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ONU e parceiros lançam apelo de US$565 milhões para Líbano

Apoiadores da comunidade limpam entulhos provocados pela explosão catastrófica na área de Gemmayze, em Beirute, no Líbano. Foto: UNICEF
Apoiadores da comunidade limpam entulhos provocados pela explosão catastrófica na área de Gemmayze, em Beirute, no Líbano. Foto: UNICEF

ONU e parceiros estão buscando 565 milhões de dólares para atender às necessidades do Líbano após as explosões mortais que arrasaram grandes áreas da capital, Beirute, há quase duas semanas.

O apelo lançado na sexta-feira (14) ajudará o povo libanês a passar do socorro imediato para a reconstrução e recuperação, incluindo o reparo da economia despedaçada a longo prazo.

“A escala das perdas com as explosões de Beirute é tão vasta que é provável que cada pessoa no Líbano tenha sido de alguma forma atingida por este terrível evento”, disse Najat Rochdi, o vice-coordenador especial da ONU para o país, que também é coordenador-residente e humanitário.

Quase 180 pessoas morreram e mais de 6 mil ficaram feridas nas explosões, que destruíram a maior parte do porto de Beirute e bairros vizinhos. Milhares estão desabrigados.

As explosões danificaram seis hospitais, 20 clínicas de saúde e 120 escolas, de acordo com o escritório de assuntos humanitários da ONU, o OCHA.

Agravando crises já existentes

A catástrofe estagnou enquanto o Líbano enfrenta várias crises, incluindo contração econômica, aumento da pobreza e a pandemia de COVID-19. Tanto os cidadãos quanto a grande população de refugiados do país, principalmente sírios e palestinos, foram afetados.

A transmissão da COVID-19 está sobrecarregando o sistema de saúde, com a Organização Mundial da Saúde (OMS) registrando mais de 7,7 mil casos no país até sexta-feira. Metade de todas as infecções até o momento foi diagnosticada nas últimas duas semanas, de acordo com o OCHA.

O apelo de 565 milhões de dólares visa quatro áreas: segurança alimentar, saúde, abrigo e educação.

Os planos imediatos incluem o fornecimento de refeições quentes e rações alimentares, bem como a entrega de grãos.

A resposta à saúde se concentrará na reabilitação de instalações danificadas e no fornecimento de kits para traumas e medicamentos essenciais.

Famílias forçadas a deixar suas casas receberão dinheiro para custear abrigo, e o financiamento também irá para o conserto das áreas comuns dos edifícios e instalações afetadas pela explosão.

A resposta educacional incluirá a reforma de escolas e o fornecimento de apoio psicossocial, entre outras medidas.

OIT cria empregos decentes para apoiar as operações de limpeza após explosões em Beirute

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) mobilizou recursos para dar uma resposta rápida à explosão que devastou partes da capital libanesa.

Mais de 100 empregos decentes de curto prazo para ajudar na remoção de escombros e destroços das ruas foram criados para cidadãos libaneses e refugiados sírios, no âmbito do Programa de Infraestrutura Intensiva em Emprego da OIT (EIIP) , financiado pela Alemanha por meio do Banco de Desenvolvimento Alemão (KfW).

Cerca de 60 trabalhadores participam das operações de limpeza em uma das áreas mais afetadas da capital libanesa. Omar Saidoun, de nacionalidade libanesa, é um deles:

“O apoio mais importante é o financeiro. Eu precisava muito desse apoio, pois não tinha qualquer trabalho antes. Além do trabalho remunerado, o trabalho em equipe que vivemos é fundamental ”, disse ele.

A equipe da EIIP está trabalhando em estreita colaboração com a Prefeitura de Beirute para garantir que o apoio chegue às áreas que foram duramente atingidas pela explosão. Está em coordenação com grupos de trabalho da agência da ONU, liderados pelo Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), com o objetivo de garantir que os esforços para criar uma Beirute mais segura sejam coerentes e apoiem todas as pessoas afetadas pela explosão.

“Em poucos dias, conseguimos realocar trabalhadores libaneses e sírios empregados no programa, para ajudar na resposta imediata às necessidades em Beirute, e esperamos aumentar este esforço nas próximas semanas ”, disse o Diretor Regional Adjunto da OIT para os Estados Árabes, Frank Hagemann.

“A OIT não é uma agência humanitária, mas há muitos anos trabalhamos na área de resiliência, no context de emergência e desenvolvimento. Desde o início da guerra na vizinha Síria, temos trabalhado com refugiados sírios e comunidades anfitriãs vulneráveis, e esse esforço continuará no futuro ”, acrescentou.

