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Ação de solidariedade atende mais de 400 pedidos de assistência alimentar e medicamentos no Brasil

A iniciativa de voluntariado é coordenada no Brasil pelo Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP). Foto: UNAIDS
A iniciativa de voluntariado é coordenada no Brasil pelo Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP). Foto: UNAIDS

A estratégia Voluntariado pelas Américas atendeu de abril a junho mais de 400 pedidos de assistência alimentar, atendimento psicológico e envio de medicamentos no Brasil.

A iniciativa foi lançada pelo Movimento Latino-Americano e do Caribe de Mulheres Positivas (MLCM+), sendo coordenada no Brasil pelo Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP).

Até o fim do mês passado, tinham sido atendidos 90% (418) dos 465 pedidos recebidos por meio de campanhas de mobilização realizadas principalmente nas redes sociais.

No Brasil, do total de pedidos recebidos neste período, quase 76% foram para assistência alimentar, cerca de 15% para apoio psicológico e pouco mais de 6% por medicamentos.

Jacqueline Cortes, coordenadora-executiva do projeto no país, explica que a campanha irá divulgar o perfil completo das pessoas atendidas no final de seu ciclo, em meados de setembro.

“Em geral, as pessoas que buscaram ajuda estavam precisando comer, entre elas pessoas pobres, pessoas vivendo com HIV e que não tinham trabalho formal e dependiam da informalidade, não conseguiram continuar trabalhando durante a pandemia”, explica.

“Há muitos homens, mas as mulheres são maioria, e a maioria delas está angustiada. Ou seja, os casos vão muito além da falta de alimentos, muitas demonstram necessidade de serem ouvidas, mesmo que o pedido não tenha sido especificamente de apoio psicológico.”

“Elas têm medo de pegar a doença e de não ter um leito no hospital. Algumas têm até a ideação suicida por não terem conseguido resolver sua questão com a sorologia positiva para o HIV.”

O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) apoia a iniciativa por meio de sua divulgação e da mobilização de recursos e parcerias entre as agências da ONU que formam o programa.

Também apoia por meio da capacitação de voluntários para oferecer ajuda psicológica e emocional às pessoas cadastradas.

Segundo informações compartilhadas pelo MNCP, até 30 de junho, o projeto já capacitou quase 100 voluntários, dos quais cerca de 60 continuam na ativa.

“Entre as pessoas que solicitam ajuda, existe uma parcela significativa que não participa de movimentos sociais, e que nunca participou. É grande o número daquelas que nem sabem da existência destes movimentos como o MNCP e outras redes de pessoas vivendo com HIV”, conta Cortes.

“Isso demonstra que não estamos acessando apenas ativistas e que algumas delas desconhecem seus direitos.”

“A pesquisa feita pelo UNAIDS no final de março com pessoas vivendo com HIV no Brasil mostrou claramente que uma parcela significativa delas já tinha necessidade de alimentos e insumos básicos de proteção, higiene e limpeza”, conta Cleiton Euzébio de Lima, diretor interino do UNAIDS no Brasil.

“Outro ponto que apareceu de forma evidente foi a necessidade de apoio psicológico, completando os principais eixos de atuação do projeto que conta com nosso apoio desde o início.”

Para Cortes, o movimento de solidariedade tem ensinado que a vulnerabilidade diante da pandemia abriu espaço para a colaboração.

“Esta iniciativa tem fortalecido de maneira importante os movimentos de mulheres positivas tanto no Brasil quanto na região, trazendo um impulso e uma visibilidade para a nossa capacidade de entrega dos pedidos e serviços.”

“Tem sido um grande aprendizado, especialmente para nós, da equipe, que trabalhamos juntas há muito tempo. As lições das conexões com os movimentos de AIDS também vão ficar marcadas par sempre”, diz a ativista, mulher trans que vive com HIV.

No Brasil, o MNCP buscou mapear uma rede de amigos e amigas da campanha, construindo uma matriz com cerca de 60 apoiadores entre instituições, iniciativas, projetos não governamentais da sociedade civil, programas de governos locais, iniciativas religiosas, pastorais, grupos de LGBTI – em geral, iniciativas que trabalham com questões como distribuição de cestas básicas, apoio psicológico e reposição de medicamentos antirretrovirais.

A expectativa é de que a Voluntariado pelas América abra mais chamadas para recebimento de pedidos antes da conclusão da fase atual projeto, em 28 de agosto.

