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UNAIDS: resposta ao HIV ainda está falhando em relação às crianças

Ano após ano, o objetivo ambicioso de eliminar novas infecções por HIV entre as crianças no mundo todo está sendo esquecido. Foto: UNAIDS
Ano após ano, o objetivo ambicioso de eliminar novas infecções por HIV entre as crianças no mundo todo está sendo esquecido. Foto: UNAIDS

O relatório mais recente sobre o progresso das metas Start Free, Stay Free, AIDS Free mostra que, apesar dos grandes progressos realizados desde o início da epidemia, a resposta ao HIV para crianças tem falhado.

Ano após ano, o objetivo ambicioso de eliminar novas infecções por HIV entre as crianças no mundo todo está sendo esquecido e elas estão morrendo desnecessariamente por doenças relacionadas à AIDS—mortes que poderiam ser evitadas com tratamentos simples e de baixo custo se as crianças fossem diagnosticadas e tratadas a tempo.

“É uma tragédia ver tantas crianças perdidas e sendo deixadas para trás enquanto temos tantas ferramentas disponíveis, tantas novas infecções por HIV prevenidas entre crianças e tantas crianças com HIV vivendo bem”, disse Winnie Byanyima, diretora-executiva do UNAIDS.

“Não podemos aceitar que dezenas de milhares de crianças ainda sejam infectadas pelo HIV e morram de doenças relacionadas à AIDS todos os anos.”

O marco Start Free, Stay Free, AIDS Free possui três conceitos simples. Primeiro, os bebês têm o direito de entrar neste mundo livres do HIV. Segundo, através da prevenção do HIV, crianças, adolescentes e mulheres jovens têm o direito de permanecer livres do vírus. Terceiro, crianças e adolescentes que adquirem o HIV têm o direito de receber diagnóstico, tratamento e cuidados, para que possam permanecer livres da AIDS.

Os países concordaram com uma série de metas de prevenção e tratamento do HIV. Para que as crianças comecem a viver sem HIV, um desses objetivos era reduzir as novas infecções infantis (de 0 a 14 anos) para menos de 40.000 em 2018 e para 20.000 em 2020. No entanto, estimativas recém-publicadas mostram que 150.000 crianças foram infectadas com HIV em 2019—uma redução de 52% desde 2010, mas ainda quatro vezes acima da meta de 2018.

Ao garantir que as mulheres grávidas que vivem com HIV sejam diagnosticadas, iniciadas e retidas no tratamento com medicamentos antirretrovirais durante a gravidez, o parto e a amamentação, a chance de transmitir o vírus é inferior a 1%. Globalmente, 85% das mulheres grávidas que vivem com HIV receberam esses medicamentos em 2019.

Mas, apesar da alta cobertura, as crianças ainda estão sendo infectadas devido ao acesso desigual aos serviços de tratamento (principalmente na África Ocidental e Central), mulheres que estão evadindo os cuidados de saúde e grávidas e mulheres que se infectam por HIV na fase de amamentação.

“Como comunidade global, fizemos um progresso notável no controle da pandemia do HIV, mas ainda estamos perdendo muitas crianças, adolescentes e mulheres jovens”, disse Angeli Achrekar, principal coordenadora adjunta de AIDS Global dos Estados Unidos no PEPFAR (Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para o Alívio da AIDS).

“Todos devemos redobrar nossos esforços para alcançar urgentemente essas populações críticas—e o PEPFAR continua profundamente comprometido em fazer sua parte.”

O componente Stay Free (permaneça livre) estabeleceu uma meta de reduzir as novas infecções por HIV entre meninas e mulheres jovens para menos de 100.000 até 2020. Há muito tempo, meninas e mulheres jovens são afetadas pelo HIV de maneira desproporcional – entre os países- foco da iniciativa Start Free, Stay Free, AIDS Free , meninas adolescentes e mulheres jovens representam 10% da população total, mas correspondem a 25% das novas infecções por HIV e têm um risco quase duas vezes maior de infecção pelo vírus em comparação com os homens.

