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Guterres: “não deixar ninguém para trás” é o mantra mais importante na ameaça do coronavírus

Pessoas vivendo na fronteira do Quênia com a Uganda estão entre as mais pobres da região. Foto: WFP.
Pessoas vivendo na fronteira do Quênia com a Uganda estão entre as mais pobres da região. Foto: WFP.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, lançou um “Chamado a Ação” global  para amenizar as consequências colossais da pandemia da COVID-19, pressionando os governos a se unirem num momento decisivo da história. A declaração aconteceu na quinta-feira (23), durante sessão do Fórum da ONU de Financiamento para o Desenvolvimento.

Transmitido pela internet sob o tema “Financiando Desenvolvimento Sustentável no Contexto da COVID-19”, o evento reuniu os presidentes da Assembleia Geral e do Conselho Econômico e Social da ONU (ECOSOC), entre outros funcionários de alto nível.

Apoio massivo e urgente – A natureza épica da ameaça demanda uma resposta de saúde coordenada, liderada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). “Países em desenvolvimento precisam de apoio massivo e urgente”, afirmou Guterres. “Agora é a hora de honrar nosso comprometimento de não deixar ninguém para trás”.

Ele pediu união de esforços para apoiar países em risco, fortalecer e expandir seus sistemas de saúde e parar a transmissão através de uma combinação de testagem, rastreamento de contato e quarentena, associada a restrições apropriadas de movimento e contato.

Pacote global–  Em segundo lugar, uma resposta em larga escala é necessária para enfrentar as devastadoras consequências socioeconômicas. “Precisamos usar todas as medidas fiscais e monetárias ao nosso alcance”, afirmou o dirigente, recomendando a criação de um pacote de estímulo global para garantir a subsistência das pessoas.

“Tenho defendido fortemente um pacote de resposta que seja o dobro do percentual do PIB global”, afirmou, com recursos diretos para trabalhadores e famílias, do setor formal e informal. Provisões deveriam incluir um aumento de proteções sociais e ajuda para que negócios não entrem em falência.

Guterres afirmou que a iniciativa do G-20 de suspender o pagamento de serviços de débito para os países mais pobres é um primeiro passo crítico, que deveria ser estendido a todos os países em desenvolvimento que pedirem indulgência – incluindo nações de renda média que percam acesso aos mercados financeiros.

Ajuda de débito dirigida também é necessária, seguida por esforços de reforçar a sustentabilidade de débito e abordar assuntos estruturais na arquitetura de débito internacional.

Ele descreveu um terceiro passo:  “recuperar-se melhor”. A COVID-19 deixou um caminho vazio em que economias são sustentadas pelo invisível e não remunerado trabalho doméstico das mulheres.

De fato, as estruturas multilaterais existentes atendem precisamente as brechas sendo expostas e exploradas pela pandemia: desigualdades absolutas de renda e acesso a financiamento, alto endividamento, sistema financeiro altamente estimulado e um sistema de comércio multilateral disfuncional.

“Retornar ao nosso caminho anterior simplesmente não é uma opção”, afirmou o secretário-geral.

Mulheres mais vulneráveis – A presidente do ECOSOC, Mona Juul, concordou que o financiamento para o desenvolvimento sustentável deve estar no centro da preparação e resiliência. Os pontos críticos são mobilização de recursos, financiamento, débito e empoderamento de mulheres, mais importantes do que nunca em um cenário vastamente diverso, ela afirmou.

Mona Juul chamou atenção em particular para as diferentes maneiras nas quais a COVID-19 está afetando mulheres e homens. Desproporcionalmente, as mulheres carregam o fardo do trabalho não remunerado e são super-representadas na linha de frente dos trabalhadores de saúde, fazendo a integração da perspectiva de gênero nas respostas econômicas e sociais ainda mais essenciais, ela afirmou.

Maior recessão em gerações – O sub-secretário-geral para Assuntos Econômicos e Sociais, Liu Zhenmin, afirmou que o mundo irá enfrentar a mais profunda recessão em gerações, com o crescimento caindo significantemente abaixo da menor baixa da década, de 2,3% de crescimento atingida ao longo de 2019.

“Os choques de demanda e abastecimento – ampliados através das ligações em comércio e finanças – estão atingindo a economia global duramente”, escreveu ele antes do encontro. Em artigo, ele reforçou que 44% dos países menos desenvolvidos e outros de baixa renda já enfrentam – ou estão sob o risco de enfrentar- dificuldades de dívidas; um número que deve crescer em resposta aos efeitos adversos da pandemia.

