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A perda e desperdício de alimentos gera entre 8 a 10% de todas as emissões de gases de efeito estufa produzidos por seres humanos. Foto: Flickr/Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (cc)

FAO lança plataforma para reduzir perda e desperdício de alimentos

A perda e desperdício de alimentos gera entre 8 a 10% de todas as emissões de gases de efeito estufa produzidos por seres humanos. Foto: Flickr/Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (cc)
A perda e desperdício de alimentos gera entre 8% a 10% de todas as emissões de gases de efeito estufa produzidos por seres humanos. Foto: Flickr/Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (cc)

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) divulgou uma plataforma abrangente para ajudar a comunidade global a intensificar as ações para reduzir a perda e o desperdício de alimentos.

A agência da ONU e seus parceiros pedem mais esforços e se preparam para o Dia Internacional da Conscientização sobre a Perda e o Desperdício de Alimentos – que será comemorado pela primeira vez em 29 de setembro.

Plataforma Técnica de Medição e Redução de Perda e do Desperdício de Alimentos reúne informações sobre medição, redução, políticas, alianças, ações e exemplos de modelos de sucesso aplicados na redução da perda e do desperdício de alimentos em todo o mundo.

“Desperdiçar alimentos significa desperdiçar recursos naturais escassos, aumentar os impactos das mudanças climáticas e perder a oportunidade de alimentar uma população crescente no futuro”, disse o diretor-geral da FAO, QU Dongyu, no lançamento da plataforma.

O evento também proporcionou uma oportunidade de aumentar a conscientização sobre o próximo Dia Internacional de Conscientização sobre a Perda e o Desperdício de Alimentos, que visa enfatizar como isso pode contribuir para o desenvolvimento sustentável.

O diretor da FAO pediu aos setores público, privado e aos indivíduos, que promovam, controlem e expandam políticas, inovações e tecnologias para reduzir a perda e o desperdício de alimentos, além de garantir que o primeiro dia internacional seja significativo e influente.

QU Dongyu somou esforços ao seu apelo por maiores esforços para reduzir a perda e o desperdício de alimentos – especialmente em um momento em que a COVID-19 expôs ainda mais as vulnerabilidades e a necessidade de sistemas alimentares mais resilientes – por meio de representantes de uma série de organizações parceiras e estados membros da FAO.

“A perda e o desperdício bobo são um sinal de sistemas alimentares em perigo”, disse Lawrence Haddad, diretor-executivo da Global Alliance for Improved Nutrition (GAIN na sigla em inglês), enquanto aponta que “os alimentos nutritivos são os mais perecíveis e, portanto, os mais vulneráveis à perda. Não só se perdem alimentos, mas também se perde a segurança alimentar e a nutrição”.

“Abordar a perda e o desperdício de alimentos com informações e evidências precisas em nível nacional é uma tentativa de criar um sistema alimentar que atenda à saúde planetária e humana”, disse Geeta Sethi, conselheira e líder global de sistemas alimentares do Banco Mundial, acrescentando: “mas para saber o que é uma prioridade política para um país e, portanto, quais os investimentos e intervenções necessários, requer bons dados e evidências. Esta plataforma é muito relevante.”

Principais informações sobre a plataforma

A plataforma é uma porta de entrada para todos os recursos de perda e desperdício de alimentos da FAO, incluindo: a maior coleção de dados online sobre quais alimentos são perdidos e desperdiçados e onde; fórum de discussão sobre redução da perda de alimentos; exemplos de iniciativas de sucesso; cursos de e-learning; relatório de políticas da perda e desperdício de alimentos no contexto da pandemia de COVID-19; e dicas sobre o que todos podem fazer para reduzir o desperdício de alimentos.

Ele também se conecta a portais de parceiros de desenvolvimento, servindo como uma fonte única de todo o conhecimento sobre perda e desperdício de alimentos.

A plataforma consolidada foi possível graças ao financiamento da Cooperação Suíça para o Desenvolvimento.

Por que reduzir a perda e o desperdício de alimentos?

A redução da perda e do desperdício de alimentos pode trazer muitos benefícios: mais alimentos disponíveis para os mais vulneráveis; uma redução nas emissões de gases de efeito estufa; menos pressão sobre os recursos terrestres e hídricos; e aumento da produtividade e crescimento econômico.

