região Porcentagem mínima de crianças em idade escolar sem acesso à educação a distância (%) Número mínimo de crianças em idade escolar sem acesso à educação a distância
África Oriental e Meridional

49%

67 milhões

África Ocidental e Central

48%

54 milhões

Leste da Ásia e Pacífico

20%

80 milhões

Oriente Médio e Norte da África

40%

37 milhões

Ásia Meridional

38%

147 milhões

Europa Oriental e Ásia Central

34%

25 milhões

América Latina e Caribe

9%

13 milhões

Global

31%

463 milhões

As crianças em idade escolar das famílias mais pobres e as que vivem em áreas rurais são, de longe, as que têm maior probabilidade de ficar para trás durante o fechamento das escolas, afirma o relatório. Globalmente, 72% das crianças em idade escolar sem acesso à aprendizagem remota vivem nas famílias mais pobres de seus países. Em países de renda média alta, os estudantes das famílias mais pobres representam até 86% dos alunos e alunas que não têm acesso ao ensino a distância. Globalmente, três quartos dos estudantes sem acesso vivem em áreas rurais.

O relatório também observa taxas variáveis de acesso entre grupos de idade, com os estudantes mais jovens mais propensos a ficar para trás no aprendizado remoto durante seus anos mais críticos de aprendizagem e desenvolvimento:

  • Cerca de 70% das crianças em idade pré-escolar – 120 milhões de crianças – não têm acesso à educação remota, em grande parte devido aos desafios e limitações da aprendizagem online para crianças pequenas, falta de programas de aprendizagem remota para essa categoria de educação e falta de bens domésticos para aprendizagem remota.
  • Pelo menos 29% dos estudantes dos primeiros anos do ensino fundamental – 217 milhões de crianças – não têm acesso à educação a distância. E pelo menos cerca de 24% dos estudantes dos anos finais do ensino fundamental – 78 milhões – também não.
  • Os estudantes do ensino médio foram os menos propensos a perder a aprendizagem remota, com pelo menos cerca de 18% – 48 milhões de adolescentes – não tendo os recursos tecnológicos para acessar a aprendizagem remota.

O UNICEF exorta os governos a que deem prioridade à reabertura segura das escolas quando começarem a diminuir as restrições de bloqueio. Quando a reabertura não for possível, o UNICEF apela às autoridades para que incorporem a aprendizagem destinada a compensar as horas de ensino perdidas nos planos de continuidade e reabertura das escolas.

As políticas e práticas de abertura de escolas devem incluir a expansão do acesso à educação, incluindo aprendizagem a distância, especialmente para grupos mais vulneráveis. Os sistemas educacionais também devem ser adaptados e construídos para resistir a crises futuras.

Marco de ação e recomendações para a reabertura de escolas, emitido em conjunto pelo UNICEF, a Unesco, o Acnur, o PMA e o Banco Mundial, oferece conselhos práticos para as autoridades nacionais e locais. As diretrizes enfocam a reforma política; requisitos de financiamento; operações seguras; aprendizagem compensatória; bem-estar e proteção; e alcance das crianças mais vulneráveis.

Como parte de sua campanha Reimagine, que visa evitar que a pandemia de Covid-19 agrave uma crise duradoura para as crianças, especialmente as mais pobres e vulneráveis, o UNICEF está pedindo investimentos urgentes para eliminar a exclusão digital, alcançar todas as crianças com aprendizagem remota e, mais criticamente, priorizar a reabertura segura das escolas.

Notas para editores:

A análise usa os resultados do estudo conjunto da Unesco, do UNICEF e do Banco Mundial sobre as respostas nacionais em educação ao fechamento de escolas por causa da pandemia de Covid-19. O número de crianças potencialmente atingidas por meios de radiodifusão ou soluções de internet se baseia na disponibilidade de ativos relacionados (TV, rádio e internet) em casa, e não em seu uso real pelas crianças. Portanto, o número de crianças “potencialmente alcançadas” são estimativas superiores da realidade das crianças “efetivamente alcançadas”. Os números excluem crianças que receberam educação em papel devido à falta de dados confiáveis.

A análise não se concentra em crianças fora da escola. Para obter os dados mais recentes sobre crianças fora da escola, visite: https://www.unicef.org/sites/default/files/2019-12/SOWC-2019.pdf (disponível somente em inglês)

Download de conteúdo multimídia aqui.

Sobre a campanha Reimagine

Em resposta à pandemia de COVID-19, o UNICEF lançou a campanha Reimagine – um apelo urgente aos governos, ao público, aos doadores e ao setor privado para que apoiem os esforços do UNICEF para responder, recuperar e reimaginar um mundo atualmente sitiado pela Covid-19.

Juntos, podemos evitar que esta pandemia se transforme em uma crise duradoura para as crianças – especialmente as mais vulneráveis – e reimaginar um mundo mais justo para todas as crianças. Saiba mais sobre a campanha #Reimagine aqui: www.unicef.org/reimagine

CEPAL propõe ‘cesta básica’ para universalizar acesso às tecnologias digitais na pandemia

A escala e a velocidade dos fechamentos de escolas e universidades representa um desafio sem precedentes para o setor da educação, que tem adotado o ensino a distância. Foto: UNICEF/Raoni Libório

A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) fez nesta quarta-feira (26) um apelo para garantir e universalizar a conectividade e a acessibilidade às tecnologias digitais para enfrentar os impactos causados pela pandemia do coronavírus (COVID-19) na região.

Para isso, propôs cinco linhas de ação que incluem construir uma sociedade digital inclusiva, impulsionar a transformação produtiva, promover a confiança e a segurança digital.

