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Darfur: TPI acusa presidente do Sudão de genocídio

O Tribunal Penal Internacional (TPI ouICC, na sigla em inglês) emitiu nesta segunda-feira (12) a segunda ordem de prisão para o presidente sudanês, Omar al-Bashir, acrescentando genocídio à lista de acusações de crimes que ele teria cometido na região de Darfur.

O Tribunal disse haver motivos razoáveis para crer que al-Bashir é o responsável por três acusações de genocídio contra os grupos étnicos Fur, Masalit e Zaghawa, incluindo genocídio por meio de assassinatos; genocídio por causar severos danos corporais ou mentais; e genocídio por impor deliberadamente condições de vida voltadas para a destruição de cada grupo-alvo.

Em março de 2009, o líder sudanês tornou-se o primeiro chefe de Estado a ser indiciado pelo Tribunal, que na época o acusou de dois crimes de guerra e cinco crimes contra a Humanidade. No entanto, uma Câmara do TPI que recebe a documentação antes de ir a júri indeferiu o pedido do Procurador argentino Luis Moreno-Ocampo da acusação de genocídio, alegando não haver provas suficientes. Em fevereiro deste ano, a acusação de genocídio foi reconsiderada, devido ao padrão de prova definido pela Câmara ser muito exigente na fase do mandado de prisão.

A sentença emitida nesta segunda-feira (12) para al-Bashir não substitui ou revoga a do ano anterior, que permanece em vigor. As Nações Unidas estimam que 300 mil pessoas tenham sido mortas e outras 2,7 milhões tiveram de deixar suas casas desde o início dos combates em Darfur, em 2003, opondo forças rebeldes e governamentais e os milicianos aliados Janjaweed. Todos os lados são acusados de graves violações dos direitos humanos.

Além de Darfur, o TPI tem outras quatro investigações em andamento: na República Democrática do Congo (RDC), no norte de Uganda, na República Centro-Africana e no Quênia.

Desaparecimentos forçados: mais apoio para levar criminosos à Justiça na Bósnia-Herzegóvina

SARAJEVO. Grupo de Trabalho da ONU sobre Desaparecimentos Forçados ou Involuntários (*) pediu ao Governo da Bósnia-Herzegóvina e à comunidade internacional que continuem esforços para levar autores de desaparecimentos forçados à Justiça e promover reconciliação no país.

“Até onde diz respeito à Justiça, muitos criminosos ainda estão foragidos. Em muitas comunidades vivem lado a lado com suas vítimas”, disse o presidente-relator do Grupo, Jeremy Sarkin, e um dos membros, Olivier de Frouville, no final de uma missão de oito dias de averiguação para saber mais sobre os esforços do país no caso de desaparecimentos forçados/pessoas desaparecidas, e para examinar as lições aprendidas em como lidar com casos anteriores, na luta contra a impunidade e outras questões relativas à verdade, justiça e reparação às vítimas. “Mesmo que tenha havido uma série de julgamentos no Tribunal Penal Internacional (TPI) para a ex-Iuguslávia e pelos tribunais nacionais, para processar o grande número de criminosos que permanecem serão exigidos significativos recursos adicionais”, observa o Grupo.

Durante o conflito ocorrido em meados dos anos 90, a Bósnia-Herzegóvina sofreu graves e maciças violações dos direitos humanos. Mais de 100 mil pessoas foram mortas. Mais de 2 milhões foram deslocadas. Estima-se que entre 28 e 30 mil pessoas desapareceram durante o conflito, dos quais cerca de um terço permanecem nesta situação.

Em sua missão, o Grupo de Trabalho da ONU observou grandes progressos e avanços das autoridades para descobrir a verdade sobre o destino e o paradeiro dos desaparecidos, como a aprovação da Lei sobre Pessoas Desaparecidas e a criação do Instituto de Pessoas Desaparecidas (MPI, na sigla em inglês), bem como o número significativo de exumações e identificações realizadas, e um grande número de casos penais levados à frente. Para consolidar essas conquistas, o organismo especializado das Nações Unidas apelou para a conclusão do Registro Central de Pessoas Desaparecidas, proveniente da Lei de Pessoas Desaparecidas. “Isso deve ser feito o mais breve possível e deve ser tornado público, com a listagem de origens étnicas dos classificados como desaparecidos”, disse o Grupo. “Isso vai promover a transparência, rigor e certeza sobre quem desapareceu. Isso vai reduzir a politização dessas questões.”

Em uma série de questões relativas às pessoas desaparecidas, “todas as vítimas dos diversos grupos étnicos alegam discriminação na maneira como elas e suas comunidades são tratadas”, observaram os peritos independentes da ONU. “O direito à não-discriminação deve ser promovido no país e protegido em todas as atividades, e todos os cidadãos devem ser tratados igualmente, onde quer que vivam e independentemente da sua origem étnica. Legislação e processos para promover igualdade e prevenir a discriminação devem ser prioridades.”

