Arquivo da tag: Palestina

Perspectiva de paz ‘se apaga a cada dia’ em Gaza e Cisjordânia, diz enviado da ONU

Nickolay Mladenov (na tela), coordenador especial da ONU para o processo de paz no Oriente Médio, fala ao Conselho de Segurança sobre a situação na região, incluindo a questão palestina. Foto: ONU/Loey Felipe/Arquivo
Nickolay Mladenov (na tela), coordenador especial da ONU para o processo de paz no Oriente Médio, fala ao Conselho de Segurança sobre a situação na região, incluindo a questão palestina. Foto: ONU/Loey Felipe/Arquivo

A presença de violência e radicalismo no Território Palestino Ocupado está crescendo, e a perspectiva de paz sustentável está se apagando a cada dia, disse nesta quarta-feira (20) um enviado sênior das Nações Unidas para a região ao Conselho de Segurança.

O Conselho foi informado sobre a situação na região por Nickolay Mladenov, coordenador especial para o Processo de Paz no Oriente Médio, e por Ursula Mueller, secretária-geral assistente para Assuntos Humanitários.

Numa avaliação em tom sombrio, Mladenov caracterizou a esperança de uma solução pacífica de dois Estados como “escassa”. Segundo ele, o extremismo está em crescimento e o risco de guerra aumentou.

Diante desse cenário, o desafio imediato é a prevenção de uma implosão econômica e humanitária na Cisjordânia e em Gaza, disse.

O povo palestino, afirmou Mladenov, precisa do apoio da comunidade internacional mais que nunca, conforme uma série de questões estão tendo um “preço alto” sobre aqueles que vivem em Gaza e na Cisjordânia. Isso inclui violência, falta de progresso em direção à paz, pressões financeiras e medidas unilaterais tomadas pelo governo de Israel.

Mladenov citou uma decisão recente de Israel de reter cerca de 140 milhões de dólares em transferências de receitas fiscais palestinas (o equivalente ao dinheiro pago a palestinos condenados por terrorismo ou ofensas relacionadas à segurança, e suas famílias), e a decisão do governo dos Estados Unidos de cessar o envio de recursos à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), como fatores para instabilidade financeira no Território Palestino Ocupado.

Segundo Mladenov, uma série de passos políticos é necessária para construção de paz, incluindo fim da designação de terras para uso exclusivo israelense, além da cessação de construção e expansão de assentamentos israelenses. Demolições e tomadas de estruturas palestinas continuam acontecendo na Cisjordânia, com cerca de 900 palestinos em Jerusalém Oriental enfrentando despejo.

O enviado especial condenou a violência e o terror na região ao longo dos últimos meses, que resultaram na morte de 40 crianças assassinadas por forças israelenses, e no disparo de 18 foguetes de militantes palestinos em direção a Israel. Houve uma onda em violência envolvendo colonos no último ano, disse ele, com 20 incidentes registrados de colonos israelenses ferindo palestinos ou danificando suas propriedades.

Por sua vez, Mueller descreveu a “crescente vulnerabilidade” de palestinos em Gaza, com salários para funcionários públicos reduzidos ou não pagos, incluindo nos setores de saúde e educação. Além disso, o desemprego ultrapassa 50% e a maior parte dos cidadãos lida com insegurança alimentar.

Cortes de recursos forçaram o Programa Mundial de Alimentos (PMA) a suspender assistência para cerca de 27 mil pessoas e reduzir provisões para outros 166 mil beneficiários. Destacando uma lacuna em financiamentos, Mueller instou Estados-membros a aumentar o apoio às operações humanitárias.

O número de vítimas está “desafiando a capacidade dos serviços de saúde” no território, disse Mueller, colocando o sistema inteiro em risco de colapso.

“Desde o começo das manifestações, em março de 2018, mais de 27 mil palestinos ficaram feridos, mais de 6 mil deles por munições letais. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 122 amputações foram feitas desde o começo das manifestações em massa, incluindo 21 amputações pediátricas”, disse.

