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Crianças e jovens brasileiros são vítimas invisíveis das desigualdades no acesso a saneamento

Meninas lavam as mãos em Roraima. Foto: UNICEF/Yareidy Rivas
Meninas lavam as mãos em Roraima. Foto: UNICEF/Yareidy Rivas

Imagine que você está em uma escola e quer aproveitar o intervalo para ir ao banheiro. Nesse momento, em vez de um toalete com descarga e uma pia, você encontra um banheiro seco, sem descarga (ou um buraco no chão), e nenhum lugar para lavar as mãos. E tampouco há álcool gel disponível. Como você se sentiria?

Em todo o Brasil, 39% das escolas não têm infraestrutura para lavagem das mãos, segundo o Programa Conjunto de Monitoramento para Saneamento e Higiene (JMP) da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

Um novo estudo de UNICEF, Banco Mundial e Instituto Internacional de Águas de Estocolmo (SIWI) mostra que crianças e adolescentes estão entre as vítimas invisíveis da falta de investimentos em saneamento no país. Para os estudantes de escolas públicas, a situação é mais alarmante, já que as instituições privadas contam com mais do dobro da cobertura desses serviços.

E, no Norte do país, as disparidades são ainda maiores. Apenas 19% das escolas públicas do Amazonas têm acesso ao abastecimento de água, ao passo que a média nacional é de 68%. Em relação ao esgotamento sanitário, a situação é crítica: no Acre, por exemplo, apenas 9% das escolas públicas têm acesso à rede pública de esgoto; em Rondônia, 6%; no Amapá, só 5%.

Também no grupo dos principais prejudicados pela falta de saneamento estão os povos indígenas, bem como os moradores das favelas — onde as mulheres são maioria — e das zonas rurais. Para eles, é difícil seguir uma das recomendações mais básicas contra a propagação da COVID-19 e outras doenças: lavar bem as mãos com água e sabão.

Casa sem banheiro

Dados do JMP indicam que 15 milhões de brasileiros moradores de áreas urbanas não têm acesso a água segura: potável, protegida de contaminação externa e disponível em casa. Em áreas rurais, 25 milhões gozam apenas de acesso básico à água de fontes seguras, mas longe de suas residências.

É assim, por exemplo, na comunidade quilombola de Conceição, em Bequimão (Maranhão), onde vive Aldenice Melo, 16 anos. “A água do poço que abastece a comunidade não é das melhores. É salobra. Para beber, os moradores têm que buscar água em um povoado vizinho”, ela conta.

Quando se trata de esgoto, mais de 100 milhões de brasileiros não têm acesso a instalações sanitárias adequadas, não compartilhadas com outras moradias, com esgoto coletado e tratado de forma segura. Desse total, 2,3 milhões ainda defecam a céu aberto.

“Onde eu moro, nem todas as casas têm banheiro, só uma minoria. Por não haver esgotamento sanitário, costuma-se usar as fossas, que contaminam o solo”, relata Isabele Silva, 17 anos, de Itaberaba (BA).

“É muito complicado viver com esgoto na sua porta e sem uma gota de água na sua bica”, completa Thais Matozo, de 20 anos, moradora da comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro (RJ).

Provedores sem recursos

Segundo o novo estudo do UNICEF, Banco Mundial e SIWI, a pandemia de COVID-19 exacerbou todas as desigualdades brasileiras no acesso a água e esgoto, e deixou ainda mais sufocado um setor que já registrava déficit nos investimentos.

O Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab) estima que o Brasil precisaria de investimentos de cerca de R$ 26 bilhões ao ano (cerca de 0,4% do PIB) nos próximos 13 anos para elevar a 99% o acesso ao abastecimento de água e a 92% a cobertura de rede de esgotos até 2033. Nas últimas duas décadas, no entanto, o país investiu apenas R$ 12 bilhões por ano, menos da metade do necessário. Além disso, o investimento é desigual e se concentra principalmente nas regiões Sudeste e Sul.