Curso de capacitação profissional da OIT recebe chefs Neide Rigo e Fernanda Cunha

O projeto Cozinha&Voz Web recebeu no início de agosto as chefs Neide Rigo e Fernanda Cunha para duas semanas de aulas especiais com os(as) 100 alunos(as) do curso profissionalizante de assistente de cozinha.

Em tempos de pandemia de COVID-19, o Cozinha&Voz Web busca manter a capacitação profissional de pessoas em situação de vulnerabilidade e exclusão socioeconômica com aulas a distância, que reúnem homens e mulheres transexuais de Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás, Rondônia, Espírito Santo e Distrito Federal.

Na primeira semana, as aulas foram com a chef Fernanda Cunha, que desde 2017 participa do Cozinha&Voz na modalidade presencial. Ela ensinou receitas fáceis de fazer e de vender, como tortilha, fritada de batata e cebola e cuscuz de abóbora e sardinha.

“O conhecimento online é mais tranquilo de se passar porque não há possibilidade de dispersão de atenção. Vi muitos(as) alunos(as) participando com bastante interesse”, disse Fernanda.

Já na segunda semana, a sala virtual ficou sob o comando da nutricionista, colunista e chef Neide Rigo, que ensinou a fazer pão com fermentação natural. Esse método antigo e mais tradicional de fazer pães pode ser aplicado a várias receitas, tornando o pão um alimento mais saudável e um produto diferenciado e procurado no mercado.

“Eu fiquei muito feliz em dar aula para uma sala cheia, com muita gente fazendo o pão junto- desde a preparação do levain, um fermento natural, até a produção de diferentes receitas de pão. Eu fiquei emocionada”, disse ela.

A produção de pães com fermentação natural, produtos frescos e selecionados, os chamados pães artesanais, há algum tempo ganhou o gosto dos consumidores e criou mais uma oportunidade de negócio para a venda de pães caseiros.

A aluna de Rondônia Karen Oliveira, mulher trans de 51 anos, tem produzido diferentes tipos de pão para vender e reforçar a renda familiar durante a pandemia. Com as aulas, ela pensa em ampliar a oferta de produtos.

“Agora, com essa aula de fermentação natural, vou ter mais um tipo de produto para fazer”, disse ela.

Iury Ferreira Ferraz, homem trans de 34 anos e aluno de Brasília, disse ter descoberto uma nova alternativa de trabalho decente. Intérprete de libras, ele ficou sem ter como trabalhar por causa da pandemia.

“Eu aprendi algo que nunca fiz na vida: pão. A cozinha pode ser uma opção para eu me reinventar profissionalmente”, disse ele.

Da sala de aula para a sala de casa

O Cozinha&Voz faz parte de uma ampla iniciativa de promoção do trabalho decente para pessoas em situação de vulnerabilidade, desenvolvida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) e pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), com apoio da chef Paola Carosella, da nutricionista Neide Rigo, e da Casa Poema.

Criado na forma de aulas presenciais em 2017, o projeto promove a capacitação profissional por meio de um curso de assistente de cozinha, visando aumentar a empregabilidade de pessoas em situação de exclusão e vulnerabilidade socioeconômica.

Em cada local e com cada grupo são realizadas atividades e cursos específicos, como rodas de conversa sobre legislação, saúde, retificação de documentos, direitos trabalhistas, elaboração de currículos, dança, arte, música, fotografia, entre outros. Os cursos contam com o apoio de organizações de empregadores, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Para assegurar a capacitação contínua e treinamentos essenciais em tempos de COVID-19, a OIT e o MPT, realizadores do Cozinha&Voz, adotaram um plano de contingência para assegurar a profissionalização das(os) alunas(os), com um método inédito de aulas online ministradas por meio de ferramenta de videoconferência, conversas virtuais e outras alternativas de conexão. Assim foi criado o Cozinha&Voz Web .

Criada em abril, a primeira turma online serviu como base para a criação da segunda turma, lançada em julho. Ao todo, os(as) 100 alunos(as) participam de aulas diárias a distância, por um período de três meses.

São aulas de música, dança, poesia, palestras com especialistas, curso de empreendedorismo em parceria com o SEBRAE. Cada participante recebe também uma bolsa de auxílio mensal no valor de 500 reais durante todo o curso, com a contrapartida de participar dos cursos e permanecer em isolamento.

Desde o lançamento, foram capacitadas mais de 314 pessoas como assistentes de cozinha em diversas cidades do país, sendo que 70% delas estão empregadas em empresas ou montaram o próprio negócio no setor de gastronomia.