Guterres reitera defesa à solução de dois Estados para conflito Israel-Palestina

Palestina vende azeitonas e outros alimentos em Jerusalém em novembro de 2018. Foto: ONU/Reem Abaza
Palestina vende azeitonas e outros alimentos em Jerusalém em novembro de 2018. Foto: ONU/Reem Abaza

Uma solução pacífica e justa para o conflito entre Israel e Palestina só pode ser alcançada por meio de dois Estados “vivendo lado a lado em paz e segurança”, reiterou na sexta-feira (15) o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

Em discurso ao Comitê das Nações Unidas para o Exercício dos Direitos Inalienáveis do Povo Palestino, criado pela Assembleia Geral da ONU em 1975, Guterres afirmou que “com base em resoluções relevantes da ONU, princípios de longa data, acordos prévios e lei internacionais”, Jerusalém deve ser a capital de ambos os Estados.

“Infelizmente, ao longo do último ano, a situação não seguiu nesta direção”, disse, destacando protestos que começaram ao longo da fronteira com Gaza no ano passado e que deixaram centenas de mortos e milhares de feridos por forças da segurança de Israel.

Ele também citou “incidentes de segurança e provocações do Hamas e outros militantes em Gaza”, incluindo o lançamento de foguetes e pipas incendiárias, que agravaram perigosamente a situação.

“Graças a esforços de mediação da ONU e do Egito, um grande agravamento foi evitado”, afirmou, pedindo para autoridades do Hamas em Gaza “evitarem provocações”. O chefe da ONU afirmou que, sob lei humanitária internacional, “Israel, também, possui responsabilidade de exercer máxima contenção”, exceto como último recurso.

Guterres destacou que a ONU apoia firmemente a reconciliação palestina e “o retorno do governo palestino legítimo a Gaza” como “parte integral de um futuro Estado palestino”.

Ressaltando que a crise humanitária atual em Gaza precisa ser “imediatamente respondida”, ele detalhou que cerca de 2 milhões de palestinos “continuam envolvidos em crescente pobreza e desemprego, com acesso limitado a saúde, educação, água e eletricidade”, deixando jovens com “poucas perspectivas de um futuro melhor”.

“Insto Israel a retirar as restrições sobre o movimento de pessoas e de bens, que também prejudicam os esforços das Nações Unidas e de outras agências humanitárias, sem prejudicar, naturalmente, preocupações legitimas com segurança”, afirmou o secretário-geral.

Elogiando a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) por seu “trabalho crítico” em Gaza, na Cisjordânia ocupada e ao longo da região, ele pediu para a comunidade internacional aumentar “significativamente” esforços para revitalizar a economia de Gaza.

Sobre o “risco de maiores agitações na Cisjordânia”, Guterres destacou que planos e construções de assentamentos israelenses se expandiram, incluindo em Jerusalém Oriental.

“Assentamentos são ilegais sob lei internacional”, afirmou. “Eles aprofundam o senso de desconfiança e prejudicam a solução de dois Estados”.

Guterres afirmou lamentar a decisão de Israel de não renovar o mandato da Presença Internacional Temporária em Hebron. “Espero que um acordo possa ser encontrado pelas partes para preservar esse programa de ação valioso e de longa data”.

“Palestinos suportam mais de meio século de ocupação e de negação ao seu direito legítimo de autodeterminação”, com ambos os lados continuamente sofrendo com “ciclos mortais de violência”, disse.

Ele indicou que líderes possuem responsabilidade de “reverter esta trajetória negativa e abrir caminho em direção à paz, à estabilidade e à reconciliação”.

Guterres também elogiou o Comitê por manter o foco no objetivo final de uma “solução pacífica de dois Estados coexistindo em paz e segurança” como única maneira de alcançar os direitos inalienáveis do povo palestino.

“Como tenho dito repetidamente, não há Plano B”, concluiu.

