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Chefe de direitos humanos da ONU pede investigações sobre crimes de guerra no Sri Lanka

A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, demonstrou preocupação nesta terça-feira (26/04) com o relatório elaborado por um painel da ONU sobre os conflitos no Sri Lanka. O documento, lançado no sábado (23) pelo Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, aponta que tanto forças do Governo quanto o grupo rebelde Tigres de Libertação do Tamil Eelam (TLTE) cometeram crimes de guerra.

Por meio de um comunicado à imprensa, Pillay disse que, segundo o relatório, lidar com as violações aos direitos humanos internacionais não é uma questão de escolha ou política – é um dever perante a lei.

Composto por três membros (Indonésia, EUA e África do Sul), o painel foi estabelecido em 2010 para aconselhar o Secretário-Geral sobre a questão da responsabilização ligada ao conflito que durou quase três décadas e que terminou em 2009, com a vitória das forças do Governo sobre o TLTE, deixando milhares de mortos e muitos deslocados internos.

O painel encontrou uma série de acusações graves sobre violações cometidas por ambas as partes envolvidas no conflito, como o assassinato de civis e a privação de ajuda humanitária. “As testemunhas e as informações confiáveis contidas no relatório demandam investigações completas, imparciais, independentes e transparentes”, afirmou Pillay.

Ela pediu ao Governo que implemente uma série de sugestões feitas pelo painel, que inclui um processo efetivo de responsabilização, começando por investigações genuínas, bem como a resolução de casos de desaparecimento e a garantia do devido processo para os membros detidos do TLTE.

Pillay observou que o painel considerou falha a Comissão de Lições Aprendidas e Reconciliação convocada pelo Governo de Sri Lanka, afirmando que ela não atende ao compromisso conjunto do Presidente Mahinda Rajapaksa e do Secretário-Geral da ONU para o processo de responsabilização. Ela declarou ainda estar preocupada com a proteção de testemunhas e de ativistas da sociedade civil, incluindo jornalistas, principalmente depois que relatos de represálias realizadas após o lançamento do relatório. Nesta segunda-feira (25) Ban anunciou que está sendo feita uma revisão detalhada das conclusões do relatório.

Juízes terão prazo maior para analisar crimes de guerra

O Conselho de Segurança da ONU estendeu hoje (14/12) os mandatos de vários juízes que trabalham para os tribunais das Nações Unidas, para que eles possam concluir o trabalho que vêm fazendo em relação aos crimes cometidos na região das Balcãs e em Ruanda. A ação foi feita por meio de duas resoluções, uma para o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia, e outra para o Tribunal Penal Internacional para Ruanda, ambas aprovados por unanimidade.

Ao fazê-lo, os 15 Membros do Conselho levaram em conta as avaliações das duas Cortes de que não seria possível concluir todo o trabalho em 2010, como havia sido estabelecido nas Estratégias de Conclusão. Os Membros pediram, no entanto, que os Tribunais “tomem todas as medidas possíveis” para completar o trabalho rapidamente.

Desde sua origem, há 17 anos, o Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia, que se baseia em Haia (Holanda) indiciou 161 pessoas por crimes de guerra cometidos no território da antiga Iugoslávia – sendo concluídos 125 processos, e apenas dois acusados continuam foragidos: Ratko Mladic e Goran Hadžic.

Enquanto isso, 10 pessoas ainda são procuradas pelo Tribunal da Ruanda, localizado na cidade de Arusha, na Tanzânia. Criado em novembro de 1994, cabe ao Tribunal processar os responsáveis por genocídio e outras sérias violações as leis humanitárias internacionais cometidas em Ruanda. Estima-se que aproximadamente 800 mil Tutsis e alguns Hutus moderados (etnias que protagonizaram os conflitos) foram assassinados, a maioria a facadas, num período de cem dias.