OMS pede solidariedade no financiamento, garantindo igualdade de acesso à futura vacina COVID-19

Menino realiza exame de saúde em meio a casos de COVID-19 na cidade de Muntinlupa, nas Filipinas. Foto: OIT/Minette Rimando
Menino realiza exame de saúde em meio a casos de COVID-19 na cidade de Muntinlupa, nas Filipinas. Foto: OIT/Minette Rimando

A Organização Mundial da Saúde (OMS) disse na quinta-feira (13) que seis meses depois de soar o alarme internacional sobre a COVID-19, a agência da ONU está agora intensamente focada nos testes necessários para as pesquisas de vacinas e em garantir acesso rápido, justo e equitativo a para todos os países.

Com os efeitos em cadeia afetando a vida das pessoas, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse durante coletiva de imprensa em Genebra que, para seguir em frente, “a melhor aposta é fazermos isso juntos”.

O Acelerador de Acesso às Ferramentas COVID-19 (ACT), lançado em abril, mostrou resultados, disse Tedros, com nove vacinas candidatas no portfólio do mecanismo COVAX, projetado para garantir o acesso rápido, justo e equitativo às vacinas contra COVID-19 em todo o mundo, agora avançando pelos testes de Fase 2 ou 3.

O portfólio, o mais amplo do mundo, está em expansão, acrescentou. Países que representam 70% da população global se registraram ou expressaram interesse em fazer parte da iniciativa.

Em termos de tratamento, ele disse que a primeira terapia comprovada para COVID-19 grave, a dexametasona, foi anunciada em junho e agora está ganhando escala. Mais de 50 testes estão em avaliação e novas evidências foram geradas em torno dos testes de detecção rápida de antígenos que podem estar “mudando o jogo”.

FMI: pandemia custará US$12 trilhões em dois anos

Salientando que o Acelerador ACT é a única estrutura global para garantir a alocação justa e equitativa das ferramentas COVID-19, ele disse que, para ter sucesso, esta deve ser adequadamente financiada.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que a pandemia esteja custando 375 bilhões de dólares por mês e prevê uma perda cumulativa de 12 trilhões de dólares para a economia global em dois anos.

Só o G-20, grupo de economias mais ricas, mobilizou mais de 10 trilhões de dólares em estímulos fiscais para tratar e mitigar as consequências da pandemia – três vezes e meia o que o mundo liberou para enfrentar a crise financeira global de 2008.

Por outro lado, o financiamento do Acelerador ACT custará uma “pequena fração” em comparação com a alternativa, que é as economias retraírem ainda mais e exigirem pacotes de estímulo fiscal contínuos, disse Tedros.

Antes de gastar mais 10 trilhões de dólares nas consequências da próxima onda, ele disse que o mundo precisará gastar pelo menos 100 bilhões de dólares em novas ferramentas, especialmente quaisquer novas vacinas que sejam desenvolvidas.

A necessidade mais imediata é de 31,3 bilhões de dólares para o Acelerador ACT — a única iniciativa ativa que reúne todas as pesquisas globais, fabricação, estipulações regulatórias, compras e aquisições necessárias para acabar com a pandemia.

Divulgue o risco, compartilhe a recompensa

“Escolher vencedores individuais é uma aposta arriscada e cara”, disse ele. “O Acelerador ACT permite que os governos distribuam o risco e compartilhem a recompensa.”

Para ser seguro, o desenvolvimento de vacinas é longo, complexo, arriscado e caro, disse Tedros, observando que a grande maioria falha nos estágios iniciais.

O mundo precisa de múltiplas vacinas candidatas para maximizar as chances de encontrar uma vencedora que funcione.

‘Nacionalismo vacinal’

O excesso de demanda e a competição pelo fornecimento já estão acelerando o “nacionalismo da vacina” e o risco de aferição de preços, disse ele: o tipo de falha de mercado que somente a solidariedade global, o investimento público e o engajamento podem resolver.

A lacuna de financiamento do Acelerador ACT não pode ser coberta apenas pela ajuda tradicional ao desenvolvimento, disse ele. A melhor solução é uma combinação de ajuda ao desenvolvimento e financiamento de pacotes de estímulo. É a maneira mais rápida de acabar com a pandemia e garantir uma rápida recuperação global.

Os investimentos em estímulos e a implementação coordenada de novas vacinas, testes e tratamentos terão um grande efeito multiplicador nas economias globais. “Há esperança”, disse ele. “Se todos nós implantarmos as ferramentas à nossa disposição hoje e investirmos coletivamente em novas (vacinas) por meio do Acelerador, teremos uma rota para sair desta pandemia.”

