Conselho de Segurança recebe relato sobre “significantes desafios” ao processo de paz em Darfur

Alto Funcionário da Missão conjunta da União Africana com a ONU em Darfur (UNAMID), Ibrahim Gambari, em discurso sobre a situação de Darfur ao Conselho de SegurançaO Alto Funcionário da Missão Conjunta das Nações Unidas com a União Africana em Darfur (UNAMID), Ibrahim Gambari, declarou em discurso ao Conselho de Segurança que, apesar do progresso alcançado na região de Darfur (oeste do Sudão), a violência entre governo e forças rebeldes persiste, matando e deslocando civis, e atingindo trabalhadores humanitários na região. “Os resultados tem sido mistos apesar de nossos maiores esforços”, disse Gambari no Conselho de Segurança ao apresentar o último relatório do Secretário-Geral sobre a área, onde o conflito já contabilizou a morte de 300 mil pessoas e deixou 2,7 milhões desabrigadas.

Ele disse que, embora as áreas de segurança e proteção aos civis tenham melhorado, a situação ainda é instável. “O processo de paz, que tenho apoiado fortemente sob a liderança da Equipe de Mediação da UNAMID, se desenvolveu, mas um profundo senso de desconfiança continua e algumas partes envolvidas não estão engajadas”, afirmou, ao se referir sobre o evento em Doha, no Catar, promovido pela UNAMID, para incentivar o diálogo entre o governo do Sudão e grupos opositores.

Ele citou ainda o acordo assinado entre o governo, o Movimento de Justiça e Igualdade (JEM, em inglês) e o Movimento de Libertação e Justiça (LJM, em inglês), uma coalizão criada para dar maior coesão às conversas de paz. No entanto, as partes não chegaram a um acordo até 15 de março, data limite, e o JEM suspendeu sua participação nas conversas esse mês alegando violações no comprometimento de cessar-fogo, atacando instalações do governo e comboios de caminhões comerciais. O Alto Funcionário atentou para o recomeço da luta armada entre o governo e outro grupo, o Abdul Wahid, facção do Exército de Libertação do Sudão (SLA), e também com tribos no sul de Darfur.

Gambari confirmou que esses conflitos causaram um substancial número de mortes civis, deslocamento de comunidades e prejudicaram a assistência humanitária. Ele pediu aos envolvidos que facilitem o acesso do UNAMID e da comunidade humanitária aos locais de recente enfretamento. “É com grande preocupação que declaro que a ONU e trabalhadores humanitários continuam a ser alvo de ataques e atos criminosos”. Aproveitou para dizer que deu instruções aos contingentes de tropas e polícias para responder com maior firmeza aos ataques, os quais classificou como crimes de guerra.

Em uma declaração na semana passada, o Secretário-Geral Ban Ki-moon repudiou os confrontos militares, encorajando as partes a respeitar o cessar-fogo e retornar às negociações em Doha. No seu relatório, disse que apesar de a UNAMID estar operando em sua capacidade total, incluindo aumento de pessoal, ainda faltam equipamentos cruciais necessários para garantir a capacidade das unidades militares e policiais, ponto destacado por Gambari.

Ele ainda destacou a importância da criação de um ambiente para o retorno voluntário das Pessoas Internamente Deslocadas (IDPs, em inglês) e de refugiados a suas casas. “A retenção de 2,3 milhões de pessoas em um campo de IDPs, em Darfur, é uma bomba-relógio, como nos mostrou a experiência em outros locais, como Líbano e Gaza”, declarou, apontando como responsabilidade do governo fornecer os recursos necessários para reabilitar e desenvolver a região. Em um encontro com jornalistas, Gambari ressaltou a que os moradores locais devem desfrutar dos benefícios dos “dividendos da paz”, que incluem rápida recuperação, reconstrução e desenvolvimento de projetos, um ponto que destacou em sua apresentação ao Conselho.