Quatro chamadas já foram feitas desde o lançamento no Brasil. Segundo Cortes, os trabalhos internos da iniciativa continuam até 18 de setembro, quando o grupo espera apresentar uma balanço quantitativo e qualitativo, acompanhado de uma avaliação das ações e de seus impactos.

Relatório sobre AIDS mostra que metas para 2020 não serão cumpridas no mundo

As comunidades fazem a diferença e desempenham um papel fundamental na resposta à epidemia de AIDS nos níveis local, nacional e internacional, segundo o UNAIDS. Foto: UNAIDS
As comunidades fazem a diferença e desempenham um papel fundamental na resposta à epidemia de AIDS nos níveis local, nacional e internacional, segundo o UNAIDS. Foto: UNAIDS

Um novo relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) mostra que houve progresso significativo rumo ao fim da epidemia de AIDS no mundo, mas altamente desigual, principalmente na expansão do acesso à terapia antirretroviral.

Como as conquistas não foram compartilhadas igualmente dentro dos países e entre eles, as metas globais de HIV estabelecidas para 2020 não serão alcançadas, alertou o programa da ONU.

O relatório, intitulado “Agarrar a oportunidade: enfrentando as desigualdades enraizadas para acabar com epidemias“, alerta para o fato de que os ganhos obtidos até agora podem ser perdidos e o progresso interrompido se não houver ação.

O documento destaca que os países precisam redobrar seus esforços e agir com maior urgência para alcançar as milhões de pessoas ainda deixadas para trás.

“Serão necessárias, em todos os dias desta próxima década, ações decisivas para colocar o mundo de volta nos trilhos rumo à meta de acabar com a epidemia de AIDS até 2030”, disse Winnie Byanyima, diretora-executiva do UNAIDS.

“Milhões de vidas foram salvas, particularmente as vidas de mulheres na África. O progresso alcançado por muitos precisa ser compartilhado por todas as comunidades em todos os países. O estigma, a discriminação e as desigualdades generalizadas são os principais obstáculos ao fim da AIDS. Os países precisam se guiar pelas evidências e assumir suas responsabilidades em relação aos direitos humanos.”

Quatorze países atingiram as metas de tratamento 90-90-90 (90% das pessoas que vivem com HIV conhecem seu estado sorológico positivo para o vírus; destas, 90% estão em tratamento antirretroviral; e destas, 90% têm carga viral suprimida). Entre estes países está a Suazilândia, que tem uma das mais altas taxas de prevalência de HIV do mundo, com 27% em 2019, e que, ao ter superado as metas de 2020, caminha para alcançar as metas 95–95–95, previstas para 2030.

Milhões de vidas foram salvas e milhões de novas infecções por HIV foram evitadas graças ao aumento do acesso à terapia antirretroviral. No entanto, 690 mil pessoas morreram de doenças relacionadas à AIDS no ano passado e um terço (12,6 milhões) das 38 milhões de pessoas que vivem com HIV não tinham acesso ao tratamento capaz de salvar vidas.

“Não podemos descansar à sombra dos louros alcançados, nem nos desencorajarmos por causa dos contratempos. Devemos garantir que nenhuma pessoa seja deixada para trás. Temos que fechar as lacunas. Nosso objetivo é 100-100-100 ”, disse Ambrose Dlamini, primeiro-ministro da Suazilândia.

As metas para 2020 e a realidade

O mundo está muito atrasado na prevenção de novas infecções por HIV. Cerca de 1,7 milhão de pessoas foram infectadas com o vírus, mais de três vezes acima da meta global, que previa baixar as novas infecções para 500 mil até 2020.

Houve um progresso no leste e sul da África, onde as novas infecções por HIV diminuíram 38% desde 2010. Isso contrasta fortemente com a região da Europa Oriental e Ásia Central, que registrou um aumento impressionante de 72% nas novas infecções por HIV desde 2010. Novas infecções por HIV também aumentaram 22% no Oriente Médio e Norte da África e 21% na América Latina.

O relatório mostra um progresso desigual, com muitas pessoas e populações vulneráveis deixadas para trás. Apesar de constituírem uma proporção muito pequena da população geral, cerca de 62% das novas infecções por HIV ocorreram entre populações-chave e seus parceiros sexuais, incluindo gays e outros homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo, pessoas que usam drogas e pessoas privadas de liberdade.