No entanto, novas infecções por HIV entre mulheres jovens vêm caindo. Na África do Sul, onde existem programas de prevenção combinada para meninas adolescentes e mulheres jovens, as novas infecções por HIV nessa faixa etária caíram 35%. E em Suazilândia, as novas infecções por HIV entre mulheres jovens de 15 a 24 anos caíram 54%.

“Por muito tempo, a resposta ao HIV negligenciou crianças, adolescentes e mulheres jovens”, disse Henrietta Fore, diretora-executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

“Mas há esperança. O momento recente na redução de novas infecções entre meninas e mulheres adolescentes em países como Suazilândia e África do Sul nos mostra o que é possível quando governos e comunidades, liderados pelas próprias meninas, unem esforços. Não devemos deixar que a COVID-19 e suas questões econômicas nos atrapalhem. Devemos permanecer ousados ??e ambiciosos em nossos esforços conjuntos para garantir que a próxima geração de crianças permaneça livre do HIV e da AIDS”.

Para que crianças e adolescentes permaneçam livres da AIDS, os países convocaram metas ambiciosas, mas alcançáveis, para o tratamento do HIV—oferecer terapia antirretroviral a 1,4 milhão de crianças vivendo com HIV até 2020. Em 2019, no entanto, apenas 950.000 (53%) dos 1,8 milhão de crianças vivendo com HIV estavam recebendo tratamento para HIV—muito abaixo dos 67% dos adultos em tratamento. É claro que, para salvar vidas, as 840.000 crianças que não estão em tratamento—estima-se que dois terços delas estejam entre 5 e 14 anos—devem ser diagnosticadas e tratadas com urgência.

“A falta de medicamentos ideais para o HIV com formulações pediátricas adequadas tem sido uma barreira de longa data para melhorar os resultados de saúde para crianças vivendo com HIV, contribuindo para a baixa cobertura do tratamento”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde.

“O acesso aos serviços para grupos vulneráveis ??deve ser expandido através de um maior envolvimento da comunidade, de melhoria na prestação de serviços e de combate ao estigma e discriminação.”

Apesar das falhas, a notícia positiva é que sabemos como o mundo poderia ter atingido as metas previstas nesta iniciativa. E com bastante comprometimento, ainda podemos superar os principais obstáculos e reverter estas falhas.

“A década passada foi marcada por inovação e progresso no campo pediátrico do HIV, mas a dramática falha em alcançar as metas para as crianças que vimos neste último relatório é simplesmente inaceitável. Precisamos renovar urgentemente nosso compromisso de lutar por uma geração livre de AIDS. Hoje, como comunidade global, estamos desapontando os mais vulneráveis ??entre nós: crianças e jovens”, disse Chip Lyons, Presidente e CEO da Elizabeth Glaser Pediatric AIDS Foundation.

“Nós podemos fazer melhor. Precisamos fazer melhor”, acrescentou Byanyima. “Sabemos como salvar vidas e impedir novas infecções por HIV entre crianças. Exijo que não poupemos esforços. Nada menos que isso é vergonhoso”.

O UNAIDS e o Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para o Alívio da AIDS (PEPFAR) lançaram o marco Start Free, Stay Free, AIDS Free em 2016 para aproveitar as realizações do Plano Global, finalizado em 2015, para a eliminação de novas infecções por HIV entre crianças até 2015 e manutenção de suas mães vivas.

Relatório avalia resultados de Cooperação Sul-Sul em prol dos direitos de crianças e adolescentes

Foto: Hiller/UNICEF

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) lançaram na sexta-feira (24) documento com Avaliação do Programa de Cooperação Sul-Sul Trilateral (CSST).

O programa foi estabelecido para fomentar a cooperação entre Brasil e outros países em desenvolvimento na promoção da equidade para crianças, adolescentes e mulheres. O documento abrange o período de 2013-2018 e servirá como diretriz para planejamento de atividades futuras.