ONU lança extenso relatório que marca as atrocidades cometidas durante a guerra na RDC

Poster em Goma, região leste da RDC, alertando para as penas por estupro. Foto: ONU.As Nações Unidas lançaram hoje um novo relatório sobre as “indescritíveis” atrocidades cometidas na República Democrática do Congo (RDC), devastada pela guerra que aconteceu entre 1993 e 2003, quando dezenas de milhares de pessoas foram mortas, e muitas outras estupradas e mutiladas por grupos armados congoleses e por forças militares estrangeiras.

“O período abrangido por este relatório é, provavelmente, um dos capítulos mais trágicos da história recente da RDC”, diz o relatório. Esse é o relato mais extenso no assunto até o momento, e foi publicado pelo Alto Comissariado para os Direitos Humanos das Nações Unidas (ACNUDH).

O relatório, de 550 páginas, lista 617 das mais graves violações dos direitos humanos e dos direitos humanitários internacionais durante o período de 10 anos cometidos tanto pelo Estado quanto por atores não-estatais. O documento é produto de um levantamento que levou mais de dois anos para ser realizado, incluindo os oito meses de pesquisa em território congolês, em que se entrevistou testemunhas e uma vasta gama de fontes.

Além de fornecer um registro histórico, o relatório visa apoiar o governo congolês e a sociedade civil a desenvolver mecanismos de transição para a justiça e reformas institucionais que irão criar uma base sólida para a paz e desenvolvimento sustentáveis. Isso inclui a identificação de ambas as opções judiciais e não-judiciais para assegurar justiça às muitas vítimas de sérias violações aos direitos humanos e acabar com a impunidade generalizada aos responsáveis por estes crimes.

ONU adverte sobre implicações do julgamento da última criança-soldado em Guantánamo

Representante Especial do Secretário-Geral para as Crianças e Conflitos Armados, Radhika Coomaraswamy Foto: ONUO começo do julgamento de Omar Khadr – preso no Afeganistão em 2002 por crimes que teria cometido quando era criança – na Comissão Militar dos Estados Unidos em Guantánamo poderia estabelecer um precedente comprometendo o status de crianças-soldado no mundo inteiro, advertiu representante das Nações Unidas para o caso. O canadense Omar Khadr é a última criança-soldado presa em Guantánamo e tinha 15 anos quando jogou uma granada que matou um soldado americano. Ele enfrenta acusações de crimes de guerra no tribunal.

A Representante Especial do Secretário-Geral para Crianças e Conflitos Armados, Radhika Coomaraswamy, destacou que no estatuto do Tribunal Penal Internacional (TPI) está claro que nenhuma pessoa menor de 18 anos deve ser julgada por crimes de guerra.

“Desde a Segunda Guerra Mundial, nenhuma criança foi processada por crimes de guerra”, disse Coomaraswamy. “Crianças-soldado devem ser tratadas como vítimas e devem ser encontrados procedimentos alternativos para buscar sua reabilitação”. Ela afirmou que mesmo que Khadr, cidadão canadense, seja julgado num tribunal nacional, as regras da justiça juvenil são claras. “Crianças não devem ser julgadas frente a tribunais militares”, afirmou Coomaraswamy.

Desde a década passada, a comunidade internacional tem trabalhado para proteger as crianças em conflitos armados, disse Coomaraswamy, com os Estados Unidos e Canadá liderando o caminho e implementando as normas para liberar milhares de crianças-soldado em todo o mundo. “Peço a ambos os governos a chegar a uma solução conjunta sobre o futuro de Omar Khadr, para que possa prevenir sua condenação por um crime de guerra cometido quando era criança”.

Tribunal do Camboja criado para julgar crimes do Khmer Vermelho emite seu primeiro veredito

As Câmaras Extraordinárias do Tribunal do Camboja (ECCC). Foto: ONUAs Câmaras Extraordinárias do Tribunal do Camboja (ECCC, na sigla em inglês) emitiram nesta segunda-feira (26) seu primeiro veredito. O Tribunal, apoiado pela ONU, foi criado para julgar os responsáveis pelos crimes cometidos sob o regime do Khmer Vermelho, entre 1975 e 1979. O primeiro veredito sai depois de meses de audiências assistidas pessoalmente por mais de 28.000 cambojanos.

