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FAO lança plataforma para ajudar a fortalecer os setores de alimentos e agricultura pós-COVID-19

FAO lança plataforma geoespacial que contribuirá para a transformação agrícola e o desenvolvimento rural sustentável. Foto: Free-Photos/Pixabay

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) lançou uma plataforma geoespacial Hand-in-Hand com um grande e rico conjunto de dados sobre alimentos, agricultura, socioeconomia e recursos naturais para ajudar a fortalecer as tomadas de decisão baseadas em evidências nos setores de alimentação e agricultura.

A plataforma é uma ferramenta crucial para os esforços de reconstruir melhor e criar sistemas alimentares mais resilientes pós-COVID-19.

Possui mais de um milhão de camadas geoespaciais e milhares de séries estatísticas com mais de 4.000 registros de metadados, reunindo informações geográficas e dados estatísticos em mais de dez domínios ligados à alimentação e agricultura – desde segurança alimentar, safras, solo, terra, água, clima, pesca e pecuária para silvicultura. Também inclui informações sobre o impacto da COVID-19 na alimentação e na agricultura.

Os dados foram obtidos através da FAO e de outros provedores de dados públicos, como as Nações Unidas e ONGs, universidades, setor privado e agências espaciais. Também incorporam dados da FAOSTAT sobre alimentação e agricultura para os 194 países membros da FAO, mais os 51 territórios, de 1961 ao ano mais recente disponível.

Segundo o diretor-geral da FAO, QU Dongyu, as tecnologias geoespaciais e os dados agrícolas representam uma oportunidade para encontrar novas maneiras de reduzir a fome e a pobreza por meio de soluções baseadas em dados mais acessíveis e integrados.

“A plataforma geoespacial serve como um bem público digital para criar mapas de dados interativos, analisar tendências e identificar lacunas e oportunidades em tempo real”, acrescentou o diretor-geral.

A plataforma pode ser usada por qualquer pessoa, e seu uso ajudará na tomada de decisões baseadas em dados e evidências em alimentação e agricultura.

Entre seus muitos usos, a plataforma fornece informações vitais para:

– monitorar a produtividade agrícola da água, incluindo sistemas agrícolas em risco devido à pressão humana sobre a terra e a água;
– comparar a densidade da população humana com a distribuição de gado ou comparar a densidade entre duas espécies de gado em todo o mundo;
– verificar a distribuição das espécies aquáticas;
– analisar tendências de precipitação;
– analisar informações de sistemas nacionais de monitoramento de florestas que mostram a distribuição de recursos florestais com outros dados geoespaciais, como a rede de estradas. Isso permite a separação de áreas florestais não perturbadas com alto valor de conservação, de áreas acessíveis que são mais adequadas para restauração ou produção.

“A plataforma geoespacial nos permitirá projetar intervenções agrícolas e planos de investimento mais direcionados por meio de uma abordagem territorial – uma abordagem que promove a igualdade, inclusão e segurança alimentar e nutricional sustentável”, disse o economista-chefe da FAO, Maximo Torero.

A FAO adicionará à plataforma, novos conjuntos de dados e estudos de caso específicos dos países para melhorar o direcionamento e adaptação de intervenções políticas, inovação, finanças e investimento, e reforma institucional em alimentação e agricultura.

A plataforma faz parte da iniciativa Hand-in-Hand da FAO – uma iniciativa baseada em evidências, liderada pelos países, e de propriedade dos países, que visa acelerar a transformação agrícola e o desenvolvimento rural sustentável para erradicar a pobreza (ODS1) e acabar com a fome e todas as formas de desnutrição (ODS2), inclusive por meio do uso das ferramentas mais sofisticadas disponíveis, como modelagem e análise geoespacial avançada.

Líbano: 80 mil crianças deslocadas devido às explosões em Beirute

A explosão do porto de Beirute afetou gravemente o Hospital Governamental Karantina. O UNICEF apoia esta unidade neonatal, que fornece cuidados médicos para bebês recém-nascidos. Foto tirada em 6 de agosto, dois dias depois da explosão. Foto: Choufany/UNICEF

As explosões em Beirute deixaram 140 pessoas mortas, 5 mil feridas, centenas desaparecidas, e 80 mil crianças deslocadas. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) está preocupado com o fato de muitas crianças terem sofrido trauma e permanecerem em choque.