Lui Zhenmin afirmou que o Relatório 2020 de Financiamento para o Desenvolvimento Sustentável, lançado neste mês, destaca ações imediatas e de longo prazo para responder à crise da COVID-19. O documento pede um pacote de estímulo global coordenado que inclua maior concessão financeira, ações para prevenir crise de débito, ações imediatas para estabilizar mercados financeiros, parcerias com o setor privado, “construção de um dorso forte” e bom uso das tecnologias digitais para o desenvolvimento sustentável.

“Precisamos avançar em medidas financeiras arrojadas em níveis nacionais, regionais e globais”, ele afirmou, pedindo que as ações estejam alinhadas com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável a Agenda de Ação de Adis Abeba.

Teste para o multilateralismo – A COVID-19 representa o maior teste de comprometimento desta geração com o multilateralismo, cidadania global e solidariedade, afirmou o presidente da Assembleia Geral da ONU, Tijjani Muhammad-Bande.  “Seremos definidos pelas nossas ações”, alertou.

Ao mesmo tempo em que nenhum país será poupado do impacto econômico, os países em desenvolvimento serão os mais afetados, mesmo que não enfrentem o surto de COVID-19 – já que lutam com a queda dos preços de commodities e reversão no fluxo financeiro.

São necessários esforços dirigidos para todas as sete áreas da Agenda de Adis Abeba para alcançar o desenvolvimento sustentável. “Devemos nos mover rapidamente no apoio de concessão financeira e de dívida para apoiar as pessoas mais vulneráveis que atendemos”, enfatizou.

Informações da OMS influenciam adiamento dos Jogos Olímpicos

 

Bandeiras da ONU e das Olimpíadas – Foto: Evan Schneider/ONU
Bandeiras da ONU e das Olimpíadas – Foto: Evan Schneider/ONU

Baseado em informações fornecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o rápido avanço da pandemia da COVID-19, o Comitê Olímpico Internacional (COI) declarou que está adiando os Jogos Olímpicos de 2020, que ocorreriam no Japão.

A decisão de adiar os Jogos foi anunciada num comunicado conjunto do Comitê Olímpico Internacional, parceiro das Nações Unidas, e do comitê organizador da Tóquio 2020.
A mensagem citou palavras do diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, que na terça-feira (24) alertou que o número de casos globais aumentou de 200 mil para 300 mil em apenas quatro dias.

O presidente do COI, Thomas Bach, e o primeiro ministro do Japão, Shinzo Abe, expressaram preocupação com o efeito que a pandemia está tendo na vida das pessoas e o impacto significante na preparação dos atletas de elite para os Jogos.

A possibilidade de manutenção dos Jogos Olímpicos antecipou em alguns dias a decisão, com Canadá e Austrália anunciando que não enviariam atletas para Tóquio e muitos países pedindo adiamento por conta do avanço da COVID-19.

As lideranças anunciaram que os Jogos serão adiados para “uma data depois de 2020, mas não depois de 2021, para preservar a saúde dos atletas, de todos os envolvidos nos Jogos Olímpicos e da comunidade internacional”.

No entanto, embora tenha sido adiado para o ano que vem, o nome oficial continuará sendo “Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020″. A chama olímpica continuará acesa e permanecerá no Japão.

É a primeira vez que os Jogos são adiados desde 1944. Eles foram cancelados em 1916 em função da Primeira Guerra Mundial e também em 1940 e 1944, por conta da Segunda Guerra Mundial. É a segunda vez que uma crise global afeta a realização dos Jogos no Japão, onde o evento aconteceria em 1940.

O esporte tem sido reconhecido pela ONU como um importante facilitador do desenvolvimento sustentável e está incluído na Agenda 2030. As Nações Unidas e o Comitê Olímpico Internacional têm trabalhado conjuntamente por diversos anos, em reconhecimento à contribuição que o esporte dá para o desenvolvimento e a paz.

O COI ganhou status de Observador Permanente da Assembleia Geral da ONU em 2009, garantindo que possa estar diretamente envolvido na Agenda da ONU e participe dos encontros da Assembleia Geral, onde pode fazer uso da palavra.

