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ONU lembra importância de profissionais que combatem tráfico de pessoas no mundo

Desaceleração econômica mundial, que se traduz em um aumento acentuado do desemprego, pode aumentar o tráfico transfronteiriço de pessoas provenientes de países que registram quedas duradouras das taxas de emprego. Foto: ONU
Desaceleração econômica mundial, que se traduz em um aumento acentuado do desemprego, pode aumentar o tráfico transfronteiriço de pessoas provenientes de países que registram quedas duradouras das taxas de emprego. Foto: ONU

O Dia Mundial contra o Tráfico de Pessoas deste ano homenageia os profissionais que ajudam a acabar com esse crime: policiais, assistentes sociais, profissionais de saúde, funcionários de ONGs e muitos outros que trabalham em todo o mundo para proteger os mais vulneráveis.

“Como os heróis da linha de frente que salvam vidas e sustentam nossas sociedades na pandemia de COVID-19, esses profissionais mantêm serviços vitais durante toda a crise – identificando vítimas, garantindo seu acesso a Justiça, saúde, assistência social e proteção e prevenindo novos abusos e exploração”, disse o secretário-geral da ONU, António Guterres, em comunicado para a data.

“Agradeço esses profissionais e exorto todos os governos e sociedades a se unirem à sua causa, inclusive por meio do Fundo Fiduciário Voluntário das Nações Unidas para Vítimas de Tráfico de Pessoas.”

Guterres lembrou que a pandemia de COVID-19 expôs e exacerbou muitas desigualdades globais, criou novos obstáculos no caminho para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e deixou milhões de pessoas em maior risco de serem traficadas para exploração sexual, trabalho forçado, casamento forçado e outros crimes.

Mulheres e meninas já representam mais de 70% das vítimas de tráfico de seres humanos detectadas e hoje estão entre as mais atingidas pela pandemia. “Com as crises anteriores mostrando que as mulheres enfrentam maiores dificuldades para conseguir empregos remunerados após a crise, a vigilância é especialmente importante neste momento.”

“Para que o mundo coloque a dignidade e os direitos humanos no centro da resposta e recuperação do COVID-19, precisamos fazer mais para proteger as vítimas do tráfico e impedir que pessoas vulneráveis ??sejam exploradas por criminosos. Neste Dia Mundial contra o Tráfico de Pessoas, comprometemo-nos a trabalhar para sociedades e economias inclusivas que não deixam ninguém para trás”, disse o secretário-geral.

Wagner Moura chama atenção para importância do jornalismo no combate ao trabalho forçado

Também lembrando a data, o ator brasileiro Wagner Moura, embaixador da Boa Vontade da Organização Internacional do Trabalho (OIT), lembrou a importância do jornalismo para denunciar e conscientizar sobre trabalho forçado no Brasil e no mundo.

“Uma imprensa forte pode conscientizar sobre os trabalhadores e as trabalhadoras vítimas do trabalho forçado. Jornalistas têm uma voz que muitos trabalhadores e trabalhadoras não têm. Jornalistas podem chamar atenção para práticas abusivas e a negação de direitos humanos e trabalhistas fundamentais”, disse.

O embaixador da OIT lembrou que jornalistas podem alertar seus leitores ou espectadores sobre os abusos. “Podem ajudar a mudar a opinião pública e até políticas públicas, para que a vida se torne melhor para os trabalhadores e as trabalhadoras.”

“O jornalismo responsável é essencial para aumentar a conscientização sobre os milhões de pessoas vítimas de exploração no trabalho forçado. A cobertura jornalística pode ajudar a chamar a atenção para uma causa e criar mobilização e apoio público para impulsionar a mudança de políticas.”

Clique aqui para acessar o kit de ferramentas da OIT para cobertura jornalística sobre trabalho forçado e contratação justa (em inglês).

Wagner Moura. Foto: Bob-Wolfenson
Wagner Moura. Foto: Bob-Wolfenson

Cidades arcam com o maior peso da crise de COVID-19; ONU faz recomendações para áreas urbanas

As Nações Unidas lançaram nessa terça-feira (28) um relatório sobre a crise de COVID-19 com foco nas áreas urbanas, responsáveis por 90% dos casos notificados.

Segundo o secretário-geral da organização, António Guterres, as cidades carregam o maior peso da crise, com sistemas de saúde sob pressão, serviços inadequados de água e saneamento e outros desafios. O quadro é pior nas áreas mais pobres, onde a pandemia expôs desigualdades “profundamente enraizadas”, disse Guterres.