Para que isso aconteça, o diretor-geral da FAO e parceiros convidam para a candidatura de inovações – tanto tecnológica como operacional – como por exemplo, encontrar soluções tecnológicas para a gestão pós-colheita, novas formas de trabalhar em conjunto, melhor embalagem dos alimentos – bem como relaxar nos regulamentos e padrões sobre requisitos estéticos para frutas e vegetais; melhores hábitos de consumo; políticas governamentais destinadas a reduzir o desperdício de alimentos, assim como diretrizes para redistribuir o excedente de alimentos seguros para os necessitados por meio de bancos de alimentos; e construção de alianças, inclusive fora do setor de alimentos, por exemplo, com atores climáticos.

A FAO acredita que intervenções, como informar o público sobre como reduzir o desperdício de alimentos, investir na infraestrutura da cadeia de abastecimento, treinar os agricultores em melhores práticas e reformar os subsídios aos alimentos que involuntariamente levam a mais perdas e desperdícios de alimentos são medidas pequenas em comparação com outras.

Corrigir o ciclo negativo de perda e desperdício de alimentos aproximaria o mundo da meta do acordo de Paris de 2015 de limitar o aquecimento global a menos de 2°C. Por exemplo, reduzir a perda de alimentos em 25% compensaria os danos ambientais que seriam causados pelo uso futuro da terra para a agricultura. Isso significa não ter que destruir mais florestas com consequências devastadoras para as mudanças climáticas e a biodiversidade para produzir mais alimentos.

As inovações tecnológicas também podem combater o impacto ambiental indesejável enquanto economizam alimentos. No Quênia e na Tanzânia, por exemplo, a tecnologia de resfriamento movido a energia solar para resfriar o leite – por meio de um projeto apoiado pela FAO e pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) – ajudou a prevenir perdas de leite sem criar qualquer emissão adicional de gases de efeito estufa. A mesma tecnologia economiza três milhões de litros de água por ano na Tunísia.

Explicação da perda e desperdício de alimentos

Alimentos são perdidos quando são estragados ou derramados antes de chegar ao produto final ou ao varejo. Por exemplo, laticínios, carne e peixe podem estragar no trânsito devido ao transporte não refrigerado e às instalações de armazenamento refrigerado inadequados.

A FAO estima que 14% dos alimentos são perdidos dessa forma, avaliados em US$ 400 bilhões anuais. Em termos de emissões de gases de efeito estufa (GEE), os alimentos perdidos estão associados a cerca de 1,5 gigatoneladas de CO2 equivalente.

As perdas são maiores nos países em desenvolvimento, a exemplo de 14% na África Subsaariana e 20,7% no Sul da Ásia e na Ásia Central, enquanto nos países desenvolvidos, como por exemplo, Austrália e Nova Zelândia, são em média cerca de 5,8%.

As principais perdas são em tubérculos de raízes e oleaginosas (25%), frutas e vegetais (22%) e carne e produtos animais (12%).

Os alimentos são desperdiçados quando são descartados pelos consumidores ou descartados no varejo devido à sua incapacidade de atender aos rígidos padrões de qualidade ou, muitas vezes, devido a um mal-entendido sobre a marcação da data no produto.

A medição do desperdício de alimentos é uma questão complexa. Sabemos, porém, que o alimento que nunca é consumido representa um desperdício de recursos, como trabalho, terra, água, solo e sementes, e aumenta em vão as emissões de gases de efeito estufa.

FAO explica como os povos indígenas ajudam a acabar com a fome no mundo

Indígenas em manifestação em Brasília. Foto: Mídia Ninja
Indígenas em manifestação em Brasília. Foto: Mídia Ninja

Apesar de representarem apenas 5% da população mundial, os povos indígenas são agentes vitais para a preservação do meio ambiente.

Cerca de 28% da superfície terrestre do mundo, incluindo algumas das áreas florestais mais intactas e biodiversas, é  gerenciada principalmente por povos indígenas, famílias, pequenos proprietários e comunidades locais.

Essas florestas são cruciais para conter as emissões de gases e manter a biodiversidade. Os alimentos indígenas também são particularmente nutritivos e seus sistemas alimentares associados são resistentes ao clima e se adaptam bem ao meio ambiente.