Nações Unidas recebem inscrições para bolsas destinadas a jornalistas

Foto: ONU
Foto: ONU

O Fundo Dag Hammarskjöld Fund para Jornalistas da ONU abriu inscrições para profissionais de países em desenvolvimento para o programa de bolsas de 2020. As inscrições podem ser feitas até 6 de março.

As bolsas são destinadas a profissionais com idade entre 25 e 35 anos que atuem em rádio, TV, veículo impresso ou Internet e que tenham interesse em visitar Nova Iorque durante a 75ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas. A bolsa incluirá custos com viagem e acomodação, assim como ajuda de custo diária.

O programa de bolsas é aberto a jornalistas que nasceram em países em desenvolvimento de África, Ásia, América Latina e Caribe e que estejam trabalhando em organizações de mídia. Os(as) candidatos(as) devem demonstrar interesse e comprometimento com assuntos internacionais e ajudar a transmitir uma melhor compreensão sobre as Nações Unidas para seus leitores e audiências. É necessário ter autorização da organização de mídia para que o candidato passe até três meses em Nova Iorque.

Para garantir o rodízio entre os países participantes, o Fundo não aceitará inscrições de candidatos dos países selecionados em 2019: Egito, Nigéria, Trinidad & Tobago e Zimbábue. Inscrições para brasileiros estão abertas neste ano.

A cada ano são selecionados quatro jornalistas. Os profissionais agraciados têm a oportunidade de observar as deliberações diplomáticas internacionais nas Nações Unidas, fazer contatos profissionais, interagir com jornalistas de todo o mundo e ganhar uma perspectiva e compreensão dos assuntos de interesse global. O programa não é destinado a dar treinamento básico aos jornalistas: todos os participantes já são profissionais de mídia.

Todos os critérios para a inscrição e documentos solicitados podem ser localizados no website da Fundação, em http://unjournalismfellowship.org.

Perguntas sobre o programa, critérios de inscrição e processo de seleção devem ser enviados para o email [email protected]. A ONU Brasil não é responsável pela seleção e, portanto, não tem como responder perguntas desse tipo.

Cúpula dos ODS termina com compromisso dos líderes mundiais em implementar Agenda 2030

Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável pintados na praça da Entrada de Visitantes das Nações Unidas em Nova Iorque (2019) – Foto: Kim Haughton/Foto ONU
Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável pintados na praça da Entrada de Visitantes das Nações Unidas em Nova Iorque (2019) – Foto: Kim Haughton/Foto ONU

A primeira Cúpula das Nações Unidas focada no progresso da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável foi encerrada em clima esperançoso, com a vice secretária-geral da ONU, Amina Mohammed, declarando que o evento foi um lembrete do “potencial ilimitado da humanidade em criar um futuro melhor para todos”.

Amina disse que extraiu três mensagens concretas da cúpula: o compromisso renovado dos líderes mundiais em implementar a Agenda, que ela descreveu como crítico para responder aos maiores desafios do mundo; o reconhecimento de que os ODS estão longe de serem alcançados e a determinação de intensificar esforços para cumpri-los; e a nitidez do que precisa ser feito daqui em diante, com uma década decisiva para  “estimular ações globais mais ambiciosas; ações locais e pessoais.”

Falando aos delegados durante a Cúpula dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), Amina disse que se sentiu encorajada pelas “vozes da juventude, o comprometimento da sociedade civil, o poder de uma cidadania atuante e a liderança de nossos governos”, expostos durante os dois dias da conferência.

Tijjani Muhammad-Bande, presidente da Assembleia-Geral, disse que os dez anos que antecedem o prazo da Agenda 2030 vão ser uma “Década de Implementação”.  “Vamos garantir a integração da Agenda de 2030 em nossos Planos Nacionais de Desenvolvimento, mobilizando recursos e investindo em programas e setores que têm maior probabilidades gerar mais impulso”

Bande destacou o envolvimento do setor privado no Fórum Empresarial dos ODS, que também aconteceu na quarta-feira (25). Nele, empresas expuseram ações, tecnologias inovadoras e estratégias de financiamento sustentáveis que têm como objetivo criar um mundo melhor para todos.

“Estou confiante de que os líderes empresariais que se juntaram a nós nesta semana continuarão a encorajar e inspirar ações”, disse. “Embora governos sejam responsáveis pela implementação em nível nacional, eles não conseguem atingir os objetivos sozinhos.”