Prêmio Vladimir Herzog contempla diversidade racial e de gênero na escolha dos homenageados

Foto: Instituto Vladimir Herzog.

A comissão organizadora do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos – a mais tradicional honraria de jornalismo do país – definiu na semana passada (7) os homenageados de sua 42ª edição. A cartunista Laerte, o advogado Luiz Gama (in memoriam) e a filósofa Sueli Carneiro foram os escolhidos de forma unânime pelo colegiado composto por 14 entidades ligadas à defesa dos direitos humanos. Veja aqui mais informações sobre o prêmio, inclusive a lista de entidades na íntegra.

Desde 2009, a comissão organizadora do concurso entrega o Prêmio Especial Vladimir Herzog a personalidades pelos seus relevantes serviços prestados à sociedade, pelas contribuições à imprensa e ao jornalismo em geral e pela atuação em defesa da democracia, da paz e da justiça. Ao longo desses anos, já foram homenageados nomes como Dom Paulo Evaristo Arns, Audálio Dantas, Alberto Dines, entre outros. No ano passado, os escolhidos foram Glenn Greenwald, Patrícia Campos Mello e Hermínio Sacchetta (in memoriam).

Laerte
Cartunista, ilustradora, roteirista e jornalista, Laerte Coutinho é uma das mais importantes artistas do traço do Brasil. Criadora de personagens emblemáticos como os Piratas do Tietê, Hugo Baracchini, Deus e Overman, Laerte se notabilizou por explorar temas relevantes da existência humana com um humor ao mesmo tempo refinado e mordaz. Junto de outros artistas de sua geração, como Angeli e Glauco, inaugurou um novo estilo na produção de quadrinhos, tornando-se um marco para o cartunismo brasileiro.

Foi uma das fundadoras da Oboré, empresa de jornalistas e artistas criada em 1978 para colaborar com movimentos sociais e trabalhadores urbanos na montagem de seus departamentos de imprensa e na produção de veículos jornalísticos e de comunicação.

Laerte atuou como roteirista em diversos programas de televisão e participou de diversas publicações como a “Balão” e “O Pasquim”. Também colaborou com as revistas “Veja”, “Piauí” e “IstoÉ”, além do jornal “O Estado de S. Paulo”. Desde 2014, publica charges na “Folha de S. Paulo” e atualmente milita no movimento LGBT. Em 2020, completa 50 anos de carreira.

Luiz Gama
Jornalista, poeta, advogado e um ativista incansável na luta contra o regime escravocrata, Luiz Gama deveria estar entre as figuras mais conhecidas da história brasileira, como um dos maiores – senão o maior – símbolo dessa época.

Filho de Luiza Mahin, uma negra africana livre, com um fidalgo de origem portuguesa de uma das principais famílias baianas, cujo nome se desconhece, Luiz Gama, com apenas dez anos de idade foi vendido como escravo por seu pai. No cativeiro, aprendeu a ler e escrever e reconquistou a sua liberdade após provar que havia nascido livre. Daí em diante, sua paixão pelas letras e seu espírito aguerrido não pararam de crescer.

Ativista da causa republicana e abolicionista, colaborou com diversos jornais denunciando violações das leis e erros cometidos por juízes e advogados contra negros e escravos. Não era diplomado, mas possuía uma provisão – documento que autorizava a prática do Direito – dada pelo Poder Judiciário do Império e foi um advogado autodidata com grande cultura jurídica e responsável pela libertação de dezenas de escravos.

Em 2015, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) concedeu o título de advogado a Luiz Gama, reconhecendo sua importância como jurista. Em 2018, recebeu o título de “Patrono da Abolição da Escravidão no Brasil” e teve finalmente seu nome inscrito no livro dos heróis da pátria.

Sueli Carneiro
Filósofa, educadora e escritora, Sueli Carneiro é porta-voz de uma geração e uma das maiores referências do país nos estudos sobre raça e gênero. Seu pensamento nos ensina como a vivência da mulher negra brasileira e o feminismo antirracista são fundamentais para as lutas pela democracia e pelos direitos humanos no Brasil.

Sua contribuição para o jornalismo e para a comunicação vai além. Foi colunista do “Correio Braziliense” por quase uma década e, neste período, fez com que redações de todo o país passassem a abordar as temáticas raciais e feministas de uma forma mais humanizada, plural e libertária.

Como se não bastasse, é a fundadora do Geledés – Instituto da Mulher Negra, organização que, desde 1988, se dedica à defesa dos direitos humanos sob a perspectiva racial e de gênero e se tornou uma referência nos conteúdos – inclusive jornalísticos – sobre o tema.

