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Rejeição de recurso de jornalistas presos em Mianmar é ‘grave injustiça’, alertam relatores da ONU

A situação de insegurança em Mianmar para a minoria muçulmana rohingya está gerando uma das maiores crises humanitárias do mundo. Foto: ACNUR
A situação de insegurança em Mianmar para a minoria muçulmana rohingya está gerando uma das maiores crises humanitárias do mundo. Foto: ACNUR

Especialistas das Nações Unidas em direitos humanos expressaram preocupação com a rejeição da apelação final de dois jornalistas da agência de notícias Reuters pela Suprema Corte de Mianmar.

Em comunicado na última quinta-feira (25), os relatores especiais definiram a decisão como uma “grave injustiça”, dizendo representar um momento sombrio para a liberdade de imprensa e para a democracia do país.

Na terça-feira (23), a mais alta Corte de Mianmar rejeitou o recurso de Wa Lone e de Kyaw Soe Oo, presos por sete anos por investigarem o massacre de homens e meninos rohingyas no vilarejo de Inn Din, no estado de Rakhine, em 2017.

Na semana anterior, eles haviam recebido o Prêmio Pulitzer, um dos mais reconhecidos no jornalismo mundial, pelas reportagens investigativas.

Os dois jornalistas foram presos em dezembro de 2017 quando trabalhavam na investigação e foram encontrados em posse de documentos secretos, que um policial posteriormente testemunhou terem sido plantados.

Os jornalistas foram acusados de quebrar a lei de segredos estatais e sentenciados a sete anos de prisão em setembro de 2018. Um recurso foi rejeitado pela Suprema Corte em janeiro deste ano.

“A manutenção da condenação de Wa Lone e de Kyaw Soe é uma grave injustiça”, disseram o relator especial sobre a situação de direitos humanos em Mianmar, Yanghee Lee, e o relator especial sobre liberdade de expressão, David Kaye.

“Isto gera preocupações adicionais sobre a independência do judiciário, e com o comprometimento do país com padrões internacionais de direitos humanos”, afirmaram, pedindo para a Corte publicar na íntegra a decisão do argumento usado para rejeitar o recurso.

Lee and Kaye disseram que o caso destaca o aumento da restrição à liberdade de expressão e do acesso à informação no país, além de uma preocupante intolerância às críticas legítimas ao Exército.

“Wa Lone e Kyaw Soe Oo não cometeram um crime. Eles estavam trabalhando como jornalistas investigativos, relatando as questões que mais preocupam o povo de Mianmar e trabalhando em uma função democrática essencial”, afirmaram.

Em diversas ocasiões os especialistas escreveram às autoridades para expressar preocupação com a prisão e a condenação dos jornalistas.

“Com esta decisão profundamente decepcionante de manter a condenação, parece que Mianmar mais uma vez está seguindo um caminho sombrio e não persegue as reformas genuínas que muitos esperavam”, disseram os relatores.

Os relatores especiais pediram para o governo revisar a Lei de Segredos Oficiais, de 1923, em linha com as obrigações do país sob a lei internacional. A lei nacional possui uma pena de até 14 anos de prisão.

Assassinatos de jornalistas são revoltantes e não podem ser ‘novo normal’, diz chefe da ONU

Jornalistas a trabalho no México. Foto: Flickr (CC)/Ester Vargas
Jornalistas a trabalho no México. Foto: Flickr (CC)/Ester Vargas

Os assassinatos de jornalistas no mundo todo são “revoltantes” e não deveriam se tornar o “novo normal”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, na ocasião do Dia Internacional pelo Fim da Impunidade por Crimes contra Jornalistas, 2 de novembro.

Em pouco mais de uma década, 1.010 jornalistas foram mortos por realizar seu trabalho e, em nove a cada 10 casos, os autores dos crimes não foram levados à Justiça. Somente em 2018, ao menos 88 jornalistas foram assassinados, de acordo com a ONU.

Milhares de outros profissionais da mídia foram “atacados, assediados, detidos ou presos por acusações ilegítimas, sem o devido processo”, disse Guterres em mensagem em vídeo para a ocasião.

O secretário-geral da ONU prestou homenagem a jornalistas que “fazem seus trabalhos diariamente, apesar de intimidações e ameaças”. Ele também pediu para a comunidade internacional “proteger jornalistas e criar condições necessárias para que façam seus trabalhos”.

A Verdade Nunca Morre

Para marcar o dia internacional, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), lançou uma campanha para conscientização sobre o tema. Denominada “Truth Never Dies” (A Verdade Nunca Morre, em tradução livre), a iniciativa encoraja pessoas a compartilhar histórias de e sobre jornalistas mortos, para manter seus legados vivos e pressionar por investigações sobre suas mortes.

“A verdade nunca morre. Nem deve morrer nosso compromisso com o direito fundamental da liberdade de expressão”, disse o chefe da ONU, destacando que quando jornalistas são atacados, “sociedades como um todo pagam o preço”.