A discriminação e o estigma, juntamente com outras desigualdades e exclusões sociais, tem se mostrado como barreiras principais. Populações marginalizadas que temem julgamento, violência ou prisão lutam para acessar serviços de saúde sexual e reprodutiva, especialmente aqueles relacionados à contracepção e à prevenção do HIV.

O estigma contra pessoas vivendo com HIV ainda é comum: pelo menos 82 países criminalizam alguma forma de transmissão, exposição ou não divulgação do HIV; o trabalho sexual é criminalizado em pelo menos 103 países; e ao menos 108 países criminalizam o consumo ou posse de drogas para uso pessoal.

Mulheres e meninas da África subsaariana

Mulheres e meninas na África Subsaariana continuam sendo as mais afetadas e foram responsáveis por 59% de todas as novas infecções por HIV na região em 2019, com 4.500 meninas e mulheres jovens entre 15 e 24 anos infectadas por HIV por semana. As mulheres jovens representaram 24% das novas infecções por HIV em 2019, apesar de constituírem apenas 10% da população na África Subsaariana.

No entanto, onde os serviços de HIV são fornecidos de forma abrangente, os níveis de transmissão do HIV são reduzidos significativamente. Em Suazilândia, Lesoto e África do Sul, uma alta cobertura de opções de prevenção combinada, incluindo apoio socioeconômico para mulheres jovens e altos níveis de cobertura de tratamento e supressão viral para populações anteriormente não alcançadas, reduziu as desigualdades e reduziu a incidência de novas HIV infecções.

HIV e COVID-19

A pandemia de COVID-19 afetou seriamente a resposta à AIDS e pode causar uma ruptura ainda maior. Uma interrupção completa de seis meses no tratamento do HIV pode causar mais de 500 mil mortes adicionais na África Subsaariana durante o próximo ano (2020-2021), trazendo a região de volta aos níveis de mortalidade por AIDS de 2008. Mesmo uma interrupção menor pode causar 110 mil mortes adicionais.

“Aqueles de nós que sobreviveram ao HIV e lutaram pela vida e pelo acesso a tratamentos e cuidados não podem se dar ao luxo de perder os ganhos obtidos com tanto esforço. Em alguns países da América Latina, estamos vendo como os recursos, medicamentos, equipe de saúde e equipamentos de HIV estão sendo movidos para a luta contra a COVID-19 ”, disse Gracia Violeta Ross, presidente da Rede Boliviana de Pessoas Vivendo com HIV.

“Algumas boas lições e práticas da resposta ao HIV, como participação e responsabilidade significativas, estão sendo ignoradas. Não permitiremos que o HIV seja deixado para trás.”

Para combater estas epidemias convergentes de HIV e de COVID-19, o UNAIDS e seus parceiros estão liderando um chamado global pela Vacina Popular para a COVID-19, que foi assinada por mais de 150 líderes e especialistas mundiais exigindo que todas as vacinas, tratamentos e testes sejam realizados livres de patentes, produzidos em massa e distribuídos de maneira justa e gratuita para todos.

O UNAIDS também insta os países a aumentar os investimentos nas duas epidemias. Em 2019, o financiamento para o HIV caiu 7% em relação a 2017, para 18,6 bilhões de dólares. Esse revés significa que o financiamento está 30% abaixo dos 26,2 bilhões de dólares necessários para responder efetivamente ao HIV em 2020.

“Não podemos ter países pobres no final da fila. As pessoas não deveriam depender do dinheiro em seu bolso ou da cor de sua pele para serem protegidas contra esses vírus mortais”, disse Byanyima. “Não podemos pegar dinheiro de uma doença para tratar outra. Tanto o HIV quanto a COVID-19 devem ser totalmente financiados para evitar uma perda maciça de vidas.”

Clique aqui para acessar o relatório completo (em inglês).

Pesquisa aponta discriminação contra minorias no comércio e na prestação de serviços

O encontro virtual discutiu como as minorias são mais vulneráveis às discriminações no comércio e na prestação de serviços. Foto: Agência Brasil/Rovena Rosa
O encontro virtual discutiu como as minorias são mais vulneráveis às discriminações no comércio e na prestação de serviços. Foto: Agência Brasil/Rovena Rosa

Promovido pela Central Única das Favelas (Cufa), Instituto Locomotiva e a UNESCO no Brasil, a série de webinários Fórum Data Favela teve na quarta-feira (1) sua terceira edição.