A iniciativa apoiou 16 países localizados em América Latina e Caribe, África e Ásia, compartilhando a experiência brasileira em áreas como proteção social, proteção da criança, governança local, desenvolvimento na primeira infância, saúde do adolescente e água, saneamento e higiene (WASH – na sigla em inglês). A parceria respondeu ainda a 20 demandas diferentes e promoveu 42 visitas de estudo.

A avaliação do programa buscou registrar os resultados e explicar como estes ocorreram e suas contribuições para mudanças estruturais nos processos dos países parceiros. Em um segundo momento, procurou identificar os principais desafios e gargalos enfrentados durante sua implementação e as soluções encontradas.

Foram avaliadas a relevância, eficácia e eficiência das estratégias do programa, incluindo a qualidade das suas atividades, bem como sua contribuição para resultados sustentáveis nos países parceiros. Verificou-se também a contribuição do programa em nível nacional, no Brasil, para as entidades implementadoras brasileiras, e dentro do UNICEF globalmente.

Com base nas informações coletadas, nos fatos evidenciados e na análise das estratégias, a avaliação também fornece recomendações para a sua próxima fase.

Segundo a responsável da área de Cooperação Sul-Sul Trilateral com Organismos Internacionais da ABC, Cecília Malaguti, o documento vai apoiar o esforço de planejamento de atividades futuras da parceria Brasil-UNICEF.

“Os resultados e recomendações do relatório final da avaliação estão sendo valiosos para a reflexão e o consequente aprimoramento do planejamento e da implementação dos programas de cooperação Sul-Sul trilateral estabelecidos com o UNICEF, e com os demais organismos internacionais parceiros do governo brasileiro. Os elementos da avaliação já vêm sendo usados pelas equipes da ABC e do UNICEF para pensar a continuidade das atividades da parceria entre 2020 e 2021”.

A chefe da área de Políticas Sociais, Monitoramento e Avaliação, e Cooperação Sul-Sul do UNICEF Brasil, Liliana Chopitea, destacou que a avaliação é de grande importância sendo a primeira publicada dessa natureza.

“A expectativa é de que as conclusões e as recomendações da avaliação possam servir como insumos tanto para os futuros passos da parceria entre o Brasil e o UNICEF, no âmbito do programa de Cooperação Sul-Sul Trilateral, como para o desenvolvimento dessa agenda no nível global da organização”.

Chopitea disse acreditar que as lições aprendidas e apresentadas na avaliação servirão para reforçar a já consolidada parceria entre o governo brasileiro e o UNICEF, assim como os seus mecanismos de implementação, além de informar e inspirar outras iniciativas de Cooperação Sul-Sul em prol dos direitos das crianças e dos adolescentes, no Brasil e no mundo.

Programa de Cooperação Sul-Sul Trilateral Brasil-UNICEF

O programa busca promover um espaço de diálogo político e técnico entre os países parceiros para discutir políticas relevantes para as crianças, compartilhando e adaptando as experiências, tecnologias e lições aprendidas do Brasil.

Procura também apoiar os parceiros na priorização dos direitos das crianças, dos adolescentes e das mulheres, em diferentes esferas políticas, e a sua capacidade de desenvolver ou aprimorar arcabouços legais e institucionais para alcançar resultados sustentáveis para as crianças e os adolescentes menos favorecidos.

Busca, por fim, contribuir para defender a agenda dos direitos da criança, reforçando o compromisso político com a promoção e proteção desses direitos e a mobilização de recursos orçamentários e financeiros adequados para sua materialização.

Para acessar a publicação, clique aqui.

UNICEF: é urgente buscar cada criança e adolescente que não conseguiu se manter aprendendo

60% das crianças em todo o mundo não estão recebendo educação, um nível nunca visto desde os anos 1980. Foto: PNUD Uruguai
60% das crianças em todo o mundo não estão recebendo educação, um nível nunca visto desde os anos 1980. Foto: PNUD Uruguai

Diante da pandemia de COVID-19, escolas precisaram ser fechadas, deixando cerca de 35 milhões de crianças e adolescentes longe das salas de aula no Brasil.