O documento também mapeia algumas ações do setor em resposta à crise causada pelo COVID-19. Por exemplo, a maioria das companhias de água deixou de cortar os serviços para clientes que não consigam pagar a conta e não cobrou o pagamento de contas de famílias pobres, enquanto outras uniram forças com os municípios para manter os espaços públicos desinfetados. Em algumas áreas metropolitanas, as companhias ajudaram a construir lavatórios públicos.

“E, na região Norte, estão colaborando com organizações humanitárias (por exemplo, ONU e ONGs) para oferecer estruturas de higienização em abrigos para migrantes e refugiados, assentamentos espontâneos e espaços públicos. Vários desses lavatórios são abastecidos com caminhões-pipa de forma a garantir um volume suficiente de água potável”, descreve o estudo.

Seria necessário fazer muito mais, mas a pandemia levou a uma queda nas receitas desses fornecedores, já que há menos gente pagando a conta e um rápido aumento das responsabilidades. “Alguns dados indicam reduções de até 70% nas receitas dessas empresas nas primeiras semanas da pandemia, o que indica que o ônus econômico de seus passivos financeiros pode atingir níveis insustentáveis”, diz o relatório. Com isso, as companhias podem enfrentar mais dificuldades em manter os padrões dos serviços prestados à população.

Para assegurar que os serviços de saneamento continuem a chegar aos mais vulneráveis, o estudo faz uma série de recomendações. Uma das principais é a criação de pacotes de assistência financeira para os provedores de serviços de água e esgoto implementarem planos de contingência e recuperação, com base em metas de desempenho claras.

A nota técnica do UNICEF, Banco Mundial e SIWI também recomenda uma maior cooperação entre os setores de saneamento, saúde e educação do governo. Finalmente, aconselha a coleta de dados confiáveis para embasar a criação de melhores políticas públicas, em especial levando em conta os aprendizados obtidos com a pandemia.

OMS pede aumento maciço nos investimentos em saúde mental

Países gastam apenas 2% de seus orçamentos de saúde em saúde mental. Foto: Monkey Business Images/Shutterstock.com

A saúde mental é uma das áreas mais negligenciadas da saúde pública. Quase 1 bilhão de pessoas vivem com transtorno mental, 3 milhões de pessoas morrem todos os anos devido ao uso nocivo do álcool e uma pessoa morre a cada 40 segundos por suicídio. E agora, bilhões de pessoas em todo o mundo foram afetadas pela pandemia da COVID-19, que está causando um impacto adicional na saúde mental das pessoas.

No entanto, relativamente poucas pessoas em todo o mundo têm acesso a serviços de saúde mental de qualidade. Em países de baixa e média renda, mais de 75% das pessoas com transtornos mentais, neurológicos e por uso de substâncias não recebem nenhum tratamento para sua condição. Além disso, o estigma, a discriminação, a legislação punitiva e as violações dos direitos humanos ainda são comuns.

O acesso já limitado a cuidados de saúde mental de qualidade e acessíveis no mundo antes da pandemia, e particularmente em emergências humanitárias e cenários de conflito, foi ainda mais reduzido em razão da COVID-19, visto que a pandemia interrompeu serviços de saúde em todo o mundo.

As causas primárias foram infecção e o risco de infecção em instituições de longa permanência, como lares de idosos e instituições psiquiátricas; barreiras para encontrar pessoas cara a cara; equipe de saúde mental infectada com o vírus; e o fechamento de estabelecimentos de saúde mental para convertê-los em estabelecimentos de cuidados para pessoas com COVID-19.

Realocar para a saúde mental: vamos investir

É por isso que, para o Dia Mundial da Saúde Mental deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS), juntamente com organizações parceiras, United for Global Mental Health e a Federação Mundial para a Saúde Mental, está pedindo um aumento maciço nos investimentos em saúde mental.

Para incentivar a ação pública em todo o mundo, a campanha do Dia Mundial da Saúde Mental de 2020, Move for mental health: let’s invest, será lançada em setembro.

“O Dia Mundial da Saúde Mental é uma oportunidade para o mundo se unir e começar a reparar a negligência histórica em relação à saúde mental”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “Já estamos vendo as consequências da pandemia da COVID-19 no bem-estar mental das pessoas e isso é apenas o começo. A menos que assumamos compromissos sérios para aumentar o investimento em saúde mental agora, as consequências para a saúde, sociais e econômicas serão de longo alcance”.

