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Senso de urgência da Agenda 2030 é ainda maior com pandemia, diz ONU no Brasil

Criança no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro (RJ). Foto: Agência Brasil/Fernando Frazão
Criança no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro (RJ). Foto: Agência Brasil/Fernando Frazão

O senso de urgência para a execução da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável foi renovado diante dos efeitos da pandemia de COVID-19 no Brasil e no mundo, na avaliação do coordenador-residente da ONU no país, Niky Fabiancic.

“Como sabemos, a Agenda 2030, com seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, foi o plano elaborado pelos 193 países-membros das Nações Unidas para a construção de um mundo mais justo e sustentável, que não deixe ninguém para trás”, lembrou.

“Quando este plano foi acordado pelos países em 2015, com intensa liderança do Brasil, os países tinham consciência de que estavam discutindo os desafios mais urgentes enfrentados pela humanidade. Esses países aprovaram a Agenda 2030 com a certeza de que avançar no cumprimento dos 17 ODS era o caminho mais curto, justo e seguro para a superação desses desafios.”

Para Fabiancic, cinco anos após sua aprovação, o senso de urgência da execução desse plano foi renovado pela “gigantesca emergência sanitária que a pandemia de COVID-19 impôs ao mundo”.

“Temas que já estavam expressos na Agenda 2030 em 2015, como o acesso à água e a saneamento básico e a universalização dos serviços de saúde, se mostram imprescindíveis para a superação desta crise sem precedentes”, disse.

As declarações foram feitas na sexta-feira (31), em Brasília (DF), durante audiência pública da Frente Parlamentar Mista em Apoio aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável do Congresso Nacional.

Na ocasião, foi lançado o IV Relatório Luz da Sociedade Civil sobre a Agenda 2030, produzido pelo Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030, o GT Agenda 2030 – coalizão formada por 51 organizações, fundações e movimentos brasileiros.

O documento é a única publicação no Brasil, organizado pela sociedade civil, que apresenta um panorama sobre como os 17 ODS estão sendo implementados no Brasil, país que foi um dos 193 signatários do acordo que deu origem à Agenda 2030, na ONU.

Clique aqui para acessar o relatório.

“O Relatório Luz que está sendo lançado hoje nos alerta que não estamos avançando na implementação dos ODS na velocidade que precisamos. Isso não é uma novidade e nem é uma exclusividade do Brasil”, disse Fabiancic.

No início do ano, o secretário-geral da ONU, António Guterres, já havia feito um chamado para que esta fosse a Década de Ação, para que todo o mundo empreendesse mais esforços para tirar os ODS do papel.

“A pandemia nos mostra que essa união é imprescindível e que investir em saúde, educação, saneamento e na preservação do meio ambiente é estratégico. Parafraseando o secretário-geral, o mundo é tão forte quanto seu elo mais fraco.”

Segundo o coordenador-residente da ONU no país, a pandemia alcançou o Brasil, assim como toda a América Latina, em uma situação desfavorável, e a crise decorrente da pandemia agravou essa situação.

As desigualdades históricas são determinantes para a forma e a intensidade com que cada pessoa experimenta os efeitos da pandemia, disse. “As pessoas que já se encontravam em situação vulnerável foram mais duramente atingidas. Elas estão mais suscetíveis aos efeitos na saúde, já que têm menos condições de adotar as medidas de prevenção à doença, e muitas delas têm mais chance de desenvolver as formas graves da COVID-19.”

“Ao mesmo tempo, são esses grupos vulneráveis que sofrem mais com os efeitos socioeconômicos da pandemia. Trabalhadores informais, mulheres, indígenas, afrodescendentes, pessoas com deficiência são alguns dos grupos que que estão sentindo os piores efeitos da crise socioeconômica provocada pela pandemia.”

O Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina e do Caribe deve recuar 9,1% este ano – enquanto a queda prevista para o PIB brasileiro é de cerca de 9%. A pobreza deve chegar a mais de 37% da população da região, ou seja, 231 milhões de pessoas, enquanto 98 milhões de pessoas viverão em situação de pobreza extrema, segundo projeções da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

Fabiancic lembrou que o desemprego e a informalidade também devem aumentar, com o fechamento de 2,7 milhões de empresas, somando 44 milhões de pessoas sem emprego na região. No Brasil, a pobreza deve chegar a 25% da população, ou cerca de 50 milhões de pessoas, salientou.

“Portanto, a desigualdade, que já era intensa, deve ser acirrada. E com mais desigualdade, a tendência é termos desafios maiores em todas as áreas do desenvolvimento, como saúde, educação, trabalho e renda, lacunas de gênero, segurança alimentar, meio ambiente e crescimento econômico.”

Altos níveis de desigualdade são um empecilho para o desenvolvimento e estão associados a instabilidade econômica, corrupção, crises financeiras, aumento da criminalidade e condições de saúde ruins, disse Fabiancic.

“Precisamos quebrar esse ciclo e, para isso, precisamos ter dados confiáveis e oportunos, como estes do Relatório Luz. Portanto desejo parabenizar a todas as organizações que fizeram um grande esforço para a preparação deste relatório.”

As Nações Unidas, por meio da CEPAL, têm algumas recomendações para que os países consigam quebrar o ciclo de desigualdade, entre elas, a implementação de programas de renda básica, que ajudarão inicialmente as famílias pobres a atravessar o período mais crítico da crise, disse Fabiancic.

Outras recomendações incluem a adoção de políticas sociais universais, de saúde e educação, ancoradas em reformas fiscais progressivas e distributivas, tanto nos impostos quanto nas despesas públicas. “Políticas desse tipo provocarão mudanças estruturais duradouras capazes de levar a região a um modelo de desenvolvimento mais inclusivo e sustentável”, disse.

Fabiancic lembrou que a geração de emprego e renda deve ser uma prioridade, principalmente por meio do apoio a pequenas e médias empresas. Também deve haver alinhamento de esforços pela redução da grande lacuna digital da região, como no acesso à Internet, que também favorecerá a redução de outras desigualdades e a geração de emprego e renda.

“Essas quatro recomendações têm um aspecto em comum: políticas fiscais e monetárias expansivas, que mantenham um período mais longo de investimentos que não seja interrompido por regimes de austeridade”, disse.

“Encorajamos o Congresso Nacional e a sociedade brasileira como um todo a se engajar nesta discussão para encontrar as soluções mais adequadas para que o Brasil construa um futuro melhor, com igualdade, inclusão e sustentabilidade.”

“Enxergamos o Sistema Nações Unidas como um catalisador de diálogos e seguimos à disposição do Brasil para facilitar essa grande conversa. Estou seguro de que com todo seu potencial e criatividade, o Brasil será capaz não apenas de encontrar soluções inovadoras para seus desafios, como também de contribuir para que todo o mundo emerja desta crise melhor do que antes”, concluiu Fabiancic.

Clique aqui para acessar a íntegra do discurso do coordenador-residente da ONU Brasil.

PNUMA e UNESCO se unem ao Instituto Alana na campanha global da semana sem plástico

PNUMA e UNESCO fazem parte da Semana Sem Plástico, alinhados à campanha global #PlasticFreeJuly. Foto: Martijn Baudoin/Unsplash

Pela primeira vez no Brasil acontece a Semana Sem Plástico, entre os dias de 27 a 31 de julho, com o intuito de fomentar reflexões sobre o uso indiscriminado do plástico e dos hábitos de consumo.

Fazem parte da iniciativa o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente no Brasil (PNUMA), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no Brasil, o Instituto Alana, por meio do programa Criança e Consumo, Break Free From Plastic, Videocamp, Instituto Polis, GAIA e Aliança Resíduo Zero Brasil.

A Semana Sem Plástico faz parte da campanha global #PlasticFreeJuly, e terá programação digital e gratuita. Participe!

