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Chefe de direitos humanos da ONU expressa preocupação com “guerra cibernética” contra WikiLeaks

A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay. Foto: ONU/Jean-Marc Ferre.A chefe da ONU na área de direitos humanos expressou nesta quinta-feira (09/12) preocupação com a pressão sobre as empresas privadas, por meio de uma alegada “guerra cibernética”, para que cortem laços com o site de denúncias WikiLeaks, dizendo que isto poderia constituir uma tentativa de censura, em violação a pactos internacionais.

“Se WikiLeaks tiver cometido qualquer ato ilegal reconhecível, isso deve ser tratado através do sistema jurídico, e não através de pressões e intimidações, inclusive em relação a terceiros”, declarou a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, sobre a pressão a bancos, empresas de cartão de crédito e prestadores de serviços de Internet, que estariam sendo coagiados a interromper hospedagens e encerrar linhas de crédito de doação para o site. O WikiLeaks foi responsável pela publicação de milhares de documentos secretos dos Estados Unidos.

Segundo documentos, EUA sabiam sobre tortura

Em uma entrevista coletiva em Genebra, ela também expressou preocupação com algumas ações dos EUA no Iraque, reveladas nos documentos, que poderiam constituir graves violações dos direitos humanos. “Os arquivos indicam que os EUA sabiam, entre outras coisas, sobre a utilização generalizada de tortura e maus-tratos de detidos pelas forças iraquianas, e ainda assim continuaram com a transferência de milhares de pessoas que haviam sido detidas pelas forças dos EUA para a custódia iraquiana entre 2009 e 2010”, disse ela.

“Na minha opinião, este poderia constituir uma violação grave do direito internacional na área de direitos humanos”, acrescentou, saudando os esforços dos especialistas independentes da ONU para obter um esclarecimento por parte dos EUA, do Iraque e das autoridades afegãs sobre os relatórios de tortura e maus-tratos descritos nos documentos WikiLeaks. “Peço a todos os países que tomem as medidas necessárias para investigar as alegações feitas por estes relatórios e trazer à Justiça os responsáveis por violações dos direitos humanos”.

Navi Pillay disse que a guerra cibernética que agora é travada contra o WikiLeaks é “simplesmente impressionante… Deixe-me dizer que os casos WikiLeaks levantam complexas questões de direitos humanos, sobre o equilíbrio entre liberdade de informação, o direito de as pessoas saberem a verdade e a necessidade de proteger a segurança nacional ou a ordem pública. Esse equilíbrio é difícil”.

Equilíbrio entre direitos deve ser julgado pelo sistema judicial

O Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos prevê o direito à liberdade de expressão, incluindo o direito de procurar, receber e transmitir informações e ideias de toda natureza, um direito que só pode ser restringido, quando necessário, proporcionalmente, sempre que previsto em lei e justificado estritamente a partir da necessidade de proteger a segurança nacional ou a ordem pública, destacou Navi Pillay.

“Então, quem melhor para julgar este equilíbrio, senão os tribunais de justiça”, disse ela. “Tribunais são equipados para lidar com a questão delicada do equilíbrio de direitos e valores concorrentes. Se o [fundador do WikiLeaks] Sr. [Julian] Assange cometeu qualquer crime reconhecido, então o sistema judicial, seguindo procedimentos justos, deve ser capaz de abordar como esses direitos podem ser equilibrados”.

Enquanto não está claro se os atos individuais da pressão exercida por entidades privadas diretamente violaram obrigações de direitos humanos dos Estados em garantir o respeito do direito à liberdade de expressão “tomados em seu conjunto, [essas ações] poderiam ser interpretadas como uma tentativa de censurar a publicação de informações, o que é potencialmente uma violação do direito do WikiLeaks à liberdade de expressão”, acrescentou.

“Eu diria que não há clareza, no momento, sobre a origem dos ataques cibernéticos e contra-ataques. Contudo, eles levantam preocupações sobre a proteção efetiva que os Estados em causa devem apresentar em relação ao direito do fundador do WikiLeaks de compartilhar livremente informações, conforme previsto no artigo 19.2 do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos.”

Sobrevivente de tortura assume como especialista independente da ONU sobre tema

O Relator Especial Juan Méndez. Foto: ONU.Ele próprio um sobrevivente de tortura, o defensor dos direitos humanos argentino Juan Méndez assumiu como o novo Relator Especial sobre o uso da tortura e outros tratamentos ou punições cruéis, desumanos ou degradantes no mundo, prometendo ajudar as vítimas de tortura.