Durante os últimos meses, a OMS emitiu, em colaboração com parceiros, orientação e aconselhamento sobre saúde mental para profissionais de saúde e outros trabalhadores da linha de frente, gestores de estabelecimentos de saúde e pessoas de todas as idades cujas vidas mudaram consideravelmente como resultado da pandemia.

Com a interrupção dos serviços de saúde, os países estão encontrando maneiras inovadoras de fornecer cuidados de saúde mental e surgiram iniciativas para fortalecer o apoio psicossocial. No entanto, devido à escala do problema, a maioria das necessidades de saúde mental permanece sem solução. A resposta é dificultada pelo subfinanciamento crônico em promoção, prevenção e atenção à saúde mental por muitos anos antes da COVID-19.

Países gastam apenas 2% de seus orçamentos de saúde em saúde mental

Os países gastam em média apenas 2% de seus orçamentos de saúde em saúde mental. Apesar de alguns aumentos nos últimos anos, a assistência internacional ao desenvolvimento para a saúde mental nunca excedeu 1% de toda a assistência ao desenvolvimento para a saúde. Isso apesar do fato de que para cada US$ 1 investido em tratamento intensivo para transtornos mentais comuns, como depressão e ansiedade, há um retorno de US$ 5 em melhoria da saúde e produtividade.

Dia Mundial da Saúde Mental: uma oportunidade de compromisso

A campanha do Dia Mundial da Saúde Mental oferecerá oportunidades, principalmente virtuais devido à contínua pandemia, para todos nós fazermos algo que afirme a vida: como indivíduos, tomar ações concretas em apoio a nossa própria saúde mental e apoiar amigos e familiares que estão lutando; como empregadores, tomar medidas para implementar programas de bem-estar dos funcionários; como governos, comprometer-se a estabelecer ou ampliar os serviços de saúde mental; e como jornalistas, para explicar o que mais pode e deve ser feito para tornar a assistência à saúde mental uma realidade para todos.

“Já se passaram quase 30 anos desde que o primeiro Dia Mundial da Saúde Mental foi lançado pela Federação Mundial de Saúde Mental”, afirmou a presidente da Federação Mundial de Saúde Mental, Ingrid Daniels. “Durante esse tempo, vimos uma abertura cada vez maior para falar sobre saúde mental em muitos países do mundo. Mas agora devemos transformar palavras em ações. Precisamos ver esforços concertados sendo feitos para construir sistemas de saúde mental que sejam apropriados e relevantes para o mundo de hoje – e de amanhã”.

“Com tantas pessoas sem acesso a serviços de saúde mental adequados e de boa qualidade, o investimento agora é mais necessário do que nunca”, disse a fundadora e CEO da United for Global Mental Health, Elisha London. “Todos, em todos os lugares, podem participar da campanha deste ano. Quer você tenha lutado com sua própria saúde mental, conheça alguém que foi afetado, seja um especialista em saúde mental ou se simplesmente acredita que investir em saúde mental é a coisa certa a fazer, mova-se em prol da saúde mental e ajude a melhorar os cuidados e suporte acessíveis a todos”.

Nova rodada do curso Integrando a Agenda 2030 e os ODS recebe inscrições

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – nossa visão compartilhada sobre como acabar com a pobreza, garantir um futuro saudável para o planeta e construir um mundo pacífico – estão ganhando impulso global. Com apenas 10 anos à frente, um ambicioso esforço global está em andamento para cumprir a promessa da #Agenda2030 – mobilizando mais governos, sociedade civil, empresas e convidando todas as pessoas a tomarem para si os #ObjetivosGlobais.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – nossa visão compartilhada sobre como acabar com a pobreza, garantir um futuro saudável para o planeta e construir um mundo pacífico – estão ganhando impulso global.
Com apenas 10 anos à frente, um ambicioso esforço global está em andamento para cumprir a promessa da #Agenda2030 – mobilizando mais governos, sociedade civil, empresas e convidando todas as pessoas a tomarem para si os #ObjetivosGlobais.