“Mas as cidades são também lugares de solidariedade e resiliência extraordinárias. Desconhecidos que se ajudam uns aos outros, ruas aplaudindo trabalhadores essenciais, comércios locais doando produtos que salvam vidas. Temos visto o melhor do espírito humano nessas ações”, disse.

O relatório – denominado “Documento de Políticas sobre a COVID-19 no Mundo Urbano” – traz três recomendações principais. Acesse o relatório clicando aqui.

Na publicação, a ONU pede a garantia de que todas as fases da resposta à pandemia enfrentem as desigualdades e os déficits de desenvolvimento em longo prazo e protejam a coesão social.

“Devemos dar prioridade aos mais vulneráveis nas nossas cidades, incluindo a garantia de um abrigo seguro para todos e de habitações de emergência para quem não tem casa”, disse Guterres, pedindo ainda a garantia de acesso à água e ao saneamento.

Segundo as Nações Unidas, o estado inadequado dos serviços públicos em muitas cidades requer “atenção urgente”, particularmente em assentamentos informais. O documento aponta que quase um quarto da população urbana do mundo vive em favelas. O chefe da ONU elogiou os governos locais que tomaram medidas como a proibição de despejos durante a crise e a instalação de novas estações de água potável nas áreas mais vulneráveis.

A segunda recomendação principal da ONU pede o fortalecimento da capacidade de resposta dos governos locais.

“Isso requer uma ação decisiva, e uma cooperação mais profunda entre as autoridades locais e nacionais. Pacotes de estímulo e outras formas de assistência devem apoiar respostas personalizadas e aumentar a capacidade do governo local”, disse António Guterres.

A terceira recomendação do documento pede uma recuperação econômica “verde, resiliente e inclusiva”. O secretário-geral da ONU lembrou que muitas cidades criaram ciclovias e zonas para pedestres, recuperando espaços públicos e melhorando a mobilidade, a segurança e a qualidade do ar.

“Ao focarem numa alta transformação ecológica e na criação de empregos, os pacotes de estímulo podem direcionar o crescimento para um caminho resiliente e com baixo carbono e fazer avançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, acrescentou.

A rápida adoção do trabalho a distância, disse Guterres, mostra como as sociedades podem se transformar “visivelmente” da noite para o dia para enfrentar ameaças urgentes.

“Devemos agir com a mesma urgência e resolução para transformar as cidades e enfrentar as crises climáticas e de poluição. Agora é hora de repensar e remodelar o mundo urbano. Agora é o momento de adaptar à realidade desta e de futuras pandemias. E agora é a nossa oportunidade de recuperar melhor, construindo cidades mais resilientes, inclusivas e sustentáveis”, concluiu António Guterres.

Brasileira está entre jovens líderes que aconselharão ONU no combate às mudanças climáticas

A brasileira Paloma Costa Oliveira (3 da esquerda para a direita) é advogada e defensora de direitos humanos que coordenou as delegações de jovens em várias conferências climáticas.
A brasileira Paloma Costa Oliveira (3 da esquerda para a direita) é advogada e defensora de direitos humanos que coordenou as delegações de jovens em várias conferências climáticas.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, anunciou na segunda-feira (27) os nomes de sete jovens líderes climáticos – entre eles, uma brasileira – que o aconselharão regularmente sobre a aceleração de ações e ambições globais para enfrentar a piora da crise climática.

O anúncio marca um novo esforço das Nações Unidas para trazer mais jovens líderes para os processos de tomada de decisão e planejamento, enquanto a ONU trabalha para mobilizar a ação climática como parte dos esforços de recuperação da COVID-19.

“Estamos em uma emergência climática. Não temos o luxo do tempo”, disse o secretário-geral em um vídeo anunciando a criação do Grupo Consultivo da Juventude sobre Mudanças Climáticas. “Precisamos de ações urgentes agora – para nos recuperarmos melhor da COVID-19, para enfrentar a injustiça e a desigualdade e enfrentar a ruptura climática.”

“Vimos jovens na linha de frente da ação climática, mostrando como é a liderança ousada”, acrescentou. “É por isso que estou lançando hoje meu Grupo Consultivo da Juventude sobre mudanças climáticas – para fornecer perspectivas, ideias e soluções que nos ajudarão a ampliar a ação climática.”