No dia 31 de julho, às 13h, será realizada uma conversa ao vivo sobre o lançamento da pesquisa “Infância Plastificada”, um estudo exclusivo encomendado pelo programa Criança e Consumo à UFSCar, que investiga a correlação entre publicidade infantil, consumo de brinquedos plásticos, descarte de plástico e os impactos na saúde infantil e no meio ambiente. Para apresentar os resultados, participam da conversa a Dra. Vânia Zuin, coordenadora da pesquisa, professora e pesquisadora da UFSCar (GPQV) e JP Amaral, mobilizador do programa Criança e Consumo.

O destaque da Semana foi a estreia nacional do documentário “A História do Plástico” (The Story of Plastic). Dos mesmos realizadores do curta-metragem “A História das Coisas” (Story of Stuff), com direção de Deia Schlosberg, o filme ressalta a urgência em traçar novos caminhos para reverter a crise da poluição causada pela produção e consumo excessivo de plástico e apresenta os impactos globais relacionados à saúde do planeta e de seus habitantes.

“A proposta da Semana Sem Plástico é refletir sobre a forma de produção e consumo do plástico e a pesquisa ‘Infância Plastificada’ ressalta a necessidade de se buscar alternativas que reduzam os estímulos ao consumismo e seus impactos na infância e no meio ambiente, em especial devido à grande incidência de publicidade infantil de brinquedos, que são, em sua maioria, feitos de plástico”, explicou o mobilizador do programa Criança e Consumo, JP Amaral.

No dia 29 de julho, como parte da programação da Semana, aconteceu um debate on-line sobre o filme “A História do Plástico”, que contou com recurso de intérprete de libras. Aconteceram duas rodadas de conversa: a primeira, às 16h, teve como foco a necessidade de mudanças sistêmicas no campo das políticas públicas e privadas. Na sequência, às 17h, aconteceu a segunda rodada do debate, com um compartilhamento de experiências de atores da sociedade que estão na ponta da cadeia do plástico lidando com seu problema e buscando soluções para seu destino adequado.

Sobre o Criança e Consumo

Criado em 2006, o programa Criança e Consumo, do Alana, atua para divulgar e debater ideias sobre as questões relacionadas à publicidade dirigida às crianças, bem como apontar caminhos para minimizar e prevenir os malefícios decorrentes da comunicação mercadológica.

Sobre o Instituto Alana

Instituto Alana é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que aposta em programas que buscam a garantia de condições para a vivência plena da infância. Criado em 1994, é mantido pelos rendimentos de um fundo patrimonial desde 2013. Tem como missão “honrar a criança”.

Sobre o PNUMA

O PNUMA é a principal voz global em temas ambientais. Ele promove liderança e encoraja parcerias para cuidar do meio ambiente, inspirando, informando e capacitando nações e pessoas a melhorarem a sua qualidade de vida sem comprometer a das futuras gerações.

Transição para economia verde criaria 15 milhões de empregos na América Latina e Caribe até 2030

Energia eólica, limpa e renovável. Foto: Alexander Droeger/CC.
Energia eólica, limpa e renovável. Foto: Alexander Droeger/CC.

A transição para uma economia com zero emissões líquidas de carbono poderia criar 15 milhões de novos empregos líquidos na América Latina e no Caribe até 2030, segundo estudo de Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgado nesta quarta-feira (29).

Os organismos internacionais lembraram que, para apoiar uma recuperação após a pandemia de COVID-19, a região precisa urgentemente criar empregos decentes e construir um futuro mais sustentável e inclusivo.

O relatório “O Emprego em um futuro de zero emissões líquidas na América Latina e Caribe” revelou que a transição para uma economia de zero emissões líquidas provocaria o desaparecimento de cerca de 7,5 milhões de empregos no setor elétrico baseado em combustíveis fósseis, na extração de combustíveis fósseis e na produção de alimentos de origem animal.

No entanto, essas perdas seriam mais do que compensadas: 22,5 milhões de empregos seriam criados nos setores de agricultura e produção de alimentos baseados em plantas, eletricidade renovável, silvicultura, construção e manufatura.