Representantes da sociedade civil organizada, do setor privado, do setor público, da academia e público em geral podem fazer suas inscrições para a terceira rodada do curso online “Integrando a Agenda 2030 e os ODS”.

Resultado de parceria entre a Petrobras e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a formação dá a oportunidade a alunas e alunos de aprofundar o conhecimento sobre o processo de adoção da Agenda 2030, a implementação dos 17 ODS e suas 169 metas e conhecer ferramentas que promovem a territorialização dos Objetivos Globais. As inscrições seguem até o próximo dia 6 de setembro.

Desde 2019, mais de 2 mil pessoas, das cinco regiões do Brasil, já participaram das atividades. A inscrição e a participação no curso são gratuitas. No “Módulo 1”, os alunos são apresentados aos principais conceitos sobre desenvolvimento sustentável, ao processo internacional que levou à adoção da Agenda 2030 e aos principais desafios para o cumprimento dos 17 ODS.

Na segunda etapa, são abordados conteúdos e ações sobre o planejamento local para a implementação das metas da Agenda 2030, com exemplos práticos no Brasil. No “Módulo 3”, os mecanismos e práticas internacionais, nacionais e locais são abordados como forma de promover o conhecimento sobre o monitoramento da Agenda 2030, com foco em dados e indicadores. No último módulo, os alunos terão informações sobre o processo de formação de parcerias para o alcance do desenvolvimento sustentável nos próximos anos.

Todo o conteúdo do curso é apresentado por meio de diferentes meios. Vídeos interativos, animações, gráficos e entrevistas fazem parte do material. É disponibilizado também conteúdo de apoio para os alunos: documentos oficiais, vídeos sobre a Agenda 2030 e indicação de leituras. Às alunas e alunos que completarem o curso, com duração de aproximadamente doze horas, serão emitidos certificados de participação.

Apresentando por colaboradores do PNUD que trabalham com a implementação da Agenda 2030 e a territorialização dos ODS, o curso também tem a participação de representantes de diferentes segmentos: setor privado, sociedade civil organizada e governos. Representantes do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações (MCTIC); do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA); da Escola Nacional de Administração Pública (ENAP); da Confederação Nacional dos Municípios (CNM); da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP); da Associação Brasileira de Municípios (ABM); do Movimento Nacional ODS; da Rede Brasil do Pacto Global e da Rede ODS Brasil, além de colaboradores do PNUD e da Petrobras, deram depoimentos sobre iniciativas e ações para a implementação da Agenda 2030 no país.

Link para inscrição: http://bit.ly/cursoagenda2030

Projeto financiado pela ONU beneficia produtores rurais do Semiárido brasileiro

Projeto D. Helder Câmara busca reduzir os níveis de pobreza e de desigualdades no Semiárido, promovendo a articulação de políticas públicas federais, estaduais e municipais. Foto: ANATER
Projeto D. Helder Câmara busca reduzir os níveis de pobreza e de desigualdades no Semiárido, promovendo a articulação de políticas públicas federais, estaduais e municipais. Foto: ANATER

O Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) das Nações Unidas realizou no início de agosto uma missão online de supervisão ao Projeto Dom Helder Câmara, cujo objetivo é reduzir os níveis de pobreza e de desigualdades no Semiárido.

A iniciativa promove a articulação de políticas públicas federais, estaduais e municipais, e qualifica os produtores para desenvolver uma produção sustentável, estimulando a replicação de boas práticas.

Normalmente, as visitas às famílias beneficiadas são realizadas in loco, mas, em razão da pandemia de COVID-19, este ano atividade foi feita de forma remota.

O projeto é executado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio de um acordo de empréstimo firmado entre o governo brasileiro e o FIDA, e passa por missões periódicas de monitoramento para avaliação dos resultados alcançados.

A série de encontros contou a participação de representantes do FIDA, da unidade gestora do projeto, da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater); do diretor do Departamento de Estruturação Produtiva da Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo (DEP/SAF/Mapa), José Paulo de Almeida, área responsável pela coordenação do projeto.

Também participaram representantes de empresas públicas e privadas que realizam as atividades de Ater nos estados de Alagoas e Maranhão, unidades da Federação selecionadas para essa missão.