“Ao insistir na proibição absoluta da tortura e de tratamentos ou punições cruéis, desumanos ou degradantes no direito internacional, espero fazer uma contribuição eficaz para a aplicação e o desenvolvimento progressivo das normas internacionais neste domínio”, declarou Méndez, que substitui Manfred Nowak, da Áustria. Relatores Especiais se reportam ao Conselho de Direitos Humanos, em Genebra (Suíça), e trabalham sem remuneração e de forma independente.

Méndez dedicou sua longa carreira jurídica à defesa dos direitos humanos e tem um histórico distinto na advocacia. Uma vez que representou prisioneiros políticos, foi submetido a torturas durante uma detenção de 18 meses ao longo da ditadura militar argentina. Durante este tempo, a organização não-governamental (ONG) Anistia Internacional o adotou como um “Prisioneiro de Consciência”.

Méndez também atuou como o primeiro Consultor Especial da ONU sobre a prevenção do genocídio, com um mandato que pretendia coletar as informações existentes sobre as graves violações aos direitos humanos que poderiam levar a genocídios e trazer situações potenciais de genocídio à atenção do Conselho de Segurança. Ele serviu neste cargo de 2004 a 2007.

Todos os países devem proteger os direitos das dezenas de milhões de migrantes irregulares

Trabalhadores migrantes enviam dinheiro para suas famílias. Foto: ONU.Todos os países devem proteger os direitos humanos das dezenas de milhões de migrantes em todo o mundo que não têm estatuto legal próprio e estão, portanto, mais propensos a sofrerem abusos, detenções prolongadas e maus-tratos, estupro, escravidão, ou mesmo assassinato, um grupo apoiado pelas Nações Unidas alertou ontem (30/09).

“Muitas vezes, os Estados têm abordado a migração irregular unicamente sob a ótica da soberania, da segurança das fronteiras ou da aplicação das leis, às vezes hostis aos estrangeiros”, afirmou o Grupo Global de Migração (GMG) ao final de uma reunião em Genebra (Suíça), que constatou também que as crianças estão particularmente vulneráveis.

“Embora os Estados tenham interesse legítimo em garantir a segurança de fronteiras e exercer o controle da imigração, essas preocupações não podem, e, certamente, não em matéria de direito internacional, triunfar sobre as obrigações do Estado de respeitar os direitos garantidos internacionalmente a todas as pessoas, de protegê-las contra os abusos, e de fazer com que elas desfrutem de uma vida digna e segura”.

O GMG, composto por 12 agências da ONU, pelo Banco Mundial e pela Organização Internacional para as Migrações (IOM, na sigla em inglês), afirmou que todos, independentemente do status de sua migração, gozam dos direitos fundamentais à vida, liberdade e segurança, à liberdade contra a prisão ou detenção arbitrárias, refúgio contra perseguição e proteção contra a discriminação baseada em raça, sexo, língua, religião, origem nacional ou social, ou qualquer outra condição.

Cerimônia dos Tratados 2010

Cerimônia dos Tratados 2010

Em um esforço para promover o direito internacional e reforçar o Estado de Direito, a ONU organizará a 11ª Cerimônia dos Tratados, do dia 21 ao 23 e de 27 ao 28 de setembro de 2010. Durante o evento, os Estados-Membros serão convidados a assinar, ratificar ou aderir a tratados multilaterais nas áreas de direitos humanos, meio ambiente, terrorismo, crime organizado, desarmamento e muitas outras.

Na carta-convite que enviou aos Estados-Membros, o Secretário-Geral das Nações Unidas Ban Ki-moon afirmou que este ano a Cerimônia dos Tratados proporciona uma clara oportunidade para que os Estados demonstrem seu empenho contínuo em reforçar o papel crucial do Estado de Direito, em nível internacional e nacional.

Em particular, o evento deste ano destaca o tema da biodiversidade, “celebrando e conservando a vida na terra”, disse o Secretário-Geral. “Em 2010, comemora-se o Ano Internacional da Biodiversidade e também o início da Década das Nações Unidas para os Desertos e o Combate à Desertificação, outra questão mundial que exige uma resposta mundial”.