“Nas últimas 24 horas, o UNICEF continuou a coordenar-se estreitamente com as autoridades e parceiros no local para responder às necessidades urgentes das famílias afetadas, concentrando-se na saúde, na água e no bem-estar das crianças”, disse a representante adjunta do UNICEF no Líbano, Violet Speek-Warnery.

O porto de Beirute – onde a explosão ocorreu – é a principal tábua de salvação do país. Agora está totalmente destruído.

De acordo com as informações mais recentes:

  • Existem inúmeros relatos de crianças que foram separadas dos membros da família, alguns dos quais ainda estão desaparecidos;
  • Pelo menos 12 centros de saúde, maternidades, centros de imunização e de recém-nascidos em Beirute foram danificados, afetando os serviços de quase 120 mil pessoas;
  • Um hospital infantil na área de Karantina, que possuía uma unidade especializada em tratamento de recém-nascidos em estado crítico, foi destruído. Um recém-nascido morreu;
  • Os demais hospitais operacionais estão sobrecarregados e esgotaram os suprimentos médicos críticos;
  • Dez contêineres estocados pelo Ministério da Saúde Pública com equipamentos de proteção individual foram destruídos;
  • Cinco das sete câmaras frias de vacinas apoiadas pelo UNICEF foram destruídas na explosão, afetando programas críticos de vacinação;
  • Muitas escolas relataram danos em Beirute e na área circundante, com avaliações em andamento quanto ao nível de dano;
  • Nas últimas 48 horas, foram registrados 464 novos casos da COVID-19.

“O UNICEF está apoiando as autoridades e parceiros locais. Nossas equipes têm trabalhado o tempo todo para fornecer às pessoas afetadas a assistência necessária”, disse a representante adjunta do UNICEF no Líbano.

Ajuda humanitária do UNICEF no Líbano

O UNICEF no Líbano está trabalhando com colegas e parceiros para aumentar o apoio às crianças afetadas e suas famílias, a fim de responder às necessidades imediatas e de médio prazo, incluindo:

  • Distribuição de água potável para os atendentes da linha de frente e aqueles que moravam no local diretamente afetado ao redor do porto de Beirute;
  • Realização de avaliações preliminares em armazéns, escolas, câmaras frigoríficas, infraestrutura hídrica e instalações de saúde, incluindo hospitais e unidade de terapia intensiva especializada para recém-nascidos;
  • Estimados 90% dos suprimentos de vacinas armazenados resgatados do armazém danificado no porto;
  • Fornecimento de apoio psicossocial para ajudar as crianças a lidar com o luto e o trauma;
  • Apoio à reunificação de crianças que foram separadas de sua família e a criação de uma linha direta para chamadas;
  • Trabalho com jovens voluntários ajudando na limpeza em diferentes áreas;
  • Estabelecimento de um programa de transferência de renda para assistência temporária à moradia das famílias deslocadas pela perda de suas casas.

Para poder responder a essas enormes necessidades, o UNICEF solicita imediatamente cerca de US$ 4,4 milhões.

No Brasil, o UNICEF lançou nesta quinta-feira (6) uma campanha de arrecadação de fundos que serão enviados para a ação humanitária do Fundo em Beirute.

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UNICEF e organizações se unem para atender crianças e adolescentes no Complexo da Maré

CRIAndo Rede: proteção à vida de crianças e adolescentes na Maré.

Em resposta à pandemia da COVID-19, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) se uniu às organizações da sociedade civil Luta pela Paz, Redes da Maré e Observatório de Favelas para desenvolver o projeto CRIAndo Rede: proteção à vida de crianças e adolescentes na Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro.

O objetivo do projeto é fortalecer a rede de proteção social e políticas públicas com foco em crianças, adolescentes e jovens vulneráveis do território, bem como suas famílias.

Entre as ações que serão desenvolvidas até o mês de setembro, estão as doações de cestas básicas e kits de higiene para mais de 6.000 famílias. Além disso, o projeto vai realizar atendimento psicossocial remoto com assistentes sociais, psicólogas e advogada, a fim de identificar e responder a situações de vulnerabilidade envolvendo famílias com crianças e adolescentes da Maré.

Segundo dados do Censo Maré, das 140 mil pessoas moradoras da região, 52% têm até 30 anos, sendo 24,5% com até 14 anos e 27,4% entre 15 e 29 anos.

