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Relator da ONU denuncia falta de acesso ao soldado acusado de vazar informações ao WikiLeaks

Juan MéndezBradley Manning foi preso após ter sido acusado de passar informações secretas ao site WikiLeaks; segundo relator especial sobre tortura, governo americano não autorizou visita ao militar.

Mônica Villela Grayley, da Rádio ONU em Nova York.

O relator especial das Nações Unidas sobre Tortura, Juan E. Méndez, disse estar “frustrado” com a falta de acesso ao soldado americano, Bradley E. Manning. O militar está preso desde o ano passado, após ter sido acusado de passar informações secretas ao site de internet WikiLeaks.

Em comunicado, emitido em Genebra, Méndez disse que apesar de vários pedidos, o governo dos Estados Unidos não teria dado acesso sem monitoramento a Manning.

Confidencial

Parte do mandato do relator sobre tortura é obter acesso irrestrito a todos os lugares de detenção. Os encontros com ele são feitos de forma particular e confidencial e sem supervisão de qualquer natureza.

Méndez contou que começou a pedir uma visita ao soldado desde maio passado quando ele foi confinado a uma cela 23 horas por dia. O relator pediu às autoridades americanas que garantam a integridade física e mental do militar. Juan Méndez contou que após não receber nenhuma resposta do governo, ele decidiu contatar, diretamente, o quartel em Virgínia, onde Bradley Manning está preso, e foi informado de que o pedido seria encaminhado aos responsáveis.

Na sexta-feira passada, autoridades do Departamento da Defesa americano disseram que Bradley Manning poderia pedir para ver o relator caso desejasse uma “visita privada”, que segundo Méndez é um encontro com a presença de policiais.

O relator da ONU disse que os Estados Unidos “estão prevaricando” sobre o seu pedido de visita, uma prática, que segundo ele, já foi usada em pelo menos 18 países nos últimos seis anos.

Ouça aqui a matéria da Rádio ONU.

Chefe de direitos humanos da ONU expressa preocupação com “guerra cibernética” contra WikiLeaks

A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay. Foto: ONU/Jean-Marc Ferre.A chefe da ONU na área de direitos humanos expressou nesta quinta-feira (09/12) preocupação com a pressão sobre as empresas privadas, por meio de uma alegada “guerra cibernética”, para que cortem laços com o site de denúncias WikiLeaks, dizendo que isto poderia constituir uma tentativa de censura, em violação a pactos internacionais.

“Se WikiLeaks tiver cometido qualquer ato ilegal reconhecível, isso deve ser tratado através do sistema jurídico, e não através de pressões e intimidações, inclusive em relação a terceiros”, declarou a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, sobre a pressão a bancos, empresas de cartão de crédito e prestadores de serviços de Internet, que estariam sendo coagiados a interromper hospedagens e encerrar linhas de crédito de doação para o site. O WikiLeaks foi responsável pela publicação de milhares de documentos secretos dos Estados Unidos.

Segundo documentos, EUA sabiam sobre tortura

Em uma entrevista coletiva em Genebra, ela também expressou preocupação com algumas ações dos EUA no Iraque, reveladas nos documentos, que poderiam constituir graves violações dos direitos humanos. “Os arquivos indicam que os EUA sabiam, entre outras coisas, sobre a utilização generalizada de tortura e maus-tratos de detidos pelas forças iraquianas, e ainda assim continuaram com a transferência de milhares de pessoas que haviam sido detidas pelas forças dos EUA para a custódia iraquiana entre 2009 e 2010”, disse ela.

“Na minha opinião, este poderia constituir uma violação grave do direito internacional na área de direitos humanos”, acrescentou, saudando os esforços dos especialistas independentes da ONU para obter um esclarecimento por parte dos EUA, do Iraque e das autoridades afegãs sobre os relatórios de tortura e maus-tratos descritos nos documentos WikiLeaks. “Peço a todos os países que tomem as medidas necessárias para investigar as alegações feitas por estes relatórios e trazer à Justiça os responsáveis por violações dos direitos humanos”.

Navi Pillay disse que a guerra cibernética que agora é travada contra o WikiLeaks é “simplesmente impressionante… Deixe-me dizer que os casos WikiLeaks levantam complexas questões de direitos humanos, sobre o equilíbrio entre liberdade de informação, o direito de as pessoas saberem a verdade e a necessidade de proteger a segurança nacional ou a ordem pública. Esse equilíbrio é difícil”.

Equilíbrio entre direitos deve ser julgado pelo sistema judicial

O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos prevê o direito à liberdade de expressão, incluindo o direito de procurar, receber e transmitir informações e ideias de toda natureza, um direito que só pode ser restringido, quando necessário, proporcionalmente, sempre que previsto em lei e justificado estritamente a partir da necessidade de proteger a segurança nacional ou a ordem pública, destacou Navi Pillay.

“Então, quem melhor para julgar este equilíbrio, senão os tribunais de justiça”, disse ela. “Tribunais são equipados para lidar com a questão delicada do equilíbrio de direitos e valores concorrentes. Se o [fundador do WikiLeaks] Sr. [Julian] Assange cometeu qualquer crime reconhecido, então o sistema judicial, seguindo procedimentos justos, deve ser capaz de abordar como esses direitos podem ser equilibrados”.

Enquanto não está claro se os atos individuais da pressão exercida por entidades privadas diretamente violaram obrigações de direitos humanos dos Estados em garantir o respeito do direito à liberdade de expressão “tomados em seu conjunto, [essas ações] poderiam ser interpretadas como uma tentativa de censurar a publicação de informações, o que é potencialmente uma violação do direito do WikiLeaks à liberdade de expressão”, acrescentou.

“Eu diria que não há clareza, no momento, sobre a origem dos ataques cibernéticos e contra-ataques. Contudo, eles levantam preocupações sobre a proteção efetiva que os Estados em causa devem apresentar em relação ao direito do fundador do WikiLeaks de compartilhar livremente informações, conforme previsto no artigo 19.2 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos.”