O modo de vida e os meios de subsistência dos povos indígenas podem nos ensinar muito sobre como preservar os recursos naturais, obter e cultivar alimentos de maneiras sustentáveis e viver em harmonia com a natureza.

Mobilizar o conhecimento que se origina dessa herança e desses legados históricos é importante para enfrentar os desafios que a alimentação e a agricultura enfrentam hoje e no futuro.

Aqui estão 5 entre as diversas maneiras pelas quais os povos indígenas estão ajudando o mundo a combater as mudanças climáticas:

1. Suas práticas agrícolas tradicionais se adaptam facilmente à mudança climática

Ao longo dos séculos, os povos indígenas desenvolveram técnicas agrícolas adaptadas a ambientes extremos, como as altas altitudes dos Andes ou as pastagens secas do Quênia. Suas técnicas comprovadas, como terraços para evitar a erosão do solo ou jardins flutuantes para fazer uso de campos inundados, são adequadas para os eventos climáticos cada vez mais extremos e mudanças de temperatura provocados pelas mudanças climáticas.

2. Eles conservam e restauram florestas e recursos naturais

Os povos indígenas se veem conectados à natureza e como parte do mesmo sistema, assim como o meio ambiente em que vivem.

Eles adaptaram seus estilos de vida para se adequar e respeitar seus ambientes. Nas montanhas, os sistemas de gestão da paisagem dos povos indígenas preservam o solo, reduzem a erosão, conservam a água e diminuem o risco de desastres. Nas pastagens, as comunidades de pastores indígenas cuidam do pastoreio de gado e do cultivo de maneiras sustentáveis que permitem a conservação da biodiversidade. Na Amazônia, a biodiversidade dos ecossistemas melhora nas regiões habitadas por povos indígenas.

3. Seus alimentos e tradições podem ajudar a expandir e diversificar as dietas

O mundo atualmente depende muito de um pequeno conjunto de culturas básicas. Apenas cinco safras–arroz, trigo, milho, painço e sorgo–fornecem cerca de 50% de nossas necessidades energéticas. Repleto de cultivos nativos nutritivos como a quinoa, os sistemas alimentares dos povos indígenas podem ajudar o resto da humanidade a expandir sua estreita base alimentar para incorporar ervas, grãos, frutas, animais e peixes que podem não ser bem conhecidos ou usados em outras partes do mundo.

4. Eles cultivam safras indígenas que são mais resistentes às mudanças climáticas

Como muitos povos indígenas vivem em ambientes extremos, eles optaram por culturas que também se adaptam a tais condições. Os povos indígenas costumam cultivar uma variedade de espécies nativas e uma infinidade de variedades que são mais bem adaptadas aos contextos locais e frequentemente mais resistentes à seca, altitude, inundações ou outras condições extremas. Usadas de forma mais ampla na agricultura, essas safras podem ajudar a construir a resiliência das fazendas que agora enfrentam mudanças climáticas mais extremas.

5. Eles gerenciam uma grande parte da biodiversidade mundial

Territórios indígenas tradicionais abrangem 28% da superfície terrestre do mundo, mas hospedam 80% da biodiversidade do planeta. Preservar a biodiversidade é essencial para a segurança alimentar e nutricional. O acervo genético de espécies vegetais e animais é encontrado em todos os biomas terrestres, bem como em rios, lagos e áreas marinhas. Vivendo uma vida sustentável, os povos indígenas preservam esses espaços, ajudando a manter a biodiversidade das plantas e animais da natureza.

A FAO considera que os povos indígenas são parceiros inestimáveis no fornecimento de soluções para as mudanças climáticas e na criação de um mundo sem fome. Nunca alcançaremos soluções a longo prazo para as mudanças climáticas e para a segurança alimentar e nutricional sem buscar ajuda e proteger os direitos dos povos indígenas.

ONU elogia engajamento de jovens em meio à pandemia

Comemorando o Dia Internacional da Juventude, altos funcionários da ONU pediram que líderes de todo o mundo “façam todo o possível” para permitir que os jovens alcancem seu potencial máximo.

Contra o pano de fundo da pandemia de coronavírus, que afetou as vidas e aspirações dos jovens e aumentou suas vulnerabilidades, o secretário-geral da ONU, António Guterres, elogiou a resiliência, a desenvoltura e o envolvimento das gerações mais jovens.