O Instituto de Inovação para o Desenvolvimento Rural Sustentável de Alagoas (Emater-AL) e a Associação de Orientação às Cooperativas do Nordeste (Assocene) realizam as ações no estado de Alagoas. Já a Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e de Extensão Rural do Maranhão (Agerp) e a GR Assessoria e Planejamento de Projetos Agropecuários executam as ações no estado do Maranhão.

Também foram feitas reuniões com o presidente da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (Asbraer), Nivaldo Magalhães, e com representantes de Ministério da Cidadania, Universidade de Brasília (UnB), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Financiadora de Estudos e Projetos (Fndct/Finep) e Fundação Parque Tecnológico da Paraíba (PaqTcPB), instituições envolvidas em várias ações do projeto.

A assistência técnica e extensão rural (Ater) é o eixo central do projeto, com a qualificação dos sistemas produtivos locais, contribuindo com o compartilhamento de conhecimento, com a difusão de boas práticas, e otimizando as políticas públicas voltadas para a produção rural sustentável. Para a implementação do projeto, o Mapa possui importantes parcerias, entre elas com a Anater.

Durante os encontros, foram exibidos vídeos com depoimentos de produtores atendidos pelo projeto. A missão também contou com a participação remota de alguns beneficiários, que relataram os benefícios da iniciativa para suas famílias.

A agricultora Maria Benedita de Sousa, do município de Itapecuru-Mirim (MA), é uma das beneficiárias. Ela recebe assistência técnica e extensão rural da Agerp e por meio do projeto recebeu, no último ano, duas parcelas do fomento produtivo, viabilizado pelo Ministério da Cidadania, para implantar em sua propriedade a avicultura de corte.

Com orientação técnica, Benedita comprou aves e uma forrageira para auxiliar na produção da ração das aves. Atualmente, ela trabalha com dois tipos de aves e comercializa seus produtos no município.

“O projeto ajuda a aumentar a nossa renda e para a educação dos meus filhos. Com o que recebo da venda das aves, melhoramos a alimentação em casa e pude garantir a ida dos meus filhos à escola. Antigamente, quando o ônibus do município não vinha para levá-los, eles faltavam à aula. Agora, tenho dinheiro para colocar combustível na moto e garanto que eles não faltem. Pode parecer pouco, mas é de grande ajuda. Quero dar aos meus filhos a instrução que eu não tive”, ressalta.

Boas práticas

O agricultor Sérgio Oliveira, de 51 anos, do município Delmiro Gouveia, atendido pela Emater-AL, vive na propriedade com a mãe e um irmão. A família, que cria ovinos e caprinos, investiu o recurso do fomento produtivo na melhoria da estrutura para os animais e adquiriu novas ovelhas e cabras.

Por meio do Projeto Dom Helder Câmara, o agricultor recebeu orientações sobre manejo sanitário, calendário de vacinações, suporte forrageiro com plantio de palma e sorgo, e manejo nutricional, com balanceamento da ração, e produção de sal proteinado, para o período seco do ano.

Todas essas ações geraram maior desenvolvimento na gestão da atividade, mais produção e 20% de aumento de renda familiar. “Por meio do projeto pude plantar uma sementinha boa com as ovelhas. Foi um passo a mais na minha vida. Já vendi até uns carneirinhos, melhorando a renda da minha família”, contou Sérgio.

Lições apreendidas

A partir dos resultados aferidos, entre as recomendações da missão está a prorrogação do projeto, para que as ações de Ater possam ser concluídas, já que muitas delas tiveram que ser interrompidas devido à COVID-19.

Está previsto também o acréscimo de novas família atendidas, a partir do início dos trabalhos dos novos termos de execução descentralizada assinados com a Embrapa Caprinos, Codevasf e Fndct, antes da pandemia.

Para José Paulo, do DEP, a missão é oportunidade única para que se façam os ajustes necessários e sejam traçados novos objetivos. “Esta é sempre uma boa ocasião para trocarmos ideias com as instituições envolvidas no projeto.”

“O projeto possui um contexto social muito importante e está, inclusive, inserido do Agronordeste, plano de ação lançado pelo Mapa em 2019 para impulsionar o desenvolvimento econômico, social e sustentável do meio rural da região. Queremos levar inovação para esse público, que eles sejam difusores de boas práticas no campo”, ressaltou ele.