Com o tema “Economia, Periferia e Diversidade”, o encontro virtual discutiu como as minorias são mais vulneráveis às discriminações no comércio e na prestação de serviços.

Participaram do debate a diretora e representante da UNESCO no Brasil, Marlova Noleto; o CEO da Favela Holding e fundador da CUFA, Celso Athayde; o fundador e presidente do Instituto Locomotiva, Renato Meirelles; o apresentador Luciano Huck; o economista Armínio Fraga; o presidente da JR Diesel, Geraldo Rufino; o CEO das lojas C&A, Paulo Correa, entre outros.

O webinário apresentou a pesquisa “O mercado da maioria, periferia e diversidade como estratégia de negócio”. O levantamento aponta que 79% das pessoas consultadas, entre negros, mulheres e integrantes das classes C, D e E, disseram já ter sofrido algum tipo de constrangimento no comércio.

“Nós temos 210 milhões de brasileiros. Desses, 118 milhões são negros, 108 milhões mulheres, 165 milhões são da periferia, das classes “C”,”D” e “E”, e 15 milhões são homossexuais declarados”, destacou Renato Meirelles, que também abordou importância das marcas terem um posicionamento em relação ao tema.

“Para as marcas, o custo do erro aumentou muito. É preciso pensar muito mais antes de tomar uma ação. Pra não errar, é necessário encontrar o ponto de equilíbrio entre agilidade e coerência. Não existe mais espaço para declarar o que não se pratica. A diversidade funciona como estratégia: 98% dos consumidores não comprariam de marcas que não aceitam a diversidade”.

Parceiro da CUFA há 20 anos, o apresentador Luciano Huck disse acreditar que, ao final da pandemia, o Brasil será um país mais solidário e fraterno: “em três meses, o Brasil doou quase o dobro que doamos o ano passado inteiro: 0,2% do nosso PIB. Foram 6 bilhões doados pela sociedade civil. A pandemia iluminou nossas desigualdades de maneira exponencial. E a educação e o conhecimento são as armas mais poderosas que temos”.

Anfitriã do encontro, a diretora e representante da UNESCO no Brasil, Marlova Noleto, manifestou seu entusiasmo pelo fato de todos os convidados, sem exceção, terem destacado que só com a educação é possível transformar o país. “Quando me perguntam o que precisa para mudar o Brasil, eu respondo: são três coisas: educação, educação, educação. Países que se transformaram profundamente como a Finlândia e a Coreia do Sul, fizeram isso por meio de investimentos em educação”, finalizou.

O que significa ser um refugiado LGBTQI+

Uma bandeira de arco-íris é pendurada em um abrigo para refugiados e migrantes no México. Foto: Markel Redondo/?ACNUR

Existem cerca de 26 milhões de refugiados no mundo que fugiram da guerra, conflitos violentos ou perseguição. De acordo com o direito internacional, qualquer pessoa com fundado temor de ser perseguida com base em sua raça, religião, nacionalidade, opinião política ou participação em um determinado grupo social deve ser protegida como refugiada.

As diretrizes emitidas pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) consideram que pessoas perseguidas pela sua identidade de gênero, orientação sexual ou características sexuais têm direito a essa proteção. Às vezes, os refugiados LGBTQI+ são vítimas de leis severas de seus governos. Outras vezes, sofrem nas mãos da sociedade local ou de suas próprias famílias – com uma atitude indiferente do Governo, que pode até participar do abuso.

No mês de maio, celebra-se o Dia Internacional Contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia. Já o mês de junho é conhecido como mês do Orgulho LGBTQI+.

O ACNUR responde abaixo perguntas frequentes sobre refugiados LGBTQI+ e apresenta algumas dessas pessoas que não tiveram escolha, a não ser fugir.

Quais categorias de orientação sexual ou identidade de gênero são protegidas pela lei internacional dos refugiados?

Qualquer pessoa que esteja fugindo de perseguição com base na orientação sexual, identidade de gênero ou características sexuais pode ser um refugiado. Isso inclui pessoas que se identificam como lésbicas, gays, bissexuais, transexuais ou intersexuais (nascidas com características sexuais, como órgãos genitais, gônadas e cromossomos, que não se encaixam necessariamente em noções binárias de corpos masculinos ou femininos). Esses termos não necessariamente descrevem todos (e idiomas diferentes possuem termos diferentes), mas os rótulos não importam quanto ao direito dos refugiados. Aqueles que buscam proteção precisam apenas estabelecer seu medo de perseguição por causa da identidade de gênero ou orientação sexual, não importa como se definem, mesmo que apenas pela identidade de gênero ou orientação sexual percebida.