“Neste momento de pandemia, sabemos da importância do apoio psicossocial e da identificação de violências contra crianças e adolescentes vulneráveis, que foram intensificadas com o isolamento social. É necessário também identificar os gargalos dos serviços de proteção de crianças e apoiá-los para melhorar o acesso e a qualidade do atendimento”, afirmou a chefe do Território Sudeste do UNICEF no Brasil, Luciana Phebo.

Para a coordenadora do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré, Lidiane Malanquini, iniciativas como essa são de suma importância para a comunidade: “A Maré é o conjunto de favelas mais populoso do Rio de Janeiro, com uma grande representação de crianças, adolescentes e jovens. Neste momento de pandemia, é muito importante pensarmos em ações específicas para essa parcela da população que deem conta desse novo contexto, fortalecendo e potencializando a rede de proteção social”.

Com o intuito de promover o fortalecimento das famílias diante dos múltiplos fatores de risco à violência e à violação de direitos, serão criados espaços online seguros de apoio psicossocial para mais de 300 crianças, adolescentes e jovens. Jovens mobilizadores da Maré também atuarão como agentes promotores da saúde mental, produzindo e disseminando conteúdo. “Vamos oferecer atendimento psicológico remoto, utilizando a metodologia dos Diários da Quarentena, uma ferramenta de acompanhamento do processo de cuidado da saúde mental”, apontou a diretora presidente da Luta pela Paz, a Juliana Tibau.

Também será realizada uma pesquisa sobre violência contra crianças, adolescentes e jovens e a rede de proteção na Maré. “O estudo visa levantar dados e análises para subsidiar ações de prevenção da violência e fortalecimento da rede de garantia de direitos de crianças, adolescentes e jovens no território”, explicou a diretora do Observatório de Favela, Raquel Willadino.

Será realizado ainda o mapeamento de atores da rede que poderão ajudar na garantia de direitos e identificação de gargalos do sistema local de proteção. A ideia é realizar recomendações de políticas públicas para adaptar e fortalecer a rede e protocolos durante e pós a pandemia.

As organizações trabalharão de forma conjunta, cada uma com sua especialidade, com intercâmbio de conhecimentos, informações e experiências. Estratégias e ações sinérgicas serão colocadas em prática com intuito de fortalecer a rede de proteção de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Assim, como resultado, espera-se mitigar os danos causados pela pandemia em crianças, adolescentes e jovens da Maré.

Sobre o CRIAndo Rede
O projeto CRIAndo Rede: proteção à vida de crianças e adolescentes na Maré é fruto da parceria entre UNICEF, Luta pela Paz, Redes da Maré e Observatório de Favelas, com o objetivo de mitigar os danos causados pela pandemia do novo coronavírus e fortalecer a rede de proteção de crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade da Maré, na Zona Norte da capital fluminense, o maior conjunto de favelas do estado do Rio de Janeiro.

Sobre a Luta pela Paz
A Luta pela Paz (LPP) foi fundada em 2000 no Complexo da Maré com o propósito de promover o desenvolvimento de crianças e jovens que vivem em áreas afetadas pela violência. Hoje, temos presença em mais de 25 países, por meio de nossas academias, programas Comunidades Seguras e uma aliança de parceiros treinados na metodologia da LPP.

Sobre a Redes da Maré
A Redes da Maré é uma organização não governamental que atua há mais de 20 anos no conjunto de favelas da Maré. A missão da organização é tecer as redes necessárias para efetivar os direitos da população do conjunto de 16 favelas da Maré. Atualmente, conta com mais de 40 projetos que atuam na área da educação, arte, cultura, memórias e identidades, desenvolvimento territorial e direito à segurança pública e acesso à justiça.

Sobre o Observatório de Favelas
Fundado em 2001, o Observatório de Favelas é uma organização da sociedade civil de interesse público sediada no Conjunto de Favelas da Maré, dedicada à produção de conhecimento e metodologias visando incidir em políticas públicas sobre as favelas e promover o direito à cidade. A organização tem como missão construir experiências que superem as desigualdades e fortaleçam a democracia a partir da afirmação das favelas e periferias como territórios de potências e direitos. Desenvolve programas e projetos prioritariamente nos seguintes eixos: direito à vida e segurança pública, comunicação, arte, educação e políticas urbanas.