Foram criadas opções para a continuidade da aprendizagem em casa, mas nem todos estão conseguindo manter o processo de aprendizagem – em especial os mais vulneráveis.

Por isso, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) lança nesta sexta-feira (24), em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), a Busca Ativa Escolar em Crises e Emergência.

Trata-se de um guia para apoiar estados e municípios na garantia do direito à educação de crianças e adolescentes em situações de calamidade pública e emergências, como a pandemia da COVID-19.

“A busca ativa precisa começar já, em paralelo à preparação das redes escolares para que possam reabrir em segurança”, explica Florence Bauer, representante do UNICEF no Brasil.

“Não há como definir uma data única de volta às aulas presenciais no país, que tem de ser decidida de acordo com a situação epidemiológica de cada estado e município.”

“Mas a preparação das redes escolares para a reabertura de maneira segura deve ser prioridade absoluta em todo o país, assim como a busca ativa de quem não está conseguindo aprender com as escolas fechadas”, defende.

O fechamento das escolas gerou impacto negativo significativo na aprendizagem, na nutrição – uma vez que muitas crianças dependem da merenda escolar – e na segurança de crianças e adolescentes, em especial os mais vulneráveis.

Mesmo com as opções de atividades para a continuidade das aprendizagens em casa, pelo menos 4,8 milhões de crianças e adolescentes em todo o Brasil não têm acesso à Internet em casa, além de outros milhões com acesso precário ou falta de equipamento, não podendo manter o vínculo com a escola durante todo o período de isolamento social. Tudo isso, somado a questões econômicas, contribui para a evasão.

“A exclusão escolar afeta os mais vulneráveis. Há milhões de crianças e adolescentes que estavam na escola, aprendendo, mas não conseguiram manter atividades em casa por falta de estrutura e estão ficando para trás”, explica Ítalo Dutra, chefe de Educação do UNICEF no Brasil.

“Há, também, 6,4 milhões de meninas e meninos que já estavam com dois ou mais anos de atraso escolar, e correm o risco de não conseguir mais voltar. E há, ainda, mais de 1,7 milhão que já estavam fora da escola antes da pandemia, e estão ficando cada vez mais longe dela.”

Para reverter esse quadro, mesmo enquanto as escolas ainda estão fisicamente fechadas, é preciso ir atrás de cada um deles e tomar as medidas necessárias para que consigam retomar os estudos e seguir aprendendo. É isso que propõe a Busca Ativa Escolar, estratégia lançada em 2017 e agora adaptada para situações de calamidade pública e emergências, como a pandemia da COVID-19

O guia busca auxiliar as escolas no seu planejamento de reabertura ou de readequação de ações. Está dividido em três seções, trazendo orientações para potencializar a Busca Ativa Escolar e enfrentar a crise, e orientações para o acolhimento e o cuidado dentro das escolas, divididos por etapa escolar. Além disso, traz conteúdos de referências que podem ser usados pelos municípios (saiba mais sobre o lançamento abaixo).

É urgente preparar as escolas para reabrir em segurança

Além de encontrar meninas e meninos que estão fora da escola, ou em risco de evadir, é fundamental preparar as escolas para receber os estudantes em segurança, mitigando os riscos de infecção pelo novo coronavírus, alerta o UNICEF.

Não é possível determinar uma data única para a volta às aulas presenciais no país – o que deve acontecer de acordo com a situação da pandemia em cada lugar. Mas uma coisa é certa: é urgente colocar crianças e adolescentes como prioridade absoluta nos investimentos e planos de retomada, segundo a agência da ONU.