O relatório também é o primeiro a destacar como a mudança para dietas mais saudáveis e sustentáveis, que reduzem o consumo de carne e de laticínios e aumentam o de alimentos à base de plantas, criaria empregos e reduziria a pressão sobre a biodiversidade da região.

Com essa mudança, o setor agroalimentar latino-americano e caribenho poderia criar o equivalente a 19 milhões de empregos em período integral, o que compensaria amplamente a redução de 4,3 milhões empregos nos setores de pecuária, avicultura, laticínios e pesca.

Além disso, o relatório oferece um plano sobre como os países podem criar empregos decentes e promover a transição para alcançar zero emissões líquidas.

Isso inclui políticas públicas que facilitem a realocação de trabalhadores e trabalhadoras, promovam o trabalho decente nas zonas rurais, ofereçam novos modelos de negócios e melhorem a proteção social e o apoio às pessoas deslocadas, às empresas, às comunidades e aos trabalhadores e às trabalhadoras.

O diálogo social envolvendo o setor privado, os sindicatos e os governos é essencial para a elaboração de estratégias de longo prazo para alcançar zero emissões líquidas de carbono que gerem empregos, ajudem a reduzir a desigualdade e atendam os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Sobre o BID

Fundado em 1959, o BID é uma das principais fontes de financiamento de longo prazo para o desenvolvimento econômico, social e institucional da América Latina e do Caribe.

O BID também realiza projetos de pesquisa de ponta e oferece assessoria em políticas públicas, assistência técnica e treinamento a clientes públicos e privados em toda a região.

Sobre a OIT

Única agência tripartite da ONU, desde 1919 a OIT reúne governos, empregadores e trabalhadores de 187 Estados-membros para estabelecer e promover normas, princípios e direitos fundamentais no trabalho, criar oportunidades de trabalho e de renda decentes para mulheres e homens, melhorar a cobertura e a eficácia da proteção social para todas pessoas e fortalecer o tripartismo e o diálogo social.

Como alimentar 10 bilhões de pessoas até 2050

Foto: Victor Rodriguez/Unsplash

Em todo o mundo, mais de 10% das pessoas passam fome, cerca de 25% estão acima do peso ou obesas e outras 25% carecem de micronutrientes, podendo estar sub ou superalimentadas.

O fato é que se alimentar abrange muito mais do que o simples ato de comer. Muito antes de chegar às prateleiras dos supermercados, os alimentos passam por um processo de produção que afeta a qualidade de vida na Terra.

Florestas são desmatadas para criar espaços agrícolas, o que aquece o ar atmosférico, reduz sistematicamente a biodiversidade, destrói as barreiras naturais que protegem os seres humanos de vírus de origem animal – como a COVID-19 – , contamina o solo e a água e animais e plantas com substâncias tóxicas.

Com a população global prevista para alcançar 10 bilhões de pessoas até 2050, como será possível alimentar todo mundo? Ou melhor, como fazer isso sem causar mais danos ao planeta?

Há comida suficiente para todos

Evidências sugerem que o principal problema global atualmente não seja a falta de alimentos, mas a ineficiência do sistema alimentar.

Há falhas em todo o processo de produção e consumo, a começar com o uso da terra. Por exemplo, como uma resposta à crescente demanda por carnes e laticínios, cerca de 60% das terras agrícolas do mundo são usadas para a atividade pecuária.

Cerca de um terço dos alimentos produzidos são perdidos entre a fazenda e a mesa, enquanto são armazenados, transportados, processados, embalados, vendidos e preparados. No fim das contas, 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são perdidas ou desperdiçadas a cada ano.

“Não podemos resolver um problema e criar outro, ou seja, produzir mais comida apenas para desperdiçá-la”, explicou a chefe do Programa de Sistemas Alimentares Sustentáveis do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Clementine O’Connor.

Não é só matemática

Ao supor que mais comida significaria menos fome e mais riqueza significaria mais saúde – já que rendas maiores permitiriam que as pessoas comprassem mais comida –, o senso comum adotou a quantidade como solução para o problema da fome.