“São os jovens que se levantaram para exigir ações climáticas. Eles estão se mobilizando por justiça racial e igualdade de gênero e são os defensores de um mundo mais sustentável”, disse ele em mensagem marcando a data.

“Muitos são mulheres jovens que estiveram na linha de frente da mobilização por justiça e ação climática – ao mesmo tempo em que atuaram na linha de frente da resposta à COVID-19.”

O secretário-geral também destacou que cumprir a promessa da geração jovem exige investir muito mais em sua inclusão, participação, organizações e iniciativas.

“Convido os líderes e adultos em todos os lugares a fazer todo o possível para permitir que os jovens do mundo desfrutem de uma vida com segurança, dignidade e oportunidades e contribuam para o máximo de seu grande potencial”, acrescentou.

O tema do Dia Internacional da Juventude deste ano, “Engajamento Juvenil para a Ação Global”, destaca as maneiras pelas quais o engajamento dos jovens em nível local, nacional e global está fortalecendo instituições e processos nacionais e multilaterais, tirando lições sobre como sua representação e envolvimento na política institucional formal podem ser aprimorados.

Também neste ano, por meio da campanha de mídia social #31DaysOfYOUth, a ONU celebra os jovens ao longo do mês de agosto, antes e depois do Dia Internacional, para espalhar a palavra e iniciar uma conversa em torno do engajamento dos jovens para a ação global.

Ecoando o apelo do secretário-geral, Tijjani Muhammad-Bande, presidente da Assembleia Geral da ONU, também destacou uma “responsabilidade global” de garantir que os jovens em todos os lugares tenham acesso a oportunidades justas e equitativas para cumprir seus direitos e aspirações.

“O potencial da humanidade para criar um futuro pacífico e próspero não será alcançado enquanto as desigualdades e a discriminação contra os jovens continuarem sendo comuns e os jovens não tiverem oportunidades de fazerem ouvir suas vozes”, disse ele em mensagem para a data.

O presidente da Assembleia aplaudiu os jovens por suas “contribuições incríveis” para um futuro melhor. Seus movimentos em suas comunidades e países, disse ele, já estão melhorando as sociedades e aumentando as ambições globais, a cada dia.

“Na era da COVID-19 e em meio a seus efeitos socioeconômicos negativos duradouros sobre os jovens – e faltando apenas 10 anos para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) -, [sua] visão e compromisso são fundamentais para criar um mundo mais sustentável e inclusivo”, acrescentou.

“Com sua inovação e ambição, orientadas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, tenho certeza que sua geração irá efetivamente transformar o mundo em um lugar mais sustentável, inclusivo e justo para todos”, disse Muhammad-Bande, exortando todos os jovens a participar da Plenária Juvenil UN75 virtual, a ser realizada em setembro, para somar sua voz à formação das Nações Unidas nas próximas décadas.

Jovens são a nossa maior esperança de futuro

A representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Brasil, Astrid Bant, gravou uma declaração em vídeo na qual reconhece os esforços e cumprimenta as milhares de pessoas jovens atuando em suas comunidades durante a pandemia da COVID-19.

Astrid também destaca a necessidade de continuar ofertando serviços e acesso a direitos e educação à juventude.

Cidades serão determinantes para a recuperação verde no pós-pandemia

A recuperação pós COVID-19 oferece uma oportunidade para as economias voltadas para o futuro, ajudando as cidades a limparem o ar atmosférico, criarem espaços abertos naturais e adotarem soluções que reduzam a emissão de carbono e o uso de recursos naturais. Foto: Pxfuel / DMCA

As cidades abrigam 55% da população mundial, condensando muitas pessoas em um mesmo lugar. Não é de se estranhar que elas sejam as áreas mais afetadas pela COVID-19: estima-se que 90% de todos os casos relatados do coronavírus tenham ocorrido nestas regiões.

No entanto, a concentração de pessoas também torna esses locais essenciais para vencer a luta pela recuperação verde no pós-pandemia – importante para reduzir o risco de futuras pandemias e combater as mudanças climáticas.

As cidades são terrenos férteis para novas ideias e lugares onde muitas técnicas inovadoras para reduzir as mudanças climáticas, a poluição, o uso de recursos e a perda de biodiversidade estão tomando forma.