“Crianças e adolescentes são as vítimas ocultas da pandemia, sendo quem mais sofre com as consequências da crise em médio e longo prazos. É urgente que os governos priorizem crianças e adolescentes em seus planos de reabertura e invistam nas ações necessárias para a retomada das escolas”, diz Florence Bauer.

“O UNICEF chama cada estado e município a agir agora para garantir condições seguras de funcionamento das escolas, e a analisar a situação da pandemia para definir o momento seguro de reabrir.”

É preciso garantir que as escolas estejam preparadas para recebê-los com segurança. Isso inclui adaptações no ambiente escolar que mantenham estudantes, famílias e profissionais de educação protegidos, como adaptações no transporte escolar, na ventilação das salas de aulas e no acesso a água e saneamento nas escolas, entre outros pontos. Há também que se investir em práticas pedagógicas e apoio psicossocial a educadores e profissionais para a retomada.

Desde o início da pandemia, o UNICEF vem trabalhando com estados e municípios na formulação de protocolos e planos para a reabertura. Em parceria com Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Banco Mundial e Programa Mundial de Alimentos (PMA), foi desenvolvido um protocolo com medidas claras que precisam ser tomadas. Também já há protocolos desenvolvidos pela Undime e pelo Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação (Consed).

“Os municípios estão organizando protocolos e buscando as condições para ofertar o que for necessário, em termos de higiene e saúde, para receber todos na escola em segurança”, afirma Luiz Miguel Martins Garcia, presidente da Undime.

Lançamento da Busca Ativa Escolar

O guia Busca Ativa Escolar em Crises e Emergência é fruto da parceria do UNICEF com a Undime, o Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (Congemas) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). O lançamento ocorre em um evento virtual nesta sexta-feira.

Live de lançamento
Quando: Sexta-feira 24 de julho de 2020, às 15h
Onde: YouTube do Conviva Educação http://bit.ly/2FvHsAJ.

Participantes:

Ítalo Dutra, chefe de Educação do UNICEF no Brasil;
Luiz Miguel Martins Garcia, presidente da Undime
Andreia Lauande, presidente do Congemas
Cristina Pantaleão, vice-presidente do Conasems
Manuel Humberto Gonzaga Lina, presidente da União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação (Uncme)

Sobre a Undime

A União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) tem por missão, desde 1986, articular, mobilizar e integrar os dirigentes municipais de educação dos 5.568 municípios brasileiros para construir e defender a educação pública com qualidade e equidade, contribuindo para a garantia do direito à educação de crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, com acesso, permanência e aprendizagem.

Com sede em Brasília (DF) e seccionais nos 26 estados, a Undime trabalha de maneira articulada para o cumprimento de sua missão, objetivos, princípios e diretrizes.

UNICEF: 40 milhões de crianças estão sem acesso a cuidados na primeira infância no mundo

Documento publicado pelo UNICEF mostra que pelo menos 40 milhões de crianças em todo o mundo estão sem acesso a cuidados essenciais na primeira infância devido à COVID-19. Foto: UNICEF/Sokol

Pelo menos 40 milhões de crianças em todo o mundo estão sem acesso a cuidados essenciais na primeira infância, de acordo com documento publicado na quarta-feira (22) pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Isso inclui acesso presencial a creches, centros de assistência social e outros serviços, que estão fechados devido à COVID-19.

Produzido pelo Innocenti, escritório de pesquisas do UNICEF, o documento analisa a situação dos cuidados infantis em todo o mundo e inclui uma análise do impacto dos fechamentos generalizados desses serviços essenciais por causa da COVID-19.

Segundo a diretora-executiva do UNICEF, Henrietta Fore, as interrupções na educação causadas pela pandemia da COVID-19 estão impedindo as crianças de começar sua educação da melhor maneira possível. “O cuidado na primeira infância e a educação infantil constroem uma base sobre a qual todos os aspectos do desenvolvimento infantil se baseiam. A pandemia está colocando essa base sob séria ameaça”.