A Convenção sobre Diversidade Biológica – que conta com 193 Estados-Parte, o que significa que está perto de alcançar a ratificação universal – está focada na conservação e utilização sustentável da biodiversidade e na divisão justa e equitativa dos benefícios retirados da utilização de recursos genéticos. A Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação, com mais de 190 Estados-Parte, visa encontrar soluções para este problema ambiental crucial que afeta diretamente mais de 250 milhões de pessoas.

O evento também dá aos Estados-Membros uma oportunidade de realizar declarações em que reconheçam como obrigatória a jurisdição do Tribunal Penal Internacional (TPI), nos termos do Artigo 36º parágrafo 2º do Estatuto do Tribunal.

A Cerimônia abrangerá também convênios que incidem sobre os privilégios, a imunidades e a segurança do pessoal das Nações Unidas e o pessoal associado. Estes tratados têm uma importância crescente para que a Organização execute eficazmente seu mandato no mundo.

Os mais de 40 tratados aos quais será dado destaque este ano abrangem questões de direitos humanos (11), meio ambiente e alterações climáticas (12), terrorismo e assuntos penais (11), desarmamento (3) e privilégios, imunidades e segurança do pessoal das Nações Unidas (5).

Durante a Cerimônia dos Tratados, mais de 500 tratados depositados junto ao Secretário-Geral estão abertos à assinatura, ratificação, aceitação, aprovação ou adesão, de acordo com as respectivas disposições.

Antecedentes

Em setembro de 2000, a Organização das Nações Unidas convidou os dirigentes mundiais que participavam na histórica Cúpula do Milênio a aproveitar a sua presença na Sede da ONU para assinar uma ampla série de tratados internacionais. Nesse ano, um evento denominado “Um Convite à Participação Universal” proporcionou uma plataforma para os governos demonstrarem o seu compromisso com o reforço do Estado de Direito nos planos interno e internacional.

Desde então, tem sido organizada anualmente uma Cerimônia dos Tratados, que, em geral, coincide com o Debate Geral da Assembleia Geral, em setembro. Desde 2000, as Cerimônias dos Tratados estiveram na origem de 1549 assinaturas, ratificações, aceitações e adesões e outras ações relacionadas com tratados.

Para mais informações sobre a Cerimônia dos Tratados 2010, visite http://bit.ly/2010TreatyEvent

Informações para a imprensa: Renata Sivacolundhu, Departamento de Informação Pública, e-mail [email protected] ou tel. + 1 212 963 29 32.

Desaparecimentos forçados: mais apoio para levar criminosos à Justiça na Bósnia-Herzegóvina

SARAJEVO. Grupo de Trabalho da ONU sobre Desaparecimentos Forçados ou Involuntários (*) pediu ao Governo da Bósnia-Herzegóvina e à comunidade internacional que continuem esforços para levar autores de desaparecimentos forçados à Justiça e promover reconciliação no país.

“Até onde diz respeito à Justiça, muitos criminosos ainda estão foragidos. Em muitas comunidades vivem lado a lado com suas vítimas”, disse o presidente-relator do Grupo, Jeremy Sarkin, e um dos membros, Olivier de Frouville, no final de uma missão de oito dias de averiguação para saber mais sobre os esforços do país no caso de desaparecimentos forçados/pessoas desaparecidas, e para examinar as lições aprendidas em como lidar com casos anteriores, na luta contra a impunidade e outras questões relativas à verdade, justiça e reparação às vítimas. “Mesmo que tenha havido uma série de julgamentos no Tribunal Penal Internacional (TPI) para a ex-Iuguslávia e pelos tribunais nacionais, para processar o grande número de criminosos que permanecem serão exigidos significativos recursos adicionais”, observa o Grupo.

Durante o conflito ocorrido em meados dos anos 90, a Bósnia-Herzegóvina sofreu graves e maciças violações dos direitos humanos. Mais de 100 mil pessoas foram mortas. Mais de 2 milhões foram deslocadas. Estima-se que entre 28 e 30 mil pessoas desapareceram durante o conflito, dos quais cerca de um terço permanecem nesta situação.

Em sua missão, o Grupo de Trabalho da ONU observou grandes progressos e avanços das autoridades para descobrir a verdade sobre o destino e o paradeiro dos desaparecidos, como a aprovação da Lei sobre Pessoas Desaparecidas e a criação do Instituto de Pessoas Desaparecidas (MPI, na sigla em inglês), bem como o número significativo de exumações e identificações realizadas, e um grande número de casos penais levados à frente. Para consolidar essas conquistas, o organismo especializado das Nações Unidas apelou para a conclusão do Registro Central de Pessoas Desaparecidas, proveniente da Lei de Pessoas Desaparecidas. “Isso deve ser feito o mais breve possível e deve ser tornado público, com a listagem de origens étnicas dos classificados como desaparecidos”, disse o Grupo. “Isso vai promover a transparência, rigor e certeza sobre quem desapareceu. Isso vai reduzir a politização dessas questões.”