Mas refugiados não são pessoas que fogem da guerra?

Alguns refugiados LGBTQI+ estão fugindo da guerra ou da violência em seus países, sem que o fato de serem parte desta comunidade seja o motivo principal da reivindicação de proteção – isso pode ser completamente desassociado. Já outros fogem exclusivamente pela perseguição que enfrentam por serem LGBTQI+.

“Eu me tornei o cara gay. O mente aberta, o orgulhoso, o politizado. Foi assustador? Foi. Mas também foi um ato reconfortante reivindicar meu próprio espaço, me tornar visível, ainda que mais exposto… Somos mais fortes do que qualquer outra pessoa! É essencial que as pessoas LGBTQI+ sejam fortes, se quisermos superar os medos cotidianos, nossos traumas, o pânico de ser descoberto, o bullying e a humilhação. O Dia Internacional Contra a Homofobia é um pequeno lembrete para todos aqueles que vivem sob regimes opressivos, para aqueles que vivem na defensiva, vigilantes e com medo por causa do simples fato de serem quem são. Não importa se você é ou não um membro visível da comunidade LGBTQI+. O que importa é o fato de que o que nos torna vulneráveis ??também nos fortalece”, afirmou Evgeny, ativista e pesquisador LGBT de São Petersburgo. Em 2018, ele foi forçado a deixar a Rússia. Em 2019, ele recebeu proteção internacional na República da Irlanda, onde mora atualmente.

O que pode ser considerado perseguição, com base na orientação sexual ou identidade de gênero?

Mais de 70 países criminalizam relações entre pessoas do mesmo sexo. Em alguns deles, a punição pode ter como sentença a pena de morte. Outros adotaram leis que discriminam pessoas LGBTQI+ ou que são usadas para legitimar a perseguição dessas pessoas pelas autoridades, como por meio de estatutos alegando indecência pública, vagamente escritos. A Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Intersexuais publicou um mapa mostrando as leis que tratam sobre orientação sexual no mundo todo.

Também existem casos bem documentados de governos que não estão dispostos ou são incapazes de proteger as pessoas LGBTQI+ da violência direcionada a elas sob o poder de quadrilhas criminosas ou mesmo da polícia local. As pessoas que fogem nessas condições devem ser protegidas como refugiadas.

“Nasci de novo na Espanha. Pela primeira vez, me sinto segura, mais aceita. Participei de encontros, workshops e fui até a uma rádio para contar minha história. Quero mostrar, com meu testemunho, que existem opções. Para todos que sofreram perseguição devido à sua identidade sexual, como eu, diria a eles que não estão sozinhos. Existem lugares de oportunidade, inclusão e aceitação”, afirmou Kemdra, 30 anos, uma enfermeira, refugiada e transexual, em Honduras. Ela foi forçada a fugir em 2017 e recebeu refúgio na Espanha.

Todos os países aceitam refugiados LGBTQI+?
Oscar fugiu das ameaças de morte em Honduras, onde era ativista LGBTQI+. Ele buscou proteção e refúgio na Guatemala. Foto: Diana Diaz/ACNUR

As orientações do ACNUR são claras: o direito internacional reconhece isso como uma reivindicação válida de refúgio.

A maioria das pessoas que buscam o status de refugiado recebe imediatamente proteção com base na situação no país de onde fugiu, e não por uma circunstância única. Mas, algumas dessas pessoas, buscam proteção por reivindicação pessoal, citando perseguição com base na orientação sexual ou identidade de gênero. A maioria dos casos desse tipo foi feita na Austrália, Europa, no Canadá e nos Estados Unidos. Os tribunais desses países geralmente concordam que a Convenção das Nações Unidas de 1951 relativa ao status dos refugiados protege as pessoas que fogem da violência ou perseguição com base na orientação sexual ou identidade de gênero.

