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Parceria entre ONU e Coreia do Sul incentiva transferência de tecnologias “verdes” para Camboja

A Organização das Nações Unidas anunciou nesta terça-feira (28/12) uma nova parceria com a agência de desenvolvimento internacional da República da Coreia para facilitar a transferência de tecnologias ambientalmente sustentáveis, tendo em vista auxiliar o combate à poluição no Camboja. O acordo assinado em Viena é o primeiro entre a Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) e a Agência de Cooperação Internacional da Coreia (KOICA).

Segundo os termos, a KOICA fornecerá à UNIDO 900 mil dólares para um fundo que será usado na identificação, avaliação e priorização de focos de poluição e transferência de tecnologias ecologicamente sustentáveis para a região do Rio Mekong, no Camboja. O projeto ajudará a melhorar a qualidade da água e reduzir impactos negativos de atividades industrias através da introdução da abordagem integrada da UNIDO para a transferência de tecnologia ecologicamente sustentável.

O projeto de dois anos será implementado pela UNIDO em cooperação com o Ministério da Indústria, Minas e Energia e o Ministério do Meio Ambiente do Camboja. É financiado pela Parceria do Leste Asiático para o Clima, estabelecida pela República da Coreia em 2008 para auxiliar países em desenvolvimento no Leste Asiático que lidam simultaneamente com as questões do crescimento econômico e das mudanças climáticas.

A UNIDO, com sede em Viena, ajuda países em desenvolvimento a assegurar o crescimento sustentável, criando novos empregos enquanto protege o meio ambiente. A Organização também os ajuda a migrar para tecnologias limpas e implementar acordos ambientais, além de fornecer serviços e perícia na promoção de padrões de produção sustentáveis.

As atividades são parte dos esforços da agência para promover uma “indústria verde”, ou seja, que não cause danos ao meio ambiente.

Tribunal no Camboja acusa importantes membros do Khmer Vermelho

O tribunal no Camboja apoiado pelas Nações Unidas que lida com assassinatos em massa e outros crimes cometidos sob o Khmer Vermelho há três décadas indiciou quatro altos funcionários do regime.

Ieng Sary, Ieng Thirith, Khieu Samphan e Nuon Chea, os quatro maiores dirigentes do regime do Kampuchea Democrático que ainda estão vivos, serão agora julgados perante as Câmaras Extraordinárias do Tribunal do Camboja (ECCC) por crimes contra a humanidade, que incluem assassinato, escravidão, tortura e estupro, como resultado do casamento forçado.

Os quatro ex-líderes foram presos e entregues ao Tribunal em 2007.

Eles também são acusados pelo genocídio do Cham e grupos étnicos vietnamitas, e graves violações das Convenções de Genebra, e violações do código penal cambojano de 1956, incluindo assassinato, tortura e perseguição religiosa.

Sob um acordo assinado pela ONU e pelo Camboja, as ECCC foram criadas como um tribunal independente com uma mistura de equipe e juízes cambojanos e pessoal estrangeiro. Designada para julgar aqueles considerados como os mais envolvidos nos crimes e graves violações dos direitos cambojano e internacionais entre 17 de abril de 1975 e 6 de janeiro de 1979. Dada a magnitude dos crimes cometidos sob o Khmer Vermelho durante esse período, as investigações judiciais das ECCC estão focadas em questões específicas, incluindo o deslocamento da população realizado pelo Regime, a sua re-educação dos “maus elementos” e o regulamento do casamento.

Tribunal do Camboja criado para julgar crimes do Khmer Vermelho emite seu primeiro veredito

As Câmaras Extraordinárias do Tribunal do Camboja (ECCC). Foto: ONUAs Câmaras Extraordinárias do Tribunal do Camboja (ECCC, na sigla em inglês) emitiram nesta segunda-feira (26) seu primeiro veredito. O Tribunal, apoiado pela ONU, foi criado para julgar os responsáveis pelos crimes cometidos sob o regime do Khmer Vermelho, entre 1975 e 1979. O primeiro veredito sai depois de meses de audiências assistidas pessoalmente por mais de 28.000 cambojanos.

O painel de juízes nacionais e internacionais condenou Kaing Guek Eav (também conhecido como Duch), que dirigia a famosa S-21 ou prisão Tuol Sleng, na capital Phnom Penh, por crimes contra a humanidade e crimes de guerra. “Duch” foi condenado a 35 anos de prisão, dos quais 16 já foram cumpridos.

Para muitos na comunidade internacional, incluindo a ONU, o veredito é um marco e um sinal do que poderia ser possível em outros países caso a máquina jurídica adequada fosse aplicada a crimes de guerra ocorridos há muito tempo.

Mas para muitos cambojanos, a decisão foi pessoal. Thon Hem, uma moradora idosa, perdeu o marido e os filhos para o Khmer Vermelho. Ela esperava um veredito mais longo do que 35 anos, mas disse se sentir “aliviada” com a sentença. “Estou chorando porque me lembrei do regime do Khmer Vermelho”.

Hun Sameoun, uma freira de 65 anos que vive na capital, descreveu a decisão como justa. “Posso ficar em paz agora”, acrescentou.

No entanto, para outros, nenhuma pena seria suficiente para compensar o que Kaing fez às famílias e aos amigos que perderam entes queridos para um regime que torturou e assassinou o seu próprio povo.

Mong Bou é uma das poucas pessoas que se acredita terem sobrevivido a S-21, onde cerca de 15 mil cambojanos foram detidos e submetidos a trabalho forçado ou outras condições desumanas, antes de serem executados.

“Não estou feliz com sentença de Duch”, disse ele. “Queria que ele tivesse uma sentença de morte porque eu era tratado como um cachorro quando era um dos prisioneiros em S-21. Sobrevivi porque era capaz de desenhar o rosto de Pol Pot [líder do Khmer Vermelho], então podia agradar a ele e seu supervisor”. A pena de morte não é permitida no Camboja.

Surya Subedi, Relator Especial da ONU sobre a Situação dos Direitos Humanos no Camboja, emitiu um comunicado em que descreveu a sentença como “um marco histórico em relação a tornar aqueles que violam os direitos humanos responsáveis por suas ações.”

Ele também acredita que a decisão servirá “como um catalisador para o Governo combater a impunidade e acelerar suas reformas legais e judiciais”.

O ECCC foi criado depois de que o Governo chegou a acordo com a ONU, em 2003, e funciona como um tribunal nacional independente com juízes internacionais. O Camboja convidou a participação internacional por causa de preocupações sobre a falta de força do seu próprio sistema legal.

Alguns juristas acreditam que este sistema híbrido traz benefícios, com os ensaios no ECCC proporcionando experiência essencial para os juízes, os advogados e a administração para lidar com os casos complexos que envolvem crimes internacionais.

O ECCC processa apenas os responsáveis pelos mais graves crimes cometidos sob o Khmer Vermelho, quando cerca de 1,7 milhão de cambojanos foi morto. Isso significa que apenas alguns poucos outros julgamentos podem acontecer antes que o tribunal feche suas portas.

De acordo com Tim Carney, que era o diretor de informação e educação da Autoridade Transitória da ONU no Camboja (UNTAC), isso acontece porque, em parte, o veredito de Duch tem “potencialmente grande importância”.

Essa opinião encontra eco na de Chea Leang, uma das co-promotoras nacionais no julgamento de Duch. “Nada pode apagar a dor e o sofrimento do povo cambojano”, disse. “[Mas] esse veredito manda uma mensagem forte e inequívoca: os que abusam do poder e vitimam civis inocentes não podem ser tratados com impunidade. Eles serão responsabilizados e julgados”.