Os membros do Grupo Consultivo representam as diversas vozes de jovens de todas as regiões e pequenos Estados insulares. Oferecerão perspectivas e soluções sobre mudanças climáticas, da ciência à mobilização da comunidade, do empreendedorismo à política e da indústria à conservação.

Os membros recém-selecionados do Grupo, com idades entre 18 e 28 anos, são:

Nisreen Elsaim (Sudão) é ativista climática e negociadora júnior em plataformas intergovernamentais de mudança climática, com experiência em vários tópicos ambientais, e fez parte do movimento social que promoveu mudanças democráticas no Sudão.

Ernest Gibson (Fiji) é o co-coordenador da 350 Fiji, uma rede regional de mudança climática liderada por jovens.

Vladislav Kaim (Moldávia) é um jovem economista comprometido em garantir empregos verdes e decentes para os jovens, com ampla experiência em comércio internacional e migração.

Sophia Kianni (Estados Unidos) ajudou a organizar greves em todo o país e construiu uma rede de organizações sem fins lucrativos como parte da Equipe de Parcerias Nacionais Zero Hora.

Nathan Metenier (França) é o diretor político do ‘Jeunes Ambassadeurs pour le Climat’, onde ajudou a desenvolver a coalizão jovem francesa para o clima.

Paloma Costa Oliveira (Brasil) é advogada e defensora de direitos humanos, e coordenou as delegações de jovens em várias conferências climáticas.

Archana Soreng (Índia) tem experiência em advocacy e pesquisa e trabalha para documentar, preservar e promover o conhecimento tradicional e as práticas culturais das comunidades indígenas.

Os sete membros iniciais do Grupo foram escolhidos para dar conselhos francos e destemidos ao secretário-geral, em um momento de crescente urgência em levar líderes governamentais e corporativos a prestar contas sobre a ação climática.

“Nossos ancestrais têm protegido a floresta e a natureza ao longo dos tempos através de seus conhecimentos e práticas tradicionais. Agora cabe a nós sermos os pioneiros no combate à crise climática”, disse Soreng.

“A emergência climática é uma ameaça à vida, e a ação climática é a única maneira de libertar nosso futuro”, disse Oliveira.

Para Metenier, a ação climática não é apenas reduzir as emissões de gases de efeito estufa, mas também criar empregos verdes em um mundo pós-COVID-19, preservar nossa saúde e biodiversidade e proteger as comunidades mais pobres e marginalizadas.

“Como iraniano-americano, testemunhei em primeira mão o efeito devastador que a mudança climática está tendo no Oriente Médio. É crucial que os líderes mundiais permaneçam como uma frente unida enquanto trabalhamos para combater a crise climática e a injustiça racial”, afirmou Kianni.

Na opinião de Kaim, tomar uma ação climática significa contribuir da maneira mais direta possível para a grande redefinição da ordem econômica global, “uma ordem na qual a natureza reconquistará seu lugar de direito como o principal ativo tangível seguro que nunca ficará ocioso”.

“A ação climática é importante porque a história que quero contar aos meus filhos é a de como enfrentamos o maior desafio que o mundo já viu e vencemos. Nós venceremos por eles”, disse Gibson.

“Tomar a ação certa é a maior motivação. Manter o nosso trabalho é a única solução e não precisamos pensar duas vezes. A cada desafio, há muitas oportunidades, mas devemos fazer isso juntos”, afirmou Elsaim.

O estabelecimento do Grupo baseia-se na bem-sucedida Cúpula da Juventude para o Clima realizada no ano passado – a primeira vez que um secretário-geral da ONU convocou uma cúpula para jovens inteiramente dedicados à ação climática.

A Cúpula reuniu mais de 1 mil jovens campeões do clima de mais de 140 países para compartilhar suas soluções no cenário global e transmitir uma mensagem clara aos líderes mundiais: precisamos agir agora para enfrentar a crise climática. A iniciativa também está alinhada com a visão do secretário-geral para a Estratégia da Juventude da ONU, lançada em setembro de 2018.

Região árabe tem oportunidade de se recuperar melhor da COVID-19, diz ONU

A pandemia de COVID-19 expôs falhas, fissuras e fragilidades nas sociedades e nas economias em todo o mundo – e a região árabe não é uma exceção.