Em uma série de questões relativas às pessoas desaparecidas, “todas as vítimas dos diversos grupos étnicos alegam discriminação na maneira como elas e suas comunidades são tratadas”, observaram os peritos independentes da ONU. “O direito à não-discriminação deve ser promovido no país e protegido em todas as atividades, e todos os cidadãos devem ser tratados igualmente, onde quer que vivam e independentemente da sua origem étnica. Legislação e processos para promover igualdade e prevenir a discriminação devem ser prioridades.”

O Grupo advertiu que o processo para determinar onde valas comuns podem ser encontradas é cada vez mais difícil com o passar do tempo. “Para encorajar mais pessoas a revelar informações sobre locais sombrios, os programas de proteção a testemunhas devem ser reforçados”, acrescentaram. Ele também recomendou a criação de um programa nacional de reparação para parentes das vítimas de desaparecimentos forçados, que inclui compensação, restituição, reabilitação, satisfação e garantias de não repetição. “Programas de Reparação devem levar em conta uma perspectiva de gênero, considerando que a maioria dos familiares das pessoas desaparecidas são mulheres.”

“Muito mais deve ser feito para promover a reconciliação no país. A legislação nacional sobre a questão dos memoriais deve ser promulgada”, destacou o Grupo de Trabalho da ONU em suas recomendações, sugerindo 30 de agosto, Dia Internacional dos Desaparecidos, como dia nacional em memória de todas as pessoas desaparecidas na Bósnia-Herzegóvina.

O Grupo de Trabalho sobre Desaparecimentos Forçados ou Involuntários foi criado pela Comissão das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos em 1980 para auxiliar as famílias na determinação do destino ou paradeiro de seus parentes desaparecidos. Ele se empenha em estabelecer um canal de comunicação entre as famílias e os Governos interessados em garantir que os casos individuais sejam investigados com o objetivo de esclarecer o destino e o paradeiro das pessoas consideradas desaparecidas. O Grupo de Trabalho continua a tratar os casos de desaparecimento até que sejam resolvidos. Ele também presta assistência na implementação, nos Estados-Membros, da Declaração das Nações Unidas sobre a Proteção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados.

(*) O Grupo de Trabalho sobre Desaparecimentos Forçados ou Involuntários é composto por cinco peritos independentes de todas as regiões do mundo. O presidente-relator é Jeremy Sarkin (África do Sul) e os demais membros são Santiago Corcuera (México), Jasminka Dzumhur (Bósnia-Herzegóvina), Olivier de Frouville (França) e Osman El-Hajjé (Líbano).

Acesse a declaração completa da missão do Grupo de Trabalho (em inglês).

Acesse a página do país no ACNUDH.

Tribunal de crimes de guerra da ONU encerra caso envolvendo ex-comandante do Exército bósnio-muçulmano

O Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (ICTY, na sigla em inglês) encerrou os procedimentos de apelação contra o antigo comandante das forças da Bósnia durante a guerra dos Balcãs, Rasim Delic (foto), que morreu em abril. Em 2008, ele foi condenado a três anos de prisão por não ter tomado as medidas necessárias e razoáveis para prevenir ou punir os crimes cometidos por seus subordinados, em julho e agosto de 1995, em Livade e no campo de Kamenica.

Delic apelou da setença e conseguiu liberdade provisória em maio de 2009, enquanto o processo estava sendo revisado. Após sua morte, seu filho requisitou que a apelação continuasse. A câmara de apelações determinou que não é juridicamente possível prosseguir o processo de apelação nos casos em que o recorrente tenha morrido antes da prestação de um julgamento de recurso, e o caso deve ser encerrado porque não compete ao orgão julgá-lo.

Em sua decisão, a câmara declarou que “não pode discernir qualquer abordagem predominante, e muito menos identificar as regras do direito internacional consuetudinário que seriam diretamente aplicáveis à situação”. Como consequência, “nada pode prejudicar a finalidade do julgamento”, ficando determinado que os registros do caso permaneçam intactos. É a primeira vez em que o recorrente falece antes do julgamento de um recurso ser entregue.