Um estudo sobre tendências globais na mídia da UNESCO de 2017 destacou que a impunidade por crimes contra jornalistas continua sendo padrão, e tendências de sequestros, desaparecimentos e torturas mostram aumentos significativos desde 2012.

O Conselho de Direitos Humanos da ONU adotou uma resolução em setembro, pedindo para a comunidade internacional promova estratégias para proteger jornalistas e leve à Justiça autores desses crimes.

Incentivo político à violência contra jornalistas é ‘tóxico’, dizem especialistas da ONU

Funeral de jornalista da agência Tolo, assassinado após ataque em 5 de setembro de 2018 nos arredores de um centro esportivo de Cabul, no Afeganistão. Foto: UNAMA/Fardin Waezi
Funeral de jornalista da agência Tolo, assassinado após ataque em 5 de setembro de 2018 nos arredores de um centro esportivo de Cabul, no Afeganistão. Foto: UNAMA/Fardin Waezi

Um grupo de especialistas independentes em direitos humanos das Nações Unidas pediu que os líderes mundiais parem de incitar o ódio e a violência contra a mídia, e garantam que os responsáveis por tais ataques sejam responsabilizados, citando as centenas de jornalistas mortos ou presos por causa de seu trabalho.

Na quarta-feira (31), os especialistas, incluindo David Kaye, relator especial sobre a promoção e proteção do direito à liberdade de opinião e expressão; Agnes Callamard, relatora especial sobre execuções extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias; e Bernard Duhaime, presidente do grupo de trabalho sobre Desaparecimentos Forçados ou Involuntários divulgaram uma declaração às vésperas do Dia Internacional para Acabar com a Impunidade por Crimes Contra Jornalistas, 2 de novembro.

O comunicado afirma que “estas últimas semanas demonstraram mais uma vez a natureza tóxica e o alcance exagerado do incentivo político contra jornalistas, e exigimos que isso pare”, e pediram que os Estados tomem medidas firmes para garantir a responsabilização pela violência e os ataques contra jornalistas, revertendo e resistindo à tendência espantosa de impunidade”.

Eles destacaram particularmente o assassinato no início deste mês do jornalista dissidente saudita Jamal Khashoggi, e condenaram a resposta dos Estados, da comunidade internacional e da própria ONU, pelo fracasso em lidar com seu desaparecimento forçado e homicídio.

“O único caminho a seguir é estabelecer uma investigação independente, transparente e confiável sobre seu assassinato, autorizada e subordinada às Nações Unidas. Qualquer coisa que não seja uma investigação completa, reconhecida como tal pela comunidade internacional, seria uma gozação frente as alegações governamentais de compromisso com a segurança dos jornalistas.”

Um jornalista é morto a cada quatro dias

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) afirma que, entre 2006 e 2017, mais de 1 mil jornalistas foram assassinados por reportar notícias e levar informação ao público; uma média de uma morte a cada quatro dias.

Em nove de cada dez casos, os assassinos ficam impunes, e essa impunidade, dizem os especialistas da ONU, desencadeia mais violência e ataques: os perpetradores devem ser levados à Justiça e as vítimas e as famílias devem ter acesso a reparações.

Já existem compromissos internacionais de alto nível, como uma resolução sobre a segurança de jornalistas, adotada pelo Conselho de Direitos Humanos em setembro. Os especialistas da ONU conclamaram os líderes mundiais a implementar tais resoluções e parar de incitar o ódio e a violência contra a mídia.

No Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, a UNESCO está lançando uma nova campanha, “Truth Never Dies”, para aumentar a conscientização sobre esta situação, e está chamando parceiros de mídia para apoiar a iniciativa publicando reportagens por e sobre jornalistas assassinados como resultado de seu trabalho. Um kit de ferramentas está disponível para mídias que desejam participar.

UNESCO alerta para aumento dos casos de ataques contra jornalistas mulheres no mundo

Uma jornalista argentina cobre a Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2017. Foto: ONU/Ariana Lindquist
Uma jornalista argentina cobre a Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2017. Foto: ONU/Ariana Lindquist

Na ocasião do Dia Internacional pelo Fim da Impunidade dos Crimes contra Jornalistas, lembrado em 2 de novembro, a diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Audrey Azoulay, afirmou que a data é uma oportunidade de se avaliar as formas de resposta aos problemas de segurança enfrentados por jornalistas no mundo todo quando realizam suas funções de investigação e informação.

Há cinco anos as Nações Unidas lembram a data, que também é uma oportunidade de avaliar como os países abordam a impunidade para crimes e ataques cometidos contra jornalistas, disse Azoulay em comunicado divulgado nesta quinta-feira (1).

“É claro que foram realizados progressos significativos nos últimos cinco anos, um período durante o qual tanto o público em geral quanto os atores políticos se tornaram muito mais conscientes em relação ao problema da impunidade”, disse a diretora-geral da UNESCO.

Segundo ela, o marco legal internacional para o tema foi reforçado, por meio da aprovação de mais de dez resoluções das organizações que compõem as Nações Unidas, desde 2013. “Porém, a implementação das medidas necessárias nos âmbitos nacionais continua a ser um desafio”, alertou.