Em um vídeo para lançar o seu mais recente relatório sobre a pandemia, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, destacou que a região árabe é “abençoada com uma tremenda diversidade e potencial”. Mesmo assim, todos os países árabes – ricos em petróleo, de renda média ou os menos desenvolvidos – enfrentam dificuldades na resposta.

“A pandemia global expôs desafios endêmicos. A economia regional sofreu vários choques tanto do vírus como da queda acentuada dos preços do petróleo, das remessas e do turismo. As previsões econômicas estão nos níveis mais baixos dos últimos 50 anos. A economia regional deverá cair mais de 5%, com alguns países enfrentando contrações de dois dígitos”, resumiu Guterres.

Acesse o relatório clicando aqui.

Com milhões de pessoas pressionadas pela crise econômica, um quarto da população árabe poderá viver na pobreza, acrescentou. “Em uma região já cheia de tensões e desigualdades, isso terá profundas consequências na estabilidade política e social.”

Ele lembrou ainda que algumas comunidades são especialmente atingidas, incluindo mulheres e migrantes – estes representando 40% da força de trabalho –, bem como os 55 milhões de pessoas que já contam com assistência humanitária para sobreviver.

“Aqueles apanhados pelos conflitos armados enfrentam desafios particulares, especialmente os 26 milhões de refugiados e pessoas deslocadas internamente, que estão entre os mais expostos ao vírus.”

António Guterres ressaltou, no entanto, que a pandemia também pode ser um momento para resolver conflitos de longa data e fragilidades estruturais.

Segundo ele, quatro conjuntos de prioridades podem orientar a resposta para recuperar melhor e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – o conjunto de 17 áreas e 169 metas para acabar com a pobreza e levar sustentabilidade a todos os países.

A primeira prioridade inclui adoção de medidas imediatas para retardar a propagação da doença, acabar com os conflitos e atender as necessidades urgentes dos mais vulneráveis.

“Isso significa dar prioridade a cuidados de saúde que salvam vidas, respeitando o apelo de um cessar-fogo global; garantir assistência humanitária aos mais vulneráveis, incluindo refugiados, deslocados e comunidades de acolhimento; prestar apoio de emergência a indivíduos e famílias; e tomar medidas para aliviar a dívida, promover o comércio e expandir o apoio, por exemplo, através de um fundo de solidariedade regional.”

A segunda prioridade destacada pela ONU é a intensificação dos esforços para combater as desigualdades, investindo em saúde e educação universais, proteção social e tecnologia.

Guterres lembrou que a região abriga a maior lacuna de gênero do mundo em termos de desenvolvimento humano. “A recuperação da COVID-19 é uma oportunidade de se investir em mulheres e meninas, garantir igualdade de direitos e de participação, o que trará benefícios duradouros para todos”, disse.

A educação e as oportunidades também são críticas para os jovens da região, acrescentou o chefe da ONU, que enfrentam taxas de desemprego cinco vezes maiores que as dos adultos. “Com os investimentos certos, a juventude árabe, que é agora a maior faixa etária da região, também pode ser o seu maior ativo.”

A terceira prioridade é impulsionar a recuperação econômica, redesenhando o modelo da economia para favorecer economias verdes mais diversificadas.

“Isto significa criar empregos dignos sustentáveis; introdução de medidas tributárias progressivas; acabar com os subsídios aos combustíveis fósseis e ter mais em conta os riscos climáticos.”

A quarta prioridade é o respeito aos direitos humanos, com garantia de “uma sociedade civil vibrante” e meios de comunicação livres, bem como a criação de instituições “mais responsáveis que aumentarão a confiança dos cidadãos e fortalecerão o contrato social”.

“Todas essas etapas são fundamentais para ajudar a região árabe a recuperar melhor e a melhorar a sua capacidade de suportar futuros choques”, disse Guterres.

Segundo o secretário-geral da ONU, a região árabe pode ser bem-sucedida nesses objetivos ao aproveitar “ao máximo o notável potencial, compaixão e engenho do seu povo”.

“Juntos, podemos transformar uma crise em uma oportunidade. Será bom para a região e para o nosso mundo”, concluiu Guterres.

ARTIGO: Lidando com a desigualdade pandêmica – um novo contrato social para uma nova era

Moradores da favela da Babilônia, no Rio de Janeiro. Foto: ONU/Evan Schneider
Moradores da favela da Babilônia, no Rio de Janeiro. Foto: ONU/Evan Schneider

Por António Guterres*

Do exercício do poder global ao racismo, à discriminação de gênero e às disparidades de renda, a desigualdade ameaça nosso bem-estar e nosso futuro. Precisamos desesperadamente de um novo pensamento para detê-la e revertê-la.