Contudo, as tendências a longo prazo revelam que a equação não é tão direta.

Embora a pobreza tenha caído consideravelmente – de 36% em 1990 para 10% em 2015 – , os esforços para acabar com a fome não foram tão bem-sucedidos.

Após décadas de declínio constante, a fome voltou a aumentar em 2015, dessa vez acrescida da desnutrição, uma nova preocupação crescente. Agora, muitos países enfrentam um problema duplo, com a desnutrição de um lado e o sobrepeso e a obesidade do outro.

Muitas das práticas de produção intensiva de alimentos resultaram em grandes problemas ambientais e de saúde. A agricultura intensiva criou um círculo vicioso, que afeta imediatamente e a longo prazo a segurança alimentar.

A expansão da produção agrícola exige o desmatamento de árvores e a morte de animais selvagens; o desmatamento contribui para as mudanças climáticas; as mudanças climáticas favorecem a ocorrência de inundações, secas e tempestades, o que resulta em maior insegurança alimentar.

Outro fator preocupante é o uso de pesticidas e fertilizantes ??para garantir maior rendimento à produção de alimentos.

Além de poluir terra e água, causando a perda da biodiversidade, eles também intoxicam cerca de 25 milhões de pessoas a cada ano. O glifosato – herbicida mais utilizado no mundo, por exemplo, está associado ao surgimento do Linfoma não Hodgkin (LNH) e de outros tipos de câncer.

A natureza é essencial para a agricultura e a nutrição

Não é possível ignorar nem enganar o meio ambiente. Na verdade, é necessário trabalhar a seu favor para produzir alimentos mais saudáveis ??e sustentáveis.

Atualmente, 60% das dietas derivam de apenas três culturas de cereais: arroz, milho e trigo, resultado das práticas de plantações geneticamente uniformes e de alto rendimento adotadas pelos agricultores. Consequentemente, quase uma em cada três pessoas sofre de algum tipo de desnutrição.

Além disso, as mudanças climáticas podem agravar ainda mais esse cenário. Uma pesquisa da Universidade de Harvard sugere que, se as culturas forem expostas aos níveis de CO2 previstos para 2050, elas poderão perder até 10% de zinco, 5% de ferro e 8% de proteína.

A natureza é nossa aliada

Ao reconhecer o valor da natureza, podemos perceber que um sistema alimentar abrangente pode beneficiar simultaneamente o meio ambiente, a saúde pública e a economia.

Reduzir a emissão de CO2 pode afetar positivamente o valor nutricional dos alimentos – o que beneficiaria significativamente nossa saúde, uma vez que 76% da população mundial obtêm a maior parte de seus nutrientes das plantas –, podendo reduzir o risco de eventos climáticos extremos e, consequentemente, proteger o rendimento das colheitas. Isso é particularmente importante para os pequenos agricultores. Proteger a natureza significa proteger os meios de subsistência e as economias.

Sendo assim, restaurar a biodiversidade significa fortalecer a resiliência dos sistemas alimentares, o que permite que os agricultores diversifiquem suas produções e lidem com pragas, doenças e mudanças climáticas, reduzindo também a propagação de zoonoses e seus impactos econômicos – como o que o mundo enfrenta atualmente.

A adoção de dietas baseadas em vegetais requer menos uso de terras, produz menos gases de efeito estufa e exige menos uso de água, além de também desempenhar um papel importante na redução de doenças crônicas – como doenças cardíacas, derrames, diabetes e câncer – e de custos associados a tratamentos e a perda de renda.

Além disso, com a estimativa global de doenças crônicas projetada para atingir 56% até 2050, as dietas desempenharão um papel cada vez mais importante na gestão econômica.

É preciso reformular os sistemas alimentares para suprir as necessidades de 10 bilhões de pessoas de maneira segura e sustentável.

Para a chefe do Programa de Sistemas Alimentares Sustentáveis do PNUMA, é necessário considerar todo o sistema alimentar, da produção ao consumo, e entender cada um de seus componentes – por exemplo, como eles se relacionam e quais seus impactos imediatos e de longo prazo.