Antes da COVID-19, muitas já haviam adotado a agricultura urbana, a mobilidade elétrica, os meios de transporte não motorizados e exploravam opções como edifícios de zero carbono, energia distrital, sistemas de energia renovável descentralizados, soluções baseadas na natureza e projetos de recuperação.

De fato, os trilhões de dólares que serão investidos em pacotes de recuperação pós COVID-19 podem acelerar esses desenvolvimentos.

“Ao respondermos à pandemia e trabalharmos pela recuperação, consideramos nossas cidades como hubs de comunidade, inovação e engenhosidade”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, no lançamento de um resumo de políticas sobre a COVID-19 em áreas urbanas. “Agora é a hora de nos recuperarmos melhor, construindo cidades mais resilientes, inclusivas e sustentáveis”.

Economias preparadas para o futuro

A recuperação pós COVID-19 oferece uma oportunidade para as economias voltadas para o futuro, ajudando as cidades a limparem o ar atmosférico, criarem espaços abertos naturais e adotarem soluções que reduzam a emissão de carbono e o uso de recursos naturais, bem como os impactos relacionados aos ecossistemas, ao mesmo tempo em que geram novos empregos.

É fundamental focar no planejamento e design urbanos para criar cidades estrategicamente densas e conectar as residências aos meios de transportes e ao planejamento energético, além de combinar infraestruturas cinza, azul e verde para aproveitar os benefícios das soluções baseadas na natureza.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) defende uma abordagem integrada que conecte natureza, clima e uso da terra nas cidades. Além disso, o PNUMA é a agência implementadora do Programa de Impacto em Cidades Sustentáveis do GEF-7 (GEF-7 Sustainable Cities Impact Program, em inglês), uma plataforma global para a instalação de desenvolvimentos urbanos sustentáveis do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF).

Por meio desse projeto, o PNUMA, juntamente com o Grupo de Liderança Climática das Grandes Cidades C40, o World Resources Institute (WRI) e a associação Governos Locais pela Sustentabilidade (ICLEI), vão trabalhar com várias áreas urbanas, como Freetown (capital da Serra Leoa), para avançar nas abordagens integradas, que também incluem soluções baseadas na natureza.

O PNUMA também está trabalhando com o ICLEI, através do Centro de Biodiversidade de Cidades (CBC), para apoiar a governança multinível, a fim de ver as pessoas e a natureza coexistindo em harmonia nas cidades e arredores.

“Precisamos lutar por uma recuperação econômica mais verde, resiliente e inclusiva”, disse Guterres. “Ao focar em transformação ecológica e criação de empregos, os pacotes de estímulo podem nos direcionar para um caminho mais resiliente e de baixo carbono, ajudando-nos a avançar rumo aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”.

Mudança climática: a próxima ameaça

Para evitar maiores problemas, é necessário agir logo. No momento, a COVID-19 pode estar roubando os holofotes, mas as mudanças climáticas estão aguardando nos bastidores.

As cidades costeiras já estão sofrendo com eventos relacionados à mudança climática, como inundações, erosão costeira, elevação do nível do mar e eventos climáticos extremos. Além disso, as áreas urbanas sofrem mais com altas temperaturas do que as não urbanas.

Atualmente, cerca de 200 milhões de habitantes de mais de 350 cidades experimentam temperaturas superiores a 35°C no verão (95°F). Até 2050, prevê-se que o número de cidades afetadas cronicamente pelo estresse térmico aumente para 970. Todos esses fatores representam graves ameaças à saúde, meios de subsistência e economias em geral.

Contudo, ao mesmo tempo em que as cidades são vulneráveis ??às mudanças climáticas, elas também são responsáveis por cerca de 75% das emissões globais de dióxido de carbono. Isso significa que a transição pela descarbonização é de responsabilidade dos prefeitos e vereadores. Mais de 70 cidades grandes se comprometeram com a neutralização do carbono até 2050 – o que representa 425 milhões de pessoas.

No entanto, isso é apenas o começo, pois estima-se que cerca de 227 cidades são responsáveis por produzir mais de 10 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano. Para limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C, é preciso reduzir em cinco vezes essas emissões.

Mas, como as cidades já têm o costume de se reinventar, isso é possível. Por exemplo, pandemias anteriores também trouxeram respostas inovadoras, como a introdução dos sistemas de esgoto, os parques públicos e a regulamentação habitacional para melhorar o saneamento e reduzir a superlotação.