Durante o Fórum, a CEO e diretora executiva do Pacto Global das Nações Unidas, Lise Kingo, compartilhou os resultados de uma pesquisa contida no Relatório Global de Progresso de 2019, mostrando que 81% dos participantes do Pacto relataram estar tomando medidas para cumprir os ODS.

Kingo enfatizou a importância de ir além das estratégias de sustentabilidade, políticas e códigos de conduta para traduzir a ambição das empresas na prática: “Ser um negócio sustentável significa integrar a sustentabilidade no âmago da estratégia de negócios, operações, gestão de cadeias de abastecimento e envolvimento de investidores”.

Liu Zhenmin, sub-secretário-geral do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas, comentou o sucesso da Cúpula ao congratular o compromisso total das Nações Unidas em apoiar Estados-membros para que eles possam cumprir com as promessas que fizeram ao assumir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, de modo que os mesmos beneficiem não só o planeta e a população atual mas também as gerações futuras:

“É encorajador ver que o ímpeto para intensificar as ações está crescendo, com mais de 100 novas Ações de Aceleração  (iniciativas para acelerar o progresso no desenvolvimento sustentável e intensificar ações contra alterações climáticas, com o objetivo de garantir vidas saudáveis, pacíficas e prósperas para todos) registrados à frente da Cúpula dos ODS.”

O presidente da Assembleia Geral aproveitou a oportunidade para  olhar à frente, na Cúpula das Nações Unidas de 2020, quando Estados-Membros e parceiros relevantes vão, novamente, relatar as contribuições que estão fazendo para garantir o sucesso dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

 

 

Encontro de Alto Nível marca 30 anos da Convenção dos Direitos da Criança

Criança na Bolívia brinca durante a refeição. Foto: PMA/Boris Heger

Desde a adoção da Convenção dos Direitos da Criança, há 30 anos, criou-se solidariedade “internacional sem precedentes”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, em evento comemorando o aniversário do documento na sede da ONU, em Nova Iorque, nesta quarta-feira (25).

A Convenção é o acordo internacional de direitos humanos mais vastamente ratificado em toda a história e uma conquista emblemática. “Pela primeira vez, governos explicitamente reconheceram que as crianças têm o mesmos direitos humanos que os adultos”, disse Guterres, acrescentando que o documento reforça “direitos adicionais específicos que reconhecem o status delas como dependentes”.

O encontro de alto nível durante a 74ª sessão da Assembleia Geral da ONU foi organizado para celebrar o 30º aniversário dos Direitos da Criança, destacando o progresso feito em avançar para vidas saudáveis e sustentáveis e pedindo que os Estados-membros reforcem seus compromissos com a causa, ao mesmo tempo em que reconheçam novos desafios.

Até hoje, 196 países ratificaram a convenção, com exceção dos Estados Unidos, que, no entanto, já sinalizou sua intenção de fazê-lo. Desde a assinatura da Convenção, mais crianças estão recebendo a proteção e apoio necessários: a mortalidade infantil abaixo de cinco anos caiu pela metade, assim como o número de crianças sem nutrição adequada.

O Comitê das Nações Unidas pelos Direitos da Criança trabalha para monitorar como governos estão trabalhando para manter os níveis de direitos das crianças descritos na Convenção. Isto garante relatórios de progresso regulares submetidos pelos Estados no prazo de dois depois da ratificação e a partir dai a cada cinco anos. O Comitê responde com recomendações apropriadas para aprimoramento.

Apesar das tendências positivas nos direitos das crianças, ainda há muito espaço para aperfeiçoamento e ações precisam ser feitas para adaptar os novos desafios das crianças e adolescentes frente ao mundo moderno.

A diretora do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Henrietta Fore, participou do encontro, e declarou que as mudanças enfrentadas pelas crianças hoje eram inimagináveis em 1989, citando mudanças climáticas, aumento da desigualdade e conflitos prolongados.

“A infância está mudando e também nós devemos mudar”, afirmou, garantindo a todas as crianças na plateia que elas “têm o direito a proteção, saúde e educação; têm o direito de serem ouvidas, têm direito ao futuro”.

Para Henrietta, os países devem investir naqueles que carregam o futuro adiante e não apenas ouvir crianças e adolescentes mas trabalhar junto com eles. “Vamos apoiá-los, vamos agir com eles e daqui a 30 anos olharemos para este tempo como um tempo em que o mundo se comprometeu a colocar programas concretos para manter nossas promessas para crianças e adolescentes”, completou.