Arquivo da tag: impunidade

Pillay: combater a impunidade e proteger o direito à verdade

A Alta Comissária dos Direitos Humanos da ONU, Navi PillayLeia, a seguir, a declaração da Alta Comissária de Direitos Humanos das Nações Unidas, Navi Pillay, para o Dia Internacional para o Direito à Verdade para as Vítimas de Graves Violações dos Direitos Humanos, comemorado mundialmente em 24 de março.

“Quarenta e dois mil seiscentos e trinta e três. Este é o número de casos de pessoas que desapareceram e continuam desaparecidas nos últimos 31 anos, segundo o Grupo de Trabalho da ONU sobre Desaparecimentos Involuntários ou Forçados. Os números mostram também que novos casos continuam surgindo constantemente em todas as regiões do mundo. Para cada um desses indivíduos, existem muitos entes queridos sofrendo por desconhecer seu paradeiro, alternando entre a esperança e o desespero, e à espera de notícias. Qualquer notícia.

As vítimas das graves violações aos direitos humanos e suas famílias têm o direito inalienável de saber a verdade sobre os acontecimentos passados, sobre a perpetração dos crimes contra eles. Eles têm o direito de conhecer as circunstâncias e os motivos que levaram, através de violações massivas e sistemáticas, à perpetração destes crimes. Eles têm o direito de saber quem são os autores, além do paradeiro das vítimas. Reconhecendo os direitos de todas estas vítimas, as Nações Unidas escolheram hoje como o Dia Internacional para o Direito à Verdade para as Vítimas de Graves Violações dos Direitos Humanos.

Conhecer a história da sua opressão faz parte da herança das populações. Conhecer a verdade permite que as vítimas e seus parentes obtenham um sentido de conclusão do processo, restaurando parte de sua dignidade e tendo seu sofrimento reconhecido. A verdade é uma ferramenta para combater a impunidade. É uma ferramenta para a justiça. E é um passo vital na prevenção da recorrência dos eventos que conduziram à violação.

Por estas razões, é importante revelar a verdade por meio de inquéritos públicos, independentes e imparciais, sobre graves violações como tortura, estupro, escravidão sexual, desaparecimento e assassinato, que temos testemunhado atualmente em tantos países. Nos últimos anos, meu escritório tem apoiado uma série de missões e comissões de inquérito para investigar relatos de violações em vários países, incluindo a comissão na Líbia, criada pelo Conselho de Direitos Humanos no mês passado.

Ao marcar este dia, também prestamos homenagem aos valentes homens e mulheres que correram – e continuam correndo – grandes riscos para garantir que a verdade sobre as violações aos direitos humanos em seus países seja dita. Estes defensores dos direitos humanos muitas vezes temem represálias, mas, ainda assim, cumprem com grande coragem o que consideram ser seu dever. Muitos foram presos ou sofreram alarmantes incitamentos à violência devido à sua cooperação com os mecanismos internacionais de direitos humanos, incluindo o meu escritório.

De fato, esta data foi escolhida para relembrar um destes defensores dos direitos humanos, Mosenhor Óscar Arnulfo Romero, baleado e morto em 1980 enquanto celebrava uma missa numa capela em El Salvador. Monsenhor Romero foi assassinado por sua franca condenação às violações cometidas contra a população mais vulnerável ?em seu país.

Neste dia, peço a todos os Estados que tomem todas as medidas adequadas para dar vigor ao direito à verdade, ao direito à justiça e ao direito à reparação. Estes três direitos indispensáveis ?estão no centro da luta contra a impunidade e pela restauração da dignidade das vítimas. Que este Dia Internacional sirva para lembrar a existência e a importância do direito à verdade. Que sirva também de lembrança da necessidade de proteger aqueles que dedicam suas vidas para contar a verdade.”

Mais informações

Saiba mais sobre o Dia Internacional para o Direito à Verdade para as Vítimas de Graves Violações dos Direitos Humanos.
http://www.un.org/en/events/righttotruthday/

Saiba mais sobre a Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay:
http://www.ohchr.org/EN/AboutUs/Pages/HighCommissioner.aspx

Clique aqui para acessar o website do ACNUDH:
http://www.ohchr.org

Para mais informações ou entrevistas, entre em contato com o porta-voz Rupert Colville (+41 22 917 9767 ou [email protected]) ou assessores de imprensa: Ravina Shamdasani (+ 41 22 917 9310 ou [email protected]) ou Xabier Celaya (+ 41 22 917 9383 ou [email protected])

Equador: Especialista da ONU pede combate à impunidade de assassinatos no país

Relator Especial da ONU, Philip Alston. Foto: ONUO Especialista Independente da ONU Philip Alston pediu ao governo do Equador um maior combate ao alto nível de impunidade por crimes de assassinatos no país. A situação é agravada por alegações de corrupção.

“O nível de impunidade no Equador é alarmante. De cada cem homicídios, só um autor é condenado”, declarou o Relator Especial do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas sobre Execuções Arbitrárias, Sumárias ou Extrajudiciais, numa apresentação preliminar, após 10 dias de visita no país. “O número de mortes ocasionadas por assassinos contratados e gangues está aumentando constantemente, ao mesmo tempo em que menos criminosos estão sendo encarcerados”, disse. “Por causa do círculo vicioso da impunidade, os equatorianos se sentem cada vez mais inseguros.”

A taxa de homicídios no Equador duplicou desde 1990. Hoje em dia, há em média 20 mortes por cada 100 mil habitantes. Em algumas áreas do país, a taxa é cinco vezes mais alta.“O sistema de justiça penal funciona de forma péssima. Consiste em um serviço de polícia que raramente investiga seriamente os assassinatos, um Ministério Público que parece mais preocupado com as relações públicas do que em condenar criminosos, e um sistema judicial conhecido pela sua ineficiência e má gestão”, declarou Alston, adicionando que os problemas são agravados por alegações de corrupção.

O especialista também mostrou preocupação sobre a situação da fronteira norte do Equador com a Colômbia. “O conflito na Colômbia tem pesado cada vez mais sobre Equador. Os civis estão encurralados entre a FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), ex-paramilitares, traficantes de drogas e as Forças Armadas da Colômbia e do Equador. Os cidadãos são forçados a cooperar com um grupo armado e depois são abusados e mortos pelo grupo rival”, observou Alston, adicionando que os militares equatorianos não estão preparados para lidar com a situação.