Conectando natureza, clima e uso da terra

O Parque Centenário da Universidade Chulalongkorn de Bangcoc é um bom exemplo que combina estratégias baseadas na natureza com objetivos que promovam a saúde, a resiliência urbana e o clima. Seu design inovador reduziu o risco de inundações, através da absorção e armazenamento de água, que é posteriormente usada para a irrigação nos períodos de seca.

Enquanto isso, Medellín, na Colômbia, adotou a natureza como uma solução para a refrigeração do ar atmosférico, através do projeto “Corredores Verdes”, que transformou 18 estradas e 12 vias fluviais em paraísos verdes e de sombra fresca. O projeto reduziu a temperatura da cidade em 2-3°C, melhorando a qualidade do ar e ajudando a biodiversidade.

Através da governança multinível na tomada de decisões, cidades e nações estão cada vez mais unidas pela recuperação socioeconômica. Ministros e prefeitos se reuniram recentemente para acelerar a ação climática em um evento organizado pelo PNUMA, juntamente com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a ONU-Habitat, o Pacto Global de Prefeitos pelo Clima e a Energia, o ICLEI e a organização Cidades e Governos Locais Unidos (UCLG).

Mais de 300 participantes – incluindo ministros da Itália, Indonésia, Costa do Marfim, Etiópia, África do Sul e Chile, bem como mais de 25 prefeitos e governadores – discutiram a coordenação de ações para combater as mudanças climáticas, especialmente em setores-chave, como construção civil, transporte, agricultura e gestão de resíduos.

Pacotes de estímulo “verdes”

Como todos os níveis de governo estarão planejando a recuperação socioeconômica das nações, pacotes de estímulo poderiam apoiar a transição rumo à descarbonização. O investimento urbano pode gerar cidades mais compactas, integradas e de uso misto, que reduzam a distância entre locais de trabalho e de residência.

Revitalizar espaços verdes, repensar a mobilidade urbana, promover o uso de transporte público e não motorizado e investir na reforma de prédios para reduzir as desigualdades são formas de melhorar o bem-estar e de criar mais empregos.

“As cidades estão tanto na linha de frente dos impactos das mudanças climáticas, quanto das soluções”, disse a diretora-executiva do PNUMA, Inger Andersen. “Cidades sustentáveis beneficiam nossa saúde, ajudam na mitigação e adaptação do clima e ainda geram empregos”.

Menos da metade dos bancos latino-americanos considera mudanças climáticas em suas estratégias

Na pesquisa, 69% dos bancos indicaram que o setor econômico visto como mais exposto aos riscos climáticos é o silvo-agropecuário, seguido pelo setor de geração de energia, com 44%. Foto: Departamento dos Estados Unidos para Agricultura/Ryan Thompson
Na pesquisa, 69% dos bancos indicaram que o setor econômico visto como mais exposto aos riscos climáticos é o silvo-agropecuário, seguido pelo setor de geração de energia, com 44%. Foto: Departamento dos Estados Unidos para Agricultura/Ryan Thompson

Uma nova pesquisa com 78 instituições financeiras da América Latina e do Caribe, representando 54% do total de ativos sob gestão na região, revelou que 38% dos bancos incorporam diretrizes associadas às mudanças climáticas em sua estratégia e 24% têm uma política de avaliação e divulgação de riscos climáticos.

O estudo “Como os bancos da América Latina e Caribe incorporam as mudanças climáticas em sua gestão de riscos” foi desenvolvido pela Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP FI) e pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), com a colaboração da Federação Latino-Americana de Bancos (FELABAN).

Na pesquisa, 69% dos bancos indicaram que o setor econômico visto como mais exposto aos riscos climáticos é o silvo agropecuário, seguido pelo setor de geração de energia, com 44%. Além disso, 80% dos bancos indicaram que o principal risco físico a ser incorporado em sua avaliação e gestão é a “inundação”, seguida pela “seca”, que foi mencionada por 41% dos respondentes.

O estudo observou que o setor bancário da América Latina e do Caribe tem uma grande oportunidade de avançar na avaliação dos riscos das mudanças climáticas em seus planos e estratégias, com o objetivo de aumentar sua resiliência e se preparar melhor para apoiar a transição para uma economia de baixo carbono.