A agricultura precisa ser reconhecida como uma solução para a perda da biodiversidade, as mudanças climáticas e a poluição. Faz-se necessário migrar para modelos regenerativos ou agroecológicos que contribuam com paisagens e ecossistemas mais saudáveis.

As políticas devem ser construídas com a colaboração de várias partes interessadas e devem abordar de forma abrangente os sistemas alimentares, valorizando o capital natural, promovendo o uso sustentável da terra, prevenindo a poluição e a degradação ambiental e possibilitando aos produtores a oportunidade financeira de inovar em modelos mais sustentáveis.

Além disso, também é essencial a mudança de comportamento por parte dos consumidores, no sentido de adotarem dietas saudáveis ??e sustentáveis ??e práticas de prevenção de desperdício de alimentos – através da educação, conscientização, fortalecimento de ligações urbano-rurais e ambientes alimentares acolhedores.

A sustentabilidade ambiental não é um luxo. Ela não pode vir do acaso ou de uma reflexão tardia. Pelo contrário, ela é essencial para a sobrevivência humana. Agora, mais do que nunca.

Atuação do PNUMA

O PNUMA apoia a transição para sistemas alimentares globais que afetem positivamente a nutrição, o meio ambiente e os meios de subsistência dos agricultores.

Para contribuir com o Programa de Sistemas Alimentares Sustentáveis ??da One Planet Network, a agência da ONU liderou o desenvolvimento de uma diretriz para a formulação de políticas colaborativas e a melhoria da governança.

O PNUMA também é responsável pelo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 12.3, que compromete os Estados-membros a reduzir pela metade o desperdício de alimentos per capita do varejo e do consumidor.

Com o Índice de Desperdício de Alimentos (Food Waste Index, em inglês), o PNUMA está moldando os dados globais de desperdício de alimentos e preparando uma metodologia harmonizada que permitirá aos países acompanhar o progresso rumo ao ODS 12.3.

FAO lança programa que prevê 7 áreas prioritárias de resposta e recuperação à COVID-19

FAO pede ação global conjunta e coordenada em apoio à alimentação e agricultura. Foto: FAO

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) divulgou seu novo programa abrangente de resposta e recuperação à COVID-19, destinado à prevenção de uma emergência alimentar global durante e após a pandemia, e de uma intervenção de desenvolvimento a médio e longo prazo em relação à segurança alimentar e nutrição.

A agência solicita um investimento inicial de US$ 1,2 bilhão para atender às necessidades do novo programa.

O programa foi lançado durante um diálogo virtual com os setores público e privado intitulado “Ação conjunta em relação à COVID-19: impulsionando nossa resposta global à alimentação e agricultura”. O evento foi organizado pela FAO, em 14 de julho, para fornecer uma resposta global simplificada e coordenada que garanta o acesso a alimentos nutritivos para todos, mobilizando todos os tipos de recursos e parcerias nos níveis nacional, regional e global.

Em conformidade com a abordagem das Nações Unidas para ” reconstruir melhor” após a COVID-19, e com o objetivo de cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o novo programa visa mitigar o impacto imediato da pandemia e, ao mesmo tempo, fortalecer a resiliência a longo prazo dos sistemas alimentares e meios de subsistência.

“Não podemos continuar simplesmente fazendo o que foi feito por toda a vida”, destacou o diretor-geral da FAO, Sr. QU Dongyu, em sua declaração de abertura. “Devemos trabalhar muito para limitar os efeitos nocivos da COVID-19 na segurança alimentar e nutrição. Temos que focar mais nos países, ser mais inovadores e colaborar de perto, de mãos dadas. Foi assim que a FAO formulou seu abrangente Programa de resposta e recuperação à COVID-19 e hoje pedimos que se juntem a nós”, acrescentou.