“Eles [os membros da gangue] me insultaram, me espancaram e o último acontecimento foi o que me levou a sair. Eles me disseram que tinham uma bala guardada para mim, que eu seria morto com o meu amigo. Eu sempre carregava uma mochila comigo. Eles me disseram que iriam enchê-la de drogas e garantir que eu fosse levado à prisão, onde eles cuidariam de mim. Eu estava com medo. Um tiro teria sido melhor do que ir para aquela prisão”, lembrou Oscar, 47, ativista LGBTQI+ que foi forçado a fugir de Honduras. A amiga dele, que era lésbica, foi morta. Ele conta que a polícia se recusou a protegê-los de membros de gangues. Ele agora vive na Guatemala.

Quantas pessoas solicitaram proteção como refugiados sob essa justificativa?

O ACNUR não possui números globais sobre isso. Os governos estão lutando para lidar com um acúmulo de pedidos de refúgio e não compilaram dados detalhados. Ao mesmo tempo, nos registros de casos, às vezes não consta que um candidato está buscando proteção sob a cláusula de “grupo social específico” (ou, em casos muito raros, opinião política ou religião) sem especificar a identidade de gênero ou a orientação sexual.

O que o ACNUR faz para ajudar um refugiado que é LGBTQI+?

O ACNUR é comprometido a tratar todas as pessoas com respeito e dignidade e exige que seus membros sigam esse princípio no código de conduta. Investimos no treinamento de funcionários e parceiros sobre esse assunto. Estamos sempre nos esforçando para fazer melhor.

Infelizmente, os refugiados homoafetivos frequentemente enfrentam no país que os acolhem as mesmas ameaças que enfrentavam em seu país de origem. Mas o ACNUR trabalha para garantir que eles estejam seguros e tenham acesso a seus direitos e serviços essenciais, como assistência médica, onde quer que estejam.

Como o ACNUR ajuda os refugiados LGBTI a recomeçar?Este casal sírio corria o risco de prisão, tortura ou assassinato devido à sua sexualidade. O ACNUR os ajudou a se estabelecer em um novo país. Foto: Diego Ibarra Sánchez / ACNUR

Existem diferentes maneiras pelas quais tentamos ajudar os refugiados a retomarem suas vidas. Eles podem ser integrados no país anfitrião para onde fugiram, onde trabalhamos com governos e parceiros para ajudá-los a acessar serviços e reconstruir redes de suporte. Eles também podem ser reassentados em um terceiro país, bem como podem voltar para casa se as condições melhorarem o suficiente para retornarem com segurança. Infelizmente, não importa o quanto nós e nossos parceiros trabalhem para encontrar uma solução, muitos refugiados LGBTQI+ simplesmente não conseguem escolher nenhuma dessas opções. Nesse caso, tentamos garantir que eles tenham acesso aos serviços e ajudamos com o que precisam, onde quer que estejam.

Para refugiados homoafetivos, o reassentamento em um terceiro país pode, às vezes, ser a opção mais segura. Infelizmente, menos de 0,5% de todos os refugiados são reassentados em um terceiro país, e o número continua diminuindo à medida que os governos de todo o mundo reduzem a média de quantas pessoas estão dispostos a acolher.

“Recebi uma ligação de um parceiro do ACNUR. Foi quando fui amparada com assistência humanitária e alguns itens básicos para recomeçar minha vida. Eu me senti aliviada porque estava segura, longe de casa. Consegui um emprego e saí do abrigo. Tudo isso aconteceu no momento certo porque eu estava muito triste. Não é fácil deixar tudo tão de repente e começar de novo. Com o tempo, aprendi a me adaptar e a me divertir aqui na Guatemala… Eu só queria sair, não importava para onde”. Valeria, 27 anos, é uma transgênero salvadorenha que procurou refúgio na Guatemala há dois anos. Ela agora trabalha como cabeleireira e também ensina técnicas de cabelo como voluntária.

O que posso fazer para ajudar?

Você pode garantir que sua casa, sua comunidade e seu país sejam seguros para todos, incluindo pessoas LGBTQI+. Quebre o silêncio: fale quando estiver presenciando discriminações. Ouça as histórias dessas pessoas ou conte sua própria história, seja ela qual for.

Veja mais informações nos sites de alguns parceiros do ACNUR:

  • HIAS ajuda refugiados há mais de 100 anos.
  • Lamda apoia pessoas LGBTI na Guatemala.
  • Oram fornece ajuda e pesquisa sobre os grupos de refugiados mais vulneráveis, incluindo pessoas LGBTI.
  • Comitê de Mulheres para Refugiados é uma organização de pesquisa e defesa que se concentra nas necessidades de mulheres, crianças e jovens refugiados.