O documento “Childcare in a global crisis: The impact of COVID-19 on work and family life” (Cuidado na primeira infância em uma crise global: o impacto da COVID-19 na vida profissional e familiar – disponível somente em inglês) observa que o distanciamento social deixou muitos pais e mães com dificuldades para equilibrar os cuidados infantis e o emprego remunerado, com um ônus desproporcional para as mulheres que, em média, se ocupam três vezes mais com os cuidados e os trabalhos domésticos.

Os fechamentos também expuseram uma crise mais profunda para famílias de crianças pequenas, especialmente em países de baixa e média renda, muitos dos quais já não tinham acesso a serviços de proteção social.

O cuidado na primeira infância é essencial para fornecer às crianças serviços, carinho, proteção, estímulo e nutrição integrados e, ao mesmo tempo, capacita meninas e meninos para que desenvolvam habilidades sociais, emocionais e cognitivas.

Antes da pandemia da COVID-19, instalações de cuidados com crianças, muitas delas de baixa qualidade ou inacessíveis, ou muito caras, forçaram muitos pais, mães ou responsáveis a deixar crianças pequenas em ambientes inseguros e pouco estimulantes, em um ponto crítico de seu desenvolvimento, com mais de 35 milhões de crianças com menos de 5 de idade, em todo o mundo, deixadas algumas vezes sem a supervisão de um adulto.

De um total de 166 países, menos da metade oferece programas gratuitos por pelo menos um ano, caindo para apenas 15% entre os países de baixa renda.

Muitas crianças pequenas que permanecem em casa não recebem o apoio precoce à aprendizagem e às brincadeiras de que precisam para um desenvolvimento saudável. Em 54 países de baixa e média renda com dados recentes, cerca de 40% das crianças com idades entre 3 e 5 anos não estavam recebendo estímulo socioemocional e cognitivo de nenhum adulto em sua casa.

A falta de opções de instalações voltadas aos cuidados com as crianças, na assistência social e na educação, também deixa muitos responsáveis, principalmente mães que trabalham no setor informal, sem outra opção a não ser levar suas crianças pequenas para o trabalho. Mais de nove em dez mulheres na África e quase sete em dez na Ásia e no Pacífico trabalham no setor informal e não têm nenhum acesso a qualquer forma de proteção social. Muitos pais e mães ficam presos nesse emprego pouco confiável e mal remunerado, contribuindo para os ciclos intergeracionais de pobreza, diz o relatório.

O acesso a cuidados na primeira infância e à educação infantil de qualidade e acessíveis é fundamental para o desenvolvimento das famílias e das sociedades socialmente coesas. O UNICEF defende cuidados na primeira infância acessíveis e de qualidade, incluindo desde o nascimento até os seis anos de vida.

A análise oferece orientação sobre como governos e empregadores podem melhorar suas políticas de cuidados na primeira infância e educação infantil, inclusive permitindo que todas as crianças acessem centros de cuidados infantis de alta qualidade, apropriados à idade, e acessíveis, independentemente das circunstâncias da família.

A orientação também descreve políticas adicionais para a família, incluindo:

– Licença parental paga para todos os pais e mães, para que não haja diferença entre o fim da licença parental e o início dos cuidados infantis acessíveis;
– Arranjos de trabalho flexíveis que atendam às necessidades dos pais, mães e responsáveis que trabalham;
– Investimento na força de trabalho de cuidado infantil não familiar, incluindo treinamento;
– Sistemas de proteção social, incluindo transferências de renda que atinjam famílias que trabalham em empregos não formais.

“A pandemia do COVID-19 está piorando ainda mais a crise global de cuidados na primeira infância”, afirmou a diretora-executiva do UNICEF. “As famílias precisam do apoio de seus governos e empregadores para enfrentar esta tempestade e proteger o aprendizado e o desenvolvimento de suas crianças”.