A gerente de Ater da Emater-AL, Graça Seixas, concordou com o diretor do Departamento de Estruturação Produtiva, ressaltando que o projeto está fazendo a diferença na vida das famílias beneficiadas, conforme os participantes puderam conferir nos vídeos e depoimentos apresentados.

No encerramento da missão, o oficial de programas do FIDA, Hardi Vieira, agradeceu o apoio da equipe da unidade gestora que preparou uma série de documentos para o encontro e destacou o papel da Ater para o projeto e o compromisso dos gestores do Mapa com a sua implantação.

Com informações da ANATER

COVID-19: Ao menos um terço das crianças em idade escolar não consegue acessar ensino a distância

Em abril de 2020, um menino assiste a aulas pela rádio, na aldeia de Morovine, no norte da Costa do Marfim. Foto: UNICEF
Em abril de 2020, um menino assiste a aulas pela rádio, na aldeia de Morovine, no norte da Costa do Marfim. Foto: UNICEF

Pelo menos um terço das crianças em idade escolar — 463 milhões em todo o mundo — não conseguiu acessar o ensino remoto quando a COVID-19 fechou suas escolas, de acordo com um novo relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) divulgado nesta quinta-feira (27), enquanto países em todo o mundo discutem seus planos para o retorno às salas de aulas.

“Para pelo menos 463 milhões de crianças cujas escolas fecharam devido à COVID-19, não existiu a aprendizagem remota”, disse Henrietta Fore, diretora-executiva do UNICEF. “O grande número de crianças cuja educação foi completamente interrompida por meses a fio é uma emergência educacional global. As repercussões poderão ser sentidas nas economias e sociedades nas próximas décadas.”

No auge dos bloqueios nacionais e locais, quase 1,5 bilhão de crianças em idade escolar foram afetadas pelo fechamento de escolas. O relatório Remote Learning Reachability (A acessibilidade do aprendizado remoto – disponível somente em inglês) descreve as limitações da aprendizagem remota e expõe as profundas desigualdades no acesso.

O relatório usa uma análise globalmente representativa sobre a disponibilidade de tecnologia doméstica e ferramentas necessárias para aprendizagem remota entre meninas e meninos da educação infantil, do ensino fundamental I e II e do ensino médio, com dados de 100 países. Os dados incluem acesso a televisão, rádio e Internet, e a disponibilidade de currículos fornecidos por essas plataformas durante o fechamento das escolas.

Embora os números no relatório apresentem um quadro preocupante sobre a falta de aprendizagem remota durante o fechamento das escolas, o UNICEF alerta que a situação é provavelmente muito pior. Mesmo quando as crianças têm a tecnologia e as ferramentas em casa, elas podem não ser capazes de aprender remotamente por meio dessas plataformas devido a outros fatores em casa, incluindo pressão para fazer tarefas domésticas, obrigação de trabalhar, um ambiente ruim para aprendizagem e falta de apoio para seguir o currículo online ou sua transmissão.

O relatório destaca desigualdades significativas entre as regiões. As crianças em idade escolar na África ao sul do Saara são as mais afetadas, onde metade de todos os estudantes não pode ser alcançada com o aprendizado remoto.

Região Porcentagem mínima de crianças em idade escolar sem acesso à educação a distância (%) Número mínimo de crianças em idade escolar sem acesso à educação a distância
África Oriental e Meridional

49%

67 milhões

África Ocidental e Central

48%

54 milhões

Leste da Ásia e Pacífico

20%

80 milhões

Oriente Médio e Norte da África

40%

37 milhões

Ásia Meridional

38%

147 milhões

Europa Oriental e Ásia Central

34%

25 milhões

América Latina e Caribe

9%

13 milhões

Global

31%

463 milhões

As crianças em idade escolar das famílias mais pobres e as que vivem em áreas rurais são, de longe, as que têm maior probabilidade de ficar para trás durante o fechamento das escolas, afirma o relatório. Globalmente, 72% das crianças em idade escolar sem acesso à aprendizagem remota vivem nas famílias mais pobres de seus países. Em países de renda média alta, os estudantes das famílias mais pobres representam até 86% dos alunos e alunas que não têm acesso ao ensino a distância. Globalmente, três quartos dos estudantes sem acesso vivem em áreas rurais.