Abordar o impacto da COVID-19 nos sistemas alimentares

Além de ser uma grande preocupação pública, a pandemia da COVID-19 também pode representar uma séria ameaça à segurança alimentar global. Segundo estimativas do Banco Mundial, as repercussões econômicas da pandemia podem levar cerca de 49 milhões de pessoas à pobreza extrema. O aumento das taxas de desemprego, a perda de renda e o aumento dos custos com alimentos estão comprometendo o acesso aos alimentos nos países desenvolvidos e em desenvolvimento e terão efeitos a longo prazo na segurança alimentar.

De acordo com a última edição do relatório da FAO “O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo”, mesmo antes do impacto da pandemia da COVID-19 afetar os sistemas alimentares globais e os meios de subsistência de milhões das pessoas no início do ano, haviam 10 milhões de pessoas subalimentadas a mais do que em 2018 e 60 milhões a mais que em 2014. No Relatório Mundial sobre as Crises Alimentares de 2020, estima-se que 135 milhões de pessoas sofram de insegurança alimentar aguda e precisem de ajuda humanitária urgente para a sua alimentação e nutrição.

Além disso, a pandemia pode mergulhar as economias nacionais em uma recessão, e os países devem adotar medidas urgentes para mitigar o impacto a longo prazo nos sistemas alimentares e na segurança alimentar.

Não menos urgente é a pandemia que ameaça complicar as crises existentes – como conflitos, desastres naturais, mudanças climáticas, pragas e infestações – que já estão pressionando nossos sistemas alimentares e causando insegurança alimentar em todo o mundo.

As sete áreas prioritárias do Programa de Resposta

Para minimizar os efeitos prejudiciais da COVID-19 na segurança alimentar e nutrição, e transformar os sistemas alimentares globais para aumentar sua resiliência, sustentabilidade e equidade, a FAO pede ação imediata em sete áreas prioritárias:

Em resposta à emergência atual, a FAO está trabalhando para reunir governos e várias partes interessadas em um chamado para a ação, coletando e analisando dados para entender melhor as novas tendências e detectar todos os tipos de deterioração para fornecer consultoria técnica e desenvolvimento da capacidade em relação a uma ampla variedade de disciplinas em tempo hábil. Além disso, a Organização está fornecendo apoio no que diz respeitos aos investimentos para aproveitar todos os tipos de parcerias e financiamento.

O novo programa também conta com o apoio da Coalizão Alimentar contra a COVID-19, lançada pelo governo da Itália e liderada pela FAO, que mobiliza assistência política, financeira e técnica em apoio aos países afetados pela crise atual.

Segundo a diretora-geral adjunta da FAO, Beth Bechdol, os esforços que serão necessários para abordar seriamente essas sete áreas de resposta prioritária serão imensos. “A Coalizão Alimentar é uma abordagem exemplar com o objetivo de aproveitar uma alta densidade de capital e vontade política para impedir que a pandemia se agrave de uma crise de saúde para uma crise alimentar”.

O evento também contou com a participação de: Sra. Carla Montesi, Diretora de Planeta e Prosperidade da Direção Geral de Cooperação e Desenvolvimento Internacional da Comissão Europeia; Sr. Joachim von Braun, Diretor do Centro de Pesquisa em Desenvolvimento da Universidade de Bonn (ZEF) e Presidente do Grupo Científico da Cúpula sobre Sistemas Alimentares, convocado pelo Secretário-Geral das Nações Unidas; Sra. Josefa Leonel Correia Sacko, Comissária para Economia Rural e Agricultura da União Africana; Sr. Kip Tom, embaixador e representante permanente dos Estados Unidos da América nas agências das Nações Unidas para alimentação e agricultura, com sede em Roma; Sra. Vincenza Lomonaco, embaixadora representante permanente da República Italiana na FAO; Sr. Peter Bakker, presidente e diretor dxecutivo do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, e Sra. Najat Mokhtar, diretora-geral adjunta e chefe do Departamento de Ciências Nucleares e Aplicações da Agência Internacional de Energia Atômica.

Os participantes do diálogo discutiram áreas de resposta prioritária, maneiras de conduzir ações conjuntas e modalidades de parceria com a FAO na resposta à COVID-19 em relação ao setor agrícola.