Guterres diz esperar novo acordo após Israel interromper missão internacional de observação

O palestino Hamid, de oito anos, olha para a cidade de Hebron da cobertura de sua casa. Foto: UNICEF/Ahed Izhiman
O palestino Hamid, de oito anos, olha para a cidade de Hebron da cobertura de sua casa. Foto: UNICEF/Ahed Izhiman

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, expressou sua gratidão à missão internacional de observação Presença Internacional Temporária em Hebron (TIPH), na Cisjordânia, após Israel decidir não renovar seu mandato.

Destacando um comunicado conjunto emitido pelos ministros das Relações Exteriores dos países que contribuem à TIPH – Itália, Noruega, Suécia, Suíça e Turquia – o secretário-geral da ONU expressou na sexta-feira (1) esperança de “que um acordo possa ser alcançado pelas partes para preservar a longa e valiosa contribuição da TIPH à prevenção de conflito e à proteção de palestinos em Hebron”.

O chefe da ONU afirmou estar “grato” à TIPH e “ao serviço de seus respectivos observadores ao longo dos últimos 22 anos”.

De acordo com a imprensa internacional, centenas de colonos judeus protegidos por milhares de soldados vivem no centro de Hebron, que tem população de mais de 200 mil palestinos.

A TIPH foi estabelecida em conformidade com as provisões do Acordo Interino de 1995, conhecido como o Acordo de Oslo II, entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina.

Guterres disse ainda estar envolvido com Estados-membros e partes em solo “para garantir a proteção, segurança e bem-estar de civis”.

Ele também reiterou seu “comprometimento com a solução de dois Estados” e com a salvaguarda dos princípios e visões enraizados no acordo de Oslo, em resoluções relevantes da ONU e em outros acordos aplicáveis.

Chefe de agência da ONU alerta para intensificação da crise humanitária em Gaza

Mulheres em frente à casa em que moram no centro de Gaza. Palestinos do enclave enfrentam dificuldades para atender as necessidades básicas de seus filhos, como alimentação, saúde e habitação. Foto: PMA/Wissam Nassar
Mulheres em frente à casa em que moram no centro de Gaza. Palestinos do enclave enfrentam dificuldades para atender as necessidades básicas de seus filhos, como alimentação, saúde e habitação. Foto: PMA/Wissam Nassar

Problemas “alarmantes e crescentes” que afetam refugiados palestinos podem desestabilizar ainda mais o Oriente Médio, afirmou na terça-feira (29) o chefe da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA).

Em pedido de 1,2 bilhão de dólares para financiar serviços vitais e de assistência para 5,4 milhões de refugiados palestinos em Gaza e na Cisjordânia ocupada, incluindo Jerusalém Oriental, Jordânia, Líbano e Síria, o comissário-geral da UNRWA, Pierre Krähenbühl explicou que o atendimento às necessidades básicas dessa população piorou consideravelmente desde a virada do século.

“Fornecemos assistência alimentar para 1 milhão de pessoas em Gaza, o que representa metade da população do enclave. A UNRWA fornece esta assistência alimentar a cada três meses”, explicou.

“Este é um número com o qual o mundo deveria ficar chocado, porque nos anos 2000 fornecíamos assistência alimentar para 80 mil. Então, nós passamos de 80 mil pessoas em nossa lista de assistência alimentar para 1 milhão. Por quê? Por conta da dinâmica do conflito e do bloqueio que dizimou setores inteiros da economia de Gaza”.

Falando em Genebra, Krähenbühl elogiou a generosidade de Estados-membros em apoiar ao trabalho da agência, após os Estados Unidos, historicamente maior doador durante décadas, deixarem de financiá-la.

ONU manifesta preocupação com ataque na Cisjordânia

Paralelamente, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) expressou na terça-feira (29) profunda preocupação com o “ataque prolongado e extremamente violento” no sábado (26) no vilarejo de Al Mughayyir, na Cisjordânia. O palestino Hamdi Taleb Na’asan, de 38 anos e pai de quatro filhos, foi morto com tiros nas costas.