Convenção da OIT sobre trabalho infantil conquista ratificação universal

Os 187 Países-membros da Organização Internacional do Trabalho (OIT) ratificaram a Convenção da OIT sobre a proibição das piores formas de trabalho infantil (Nº 182). Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Pela primeira vez na história da Organização Internacional do Trabalho (OIT), todos os seus Países-membros ratificaram uma convenção internacional do trabalho.

A Convenção nº 182 sobre proibição das piores formas de trabalho infantil e ação imediata para sua eliminação alcançou ratificação universal, após sua ratificação pelo Reino de Tonga.

A embaixadora do Reino de Tonga, Titilupe Fanetupouvava’u Tuivakano, depositou formalmente os instrumentos de ratificação com o diretor-geral da OIT, Guy Ryder, nesta terça-feira (4). A Convenção é a mais rapidamente ratificada na história da Organização, desde sua adoção na Conferência Internacional do Trabalho realizada há 21 anos.

Para o diretor-geral da OIT, Guy Ryder, a ratificação universal da Convenção Nº 182 é um marco histórico e permitirá que todas as crianças a partir de agora desfrutem de proteção legal contra as piores formas de trabalho infanti. “Isso destaca um compromisso global de erradicar as piores formas de trabalho infantil de nossa sociedade, incluindo a escravidão, a exploração sexual e o uso de crianças em conflitos armados ou outros trabalhos ilegais ou perigosos que possa prejudicar a saúde, a moral ou o bem-estar psicológico das crianças”.

A secretária-geral da Confederação Sindical Internacional (CSI), Sharan Burrow, deu as boas-vindas à ratificação. “A ratificação universal da Convenção Nº 182 destaca, de maneira eficaz e oportuna, a importância das normas da OIT e a necessidade de encontrar soluções multilaterais para problemas globais. O trabalho infantil viola seriamente os direitos fundamentais e cabe aos constituintes da OIT e à comunidade internacional assegurar a plena implementação dessa Convenção, em particular mediantes atividades de devida diligência nas cadeias de suprimentos globais”.

O secretário-geral da Organização Internacional dos Empregadores (OIE), Roberto Suárez Santos, afirmou que a ratificação universal da Convenção Nº 182 da OIT sobre as piores formas de trabalho infantil é um momento histórico. “Ao longo dos anos, a OIE e as organizações que a integram apoiaram a implementação dessa Convenção. Atualmente, a comunidade empresarial está ciente e atua sobre a necessidade de conduzir os negócios com respeito aos direitos das crianças. Isso é ainda mais urgente em tempos da pandemia da COVID-19. Nós não podemos permitir que a luta contra as piores formas de trabalho infantil sofra um retrocesso. Juntos, podemos trabalhar para pôr fim ao trabalho infantil em todas as suas formas”.

Essa ratificação universal é mais um passo no sentido de tornar mais concretas as aspirações de Kailash Satyarthi, Prêmio Nobel da Paz, quando disse: “Sonho com um mundo seguro para todas as crianças, em que a infância seja segura e todas as crianças desfrutem da liberdade de ser criança”.

A OIT estima que existam 152 milhões de crianças submetidas ao trabalho infantil, 73 milhões das quais realizam trabalhos perigosos. Setenta por cento de todo o trabalho infantil ocorre na agricultura e está principalmente relacionado à pobreza e às dificuldades dos pais em encontrar trabalho decente.

A Convenção nº 182 exorta a proibição e eliminação das piores formas de trabalho infantil, incluindo a escravidão, o trabalho forçado e o tráfico de crianças. Proíbe a utilização de crianças em conflitos armados, a prostituição, a pornografia e atividades ilícitas, como tráfico de drogas e trabalhos perigosos.

A Convenção é uma das oito Convenções Fundamentais da OIT. Elas incluem a eliminação do trabalho infantil, a erradicação do trabalho forçado, a eliminação da discriminação no trabalho, o direito à liberdade sindical e à negociação. Esses princípios também estão contidos na Declaração da OIT sobre Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho (1998).

Desde a fundação da OIT em 1919, a erradicação do trabalho infantil é um dos seus principais objetivos. O primeiro diretor da Organização, Albert Thomas, afirmou que o trabalho infantil “representa uma exploração da infância e é o reflexo do mal (…) o mais insuportável para o coração humano. A proteção das crianças é sempre o ponto de partida para um trabalho eficaz em matéria de legislação social”.

A luta contra o trabalho infantil é o objetivo principal do Programa Internacional para a Erradicação do Trabalho Infantil (IPEC+), um dos maiores programas da OIT de cooperação para o desenvolvimento, que já forneceu assistência a mais de 100 países em todos os continentes.