A proposta também inclui fortalecer a cooperação digital regional e avançar em direção a um novo modelo de governança para assegurar um ‘Estado de bem-estar digital’ que promova a igualdade, proteja os direitos econômicos, sociais e do trabalho da população, garanta o uso seguro dos dados, e gere a mudança estrutural progressiva.

A secretária-executiva da CEPAL, Alicia Bárcena, divulgou em uma coletiva de imprensa o Relatório especial COVID-19 N? 7 da Instituição, intitulado: Universalizar o acesso às tecnologias digitais para enfrentar os efeitos da COVID-19, em que propõe aos países da região garantirem uma cesta básica de tecnologias de informação e comunicação composta por um laptop, um smartphone, um tablet e um plano de conexão para os domicílios não conectados, com um custo anual inferior a 1% do PIB.

O relatório destaca que as tecnologias digitais têm sido essenciais para o funcionamento da economia e da sociedade durante a crise provocada pela pandemia.

Apesar dos avanços dos últimos meses, as dificuldades de acesso às tecnologias digitais permanecem, condicionando os direitos a saúde, educação e trabalho, ao mesmo tempo em que podem aumentar as desigualdades socioeconômicas.

“Os países da América Latina e do Caribe têm adotado medidas para impulsionar o uso das soluções tecnológicas e garantir a continuidade dos serviços de telecomunicações. Entretanto, o alcance dessas ações é limitado pelas dificuldades no acesso e uso dessas tecnologias e as velocidades de conexão”, afirmou Bárcena durante a apresentação do relatório.

Segundo o documento, em 2019, 66,7% dos habitantes da região possuíam conexão à Internet. O terço restante tinha acesso limitado ou não contava com acesso às tecnologias digitais, devido à sua situação econômica e social, particularmente sua idade e localização.

Em 12 países da região, o número dos domicílios do quintil de renda mais alta (quintil V) que têm conexão à Internet é de 81%, em média; os números correspondentes para os domicílios do primeiro e do segundo quintil é de 38% e 53%, respectivamente.

As diferenças na conectividade entre a área urbana e a rural são significativas. Na região, 67% dos domicílios urbanos estão conectados à Internet, enquanto nas áreas rurais apenas 23% estão conectados. Em termos de faixas etárias, os jovens e os idosos são os que têm menor conectividade: 42% dos menores de 25 anos e 54% dos maiores de 66 anos não têm conexão à Internet.

O documento acrescenta que a baixa acessibilidade consolida a exclusão dos domicílios de menores rendas. O custo do serviço de banda larga móvel e fixa para a população do primeiro quintil de renda chega a 14% e 12% de sua renda, respectivamente. Isso é cerca de seis vezes o limite de referência de 2% da renda recomendada pela Comissão de Banda Larga das Nações Unidas.

O estudo revela que os dados de mobilidade durante os primeiros meses de quarentena mostram um mundo paralisado no ambiente físico, mas não no virtual. O tráfego nos sites e o uso de aplicativos de teletrabalho, educação online ou ensino a distância e compras online revelam um aumento significativo no uso de soluções digitais. Entre o primeiro e o segundo trimestre de 2020, a utilização de soluções de teletrabalho aumentou 324% e o ensino a distância mais de 60%.

Entretanto, a utilização de soluções de educação online só é possível para quem tem conexão à Internet e dispositivos de acesso, e na América Latina 46% das crianças entre 5 e 12 anos vivem em domicílios que não estão conectados.

O acesso dos domicílios aos dispositivos digitais é também desigual na região: enquanto entre 70% e 80% dos estudantes nos níveis socioeconômicos mais elevados têm laptops em suas casas, somente entre 10% e 20% dos estudantes pertencentes aos quintis de menores rendas contam com esses dispositivos.

 “A diferença entre os estratos econômicos mais altos e os mais baixos condiciona o direito à educação e aprofunda as desigualdades socioeconômicas. Para garantir uma educação inclusiva e equitativa e promover oportunidades de aprendizagem ao longo de todo o ciclo educacional, deve-se aumentar não somente a conectividade e a infraestrutura digital, mas também, as habilidades digitais de professores, bem como a adequação dos conteúdos educacionais para o âmbito digital”, enfatizou a secretária-executiva da CEPAL.

Com relação à porcentagem de empregos que podem migrar para o teletrabalho, o relatório especifica que está positivamente vinculada ao nível do PIB per capita e aos menores graus de informalidade. Na Europa e nos Estados Unidos, quase 40% dos trabalhadores podem trabalhar em casa, enquanto, no caso da América Latina, a CEPAL estima que cerca de 21,3% dos ocupados poderiam utilizar o teletrabalho.

O documento destaca que a Internet mitiga o impacto da crise nas empresas. Especifica que, entre março e abril de 2020, o número de sites empresariais aumentou 800% na Colômbia e no México e cerca de 360% no Brasil e no Chile. Em junho de 2020, a presença online de empresas do comércio varejista aumentou 431% com relação a junho de 2019.

Finalmente, o relatório indica que a pós pandemia será caracterizada por uma nova demanda baseada em canais online que implicará em um esforço dos países e do setor privado para oferecer um melhor serviço. A nova oferta será baseada na flexibilidade, na proximidade local e na capacidade de reação.

“A produtividade e a mudança estrutural continuarão sendo fatores inevitáveis para o desenvolvimento. A região deve avançar para sistemas produtivos mais diversificados, homogêneos e integrados para aumentar a produtividade e a inclusão produtiva, o que se traduziria em maiores níveis de emprego e salários”, concluiu Alicia Bárcena.

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