Desde 2006, a UNESCO condenou o assassinato de 1.010 jornalistas e profissionais de mídia no mundo todo. Nove entre dez desses casos não foram levados à Justiça. De acordo com a edição de 2017-2018 do relatório “Tendências mundiais sobre liberdade de expressão e desenvolvimento da mídia”, aumentaram os casos de ataques e assédio contra jornalistas mulheres, especialmente em plataformas online.

“Devemos abordar urgentemente as ameaças específicas enfrentadas pelas jornalistas mulheres, as quais, em última instância, se estendem à profissão jornalística como um todo”, disse Azoulay.

Para a diretora-geral da UNESCO, a luta contra a impunidade é inseparável da defesa das liberdades fundamentais, como a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa e a liberdade de acesso à informação. “Uma vez que essas liberdades são essenciais para o estabelecimento de sociedades mais bem informadas, de verdadeiras sociedades do conhecimento, o combate aos obstáculos encontrados em seu exercício está alinhado ao nosso trabalho mais amplo relacionado ao desenvolvimento sustentável”.

Para aumentar a conscientização pública relativa à questão da impunidade por crimes contra jornalistas, no dia 2 de novembro, a UNESCO lançará a campanha #TruthNeverDies. A campanha tem como objetivo encorajar a publicação de artigos escritos por jornalistas que foram mortos enquanto realizavam seu trabalho, ou em homenagem a eles. A UNESCO desenvolveu ferramentas para todas as organizações de mídia que queiram participar.

“É nossa responsabilidade garantir que os crimes contra jornalistas sejam punidos. Devemos cuidar para que os jornalistas possam trabalhar em condições de segurança, as quais permitam o florescimento de uma imprensa livre e plural. Somente em um ambiente desses nós seremos capazes de criar sociedades justas, pacíficas, e verdadeiramente progressistas.”

Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog anuncia vencedores de sua 40ª edição

Troféu Especial do 40º Prêmio Vladimir Herzog. Foto: Fernanda Freixosa
Troféu Especial do 40º Prêmio Vladimir Herzog. Foto: Fernanda Freixosa

A comissão julgadora do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos anunciou na última semana (11) os vencedores de sua 40ª edição, reconhecendo trabalhos que valorizam a democracia e os direitos humanos.

A premiação, que conta com o apoio do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio) e de outros parceiros, é considerada uma das mais importantes do jornalismo brasileiro.

Neste ano, foram inscritos mais de 600 trabalhos, divididos em seis categorias: arte, fotografia, texto, áudio, vídeo e multimídia.

Todos os vencedores e homenageados serão premiados em cerimônia no Tucarena, em São Paulo, no dia 25 de outubro, a partir das 20h.

Antes da premiação, a partir das 13h30, os jornalistas vencedores participam de uma roda de conversa. O evento é gratuito e tem objetivo de discutir os bastidores das reportagens escolhidas, tendo como público-alvo estudantes e estudiosos do jornalismo. Detalhes dos eventos clicando aqui.

40º Prêmio Vladimir Herzog. Arte: divulgação
40º Prêmio Vladimir Herzog. Arte: divulgação

Atualmente, o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos é promovido e organizado pelas seguintes instituições: Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ; Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo; Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo; Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – ABRAJI; Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil – UNIC Rio; Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP; Conectas Direitos Humanos, Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB Nacional; Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo; Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo, Periferia em Movimento e Sociedade Brasileira dos Estudos Interdisciplinares da Comunicação – Intercom e Instituto Vladimir Herzog.

A lista completa dos vencedores da 40ª edição do Prêmio Vladimir Herzog pode ser acessada no link.

Bernardo Kucinski será homenageado com Prêmio Especial Vladimir Herzog 2018

A comissão organizadora também divulgou que o jornalista e escritor Bernardo Kucinski será o homenageado deste ano com o Prêmio Especial Vladimir Herzog.

Kucinski construiu uma trajetória importante como jornalista, militante de esquerda e professor universitário. Trabalhou em grandes veículos como Veja, BBC de Londres e The Guardian.

Nos anos 1970, atuou nos semanários alternativos ‘Movimento’ e ‘Em Tempo’. Fez carreira docente no Departamento de Jornalismo e Editoração da Escola de Comunicações e Artes da USP e foi assessor especial da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.

Saiba mais sobre a premiação em www.premiovladimirherzog.org.br.

SERVIÇO

Roda de Conversa com os vencedores do 40º Prêmio Vladimir Herzog
Data: 25 de outubro | quinta-feira
Horário: 13h30
Local: Tucarena (Rua Monte Alegre, 1024 – Perdizes – São Paulo/SP)
Entrada aberta

Cerimônia de premiação do 40º Prêmio Vladimir Herzog
Data: 25 de outubro | quinta-feira
Horário: 20h
Local: Tucarena (Rua Monte Alegre, 1024 – Perdizes – São Paulo/SP)
Entrada aberta

Detalhes dos eventos clicando aqui.