Segundo o relatório final, 41% dos bancos pesquisados na região respondem que não possuem mecanismos para identificar, analisar e gerenciar os riscos climáticos.

Os autores da análise concluíram que os riscos climáticos não são gerenciados principalmente devido à falta de informação sobre o impacto financeiro das mudanças climáticas e à ausência de demandas por parte dos reguladores.

Os bancos tendem a perceber os riscos climáticos na perspectiva de como as empresas impactam o meio ambiente, e não como as empresas estão expostas às ameaças climáticas, o que é fundamental para o aumento esperado dos impactos relacionados a eventos mais extremos, afirmou o relatório.

De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), dada a concentração atual e as emissões contínuas de gases de efeito estufa, até o final do século, o aumento da temperatura global provavelmente excederá 1,5 ºC, acima dos níveis pré-industriais, isso virá com o aumento do nível do mar e uma maior frequência e intensidade dos impactos das mudanças climáticas.

“Na última década, os bancos da América Latina e do Caribe avançaram na incorporação de critérios de sustentabilidade em suas diferentes áreas de trabalho. A pesquisa que foi apresentada hoje ajudará os bancos a gerir seus riscos climáticos em suas carteiras de financiamento”, disse Julián Suarez Migliozzi, vice-presidente de Desenvolvimento Sustentável do CAF.

“A avaliação do risco climático é fundamental para alinhar o portfólios do setor bancário a uma economia global sustentável e equitativa no século 21, que se torna ainda mais relevante hoje considerando os efeitos da pandemia de COVID-19”, disse Eric Usher, diretor da UNEP FI.

O relatório chama a atenção para as recomendações da Força Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD, na sigla em inglês), assim como as oferecidas pela UNEP FI com a colaboração do CAF.

Segundo o PNUMA, é importante replicar iniciativas como o projeto-piloto da UNEP FI com 16 dos principais bancos do mundo para desenvolver ferramentas e indicadores analíticos para ajudar a fortalecer a avaliação e divulgação do risco climático, o que será incluído no Curso Virtual “Mudanças Climáticas e o TCFD: riscos e oportunidades para o setor bancário”, da UNEP FI com a colaboração do CAF.

A pesquisa revelou que 53% dos bancos utilizam o Relatório de Sustentabilidade como mecanismo para divulgar os riscos associados às mudanças climáticas, enquanto apenas 16% dos bancos relatam por meio de seus formulários financeiros regulatórios conforme as recomendações da TCFD.

Devido ao desconhecimento e pouca clareza em relação às definições relacionadas aos riscos climáticos, os autores também chamam o setor bancário da região a trabalhar no desenvolvimento de uma taxonomia que tornaria conhecidas definições comuns no setor latino-americano sobre essas questões.

Sobre a Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP FI)

A Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP FI) é uma aliança entre o PNUMA e o setor financeiro global, em escala mundial, por meio de seus mais de 300 signatários, entre bancos, seguradoras e investidores, e sua rede de mais de 100 instituições de apoio.

Por meio de um programa de trabalho impulsionado por seus membros, a UNEP FI implementa sua missão de identificar, promover e apoiar a adoção das melhores práticas socioambientais em todos os aspectos das operações financeiras. Mais informações em: www.unepfi.org

Sobre o CAF – Banco de Desenvolvimento da América Latina

O CAF tem a missão de promover o desenvolvimento sustentável e a integração regional, por meio do financiamento de projetos do setor público e privado, da prestação de cooperação técnica e de outros serviços especializados.

Fundada em 1970 e atualmente composto por 19 países – 17 na América Latina e no Caribe, juntamente com Espanha e Portugal – e 13 bancos privados, a instituição é uma das principais fontes de financiamento multilateral e um importante gerador de conhecimento para a região.

Mais informações em: www.caf.com

Sobre a Federação Latino-Americana de Bancos (FELABAN)

A Federação Latino-Americana de Bancos (FELABAN) é uma instituição sem fins lucrativos, incorporada em 1965 na cidade de Mar del Plata, Argentina.

Reúne, por meio de suas respectivas associações em 19 países do continente, mais de 623 bancos e instituições financeiras da América Latina.

Seu objetivo é promover e facilitar o contato, compreensão e relações diretas entre as instituições financeiras na América Latina. Mais informações em: www.felaban.net