O painel de juízes nacionais e internacionais condenou Kaing Guek Eav (também conhecido como Duch), que dirigia a famosa S-21 ou prisão Tuol Sleng, na capital Phnom Penh, por crimes contra a humanidade e crimes de guerra. “Duch” foi condenado a 35 anos de prisão, dos quais 16 já foram cumpridos.

Para muitos na comunidade internacional, incluindo a ONU, o veredito é um marco e um sinal do que poderia ser possível em outros países caso a máquina jurídica adequada fosse aplicada a crimes de guerra ocorridos há muito tempo.

Mas para muitos cambojanos, a decisão foi pessoal. Thon Hem, uma moradora idosa, perdeu o marido e os filhos para o Khmer Vermelho. Ela esperava um veredito mais longo do que 35 anos, mas disse se sentir “aliviada” com a sentença. “Estou chorando porque me lembrei do regime do Khmer Vermelho”.

Hun Sameoun, uma freira de 65 anos que vive na capital, descreveu a decisão como justa. “Posso ficar em paz agora”, acrescentou.

No entanto, para outros, nenhuma pena seria suficiente para compensar o que Kaing fez às famílias e aos amigos que perderam entes queridos para um regime que torturou e assassinou o seu próprio povo.

Mong Bou é uma das poucas pessoas que se acredita terem sobrevivido a S-21, onde cerca de 15 mil cambojanos foram detidos e submetidos a trabalho forçado ou outras condições desumanas, antes de serem executados.

“Não estou feliz com sentença de Duch”, disse ele. “Queria que ele tivesse uma sentença de morte porque eu era tratado como um cachorro quando era um dos prisioneiros em S-21. Sobrevivi porque era capaz de desenhar o rosto de Pol Pot [líder do Khmer Vermelho], então podia agradar a ele e seu supervisor”. A pena de morte não é permitida no Camboja.

Surya Subedi, Relator Especial da ONU sobre a Situação dos Direitos Humanos no Camboja, emitiu um comunicado em que descreveu a sentença como “um marco histórico em relação a tornar aqueles que violam os direitos humanos responsáveis por suas ações.”

Ele também acredita que a decisão servirá “como um catalisador para o Governo combater a impunidade e acelerar suas reformas legais e judiciais”.

O ECCC foi criado depois de que o Governo chegou a acordo com a ONU, em 2003, e funciona como um tribunal nacional independente com juízes internacionais. O Camboja convidou a participação internacional por causa de preocupações sobre a falta de força do seu próprio sistema legal.

Alguns juristas acreditam que este sistema híbrido traz benefícios, com os ensaios no ECCC proporcionando experiência essencial para os juízes, os advogados e a administração para lidar com os casos complexos que envolvem crimes internacionais.

O ECCC processa apenas os responsáveis pelos mais graves crimes cometidos sob o Khmer Vermelho, quando cerca de 1,7 milhão de cambojanos foi morto. Isso significa que apenas alguns poucos outros julgamentos podem acontecer antes que o tribunal feche suas portas.

De acordo com Tim Carney, que era o diretor de informação e educação da Autoridade Transitória da ONU no Camboja (UNTAC), isso acontece porque, em parte, o veredito de Duch tem “potencialmente grande importância”.

Essa opinião encontra eco na de Chea Leang, uma das co-promotoras nacionais no julgamento de Duch. “Nada pode apagar a dor e o sofrimento do povo cambojano”, disse. “[Mas] esse veredito manda uma mensagem forte e inequívoca: os que abusam do poder e vitimam civis inocentes não podem ser tratados com impunidade. Eles serão responsabilizados e julgados”.