A incidência de trabalho infantil, incluindo suas piores formas, diminuiu quase 40% entre 2000 e 2016, como resultado do aumento da taxa de ratificação das Convenções Nº 182 e Nº 138 (sobre a idade mínima para admissão) e a adaptação de leis e políticas efetivas nos países.

No entanto, o ritmo de progresso tem diminuído nos últimos anos, principalmente em relação à faixa etária mais jovem (de 5 a 11 anos) e em determinadas áreas geográficas. Como consequência da pandemia da COVID-19, há um risco real de retrocesso nos avanços realizados até agora e de o trabalho infantil aumentar pela primeira vez em 20 anos, a menos que sejam tomadas medidas adequadas.

No âmbito da meta 8.7 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, adotados por todos os Países-membros das Nações Unidas em 2015, busca-se “acabar com todas as formas de trabalho infantil até 2025”. A parceria global, Aliança 8.7, para a qual a OIT fornece serviços de secretariado, reúne mais de 250 parceiros e 21 países pioneiros para coordenar, inovar e acelerar o progresso para pôr fim ao trabalho infantil, trabalho forçado e tráfico de pessoas e formas modernas de escravidão. A ratificação universal da Convenção Nº 182 destaca a vontade de todos os Países-membros da OIT de erradicar o trabalho infantil, incluindo todas as suas formas, em todos os lugares.

Essa conquista histórica foi alcançada poucos meses antes do início do Ano Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil, em 2021, cuja celebração será liderada pela OIT em colaboração com seus parceiros. Seu objetivo é aumentar a conscientização sobre o problema e contribuir para acelerar o ritmo do progresso.

Senso de urgência da Agenda 2030 é ainda maior com pandemia, diz ONU no Brasil

Criança no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro (RJ). Foto: Agência Brasil/Fernando Frazão
Criança no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro (RJ). Foto: Agência Brasil/Fernando Frazão

O senso de urgência para a execução da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável foi renovado diante dos efeitos da pandemia de COVID-19 no Brasil e no mundo, na avaliação do coordenador-residente da ONU no país, Niky Fabiancic.

“Como sabemos, a Agenda 2030, com seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, foi o plano elaborado pelos 193 países-membros das Nações Unidas para a construção de um mundo mais justo e sustentável, que não deixe ninguém para trás”, lembrou.

“Quando este plano foi acordado pelos países em 2015, com intensa liderança do Brasil, os países tinham consciência de que estavam discutindo os desafios mais urgentes enfrentados pela humanidade. Esses países aprovaram a Agenda 2030 com a certeza de que avançar no cumprimento dos 17 ODS era o caminho mais curto, justo e seguro para a superação desses desafios.”

Para Fabiancic, cinco anos após sua aprovação, o senso de urgência da execução desse plano foi renovado pela “gigantesca emergência sanitária que a pandemia de COVID-19 impôs ao mundo”.

“Temas que já estavam expressos na Agenda 2030 em 2015, como o acesso à água e a saneamento básico e a universalização dos serviços de saúde, se mostram imprescindíveis para a superação desta crise sem precedentes”, disse.

As declarações foram feitas na sexta-feira (31), em Brasília (DF), durante audiência pública da Frente Parlamentar Mista em Apoio aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável do Congresso Nacional.

Na ocasião, foi lançado o IV Relatório Luz da Sociedade Civil sobre a Agenda 2030, produzido pelo Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030, o GT Agenda 2030 – coalizão formada por 51 organizações, fundações e movimentos brasileiros.

O documento é a única publicação no Brasil, organizado pela sociedade civil, que apresenta um panorama sobre como os 17 ODS estão sendo implementados no Brasil, país que foi um dos 193 signatários do acordo que deu origem à Agenda 2030, na ONU.

Clique aqui para acessar o relatório.

“O Relatório Luz que está sendo lançado hoje nos alerta que não estamos avançando na implementação dos ODS na velocidade que precisamos. Isso não é uma novidade e nem é uma exclusividade do Brasil”, disse Fabiancic.

No início do ano, o secretário-geral da ONU, António Guterres, já havia feito um chamado para que esta fosse a Década de Ação, para que todo o mundo empreendesse mais esforços para tirar os ODS do papel.