Frequentemente ouvimos que uma maré de crescimento econômico eleva todos os barcos. Mas, na realidade, uma maré crescente de desigualdade afunda todos os barcos. Altos níveis de desigualdade ajudaram a criar a fragilidade global que está sendo exposta e explorada pela COVID-19.

O vírus está destacando as desigualdades de todos os tipos. Representa o maior risco para a saúde dos mais vulneráveis ??e seus impactos socioeconômicos concentram-se naqueles que são menos capazes de lidar com eles. A menos que ajamos agora, mais 100 milhões de pessoas poderão ser empurradas para a extrema pobreza e poderemos ver a fome em proporções históricas.

Mesmo antes da COVID-19, pessoas de todos os lugares estavam levantando suas vozes contra a desigualdade. Entre 1980 e 2016, o 1% mais rico do mundo capturou 27% do crescimento acumulado total da renda.

Mas a renda não é a única medida de desigualdade. As oportunidades na vida dependem de sexo, família e origem étnica, raça, se as pessoas têm ou não uma deficiência e outros fatores. Múltiplas desigualdades se cruzam e se reforçam através das gerações, definindo a vida e as expectativas de milhões de pessoas antes mesmo de nascerem.

Apenas um exemplo: mais de 50% das pessoas de 20 anos em países com desenvolvimento humano muito alto estão no ensino superior. Nos países com baixo desenvolvimento humano, esse número é de 3%. Ainda mais chocante, cerca de 17% das crianças nascidas há 20 anos nesses países já morreram.

A raiva que alimenta os movimentos sociais recentes, desde a campanha antirracismo que se espalhou pelo mundo após a morte de George Floyd ao coro de mulheres corajosas que nomeiam os homens poderosos que as abusaram, é mais um sinal de desilusão total com o status quo. E as duas mudanças sísmicas de nossa era – a revolução digital e a crise climática – ameaçam consolidar ainda mais a desigualdade e a injustiça.

A COVID-19 é uma tragédia humana. Mas também criou uma oportunidade geracional para construir um mundo mais igual e sustentável, com base em duas ideias centrais: um Novo Contrato Social e um Novo Acordo Global.

Um novo contrato social unirá governos, pessoas, sociedade civil, empresas e outros em causas comuns.

A educação e a tecnologia digital devem ser dois grandes facilitadores e equalizadores, fornecendo oportunidades ao longo da vida para aprender como aprender, adaptar-se e adquirir novas habilidades para a economia do conhecimento.

Precisamos de uma tributação justa sobre a renda e a riqueza, e uma nova geração de políticas de proteção social, com redes de segurança incluindo a cobertura universal de saúde e a possibilidade de uma renda básica universal estendida a todos.

Para tornar possível o novo contrato social, precisamos de um novo acordo global para garantir que poder, riqueza e oportunidades sejam compartilhados de maneira mais ampla e justa no nível internacional.

Um novo acordo global deve se basear em uma globalização justa, nos direitos e dignidade de todo ser humano, em viver em equilíbrio com a natureza, no respeito pelos direitos das gerações futuras e no sucesso medido em termos humanos e não apenas econômicos.

Precisamos de governança global baseada em participação plena, inclusiva e igualitária em instituições globais. Os países em desenvolvimento devem ter uma voz mais forte, desde o Conselho de Segurança das Nações Unidas até os Conselhos do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial e além.

Precisamos de um sistema comercial multilateral mais inclusivo e equilibrado, que permita aos países em desenvolvimento subir na cadeia de valor global.

A reforma da arquitetura da dívida e o acesso ao crédito acessível devem criar espaço fiscal para gerar investimentos na economia verde e equitativa.

O Novo Acordo Global e o Novo Contrato Social colocarão o mundo de volta aos trilhos para cumprir a promessa do Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas e alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – nossa visão globalmente acordada de paz e prosperidade em um planeta saudável até 2030.

Nosso mundo está no ponto de ruptura. Mas, enfrentando a desigualdade, com base em um novo contrato social e um novo acordo global, podemos encontrar o caminho para melhores dias pela frente.

*secretário-geral da ONU