A presença de violência e radicalismo no Território Palestino Ocupado está crescendo, e a perspectiva de paz sustentável está se apagando a cada dia, disse nesta quarta-feira (20) um enviado sênior das Nações Unidas para a região ao Conselho de Segurança.
O Conselho foi informado sobre a situação na região por Nickolay Mladenov, coordenador especial para o Processo de Paz no Oriente Médio, e por Ursula Mueller, secretária-geral assistente para Assuntos Humanitários.
Numa avaliação em tom sombrio, Mladenov caracterizou a esperança de uma solução pacífica de dois Estados como “escassa”. Segundo ele, o extremismo está em crescimento e o risco de guerra aumentou.
Diante desse cenário, o desafio imediato é a prevenção de uma implosão econômica e humanitária na Cisjordânia e em Gaza, disse.
O povo palestino, afirmou Mladenov, precisa do apoio da comunidade internacional mais que nunca, conforme uma série de questões estão tendo um “preço alto” sobre aqueles que vivem em Gaza e na Cisjordânia. Isso inclui violência, falta de progresso em direção à paz, pressões financeiras e medidas unilaterais tomadas pelo governo de Israel.
Mladenov citou uma decisão recente de Israel de reter cerca de 140 milhões de dólares em transferências de receitas fiscais palestinas (o equivalente ao dinheiro pago a palestinos condenados por terrorismo ou ofensas relacionadas à segurança, e suas famílias), e a decisão do governo dos Estados Unidos de cessar o envio de recursos à Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), como fatores para instabilidade financeira no Território Palestino Ocupado.
Segundo Mladenov, uma série de passos políticos é necessária para construção de paz, incluindo fim da designação de terras para uso exclusivo israelense, além da cessação de construção e expansão de assentamentos israelenses. Demolições e tomadas de estruturas palestinas continuam acontecendo na Cisjordânia, com cerca de 900 palestinos em Jerusalém Oriental enfrentando despejo.
O enviado especial condenou a violência e o terror na região ao longo dos últimos meses, que resultaram na morte de 40 crianças assassinadas por forças israelenses, e no disparo de 18 foguetes de militantes palestinos em direção a Israel. Houve uma onda em violência envolvendo colonos no último ano, disse ele, com 20 incidentes registrados de colonos israelenses ferindo palestinos ou danificando suas propriedades.
Por sua vez, Mueller descreveu a “crescente vulnerabilidade” de palestinos em Gaza, com salários para funcionários públicos reduzidos ou não pagos, incluindo nos setores de saúde e educação. Além disso, o desemprego ultrapassa 50% e a maior parte dos cidadãos lida com insegurança alimentar.
Cortes de recursos forçaram o Programa Mundial de Alimentos (PMA) a suspender assistência para cerca de 27 mil pessoas e reduzir provisões para outros 166 mil beneficiários. Destacando uma lacuna em financiamentos, Mueller instou Estados-membros a aumentar o apoio às operações humanitárias.
O número de vítimas está “desafiando a capacidade dos serviços de saúde” no território, disse Mueller, colocando o sistema inteiro em risco de colapso.
“Desde o começo das manifestações, em março de 2018, mais de 27 mil palestinos ficaram feridos, mais de 6 mil deles por munições letais. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 122 amputações foram feitas desde o começo das manifestações em massa, incluindo 21 amputações pediátricas”, disse.