ONU lança vídeo para celebrar o Dia Internacional do Orgulho LGBTI+

Ariadne Ferreira, assessora de apoio comunitário do UNAIDS. Foto: UNAIDS

“Como podemos criar um ambiente onde as pessoas LGBTI+ se sintam cada vez mais livres para ser quem elas são?

Esta é uma das perguntas que o Sistema ONU levanta no terceiro e último vídeo da série Capital Trans: O que a sua empresa tem feito para acolher a diversidade?, lançado sexta (26) como parte das celebrações do Dia Internacional do Orgulho LGBTI+, comemorado mundialmente no dia 28/6.

O vídeo reforça as mensagens de promoção dos direitos das pessoas LGBTI+ no Brasil, especialmente num momento em que a marginalização e as vulnerabilidades impostas à comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexo (LGBTI+) colocam estas pessoas entre as mais expostas à pandemia da COVID-19.

Nesta terça-feira, 30/6 às 17h, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS) e a iniciativa Livres & Iguais farão uma live nas redes sociais com Maitê Schneider, uma das fundadoras da iniciativa Transempregos, para debater os temas abordados na série Capital Trans. Os detalhes do bate-papo serão divulgados através das redes sociais: @onubrasil, @oitbrasil e @unaidsbrasil nos próximos dias.

“Sou uma das fundadoras da Transempregos, um projeto que faz a inclusão de pessoas trans no Mercado de trabalho, diminuindo os vezes que as empresas têm em relação a preconceitos por não conhecer a questão trans, principalmente”, diz Maitê Schneider. “Ao mesmo tempo, [o Transempregos busca] ser o maior banco de currículos para fazer a inserção dessas pessoas dentro deste universo, tanto corporativista quanto de empreendedorismo.”

 

Mercado de trabalho em tempos da COVID-19

No mercado de trabalho, as questões LGBTI+ aparecem cruzadas com questões de gênero, raça, e outras vulnerabilidades que se somam neste processo. A série Capital Trans tem como objetivo conscientizar a sociedade sobre a necessidade de garantirmos que as medidas de apoio para mitigar o impacto socioeconômico desta crise tenham como foco esta parcela da população, comprovadamente mais propensa ao desemprego e à pobreza que a população em geral.

Muitas pessoas LGBTI+ trabalham no setor informal e não têm acesso a licença médica remunerada, indenização por desemprego e nem cobertura de proteção social. A pandemia da COVID-19 torna este quadro ainda mais grave, impondo desafios até então inimagináveis para esta parcela da população e para governos, empresas, organismos internacionais e demais atores envolvidos a fim de que encontrem soluções inclusivas.

“A gente não está trabalhando para que essas pessoas sejam mais especiais que as outras, mas para que suas vidas sejam protegidas”, diz o vídeo em um dos trechos.

A web-série Capital Trans, criada no Brasil pela campanha da ONU Livres & Iguais, em parceria com a iniciativa #ZeroDiscriminação, do UNAIDS, busca inspirar as pessoas por meio do compartilhamento de exemplos de empresas empenhadas no enfrentamento à discriminação contra pessoas trans no ambiente de trabalho, no mercado e na comunidade.

Em maio, como parte das celebrações do IDAHOTBIT (Dia Internacional contra a LGBT-fobia), a iniciativa destacou o vídeo “Qual o impacto da diversidade no ambiente de trabalho?”, que mostra como Diversas empresas têm desenvolvido ações específicas para atrair pessoas trans para suas vagas, buscando, ao mesmo tempo, sensibilizar seus funcionários para a importância deste acolhimento.

Neste contexto de inúmeros obstáculos globais para a saúde e a economia, a web-série Capital Trans busca trazer uma luz sobre a importância do respeito aos Padrões de Conduta da ONU para empresas no enfrentamento da discriminação contra pessoas LGBTI+.

Criado há três anos pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos (ACNUDH), em colaboração com o Institute for Human Rights and Business, estes padrões oferecem cinco passos essenciais para que empresas consigam alinhar suas políticas e práticas aos padrões internacionais de direitos humanos das pessoas LGBTI+. Atualmente, mais de 300 empresas já declararam apoio a estes princípios.

Assista também ao primeiro vídeo da série Capital Trans, lançado dia 29 de janeiro (Dia Nacional da Visibilidade Trans): “Você já trabalhou com uma pessoa trans?”