“A pandemia nos mostra que essa união é imprescindível e que investir em saúde, educação, saneamento e na preservação do meio ambiente é estratégico. Parafraseando o secretário-geral, o mundo é tão forte quanto seu elo mais fraco.”

Segundo o coordenador-residente da ONU no país, a pandemia alcançou o Brasil, assim como toda a América Latina, em uma situação desfavorável, e a crise decorrente da pandemia agravou essa situação.

As desigualdades históricas são determinantes para a forma e a intensidade com que cada pessoa experimenta os efeitos da pandemia, disse. “As pessoas que já se encontravam em situação vulnerável foram mais duramente atingidas. Elas estão mais suscetíveis aos efeitos na saúde, já que têm menos condições de adotar as medidas de prevenção à doença, e muitas delas têm mais chance de desenvolver as formas graves da COVID-19.”

“Ao mesmo tempo, são esses grupos vulneráveis que sofrem mais com os efeitos socioeconômicos da pandemia. Trabalhadores informais, mulheres, indígenas, afrodescendentes, pessoas com deficiência são alguns dos grupos que que estão sentindo os piores efeitos da crise socioeconômica provocada pela pandemia.”

O Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina e do Caribe deve recuar 9,1% este ano – enquanto a queda prevista para o PIB brasileiro é de cerca de 9%. A pobreza deve chegar a mais de 37% da população da região, ou seja, 231 milhões de pessoas, enquanto 98 milhões de pessoas viverão em situação de pobreza extrema, segundo projeções da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

Fabiancic lembrou que o desemprego e a informalidade também devem aumentar, com o fechamento de 2,7 milhões de empresas, somando 44 milhões de pessoas sem emprego na região. No Brasil, a pobreza deve chegar a 25% da população, ou cerca de 50 milhões de pessoas, salientou.

“Portanto, a desigualdade, que já era intensa, deve ser acirrada. E com mais desigualdade, a tendência é termos desafios maiores em todas as áreas do desenvolvimento, como saúde, educação, trabalho e renda, lacunas de gênero, segurança alimentar, meio ambiente e crescimento econômico.”

Altos níveis de desigualdade são um empecilho para o desenvolvimento e estão associados a instabilidade econômica, corrupção, crises financeiras, aumento da criminalidade e condições de saúde ruins, disse Fabiancic.

“Precisamos quebrar esse ciclo e, para isso, precisamos ter dados confiáveis e oportunos, como estes do Relatório Luz. Portanto desejo parabenizar a todas as organizações que fizeram um grande esforço para a preparação deste relatório.”

As Nações Unidas, por meio da CEPAL, têm algumas recomendações para que os países consigam quebrar o ciclo de desigualdade, entre elas, a implementação de programas de renda básica, que ajudarão inicialmente as famílias pobres a atravessar o período mais crítico da crise, disse Fabiancic.

Outras recomendações incluem a adoção de políticas sociais universais, de saúde e educação, ancoradas em reformas fiscais progressivas e distributivas, tanto nos impostos quanto nas despesas públicas. “Políticas desse tipo provocarão mudanças estruturais duradouras capazes de levar a região a um modelo de desenvolvimento mais inclusivo e sustentável”, disse.

Fabiancic lembrou que a geração de emprego e renda deve ser uma prioridade, principalmente por meio do apoio a pequenas e médias empresas. Também deve haver alinhamento de esforços pela redução da grande lacuna digital da região, como no acesso à Internet, que também favorecerá a redução de outras desigualdades e a geração de emprego e renda.

“Essas quatro recomendações têm um aspecto em comum: políticas fiscais e monetárias expansivas, que mantenham um período mais longo de investimentos que não seja interrompido por regimes de austeridade”, disse.

“Encorajamos o Congresso Nacional e a sociedade brasileira como um todo a se engajar nesta discussão para encontrar as soluções mais adequadas para que o Brasil construa um futuro melhor, com igualdade, inclusão e sustentabilidade.”

“Enxergamos o Sistema Nações Unidas como um catalisador de diálogos e seguimos à disposição do Brasil para facilitar essa grande conversa. Estou seguro de que com todo seu potencial e criatividade, o Brasil será capaz não apenas de encontrar soluções inovadoras para seus desafios, como também de contribuir para que todo o mundo emerja desta crise melhor do que antes”, concluiu Fabiancic.

Clique aqui para acessar a íntegra do discurso do coordenador-residente da ONU Brasil.