“O monitoramento feito por nossa equipe na Cisjordânia sugere que o assassinato ocorreu após um grupo de até 30 israelenses – alguns deles armados – do posto israelense de Adei Ad atacarem agricultores palestinos em seus campos”, disse o porta-voz Rupert Colville, falando a jornalistas em Genebra. Ele disse que colonos “desceram à vila, onde usaram munição letal para atirar contra aldeões e suas casas”.

Ele acrescentou que seis aldeões foram baleados “com munição letal, deixando três deles em condições sérias”. “É incerto se colonos também ficaram feridos e, se sim, quantos deles”.

Ele afirmou que, embora forças da segurança de Israel estivessem perto do vilarejo e “tenham sido imediatamente alertadas sobre o ataque, testemunhas informaram nossa equipe – que visitou o vilarejo ontem – que demorou cerca de duas horas antes que interviessem”.

Quando intervieram, acrescentou Colville, “o foco da ação pareceu ser dispersar os aldeões palestinos usando gás lacrimogêneo”. “Mais três palestinos foram feridos por tiros após a intervenção das forças da segurança”, salientou.

Ele disse que houve um aumento em violência instigada por colonos na Cisjordânia, “que alcançou seus níveis mais altos desde 2015”.

De acordo com o Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), a média mensal de incidentes violentos instigados por colonos cresceu 57% em 2018, comparado a 2017, e 175%, comparado a 2016.

As forças da segurança de Israel abriram investigação inicial sobre o assassinato de Na’asan.

“Pedimos às autoridades que garantam investigação completa sobre seu assassinato e sobre os ferimentos causados a outros, e que esta seja independente, transparente e eficaz”, acrescentou Colville.

Cisjordânia: ONU alerta para impacto da ocupação israelense na educação de palestinos

O palestino Hamid, de oito anos, olha para a cidade de Hebron da cobertura de sua casa. Foto: UNICEF/Ahed Izhiman
O palestino Hamid, de oito anos, olha para a cidade de Hebron da cobertura de sua casa. Postos de verificação estão espalhados pela cidade velha de Hebron, que faz parte da área conhecida como H2 na Cisjordânia. Os postos afetam o movimento das pessoas, incluindo o acesso à educação, uma vez que muitas crianças passam por um ou mais locais de verificação a caminho da escola. Foto: UNICEF/Ahed Izhiman

Representantes de agências da ONU expressaram preocupação na quarta-feira (30) com o grande número de incidentes dentro ou próximo de escolas palestinas na Cisjordânia, incluindo confrontos entre alunos e forças de segurança e atos de violência de colonos israelenses. O pronunciamento de organismos internacionais também alerta para a situação de professores que são parados em postos de checagem, o que prejudica as atividades de ensino.

“Salas de aula devem ser um santuário de conflitos, onde crianças podem aprender e crescer como cidadãs ativas”, disse o coordenador humanitário da ONU para a região, Jamie McGoldrick, em comunicado assinado também pela representante especial do UNICEF, Genevieve Boutin, e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).

O posicionamento expressa preocupação com os episódios de violência desde o início do ano letivo, em setembro passado, e pede que as instituições escolares sejam mais protegidas dos efeitos da ocupação israelense. Somente em 2018, a ONU documentou 111 casos diferentes de interferências na ensino na Cisjordânia, afetando mais de 19 mil crianças.

Destacando o impacto dos incidentes no acesso seguro à educação, o comunicado ressaltou “ameaças de demolição, confrontos no caminho para a escola entre alunos e forças de segurança, professores parados em postos de checagem e ações violentas de forças israelenses e colonos em algumas ocasiões”.

“Crianças nunca devem ser alvo de violência e não devem ser expostas a qualquer forma de violência”, disseram as duas autoridades seniores da ONU na região.

Os dirigentes pediram um ambiente seguro para a aprendizagem e a garantia do direito à educação de qualidade pra milhares de crianças palestinas.