O relatório também observa taxas variáveis de acesso entre grupos de idade, com os estudantes mais jovens mais propensos a ficar para trás no aprendizado remoto durante seus anos mais críticos de aprendizagem e desenvolvimento:

  • Cerca de 70% das crianças em idade pré-escolar – 120 milhões de crianças – não têm acesso à educação remota, em grande parte devido aos desafios e limitações da aprendizagem online para crianças pequenas, falta de programas de aprendizagem remota para essa categoria de educação e falta de bens domésticos para aprendizagem remota.
  • Pelo menos 29% dos estudantes dos primeiros anos do ensino fundamental – 217 milhões de crianças – não têm acesso à educação a distância. E pelo menos cerca de 24% dos estudantes dos anos finais do ensino fundamental – 78 milhões – também não.
  • Os estudantes do ensino médio foram os menos propensos a perder a aprendizagem remota, com pelo menos cerca de 18% – 48 milhões de adolescentes – não tendo os recursos tecnológicos para acessar a aprendizagem remota.

O UNICEF exorta os governos a que deem prioridade à reabertura segura das escolas quando começarem a diminuir as restrições de bloqueio. Quando a reabertura não for possível, o UNICEF apela às autoridades para que incorporem a aprendizagem destinada a compensar as horas de ensino perdidas nos planos de continuidade e reabertura das escolas.

As políticas e práticas de abertura de escolas devem incluir a expansão do acesso à educação, incluindo aprendizagem a distância, especialmente para grupos mais vulneráveis. Os sistemas educacionais também devem ser adaptados e construídos para resistir a crises futuras.

Marco de ação e recomendações para a reabertura de escolas, emitido em conjunto pelo UNICEF, a Unesco, o Acnur, o PMA e o Banco Mundial, oferece conselhos práticos para as autoridades nacionais e locais. As diretrizes enfocam a reforma política; requisitos de financiamento; operações seguras; aprendizagem compensatória; bem-estar e proteção; e alcance das crianças mais vulneráveis.

Como parte de sua campanha Reimagine, que visa evitar que a pandemia de Covid-19 agrave uma crise duradoura para as crianças, especialmente as mais pobres e vulneráveis, o UNICEF está pedindo investimentos urgentes para eliminar a exclusão digital, alcançar todas as crianças com aprendizagem remota e, mais criticamente, priorizar a reabertura segura das escolas.

Notas para editores:

A análise usa os resultados do estudo conjunto da Unesco, do UNICEF e do Banco Mundial sobre as respostas nacionais em educação ao fechamento de escolas por causa da pandemia de Covid-19. O número de crianças potencialmente atingidas por meios de radiodifusão ou soluções de internet se baseia na disponibilidade de ativos relacionados (TV, rádio e internet) em casa, e não em seu uso real pelas crianças. Portanto, o número de crianças “potencialmente alcançadas” são estimativas superiores da realidade das crianças “efetivamente alcançadas”. Os números excluem crianças que receberam educação em papel devido à falta de dados confiáveis.

A análise não se concentra em crianças fora da escola. Para obter os dados mais recentes sobre crianças fora da escola, visite: https://www.unicef.org/sites/default/files/2019-12/SOWC-2019.pdf (disponível somente em inglês)

Download de conteúdo multimídia aqui.

Sobre a campanha Reimagine

Em resposta à pandemia de COVID-19, o UNICEF lançou a campanha Reimagine – um apelo urgente aos governos, ao público, aos doadores e ao setor privado para que apoiem os esforços do UNICEF para responder, recuperar e reimaginar um mundo atualmente sitiado pela Covid-19.

Juntos, podemos evitar que esta pandemia se transforme em uma crise duradoura para as crianças – especialmente as mais vulneráveis – e reimaginar um mundo mais justo para todas as crianças. Saiba mais sobre a campanha #Reimagine aqui: www.unicef.org/reimagine