Webnário lembra importância do acesso à informação para garantir saúde de adolescentes na pandemia

Assis Gabriel Pastorini criou esat ilustração especialmente para o encontro “Tá no Rumo: Traçando Caminhos”, colocando foco na presença de mulheres negras na atividade. (Ilustração: Assis Gabriel Pastorini)

A segunda edição do webinário “Tá no Rumo: Traçando Caminhos” ocorreu na semana passada (9), tendo como foco o tema “Namoro na Pandemia”.

O evento realizado pelo projeto Prevenção e Redução da Gravidez Não Intencional na Adolescência nos Municípios do Oeste do Paraná, em parceria com o Fundo de População da Nações Unidas (UNFPA), teve a participação de adolescentes e profissionais da área da saúde e educação.

Os participantes discutiram as formas com as quais a pandemia e seus impactos socioeconômicos têm mudado a dinâmica de relacionamentos entre adolescentes.

Na ocasião, a orientadora social Edilaine Souza, que é estudante de Pedagogia, enfatizou a importância do acesso dos adolescentes à informação sobre saúde sexual e reprodutiva.

“Na minha experiência, quando estamos na adolescência alguns pais costumam sentar, explicar questões relacionadas às transformações que passamos. Mas a gente sabe que existe no contexto geral uma falta de informação e de acesso. E, quando falamos de prevenção, uma grande parte da população fica vulnerável”, ressaltou.

Outra participante do evento foi a ginecologista Giani Cezimbra, que trabalha há 15 anos com adolescentes e é mestre em Ciências Médicas com enfoque em saúde sexual e reprodutiva de adolescentes e violência sexual.

“Na adolescência, percebemos diferentes modelos de relacionamentos, pois essa fase é um momento de autoconhecimento e de conhecimento do outro. Isso se reflete nos relacionamentos variados que eles experimentam. Mas isso não pode acontecer durante a pandemia. A exposição é grande, seja em relacionamentos estáveis ou não, o ideal é que não se beije na boca nesse período, por exemplo, porque é a via de maior transmissão”, lembrou.

Foto: UNFPA

Esta é uma das preocupações do adolescente Assis Gabriel Pastorini, também presente no encontro. “Desde que começou a pandemia, eu não saí de casa para ver ninguém. Então, tem sido bem complicado.”

Para continuar se comunicando, o adolescente resolveu intensificar sua produção artística. Estudante e ilustrador, Gabriel criou uma obra especialmente para o encontro online, destacando a presença de mulheres negras. “A minha arte ainda é a maneira como posso estar presente em vários lugares”, afirmou.

A coordenadora local do projeto Prevenção e Redução da Gravidez Não Intencional na Adolescência nos Municípios do Oeste do Paraná, Cintia Cruz, lembrou que o racismo intensifica os efeitos negativos da pandemia sobre a população negra.

“A cada dez meninas que engravidam no Brasil, sete são negras. Quando a gente pensa o contexto do isolamento são várias as questões, dentre elas está o contexto da violência doméstica, onde as meninas negras são a grande maioria nesses números.”

Cintia Cruz lembrou que “o racismo implica uma série estereótipos sociais para invisibilizar corpos negros desde a infância”. “E a nossa tarefa é abordar esse racismo estrutural para que a gente aprenda enquanto pais, educadores e educadoras não reproduzir essas situações e mudar essa realidade.”

Para a adolescente Gyulia Alves Ferreira dos Santos, integrante do movimento negro, mestre de cerimônia, rapper (MC) e trancista, a pandemia está gerando vários sentimentos, como a ansiedade.

“Tenho tentado viver essa experiência com calma, porque a ansiedade não leva a lugar nenhum. E ficar dentro de casa tem sido muito difícil pra mim, parece que estou numa bolha, só que ao mesmo tempo eu respeito para poder cuidar da minha família”, disse.

“A solidão da mulher negra é muito real, ainda mais durante a pandemia. Nós temos um histórico de falta de acesso para lapidar um pensamento de autocuidado.”

A mediação do webinário foi feita por Anna Cunha, oficial de saúde reprodutiva e direitos do UNFPA.