A cerimônia de entrega dos troféus do 42º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos acontece no dia 25 de outubro e, neste ano, será feita de forma virtual. Para saber mais, acesse: www.premiovladimirherzog.org.br.

Pandemia interrompe educação de mais de 70% dos jovens no mundo

Pandemia interrompe a educação de mais de 70% dos jovens e pode prejudicar o potencial produtivo de uma geração inteira, aponta relatório da OIT. Foto: Pexels por Pixabay

A crise da COVID-19 está causando um efeito devastador sobre a educação e a formação de jovens. Desde o início da pandemia, mais de 70% dos(as) jovens que estudam ou combinam os estudos com o trabalho foram adversamente afetados(as) pelo fechamento de escolas, universidades e centros de treinamento, de acordo com um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Segundo os resultados do relatório “Juventude e COVID-19: impactos sobre empregos, educação, direitos e bem-estar mental” (em inglês), 65% dos jovens relataram que sua atividade educacional foi adversamente afetada desde o início da pandemia, como consequência do período de transição do ensino presencial em sala de aula para o ensino online ou a distância durante a fase de confinamento. Apesar de seus esforços para continuar os estudos e a capacitação, metade destes jovens acredita que a conclusão dos estudos será atrasada e 9% afirmam que poderão ter que abandonar os estudos de forma definitiva.

A situação é ainda mais grave para os jovens que vivem em países de baixa renda, onde há grandes lacunas no acesso à Internet e na disponibilidade de equipamentos e, às vezes, até de espaço em casa.

Isso destaca a enorme “divisão digital” entre as regiões. Enquanto 65% dos jovens em países de alta renda puderam assistir às aulas por meio de videoconferência, a proporção de jovens que puderam prosseguir seus estudos online em países de baixa renda foi de apenas 18%.

“A pandemia está infligindo vários choques aos jovens. Ela não só destrói seus empregos e suas perspectivas profissionais, mas também compromete sua educação e seu treinamento e tem repercussões graves sobre o seu bem-estar mental. Não podemos deixar que isso aconteça”, disse diretor-geral da OIT, Guy Ryder.

Preocupados com o futuro

De acordo com o relatório, 38% dos jovens não têm certeza sobre suas perspectivas de carreira, e espera-se que a crise crie mais obstáculos no mercado de trabalho e estenda o período de transição entre o fim dos estudos e o momento em que os jovens ingressam no primeiro emprego.

Alguns jovens já foram afetados, visto que um em cada seis teve que parar de trabalhar desde o início da pandemia. Os trabalhadores mais jovens geralmente têm empregos em setores fortemente afetados pela pandemia, como aqueles nas áreas de atendimento ao cliente, prestação de serviços e vendas, e, portanto, são mais vulneráveis aos efeitos econômicos da pandemia. Nesse contexto, 42% dos jovens que mantiveram seus empregos tiveram sua renda reduzida.

Isso afetou seu bem-estar mental. A pesquisa revelou que 50% dos jovens podem ser propensos a sofrer de ansiedade ou depressão, enquanto outros 17% provavelmente estão sofrendo de ansiedade ou depressão.

É preciso escutar a voz dos jovens

Apesar da complexa situação atual, os jovens estão usando seu vigor para se mobilizar e fazer sua voz ser ouvida na luta contra a crise. De acordo com a pesquisa, um em cada quatro jovens fez algum tipo de trabalho voluntário durante a pandemia.

É essencial ouvir a voz dos jovens para dar uma resposta mais inclusiva à crise da COVID-19. Segundo o relatório, a participação dos jovens na tomada de decisões de acordo com as suas necessidades e seus projetos aumenta a eficácia das políticas e programas e lhes dá a oportunidade de contribuir para a implementação.

O relatório também defende a adoção urgente de medidas políticas específicas em grande escala para evitar que a crise prejudique, a longo prazo, o futuro profissional de toda uma geração de jovens.

Dentre essas medidas, vale destacar a reinserção no mercado de trabalho de jovens que perderam o emprego ou tiveram que reduzir o número de horas de trabalho, bem como o acesso de jovens ao seguro-desemprego e a programas que lhes permitam melhorar o bem-estar mental, como apoio psicossocial ou realização de atividades esportivas.

O relatório “Juventude e COVID-19: impactos sobre empregos, educação, direitos e bem-estar mental” é uma publicação conjunta da OIT, AIESEC, Fundo Fiduciário de Emergência da União Europeia para a África, o Fórum Europeu da Juventude, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e o Grupo Principal das Nações Unidas para Crianças e Jovens.