O Grupo advertiu que o processo para determinar onde valas comuns podem ser encontradas é cada vez mais difícil com o passar do tempo. “Para encorajar mais pessoas a revelar informações sobre locais sombrios, os programas de proteção a testemunhas devem ser reforçados”, acrescentaram. Ele também recomendou a criação de um programa nacional de reparação para parentes das vítimas de desaparecimentos forçados, que inclui compensação, restituição, reabilitação, satisfação e garantias de não repetição. “Programas de Reparação devem levar em conta uma perspectiva de gênero, considerando que a maioria dos familiares das pessoas desaparecidas são mulheres.”

“Muito mais deve ser feito para promover a reconciliação no país. A legislação nacional sobre a questão dos memoriais deve ser promulgada”, destacou o Grupo de Trabalho da ONU em suas recomendações, sugerindo 30 de agosto, Dia Internacional dos Desaparecidos, como dia nacional em memória de todas as pessoas desaparecidas na Bósnia-Herzegóvina.

O Grupo de Trabalho sobre Desaparecimentos Forçados ou Involuntários foi criado pela Comissão das Nações Unidas sobre os Direitos Humanos em 1980 para auxiliar as famílias na determinação do destino ou paradeiro de seus parentes desaparecidos. Ele se empenha em estabelecer um canal de comunicação entre as famílias e os Governos interessados em garantir que os casos individuais sejam investigados com o objetivo de esclarecer o destino e o paradeiro das pessoas consideradas desaparecidas. O Grupo de Trabalho continua a tratar os casos de desaparecimento até que sejam resolvidos. Ele também presta assistência na implementação, nos Estados-Membros, da Declaração das Nações Unidas sobre a Proteção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados.

(*) O Grupo de Trabalho sobre Desaparecimentos Forçados ou Involuntários é composto por cinco peritos independentes de todas as regiões do mundo. O presidente-relator é Jeremy Sarkin (África do Sul) e os demais membros são Santiago Corcuera (México), Jasminka Dzumhur (Bósnia-Herzegóvina), Olivier de Frouville (França) e Osman El-Hajjé (Líbano).

Acesse a declaração completa da missão do Grupo de Trabalho (em inglês).

Acesse a página do país no ACNUDH.

Tribunal de crimes de guerra da ONU encerra caso envolvendo ex-comandante do Exército bósnio-muçulmano

O Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (ICTY, na sigla em inglês) encerrou os procedimentos de apelação contra o antigo comandante das forças da Bósnia durante a guerra dos Balcãs, Rasim Delic (foto), que morreu em abril. Em 2008, ele foi condenado a três anos de prisão por não ter tomado as medidas necessárias e razoáveis para prevenir ou punir os crimes cometidos por seus subordinados, em julho e agosto de 1995, em Livade e no campo de Kamenica.

Delic apelou da setença e conseguiu liberdade provisória em maio de 2009, enquanto o processo estava sendo revisado. Após sua morte, seu filho requisitou que a apelação continuasse. A câmara de apelações determinou que não é juridicamente possível prosseguir o processo de apelação nos casos em que o recorrente tenha morrido antes da prestação de um julgamento de recurso, e o caso deve ser encerrado porque não compete ao orgão julgá-lo.

Em sua decisão, a câmara declarou que “não pode discernir qualquer abordagem predominante, e muito menos identificar as regras do direito internacional consuetudinário que seriam diretamente aplicáveis à situação”. Como consequência, “nada pode prejudicar a finalidade do julgamento”, ficando determinado que os registros do caso permaneçam intactos. É a primeira vez em que o recorrente falece antes do julgamento de um recurso ser entregue.

Grupo rebelde realiza mais ataques mortais na República Democrática do Congo

O grupo rebelde Exército de Resistência do Senhor (LRA, em inglês) está realizando ataques mais mortais na República Democrática do Congo (RDC) e continua a raptar crianças para usar como soldados em suas fileiras.

Segundo o Escritório das Nações Unidas de Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, em inglês), os rebeldes assassinam uma média de 102 civis por mês na antiga província Oriental da RDC desde dezembro passado, média mais alta do que a dos últimos dois anos, que era de 64 assassinatos por mês. Pelo menos 302 pessoas, incluindo 125 crianças, também foram sequestradas entre dezembro de 2009 e março deste ano e um significativo número de civis foi mutilado durante os ataques do LRA contra aldeias.

O LRA cresceu em direção à remota região nordeste da RDC nos últimos anos e começou a realizar incursões nessa área. Conhecido por ataques particularmente brutais contra civis e pelo uso de crianças sequestradas como soldados, carregadores e escravos sexuais, o LRA é acusado por inúmeras violações dos direitos humanos. A maioria de seus líderes mais antigos foi acusada pelo Tribunal Penal Internacional (TPI ou ICC em inglês) por vários crimes de guerra.

A recente série de atentados na antiga província Oriental obrigou milhares de civis a fugirem de suas aldeias e complicou os esforços da ajuda humanitária para prestar socorro na região. “A maioria das crianças sequestradas pelo LRA desde 2008 conseguiu escapar e está recebendo suporte e assistência dos agentes humanitários. Apenas 30% dos milhões de dólares destinados ao financiamento de ajuda humanitária à República Democrática do Congo foi recebido até agora”, relatou o OCHA.